MP mira Nunes e ex-secretário por expor menores em situação de vulnerabilidade

Política
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A Promotoria de Justiça da Infância e da Juventude do Ministério Público de São Paulo conduz inquérito contra o prefeito Ricardo Nunes (MDB) e o ex-secretário de Assistência e Desenvolvimento Social Carlos Bezerra Júnior (PSD) em razão de postagens nas redes sociais em que interagem com crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade. O MP investiga se houve uso indevido de imagem para fazer propaganda da gestão municipal na internet.

Procurada, a Prefeitura de São Paulo afirmou ao Estadão que respeita a legislação e está à disposição para prestar informações ao MP. O ex-secretário, que retomou o cargo de vereador na Câmara Municipal de São Paulo na janela partidária, declarou que já prestou esclarecimentos ao Ministério Público e que "não foi violado nenhum direito garantido às crianças e adolescentes em nenhuma das ações divulgadas e citadas na denúncia". Ele argumenta que as publicações são uma medida de transparência sobre a atuação do servidor público e que os materiais ajudam a convencer outras pessoas a aceitarem o encaminhamento para os serviços de acolhida (leia a íntegra no final da matéria).

O procedimento foi aberto no dia 11 de abril, a partir de requerimento apresentado pela deputada federal Erika Hilton (PSOL-SP) em julho do ano passado. A parlamentar reuniu, na época, oito postagens feitas nas contas do prefeito e do ex-secretário no Instagram. Segundo ela, a exposição de crianças e adolescentes sem nenhum tratamento que impossibilite a identificação é uma prática recorrente nas contas de ambos reforça a estigmatização e a discriminação contra esses grupos, atentando contra a sua privacidade.

A representação alega que as publicações feitas pelo prefeito e pelo secretário nas redes sociais violam o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD). "No caso em análise, não há qualquer informação disponível sobre como foi coletado o consentimento das crianças, adolescentes ou seus responsáveis para figurarem nas postagens das contas de Instagram analisadas, tampouco sobre sua ciência dos termos de processamento de dados da plataforma digital em questão e como essa comunicação foi feita, se é que foi feita", diz o documento.

Os ofícios enviados pelo MP a Nunes e Bezerra indagam ambos sobre o recolhimento de autorizações junto aos pais. A secretaria justificou nos autos que houve "aceitação tácita e implícita" dos pais no momento em que foram gravados. A mesma resposta foi encaminhada pela Secretaria Especial de Comunicação da Prefeitura de São Paulo, com o adendo de que não faz a gestão direta das redes sociais de Nunes. O prefeito, por sua vez, não havia se manifestado até a abertura do inquérito.

Uma das peças reunidas no documento enviado ao MP é uma publicação de Nunes, datada de junho de 2023, e trata da inauguração de um Centro de Acolhida Especial para Famílias (CAEF) em Casa Verde, na zona norte da capital paulista. O vídeo tem o depoimento de uma família de Fortaleza (CE) que estava sendo atendida na unidade no momento da visita do prefeito. A imagem de uma menina é exposta em primeiro plano e também ao lado dos pais. Em outra postagem, oriunda das redes de Bezerra, o secretário encontra uma família abrigada em um hotel social da Prefeitura; os filhos aparecem em imagens antigas na rua e também ao lado dos pais na porta do apartamento.

O procedimento foi aberto pela promotora Sandra Lucia Garcia Massud. Ela afirma no despacho que, durante a verificação dos fatos, foram localizadas outras postagens de teor semelhante em que Nunes e Bezerra "se encontram interagindo com crianças em situação de vulnerabilidade social em variados contextos". O Estadão procurou o MP para saber quantas publicações seriam, mas ainda não obteve retorno. O inquérito tem por objetivo reunir elementos que fundamentem propositura de eventual ação civil pública e não há prazo para ser concluído.

