Eleição do PT na Bahia tem denúncia de mortos como eleitores e caso deve ir à Justiça

Política
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Integrantes do PT da Bahia pediram impugnação da eleição interna do partido após identificarem mortos que votaram em duas cidades. A chapa Partido Forte, derrotada na votação que consagrou Tássio Brito - apadrinhado do senador Jaques Wagner (PT-BA) - como novo presidente da sigla no Estado no começo do mês, também denuncia outras fraudes que, segundo estimativa, representariam cerca de sete mil votos.

No processo eleitoral em Camaçari (BA), a chapa diz ter identificado cinco pessoas falecidas participaram do processo eleitoral. Em Barro Preto (BA) pelo menos um morto votou. Procurados o diretório do PT na Bahia e a chapa Partido Forte não responderam aos contatos do Estadão.

A reportagem teve acesso às listas de votação assinadas e ao certificado de óbito dos falecidos que votaram. O diretório do PT na Bahia decidiu anular os votos dos falecidos, mas aprovou a eleição nas duas cidades, enquanto a chapa Partido Forte pretende recorrer a nível nacional.

Procurado, o PT da Bahia não respondeu ao questionamento da reportagem. Em nota pública, o PT de Camaçari diz que os erros se deveram em razão de "rubricas grandes o suficiente que tomaram duas ou três linhas da lista", refuta "qualquer narrativa opositora que tente macular o processo eleitoral" e que acionará o corpo jurídico para tomar providências cabíveis (veja a íntegra da nota mais abaixo).

Já Wagner diz que qualquer questionamento sobre o processo eleitoral "deve ser tratado diretamente com o diretório estadual".

A disputa interna no PT foi marcada por episódios de tensão, com denúncias de filiações em massa, acusações de golpe e até judicialização. Em 2017, o PT anulou votação em 30 cidades paulistas por suspeitas de fraudes, incluindo a contagem de votos de filiados já falecidos.

"Essa direção estadual do PT que não tem autonomia dirigente, submissa a gabinetes, em detrimento a diversidade interna que é a marca do partido, aprovou eleições comprovadamente fraudulentas em diversas cidades, manchando a imagem do nosso partido e submetendo sua democracia interna a um vexame", diz nota da chapa Partido Forte.

A chapa Partido Forte, encabeçada por Jonas Paulo, faz parte da tendência predominante no PT: a Construindo um Novo Brasil (CNB). Em contraste ao resultado nos principais Estados, a CNB foi derrotada por Tássio Brito, da tendência Esquerda Popular Socialista (EPS), apadrinhado por Wagner.

Tássio venceu com 73% dos votos na eleição do PT na Bahia, em que votaram cerca de 42 mil filiados. A chapa Partido Forte teve cerca de 20% dos votos.

O resultado serviu para consagrar Wagner como a principal liderança do PT no Estado, afastando o grupo político do ministro da Casa Civil, Rui Costa, que optou por não apoiar outro candidato para evitar uma derrota política.

"A mensagem que a atual direção estadual e a próxima, com essa maioria fantasmagórica, passam ao PT é clara: em eleições internas do partido, até mortos podem votar - e isso é considerado 'normal'. O PED (Processo de Eleição Direta) 2025, na Bahia, virou uma gincana de vale-tudo eleitoral", diz a nota interna do Partido Forte.

A chapa denuncia um caso de um dos mortos eleitores como "revoltante" - o sindicalista Crispim Carvalho da Hora, morto em 2016, aparece como uma das pessoas que assinaram e registraram voto na eleição na cidade baiana.

"Sua suposta participação como votante constitui não apenas uma fraude eleitoral, mas um desrespeito à sua memória e à dor de sua família e de vários outros companheiros e companheiras que como ele ajudaram a criar o PT e o movimento sindical no Estado", dizem os integrantes da chapa Partido Forte no pedido de impugnação da eleição.

Além dos mortos votantes em Camaçari e em Barro Preto, a chapa denuncia, entre outros casos, a existência de 91 páginas de votação duplicadas e falsificações em assinaturas na votação em Itabuna (BA).

Como mostrou o Estadão, as eleições internas na Bahia têm sido marcadas pela judicialização. Na mesma Itabuna, a petista Nina Germano, candidata ao diretório municipal da sigla, entrou com uma ação contra o partido após ter sua candidatura anulada por inadimplência.

