Especialistas veem gestão 'às escuras' de emendas em fundações ligadas a universidades

Política
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Especialistas de organizações de incentivo à transparência avaliam que há uma gestão "às escuras" das verbas de emendas parlamentares por parte das universidades públicas e das fundações ligadas a essas instituições, o que demanda uma diretriz dos ministérios do governo federal para padronizar a disponibilização das informações referentes a esses recursos.

 

As críticas ocorrem após o ministro Flávio Dino, do Supremo Tribunal Federal (STF), ter determinado a suspensão imediata dos repasses de emendas a entidades que, segundo a Controladoria-Geral da União (CGU), "não fornecem transparência adequada ou não divulgam as informações requeridas" sobre esses valores.

 

Conforme mostrou o Broadcast Político (sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado), das 13 organizações afetadas, oito são fundações ligadas a universidades públicas, entre elas a Universidade de São Paulo (USP) e a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

 

A relação entre as instituições federais de ensino superior e as fundações de apoio foi regulamentada por uma lei federal de 1994. Segundo as regras, as instituições de ensino e ciência podem celebrar convênios e contratos para que as fundações exerçam a gestão administrativa e financeira necessária à execução dos projetos científicos.

 

Segundo Marina Atoji, diretora de programas da Transparência Brasil, as fundações foram criadas sob o argumento da desburocratização na captação e na gestão de recursos, já que não precisam lidar com travas que seriam aplicáveis às universidades.

 

Embora essa razão seja válida para evitar demoras nas pesquisas, diz a especialista, o que ocorre hoje é uma "desburocratização às escuras". Ela afirma que as fundações privadas operam de "forma bastante livre" e fora do radar da fiscalização dos órgãos de controle e da sociedade sobre o uso de recursos públicos.

 

"Isso é um incentivo a que elas sejam pouco transparentes e não o contrário", avalia. "Há um risco muito alto de mau uso do dinheiro ou de uso ineficiente."

 

Em notas enviadas ao Broadcast, as fundações alegam que não há como atender aos requisitos de transparência sem envolver as universidades apoiadas porque são elas que negociam, recebem e registram a origem dos recursos. Para Atoji, esse argumento soa como um subterfúgio.

 

"A transparência não precisa ser exclusiva de uma ou de outra. Ela pode ser e deve ser, inclusive, repetida, duplicada. A fundação também põe a mão nesse dinheiro em algum momento", analisa.

 

Roberto Livianu, procurador de Justiça do Ministério Público do Estado de São Paulo e presidente do Instituto Não Aceito Corrupção, observa que o governo deveria ter um conjunto de protocolos para evitar esse tipo de situação. "A omissão de ministérios em relação a isso é criticável. Porque você precisa ter um padrão de comportamento, um conjunto de protocolos relevante que venha por parte do Executivo para evitar esse tipo de situação", avalia.

 

"A rastreabilidade é garantida pelo artigo 37 da Constituição, que diz respeito ao princípio da publicidade. O ministro Flávio Dino nada mais está fazendo do que cumprir o seu papel. Em relação às universidades públicas, isso deveria ser ainda maior, porque a pesquisa no âmbito universitário é extremamente importante para a produção do conhecimento", complementa o especialista em transparência.

 

Os ministérios da Educação (MEC) e da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) não responderam aos questionamentos da reportagem. Procurada pelo Broadcast, a Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes) também não comentou.

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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva mandou um recado aos Estados Unidos nesta segunda-feira, 20, afirmando que "intervenções estrangeiras" na América Latina "podem causar danos maiores do que o que se pretende evitar".

Lula não mencionou especificamente os norte-americanos, mas o recado diz respeito à tensão entre Estados Unidos e Venezuela. O presidente norte-americano, Donald Trump, confirmou na semana passada que autorizou operações da CIA na Venezuela. Trump acusa o governo de Nicolás Maduro de apoiar o narcotráfico no País.

"Na América Latina e Caribe também tivemos um momento de crescente polarização e instabilidade. Manter a região como zona de paz é nossa prioridade. Somos um continente livre de armas de destruição em massa, sem conflitos étnicos ou religiosos. Intervenções estrangeiras podem causar danos maiores do que o que se pretende evitar", afirmou.

