"Cuidar de uma criança com câncer exige mais do que remédios. Exige presença, amor, estrutura e acolhimento. E isso muda tudo." A frase de Bianca Provedel, CEO do Instituto Ronald McDonald, resume o que especialistas e organizações vêm reforçando: tratar o câncer infantojuvenil vai muito além da quimioterapia ou da internação hospitalar. Envolve toda uma rede de apoio, especialmente para famílias que enfrentam a doença longe de casa e em meio à vulnerabilidade social.
Segundo a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), as taxas de abandono do tratamento em países de média e baixa renda podem chegar a 30%, um número preocupante que compromete diretamente as chances de cura. No Brasil, embora não haja uma estimativa exata nacional atualizada, especialistas apontam que questões como pobreza, distância dos centros especializados, falta de transporte e suporte emocional são fatores decisivos.
De acordo com o Instituto Nacional de Câncer (INCA), o Brasil registrará quase 8 mil novos casos de câncer infantojuvenil por ano entre 2023 e 2025. A doença já é a principal causa de morte por enfermidade entre crianças e adolescentes de 1 a 19 anos, o que reforça ainda mais a urgência de políticas públicas integradas e ações de suporte ampliado.
Acolhimento salva vidas
No Brasil, iniciativas como as unidades do Programa Casa Ronald McDonald, coordenadas pelo Instituto Ronald McDonald, se mostram essenciais para garantir a continuidade do tratamento e reduzir as taxas de abandono. Apenas em 2024, as 7 unidades acolheram mais de 1.200 hóspedes, oferecendo hospedagem, transporte e alimentação, incluindo quase 59 mil idas e voltas aos hospitais e mais de 500 mil refeições.
Essas unidades funcionam como uma segunda moradia para famílias que precisam se deslocar até outras cidades em busca de tratamento para seus filhos. Além de hospedagem e alimentação, oferecem suporte emocional, oficinas, espaços de convivência e acompanhamento constante.
"A jornada de uma criança com câncer afeta toda a família. Muitos pais abandonam seus empregos, mães deixam os outros filhos em suas cidades e enfrentam o medo e a incerteza longe de casa. Sem uma rede de apoio, o risco de abandono do tratamento aumenta. Acolher essas famílias é cuidar da saúde pública", afirma Bianca Provedel.
Cuidar de quem cuida
Dentro das unidades do Programa Casa Ronald McDonald, os profissionais que atuam no dia a dia também enfrentam desafios emocionais intensos. São histórias de dor, luta e superação que exigem preparo psicológico e empatia.
"As histórias que atravessam nossos corredores não são fáceis. Lidar com a vulnerabilidade humana todos os dias exige preparo, escuta e um olhar integral. Por isso, cuidar de quem cuida também é parte da nossa missão. O acolhimento começa dentro da nossa equipe", reforça Bianca.
Impacto real e duradouro
Com 26 anos de atuação no Brasil, o Instituto Ronald McDonald já investiu mais de R$ 422 milhões em programas de combate ao câncer infantojuvenil, impactando mais de 15 milhões de vidas em todo o país. As unidades do Programa Casa Ronald McDonald são uma das principais frentes de ação, ao lado dos Espaços da Família Ronald McDonald, implantados em hospitais públicos e voltados ao acolhimento durante o tratamento.
Confira os números de impacto das unidades do Programa Casa Ronald McDonald em 2024:
- 1.292 hóspedes acolhidos
- 58.942 idas e voltas para hospitais oferecidas
- 563.189 refeições servidas
- 84,7% das famílias afirmaram que não teriam onde ficar se não fossem acolhidas
- 72,8% das famílias atendidas vivem com até 1 salário-mínimo
O modelo de acolhimento segue o legado da Dra. Audrey Evans, oncopediatra americana que, nos anos 1970, iniciou a iniciativa abrindo sua própria casa para abrigar famílias. Desde então, a rede Ronald McDonald House Charities (RMHC) se espalhou por mais de 60 países.
"Nosso maior desejo é que nenhuma criança precise abandonar o tratamento por falta de estrutura. Que todas encontrem não só cuidados médicos, mas um lar temporário onde possam continuar acreditando na cura. E que, ao final dessa jornada, levem consigo não só cicatrizes, mas também memórias de acolhimento e dignidade", diz Bianca que acredita que para reduzir de forma estrutural os índices de abandono e ampliar o acesso ao tratamento, é fundamental que o acolhimento seja visto como parte da estratégia de saúde pública:
"O Brasil precisa de políticas públicas que entendam o câncer infantojuvenil como prioridade, com estratégias específicas para garantir diagnóstico precoce, acesso ao tratamento e suporte às famílias. Também precisamos de mais pessoas e empresas engajadas, com um olhar macro, que entendam que apoiar essa causa é investir no futuro do país. O Instituto Ronald McDonald existe para isso: para ser ponte, para garantir cuidado, mas também para transformar o sistema", finaliza Bianca.
Cerca de 30% das crianças com câncer abandonam o tratamento em países em desenvolvimento
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