Na quinta-feira, 3, a Justiça da Bahia concedeu uma decisão favorável à candidata, determinando a manutenção de seu nome na disputa e impondo multa diária de R$ 15 mil em caso de descumprimento.

Em Feira de Santana, outro candidato à presidência municipal também acionou a Justiça pelo mesmo motivo, buscando garantir sua participação na eleição.

Na Bahia, o PT cogita lançar uma chapa puro sangue, indicando dois senadores (Wagner e Rui), além do nome ao governo do Estado. Desde 2002 a sigla não perde uma eleição presidencial na Bahia e está invicta na disputa pelo governo do Estado desde 2006.

Veja a íntegra da nota do PT de Camaçari:

O último Processo de Eleição Direta (PED) do Partidos dos Trabalhadores, ocorrido no último dia 06 Julho, no Sindicato dos Professores de Camaçari foi marcado por grande mobilização e participação da nossa militância para escolha democrática da nova direção para o partido.

Norteados pelo regimento interno, pelas orientações nacionais e pelas regras que regulamentam o PED, todo o processo de fiscalização foi devidamente respeitado pela Comissão Organizadora Eleitoral (COE). Tendo em vista a chuva e a aglomeração, devido intensa mobilização e participação dos filiados, o PED também foi marcado por tumultos, atrasando as filas e expondo pessoas mais idosas a intensa espera.

Atrelados à espera, a aglomeração, a pressa e a má iluminação do ambiente, é justificável situações onde de forma não intensional houvessem erros na assinatura das listas de votação, tendo pessoas assinado na parte superior ou inferior da linha do seu nome, tão como erros de rubricas grandes o suficiente que tomara duas ou três linhas da lista. É importante ressaltar que tais listas são confeccionadas e expedidas exclusivamente pela direção nacional do partido, e que ao nosso ver, precisam urgentemente serem atualizadas.

Compreedemos que a intensa mobilização do PED, dos mais de 3 mil filiados que foram votar e da real intenção do processo eleitoral, que por ventura havia apenas uma chapa inscrita. Refutamos qualquer narrativa opositora que tente macular o nosso processo eleitoral, usando imprensa chapa branca, aliada do ex-prefeito de Camaçari, que tentou deslegitimar nosso partido e o nosso processo eleitoral, inclusive propagando fakenews, calúnias e difamações. Por esse motivo, acionaremos nosso corpo jurídico para tomar as medidas cabíveis.

Deste modo, agradecemos a todos que se fizeram presentes no nosso PED, nos solidarizamos com todos aqueles que tiveram suas vidas e entes expostos, e parabenizamos à única chapa inscrita e eleita legitimamente pelos filiados ao PT de Camaçari.

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O secretário-geral da Otan, Mark Rutte, disse nesta terça-feira, 15, a senadores no Capitólio que as tarifas secundárias contra a Rússia anunciadas ontem pelo presidente americano, Donald Trump, podem afetar o Brasil, a Índia e a China. Membros do Brics, esses países têm ampliado as relações comerciais com Moscou em virtude das punições impostas por americanos e europeus desde a invasão da Ucrânia.

Na segunda-feira, 14, Trump deu um ultimato à Rússia depois de meses fazendo concessões a Vladimir Putin na tentativa de obter um acordo de paz na Ucrânia: ou Moscou negocia um cessar-fogo com a Ucrânia em até 50 dias, ou será alvo de novas e duras sanções econômicas.

Trump ameaçou taxas de 100% às importações russas, mas os EUA compram cerca de 3% do que Moscou vende ao exterior. Mas o presidente prometeu também aplicar tarifas secundárias, que puniriam o setor energético da Rússia e seus clientes. É nessa categoria que entram os países do Brics, como Rutte deixou claro na reunião no Senado.

"O que aconteceu ontem foi importante. O presidente Trump disse basicamente que, se a Rússia não levar a sério as negociações de paz, em 50 dias ele imporá sanções secundárias a países como Índia, China e Brasil", disse Rutte, que também foi primeiro-ministro da Holanda até o ano passado, de acordo com o Guardian.