A declaração de Lula foi dada em cerimônia conjunta de entrega de cartas credenciais de embaixadores de outros países que vão atuar no Brasil. Essa entrega de cartas credenciais é uma formalidade do processo de envio de um embaixador a outro país. Ela é assinada por um chefe de Estado e enviada a outro. Marca o início da atuação do embaixador no País.

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O presidente também lembrou da realização da COP30, em Belém, em novembro. Cobrou que países ricos participem da discussão sobre preservação do meio ambiente e lembrou do TFFF (Fundo de Florestas Tropicais para Sempre, na sigla em inglês), fundo que será lançado na COP pelo Brasil para remunerar países que mantiverem suas florestas tropicais preservadas. Disse que o objetivo da iniciativa é "fomentar o desenvolvimento sustentável".

A chefe de Relações Exteriores e Segurança da União Europeia, Kaja Kallas, disse nesta segunda-feira, 20, que a UE espera aprovar nesta semana o 19º pacote de sanções contra a Rússia. "Infelizmente, não hoje, mas teremos uma reunião de líderes na quinta-feira", afirmou, acrescentando que também há discussões sobre novas medidas para conter a chamada "shadow fleet" - frota de petroleiros usados por Moscou para contornar restrições ocidentais.

Sobre a guerra na Ucrânia, a diplomata destacou que "a Rússia só negocia quando é realmente obrigada a negociar". Ela afirmou ver com cautela os esforços do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, para promover um acordo de paz, dizendo que "não vemos a Rússia realmente querendo paz".

Em relação ao Oriente Médio, Kallas avaliou que o cessar-fogo entre Israel e Hamas "passou por seu primeiro teste de resistência" neste fim de semana, e defendeu ações adicionais para garantir o envio de ajuda humanitária e a manutenção da trégua. "Precisamos trabalhar para alcançar uma paz duradoura no Oriente Médio", afirmou.

Alerta à China

Kaja Kallas também disse que o bloco está intensificando o diálogo com seus parceiros do Indo-Pacífico, diante do que classificou como uma nova estratégia de poder da China. "Estamos realmente nos aproximando de nossos parceiros do Indo-Pacífico, especialmente considerando como a China vem usando as cadeias de suprimento como armas. Essa instrumentalização das cadeias de suprimento representa um risco ao comércio global".

As declarações da chefe de Relações Exteriores e Segurança da União Europeia foram dadas antes da reunião do Conselho de Relações Exteriores da UE, em Luxemburgo.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva parabenizou o presidente eleito da Bolívia, Rodrigo Paz, pela vitória nas eleições do último domingo, 19. Disse que o processo eleitoral demonstrou "o compromisso da sociedade boliviana com a democracia".

"Encaminhei carta nesta manhã ao presidente eleito do Estado Plurinacional da Bolívia, Rodrigo Paz, parabenizando-o pela vitória no segundo turno das eleições do domingo. A conclusão do processo eleitoral em clima de tranquilidade e harmonia demonstra o compromisso da sociedade boliviana com a democracia, que deve seguir norteando toda a nossa região", disse Lula, por meio de publicação no X nesta segunda-feira, 20.

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"O presidente eleito pode contar com o meu compromisso de seguir trabalhando em benefício de nossas relações bilaterais e de cooperação em temas de interesse mútuo. A Bolívia é parceira fundamental do Brasil na construção de uma América do Sul mais integrada, justa e solidária", completou.

Paz foi eleito presidente da Bolívia derrotando o ex-presidente Jorge Quiroga. Tem 58 anos e é filho do ex-presidente Jaime Paz Zamora (1989-1993) e da espanhola Carmen Pereira. Nasceu na Espanha, onde a família viveu exilada durante a ditadura militar boliviana (1964-1982).

Tanto Paz quanto Quiroga representam o centro e a direita na política boliviana. A esquerda, representada pelo Movimento ao Socialismo (MAS), cujo principal líder é o ex-presidente Evo Morales, foi a principal derrotada na eleição e não esteve no segundo turno.