O que já se sabe sobre os ataques violentos dos houthis do Iêmen contra navios no mar Vermelho

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Em apenas alguns dias, os rebeldes houthis do Iêmen iniciaram uma nova e mais violenta campanha de ataques contra navios no mar Vermelho, afundando dois deles e matando alguns de seus tripulantes.

Os ataques representam o mais recente capítulo da campanha dos rebeldes contra a navegação durante a guerra entre Israel e o grupo terrorista Hamas. Eles também ocorrem em um momento em que a guerra de quase uma década no Iêmen - o país mais pobre do Oriente Médio - se arrasta, sem qualquer sinal de interrupção.

Veja abaixo o que saber sobre os houthis, o Iêmen e seus ataques contínuos.

Rebeldes envolvidos em anos de combates

Os houthis são membros da seita xiita Zaydi, minoritária no islamismo, que governou o Iêmen por mil anos até 1962. Eles lutaram contra o governo central do Iêmen durante anos antes de sair de sua fortaleza, no norte do país, e tomar a capital, Sanaa, em 2014. Isso deu início a uma guerra intensa que, tecnicamente, ainda está sendo travada. Uma coalizão liderada pela Arábia Saudita interveio em 2015 para tentar restaurar o governo exilado do Iêmen, reconhecido internacionalmente, ao poder.

Anos de combates sangrentos e inconclusivos contra a coalizão liderada pelos sauditas se transformaram em uma guerra por procuração estagnada entre a Arábia Saudita e o Irã, causando fome e miséria generalizadas no Iêmen. A guerra matou mais de 150 mil pessoas, incluindo combatentes e civis, e criou um dos piores desastres humanitários do mundo.

Um cessar-fogo - que tecnicamente terminou em outubro de 2022 - ainda está sendo amplamente respeitado. A Arábia Saudita e os rebeldes fizeram algumas trocas de prisioneiros e uma delegação dos houthis foi convidada para conversas de paz de em Riad em setembro de 2023 como parte de uma distensão mais ampla que o reino alcançou com o Irã. Embora eles tenham relatado "resultados positivos", ainda não há paz permanente.

Houthis apoiados por Teerã

O Irã há muito tempo apoia os houthis. Teerã nega rotineiramente que esteja armando os rebeldes, apesar das evidências físicas, das inúmeras apreensões e dos especialistas que ligam as armas ao Irã. Isso provavelmente ocorre porque Teerã quer evitar sanções por violar um embargo de armas da Organização das Nações Unidas contra os houthis.

Os houthis agora formam o grupo mais forte dentro do autodenominado "Eixo de Resistência" do Irã. Outros grupos, como o Hezbollah, do Líbano, e o grupo terrorista palestino Hamas, foram dizimados por Israel após o ataque do Hamas em 7 de outubro de 2023, que desencadeou a guerra de atrito de Israel na Faixa de Gaza.

O Irã também está abalado depois que Israel lançou uma guerra de 12 dias contra o país e os Estados Unidos atacaram as instalações nucleares iranianas.

Os houthis também viram seu perfil regional aumentar ao atacarem Israel, já que muitos no mundo árabe continuam indignados com o sofrimento enfrentado pelos palestinos na Faixa de Gaza.

Houthis atacam navios por causa da guerra entre Israel e Hamas

Os houthis têm lançado ataques com mísseis e drones contra navios comerciais e militares na região, o que a liderança do grupo descreveu como um esforço para acabar com a ofensiva de Israel contra o grupo terrorista Hamas na Faixa de Gaza.

Entre novembro de 2023 e dezembro de 2024, os houthis atacaram mais de 100 navios mercantes com mísseis e drones, afundando dois e matando quatro marinheiros. Sua campanha reduziu muito o fluxo de comércio pelo corredor do mar Vermelho, que normalmente recebe US$ 1 trilhão em mercadorias por ano.

Um dos ataque dos houthis, visando navios de guerra dos EUA que escoltavam navios comerciais, ocorreu no início de dezembro. Um cessar-fogo na guerra entre Israel e Hamas começou em janeiro e durou até março. Os EUA então lançaram um amplo ataque contra os rebeldes que terminou semanas depois, quando Trump disse que eles se comprometeram a parar de atacar navios.

Desde então, os houthis continuaram com ataques ocasionais de mísseis contra Israel, mas não haviam atacado navios até o último fim de semana. O transporte marítimo pelo mar Vermelho, embora ainda esteja abaixo do normal, aumentou nas últimas semanas.