O que dizem os investigados

Ricardo Nunes, através da Secretaria de Comunicação da Prefeitura de São Paulo: "A Prefeitura de São Paulo informa que não foi notificada e que prestará ao Ministério Público todas as informações para demonstrar que respeita a legislação e o Estatuto da Criança e do Adolescente."

Ex-secretário Carlos Bezerra Júnior, atualmente vereador na cidade de São Paulo: "O vereador Carlos Bezerra Jr. informa que já prestou esclarecimentos ao Ministério Público de São Paulo, e ressalta que não foi violado nenhum direito garantido às crianças e adolescentes em nenhuma das ações divulgadas e citadas na denúncia.

É importante destacar que as publicações em rede social, além de buscarem a transparência na atuação de um servidor público em um cargo importante, têm por objetivo a garantia da proteção integral, da prioridade absoluta e dos melhores Interesses das Crianças, conforme estabelece o Estatuto da Criança e Adolescente (ECA). Em todas as ocasiões, elas não foram expostas a situações de violação à dignidade. Ao contrário, ou estão acolhidas em serviços ou sendo dirigidas ao acolhimento.

A divulgação, portanto, resgata a dignidade de crianças e adolescentes, uma vez que demonstra o atendimento humanizado às famílias em situação de rua e ajuda a convencer, por meio da sensibilização, outras pessoas a conhecerem a abordagem social, os serviços de acolhimento e de fortalecimento de vínculos e a aceitarem o encaminhamento para os serviços de acolhida, que garantem que o público infantojuvenil fique salvo de qualquer forma de negligência, violência, exploração, discriminação, crueldade ou opressão, conforme prevê a Constituição Federal.

Cabe ressaltar ainda que, no período da abordagem às famílias em situação de rua em que crianças estavam acompanhadas de seus pais, com registros autorizados pelos mesmos, estava vigente a Operação Baixas Temperaturas (OBT), da Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social (SMADS), e que o encaminhamento destas pessoas é crucial para a prevenção de mortes por hipotermia, sobretudo o público mais vulnerável, no qual as crianças se enquadram.

Por fim, o vereador Carlos Bezerra Jr., que também é médico e ativista dos direitos humanos, reitera sua trajetória de décadas em defesa dos direitos da infância e juventude, atuando em comissões relacionadas ao tema e em CPIs de enfrentamento à pedofilia, além de apresentar projetos de combate ao trabalho infantil e ações de combate ao abuso sexual infanto-juvenil, ações estas publicizadas em diversas oportunidades."

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A Autoridade Marítima e Portuária (MPA, na sigla em inglês) de Cingapura afirmou na noite de ontem que acionou medidas para tratar um derramamento de óleo no Terminal de Pasir Panjang. O incidente ocorreu na sexta-feira, devido a uma colisão de um barco em um navio de abastecimento de combustível.

"O derramamento de óleo do navio foi contido e não houve mais vazamentos desde a noite de sexta-feira no fuso horário de Cingapura. O óleo que escapou do tanque danificado foi tratado com dispersantes", afirma a MPA, em nota.

Devido à corrente de maré, o óleo tratado chegou às margens, incluindo Sentosa, Reserva Natural de Labrador, Ilhas do Sul, Marina South Pier e East Coast Park. Não há sinais de mancha de óleo dentro do Sisters' Islands Marine Park, mas foi observado brilho de óleo nas águas ao redor. Para facilitar os esforços de limpeza, algumas praias da região serão fechadas até novo aviso.

Segundo a autoridade, 18 embarcações de resposta foram mobilizadas para realizar os esforços de contenção e limpeza no mar. Quase 1500 metros de barreiras de contenção foram mobilizados e mais serão instalados nos próximos dias para evitar a propagação adicional de óleo para a costa e facilitar a recuperação do óleo preso na costa e as lagoas afetadas.

A Autoridade Marítima e Portuária de Singapura (MPA) diz ainda que notificou agências, incluindo a Agência Nacional de Meio Ambiente (NEA), o Conselho de Parques Nacionais (NParks) e a Corporação de Desenvolvimento de Sentosa, sobre o incidente.