"Meu incentivo a esses três países é... vocês talvez queiram dar uma olhada nisso, porque isso pode afetá-los muito. Por favor, liguem para [o presidente russo] Vladimir Putin e digam a ele que ele precisa levar a sério as negociações de paz", completou.

A ameaça de sanções secundárias dos EUA e da Otan aos sócios-fundadores do Brics ocorre num momento de antagonismo cada vez maior entre o bloco e o Ocidente.

Durante a cúpula do Rio de Janeiro, na semana passada, após o Brics ter concordado em aumentar o volume de comércio entre os membros sem o uso do dólar e buscar mecanismos de pagamento fora do sistema Swift, que é controlado pelos, EUA, Trump ameaçou o grupo com sanções.

Também na semana passada, o republicano ameaçou o Brasil com tarifas de 50% caso o País não anulasse o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro, acusado hoje pela Procuradoria-Geral da República dos crimes de golpe de Estado, deposição violenta do Estado de direito, liderança de organização criminosa armada, deterioração de patrimônio tombado e dano qualificado.

Bolsonaro e seus filhos são aliados próximos do trumpismo, mas nesta terça, o presidente americano disse o brasileiro "não é seu amigo, apenas um conhecido".

Em meio ao aumento da pressão sobre a Rússia, Rutte disse também que a Europa encontraria o dinheiro para garantir que a Ucrânia estivesse na melhor posição possível nas negociações de paz.

Segundo ele, os EUA agora forneceriam "massivamente" armas à Ucrânia, "não apenas defesa aérea, mas também mísseis e munições pagas pelos europeus".

Questionado se mísseis de longo alcance para a Ucrânia estavam em discussão, Rutte disse: "É tanto defensivo quanto ofensivo. Portanto, há todos os tipos de armas, mas não discutimos em detalhes ontem com o presidente. Isso está realmente sendo trabalhado agora pelo Pentágono, pelo Comandante Supremo Aliado na Europa, juntamente com os ucranianos".

(Com agências internacionais)

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmou nesta terça-feira que "20 grandes companhias de tecnologia e energia" anunciaram mais de US$ 92 bilhões em investimentos na Pensilvânia. A declaração foi feita durante evento em Pittsburgh. O republicano, no entanto, ainda não revelou o nome de cada uma das companhias.

Trump também comentou sobre inteligência artificial (IA), dizendo que os EUA estão "muito à frente da China em IA" e que o país asiático "está correndo para chegar aos pés dos EUA, mas não deixaremos". Segundo ele, o avanço da tecnologia exigirá mais energia: "IA vai demandar um aumento enorme em produção de energia".

O americano elogiou o papel do setor privado nessa transformação. "O Google vai investir bilhões de dólares para reabilitar usinas de energia hidrelétrica", disse. "O Google está fazendo um ótimo trabalho, preciso admitir", acrescentou.

Ele também abordou política comercial, afirmando que "as receitas de tarifas estão entrando. São centenas de bilhões de dólares", e alertou que "países que não abrirem seu mercado pagarão uma tarifa substancial". Sobre o acordo anunciado mais cedo com a Indonésia, o presidente declarou que o país "tem muito cobre e muitas outras coisas. Temos acesso total ao mercado deles".

Por fim, ele voltou a mencionar investimentos da China em sua matriz energética local ao apontar que o país asiático "está construindo 52 usinas de energia de carvão neste momento", sem entrar em detalhes.

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, questionou o ucraniano, Volodmir Zelenski, se a Ucrânia teria capacidade de atacar Moscou e São Petersburgo, na Rússia. A resposta, segundo o jornal Financial Times, veio com um pedido." Sim, se nos derem as armas", teria dito Zelenski. O americano negou que tenha incentivado um ataque.

A conversa ocorreu durante um telefonema em 4 de julho, quando os dois líderes teriam conversado sobre envios de armamentos americanos pra Kiev, e ocorre em meio à mudança de posição sobre o conflito. Ao retornar à Casa Branca, o presidente prometeu acabar com a guerra na Ucrânia em 24 horas e chegou a demonstrar simpatia pelas reivindicações russas, mas agora se mostra furioso com Vladimir Putin.