Novos ataques aumentam o nível de violência

Os ataques aos dois navios, o Magic Seas e o Eternity C, representam um novo nível de violência empregado pelos houthis.

Especialistas se referiram aos ataques como sendo de natureza complexa, envolvendo rebeldes armados que primeiro correram para os navios no mar Vermelho, disparando armas pequenas e granadas propelidas por foguetes. Em seguida, eles usaram mísseis antinavio e drones aéreos e marítimos carregados de explosivos para atacá-los.

Esse ataque coordenado afundou dois navios em questão de dias. Há também um temor crescente de que o ataque ao Eternity C possa ter sido o mais mortal dos rebeldes no mar, já que os membros da tripulação continuam desaparecidos.

Isso também indica que os ataques aéreos israelenses e americanos não tiraram dos rebeldes sua capacidade de atacar.

Navios comerciais têm poucas opções de defesa

Para os houthis, atacar navios comerciais continua sendo muito mais fácil do que alvejar navios de guerra, pois essas embarcações não têm sistemas de defesa aérea. Em vez disso, alguns carregam guardas armados capazes de atirar em pessoas ou drones que se aproximam. Derrubar um drone continua sendo difícil e derrubar um míssil é impossível com esse armamento.

Os guardas armados também costumam ser mais treinados para lidar com a pirataria e podem lançar mangueiras de incêndio em pequenas embarcações que se aproximam ou cercar uma ponte com arame de ciclone para impedir que os invasores subam a bordo. Os houthis, no entanto, têm experiência em ataques com helicópteros e poderiam sobrecarregar uma equipe de segurança privada, que geralmente é composta por apenas três membros a bordo de uma embarcação comercial.

Retomada dos ataques tem motivos internacionais e domésticos

Segundo os houthis, a nova campanha de ataque "representa uma mudança qualitativa no curso da batalha aberta em apoio a Gaza". A agência de notícias Saba, administrada pelos houthis, disse que Israel comete "massacres diários contra civis em Gaza e depende das rotas marítimas para financiar sua agressão e manter seu cerco".

"Essa postura, que não se contenta com condenações ou declarações, também está avançando com ações militares diretas, em um claro esforço para apoiar os palestinos em várias frentes", disseram os rebeldes.

No entanto, os rebeldes interromperam seus ataques no final de dezembro, quando Israel e o grupo terrorista Hamas chegaram a um cessar-fogo. Os houthis suspenderam formalmente seus ataques, embora tenham dito que os navios ou empresas que fazem escala em portos israelenses continuariam sendo possíveis alvos.

Os rebeldes também parecem ter reconstituído suas forças após os ataques aéreos americanos que os atingiram. Eles não reconheceram suas perdas materiais com os ataques, embora os EUA tenham dito que lançaram mais de 2 mil munições em mais de 1 mil alvos.

É provável que haja também uma consideração internacional e doméstica. No exterior, um possível novo cessar-fogo na guerra entre Israel e Hamas - bem como o futuro das negociações entre os EUA e o Irã sobre o programa nuclear de Teerã - continuam em jogo. No passado, os houthis foram um instrumento usado por Teerã, embora os especialistas discutam o grau de influência que Teerã exerce na escolha dos alvos dos rebeldes.

No país, os houthis enfrentam um descontentamento crescente em relação ao seu governo, já que a economia do Iêmen está em frangalhos e eles empreenderam uma campanha de detenção de funcionários da ONU e trabalhadores humanitários. A retomada dos ataques pode dar aos houthis algo para mostrar aos seus compatriotas e reforçar seu controle.

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Integrantes do PT da Bahia pediram impugnação da eleição interna do partido após identificarem mortos que votaram em duas cidades. A chapa Partido Forte, derrotada na votação que consagrou Tássio Brito - apadrinhado do senador Jaques Wagner (PT-BA) - como novo presidente da sigla no Estado no começo do mês, também denuncia outras fraudes que, segundo estimativa, representariam cerca de sete mil votos.

No processo eleitoral em Camaçari (BA), a chapa diz ter identificado cinco pessoas falecidas participaram do processo eleitoral. Em Barro Preto (BA) pelo menos um morto votou. Procurados o diretório do PT na Bahia e a chapa Partido Forte não responderam aos contatos do Estadão.