O exército de Israel anunciou neste domingo, 16, que vai interromper os combates durante o dia ao longo de uma rota no sul da Faixa de Gaza para liberar um acúmulo de entregas de ajuda humanitária destinada aos palestinos, no que chamou de "pausa tática na atividade militar".

O novo arranjo visa a reduzir a necessidade de coordenar as entregas, oferecendo uma janela ininterrupta de 11 horas por dia para que os caminhões entrem e saiam da passagem. O órgão descreveu em um comunicado que "uma pausa tática local da atividade militar para fins humanitários ocorrerá das 8h às 19h diariamente até novo aviso".

O movimento tem como objetivo permitir que os caminhões de ajuda cheguem à passagem de Kerem Shalom, controlada por Israel, e viajem com segurança para a rodovia Salah a-Din, a principal estrada norte-sul, disseram os militares. A passagem tem sofrido um gargalo desde que as tropas terrestres israelenses se mudaram para Rafah no início de maio.

A "pausa tática" anunciada pelos militares, que se aplica a cerca de 12 quilômetros de estrada na área de Rafah, fica muito aquém de um cessar-fogo completo no território sitiado, que tem sido buscado pela comunidade internacional, incluindo o principal aliado de Israel, os Estados Unidos. Se for mantida, a interrupção limitada dos combates poderá ajudar a atender a algumas das necessidades urgentes dos palestinos, que aumentaram ainda mais nas últimas semanas com a incursão de Israel em Rafah.

O COGAT, órgão militar israelense que supervisiona a distribuição de ajuda em Gaza, disse que a rota aumentaria o fluxo de ajuda para outras partes de Gaza, incluindo Khan Younis, Muwasi e Gaza central. O norte de Gaza, duramente atingido, que foi um dos primeiros alvos da guerra, está sendo servido por mercadorias que entram por uma passagem ao norte.

Os militares disseram que a pausa ocorreu após discussões com as Nações Unidas e agências de ajuda internacional. As agências de ajuda, incluindo a ONU, não responderam imediatamente aos pedidos de comentários.

Grupos humanitários estão alertando para uma grave falta de alimentos e outros bens essenciais no território palestino sitiado. A Organização Mundial da Saúde (OMS) afirmou que mais de 8 mil crianças com menos de cinco anos de idade foram tratadas com desnutrição aguda em Gaza.

Mediadores internacionais pressionaram Israel e o grupo terrorista Hamas a aceitarem um acordo de trégua apresentado pelo presidente dos EUA, Joe Biden, para permitir uma troca de reféns por prisioneiros e aumentar a entrega de ajuda, mas as negociações estagnaram.

O vice-diretor executivo do Programa Alimentar Mundial, Carl Skau, afirmou que "com a anarquia na Faixa (...) e o conflito ativo, tornou-se quase impossível entregar o nível de ajuda que atenda às crescentes demandas".

(Com agências internacionais)

A Rússia disse que suas forças de segurança invadiram um centro de detenção na cidade de Rostov do Don e mataram seis homens ligados ao Estado Islâmico que haviam feito dois guardas reféns. O levante ocorreu menos de três meses depois de o grupo militante realizar um ataque terrorista mortal em uma sala de concertos em Moscou.

A operação para libertar os reféns aconteceu no início deste domingo, depois que seis prisioneiros derrubaram as telas das janelas de suas celas e se abaixaram usando cordas do quarto andar da prisão, localizada próxima à fronteira da Rússia com a Ucrânia.

O incidente ameaça corroer ainda mais a narrativa do presidente russo, Vladimir Putin, de que sua invasão à Ucrânia melhorou a segurança da Rússia ao atingir seus adversários no Ocidente. Após o ataque à sala de concertos em março, especialistas em segurança argumentaram que a guerra drenou os recursos da Rússia e distraiu as forças de segurança do combate a ameaças internas.