Trump tem dito estar "decepcionado" com Putin depois das tentativas fracassadas de um acordo de paz. Sentimento que repetiu em uma entrevista com a rede britânica BBC publicada nesta terça-feira, 15. Na segunda, 14, o americano deu um ultimato ao russo, ameaçando com novas sanções caso Moscou não negocie um cessar-fogo em até 50 dias.

Segundo as fontes citadas pelo Financial Times, a estratégia de Trump agora seria fazer os russos sentirem a dor do conflito por meio de ataques mais profundos.

Questionado por jornalistas na Casa Branca sobre se Zelenski deveria atacar a capital russa, Trump respondeu: "não deveria". A porta-voz da Casa Branca, Karoline Leavitt, minimizou a publicação do Financial Times e acusou o jornal de ser conhecido por "tirar palavras de contexto".

O republicano prometeu enviar mais dos poderosos sistemas de defesa Patriot para a Ucrânia, além de mísseis e munições, por meio de uma venda intermediada por aliados da Otan, evitando assim ter que passar por aval do Congresso.

No entanto, pessoas de dentro do governo teriam dito a jornais americanos que o presidente também cogita enviar mais mísseis ATACMS de longo alcance a Kiev, além de permitir o uso dos 18 que já estão em território ucraniano. Os mísseis têm alcance de 300 Km e não seriam suficientes para atacar as duas maiores cidades russas, mas atingiriam bases militares e de suprimento dentro do país.

O que sim poderia ferir Moscou é o envio de mísseis de cruzeiro Tomahawk que, segundo as mesmas fontes, também estiveram envolvidos nas conversas entre os dois presidentes. Os Tomahawk tem um alcance de 1.600 Km e alta precisão.

Também questionado sobre a possibilidade de fornecer mísseis de longo alcance à Ucrânia, Trump declarou: "Não, não estamos buscando fazer isso".

Desde que o governo Joe Biden fez o envio dos primeiros mísseis de longo alcance, Moscou ameaça os países da Otan caso a Ucrânia utilize os armamentos contra território russo. Kiev já fez ataques a cidades fronteiriças russas e chegou a mirar Moscou com drones, sem que a ameaça se concretizasse.

Trump exige trégua

O republicano alertou ontem, durante encontro com o secretário-geral da Otan Mark Rutte, disse que Moscou será alvo de novas e severas sanções econômicas caso não retome as negociações por um cessar-fogo dentro de 50 dias.

Trump disse que o valor das tarifas será de "cerca de 100%" além dos valores já atualmente aplicados. A ameaça se refere a tarifas diretas, o que teria um impacto mínimo em Moscou, pois a Rússia vende muito pouco para os Estados Unidos (menos de US$ 5 bilhões em 2024) e já é o país mais sancionado do mundo atualmente.

No entanto, o presidente também ameaçou com tarifas secundárias, que puniriam o setor energético da Rússia e seus clientes - essa seria uma sanção grave, que afetaria países como Índia, China e até o Brasil, um dos maiores compradores de óleo diesel russo.

Nesta terça, a Rússia respondeu: "Tais decisões tomadas em Washington, nos membros da Otan e em Bruxelas são percebidas pelo lado ucraniano como um sinal para continuar a guerra, não um sinal para a paz", disse o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov.

Ele reafirmou que a Rússia está aberta a continuar as negociações com a Ucrânia em Istambul, mas ainda aguarda que Kiev ofereça uma data para a nova rodada. "Estamos prontos para continuar o diálogo", disse ele, acrescentando que "ainda não recebemos sinais sobre a terceira rodada e é difícil dizer qual é o motivo".

O tom de Donald Trump deixou evidente uma mudança de postura do presidente americano. Ele reclamou que Putin continua a lançar ataques na Ucrânia mesmo depois de terem "conversas telefônicas muito agradáveis". O republicano lamentou ter achado que haviam chegado a um acordo ao menos quatro vezes no passado.

"Eu não quero dizer que ele é um assassino, mas ele é um sujeito durão. Isso foi provado ao longo dos anos. Ele enganou muitas pessoas", disse Trump sobre Putin antes de listar uma série de ex-presidentes que Putin teria enganado. "Ele não me enganou. Mas, no final das contas, conversa não é ação. Tem que haver ação. Tem que haver resultados. E eu espero que ele faça isso".