A reportagem teve acesso às listas de votação assinadas e ao certificado de óbito dos falecidos que votaram. O diretório do PT na Bahia decidiu anular os votos dos falecidos, mas aprovou a eleição nas duas cidades, enquanto a chapa Partido Forte pretende recorrer a nível nacional.

Procurado, o PT da Bahia não respondeu ao questionamento da reportagem. Em nota pública, o PT de Camaçari diz que os erros se deveram em razão de "rubricas grandes o suficiente que tomaram duas ou três linhas da lista", refuta "qualquer narrativa opositora que tente macular o processo eleitoral" e que acionará o corpo jurídico para tomar providências cabíveis (veja a íntegra da nota mais abaixo).

Já Wagner diz que qualquer questionamento sobre o processo eleitoral "deve ser tratado diretamente com o diretório estadual".

A disputa interna no PT foi marcada por episódios de tensão, com denúncias de filiações em massa, acusações de golpe e até judicialização. Em 2017, o PT anulou votação em 30 cidades paulistas por suspeitas de fraudes, incluindo a contagem de votos de filiados já falecidos.

"Essa direção estadual do PT que não tem autonomia dirigente, submissa a gabinetes, em detrimento a diversidade interna que é a marca do partido, aprovou eleições comprovadamente fraudulentas em diversas cidades, manchando a imagem do nosso partido e submetendo sua democracia interna a um vexame", diz nota da chapa Partido Forte.

A chapa Partido Forte, encabeçada por Jonas Paulo, faz parte da tendência predominante no PT: a Construindo um Novo Brasil (CNB). Em contraste ao resultado nos principais Estados, a CNB foi derrotada por Tássio Brito, da tendência Esquerda Popular Socialista (EPS), apadrinhado por Wagner.

Tássio venceu com 73% dos votos na eleição do PT na Bahia, em que votaram cerca de 42 mil filiados. A chapa Partido Forte teve cerca de 20% dos votos.

O resultado serviu para consagrar Wagner como a principal liderança do PT no Estado, afastando o grupo político do ministro da Casa Civil, Rui Costa, que optou por não apoiar outro candidato para evitar uma derrota política.

"A mensagem que a atual direção estadual e a próxima, com essa maioria fantasmagórica, passam ao PT é clara: em eleições internas do partido, até mortos podem votar - e isso é considerado 'normal'. O PED (Processo de Eleição Direta) 2025, na Bahia, virou uma gincana de vale-tudo eleitoral", diz a nota interna do Partido Forte.

A chapa denuncia um caso de um dos mortos eleitores como "revoltante" - o sindicalista Crispim Carvalho da Hora, morto em 2016, aparece como uma das pessoas que assinaram e registraram voto na eleição na cidade baiana.

"Sua suposta participação como votante constitui não apenas uma fraude eleitoral, mas um desrespeito à sua memória e à dor de sua família e de vários outros companheiros e companheiras que como ele ajudaram a criar o PT e o movimento sindical no Estado", dizem os integrantes da chapa Partido Forte no pedido de impugnação da eleição.

Além dos mortos votantes em Camaçari e em Barro Preto, a chapa denuncia, entre outros casos, a existência de 91 páginas de votação duplicadas e falsificações em assinaturas na votação em Itabuna (BA).

Como mostrou o Estadão, as eleições internas na Bahia têm sido marcadas pela judicialização. Na mesma Itabuna, a petista Nina Germano, candidata ao diretório municipal da sigla, entrou com uma ação contra o partido após ter sua candidatura anulada por inadimplência.

Na quinta-feira, 3, a Justiça da Bahia concedeu uma decisão favorável à candidata, determinando a manutenção de seu nome na disputa e impondo multa diária de R$ 15 mil em caso de descumprimento.

Em Feira de Santana, outro candidato à presidência municipal também acionou a Justiça pelo mesmo motivo, buscando garantir sua participação na eleição.

Na Bahia, o PT cogita lançar uma chapa puro sangue, indicando dois senadores (Wagner e Rui), além do nome ao governo do Estado. Desde 2002 a sigla não perde uma eleição presidencial na Bahia e está invicta na disputa pelo governo do Estado desde 2006.

Veja a íntegra da nota do PT de Camaçari:

O último Processo de Eleição Direta (PED) do Partidos dos Trabalhadores, ocorrido no último dia 06 Julho, no Sindicato dos Professores de Camaçari foi marcado por grande mobilização e participação da nossa militância para escolha democrática da nova direção para o partido.

Norteados pelo regimento interno, pelas orientações nacionais e pelas regras que regulamentam o PED, todo o processo de fiscalização foi devidamente respeitado pela Comissão Organizadora Eleitoral (COE). Tendo em vista a chuva e a aglomeração, devido intensa mobilização e participação dos filiados, o PED também foi marcado por tumultos, atrasando as filas e expondo pessoas mais idosas a intensa espera.

Atrelados à espera, a aglomeração, a pressa e a má iluminação do ambiente, é justificável situações onde de forma não intensional houvessem erros na assinatura das listas de votação, tendo pessoas assinado na parte superior ou inferior da linha do seu nome, tão como erros de rubricas grandes o suficiente que tomara duas ou três linhas da lista. É importante ressaltar que tais listas são confeccionadas e expedidas exclusivamente pela direção nacional do partido, e que ao nosso ver, precisam urgentemente serem atualizadas.

Compreedemos que a intensa mobilização do PED, dos mais de 3 mil filiados que foram votar e da real intenção do processo eleitoral, que por ventura havia apenas uma chapa inscrita. Refutamos qualquer narrativa opositora que tente macular o nosso processo eleitoral, usando imprensa chapa branca, aliada do ex-prefeito de Camaçari, que tentou deslegitimar nosso partido e o nosso processo eleitoral, inclusive propagando fakenews, calúnias e difamações. Por esse motivo, acionaremos nosso corpo jurídico para tomar as medidas cabíveis.

Deste modo, agradecemos a todos que se fizeram presentes no nosso PED, nos solidarizamos com todos aqueles que tiveram suas vidas e entes expostos, e parabenizamos à única chapa inscrita e eleita legitimamente pelos filiados ao PT de Camaçari.

A Procuradoria-Geral da República (PGR) chamou de "bizarra" e "esdrúxula" uma sugestão elaborada pelo ex-diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) Alexandre Ramagem e pelo general Augusto Heleno para, supostamente, desobrigar o governo de Jair Bolsonaro (PL) de cumprir decisões do Judiciário.

Segundo a Procuradoria, a estratégia serviria para anular decisões do Supremo Tribunal Federal (STF) que contrariassem interesses de Bolsonaro.

Em um memorando encaminhado a Bolsonaro, Ramagem propôs que o presidente acionasse a Advocacia-Geral da União (AGU) para a elaboração de pareceres técnicos que, em tese, desobrigariam o governo federal de cumprir decisões judiciais. Segundo Ramagem, os pareceres respaldariam "o não atendimento" de decisões da Justiça que fossem "contrárias à lei". Uma tese de mesmo teor foi encontrada em um documento em posse de Augusto Heleno.

"A ideia de que um parecer jurídico da Advocacia-Geral da União (AGU) pudesse se sobrepor a decisões da Suprema Corte carece de qualquer amparo constitucional e legal, configurando uma subversão da ordem jurídica", afirmou a PGR nas alegações finais contra o "núcleo crucial" da ação penal por tentativa de golpe de Estado.

"Tais orientações revelam não apenas desprezo pelo princípio da separação de Poderes, mas tentativa concreta de criar base pseudo-jurídica para a desobediência institucional, numa antecipação da tese de ruptura que viria a ser mobilizada em 2022", disse o relatório assinado pelo procurador-geral da República, Paulo Gonet. Em outros trechos do parecer, a PGR chamou a solução elaborada por Ramagem e Heleno de "esdrúxula" e "bizarra".

Em depoimento ao STF, tanto Ramagem quanto Heleno confirmaram o teor da tese. Ramagem alegou que se tratariam apenas de "consultas" à AGU, enquanto Heleno afirmou que Bolsonaro precisava de "meios" para agir contra decisões que vinham "impedindo uma série de ações do governo".

Durante o governo Bolsonaro, Alexandre Ramagem era diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) e Augusto Heleno, chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI).

Para a PGR, Ramagem "preparou a narrativa difundida" por Bolsonaro sobre fraude nas urnas eletrônicas e comandou "espionagens ilegais baseadas em interesses particulares" do então presidente, "em flagrante desvio da estrutura brasileira de inteligência". A Procuradoria quer a condenação de Ramagem por organização criminosa armada, tentativa de abolição do Estado Democrático de Direito e golpe de Estado.

Segundo a PGR, Heleno também tomou parte nos preparativos da narrativa de fraude nas urnas. Paulo Gonet pediu que Heleno seja condenado por organização criminosa armada, abolição do Estado de Direito, golpe de Estado, dano qualificado e deterioração de patrimônio tombado.

O ministro Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal, decretou nesta terça-feira, 15, a 'nulidade absoluta' de todos os atos da operação Lava Jato contra o doleiro Alberto Youssef, réu confesso.

O ministro aponta, em 53 páginas, um 'conluio processual entre acusação e magistrado' contra o delator que revelou esquema de corrupção e cartel na Petrobras entre 2003 e 2014. Toffoli se refere ao ex-juiz Sérgio Moro, hoje senador, que conduziu a Lava Jato, então na titularidade da 13ª Vara Criminal Federal de Curitiba, base e origem da operação.

No entanto, Toffoli não anulou o acordo de colaboração de Youssef firmado em 2014. O doleiro é um nome emblemático da Lava Jato. Preso em março de 2014, quando a primeira etapa da operação foi deflagrada, Youssef fechou segundo acordo de delação premiada no âmbito da investigação - antes dele, o então diretor de Abastecimento da estatal petrolífera, Paulo Roberto Costa, já havia adotado o mesmo caminho.

Para o ministro, "se revela incontestável o quadro de conluio processual entre acusação e magistrado em detrimento de direitos fundamentais do requerente (Alberto Youssef)".

O ministro acolheu o pedido da defesa de Alberto Youssef ao reafirmar a suspeição de Sérgio Moro na condução dos procedimentos investigativos e ações penais que tramitaram na 13ª Vara Federal de Curitiba.

A decisão destaca que a Operação Soopfing- investigação sobre hackeamento de comunicações de Moro e procuradores - permitiu que diversos réus da Lava Jato apontassem ilegalidades do então juiz federal.

"O estudo mais aprofundado do material colhido na referida operação (Soopfing) revelou um complexo sistema de captura do Poder Judiciário e do Ministério Público para o desenvolvimento de projetos pessoais e políticos, o que ficou estampado em centenas de decisões proferidas por esta Suprema Corte", ressalta.

Toffoli considera que Youssef foi alvo dos mesmos 'métodos acusatórios' que os procuradores da Lava Jato e Moro impuseram contra ao então ex-presidente Lula, preso e condenado por corrução e lavagem de dinheiro. Após ficar 580 dias preso, o petista foi beneficiado por uma decisão do Supremo que reconheceu nulidades e extinguiu as ações contra ele.

"Por meios heterodoxos e ilegais os personagens desse episódio histórico atingiram pessoas naturais e jurídicas, independentemente de sua culpabilidade ou não", pontua o ministro.

'Padrão de conduta'

Para Toffoli, 'esse vasto apanhado indica que a parcialidade do juízo da 13ª Vara Federal de Curitiba extrapolou todos os limites, porquanto os constantes ajustes e combinações realizados entre o magistrado e o Parquet (Ministério Público) representam verdadeiro conluio a inviabilizar o exercício do contraditório e da ampla defesa'.

"Nota-se, portanto, um padrão de conduta de determinados procuradores integrantes da Força Tarefa da Lava Jato, bem como de certos magistrados que ignoraram o devido processo legal, o contraditório, a ampla defesa e a própria institucionalidade para garantir seus objetivos, o que não se pode admitir em um Estado Democrático de Direito."

O ministro avalia que 'o necessário combate à corrupção não autoriza o fiscal e o aplicador da lei a descumpri-la, devendo-se lamentar que esse comportamento, devidamente identificado a partir dos diálogos da Operação Spoofing tenha desembocado em nulidade, com enormes prejuízos para o Brasil'.

'Vala comum'

"Em outras palavras, o que poderia e deveria ter sido feito na forma da lei para combater a corrupção foi realizado de maneira clandestina e ilegal, equiparando-se órgão acusador aos réus na vala comum de condutas tipificadas como crime".

Segundo Toffoli, 'medidas enérgicas estão sendo adotadas pelos órgãos competentes não apenas na esfera criminal, mas também no campo civil e administrativo'. Ele critica agentes públicos que atuando como fiscais da lei usam como método de investigação 'belos enredos e incontáveis recursos semânticos que procuram justificar o injustificável'.

Essa conduta, para o ministro, revela 'o interesse pessoal e político de poucos, que saíram do anonimato para ganhar projeção nacional se apoiando em instituições e em tábua de valores que, na verdade, sempre desprezaram'.