'Nunca subestime um professor', diz Tim Walz ao aceitar nomeação para vice de Kamala Harris

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O governador de Minnesota, Tim Walz, consolidou sua nomeação para concorrer à vice-presidência dos Estados Unidos, ao lado de Kamala Harris, nesta quarta-feira, 21. Em um discurso na terceira noite da Convenção Democrata, Walz resgatou seu "espírito de treinador" e destacou seu compromisso com as famílias e as liberdades individuais dos americanos.

"É a maior honra da minha vida aceitar sua nomeação para vice-presidente dos Estados Unidos", disse Walz, logo após agradecer a Joe Biden "por quatro anos de liderança forte e histórica" e a Kamala "por me convidar para fazer parte desta campanha incrível".

 

O discurso de Walz foi uma tarefa importante diante do desafio urgente de se apresentar ao país, faltando cerca de 70 dias para eleição. Em comparação com alguns dos outros candidatos que Kamala considerou como possíveis companheiros de chapa, pesou positivamente a Walz o fato de que ele tem enfrentado menos escrutínio no cenário nacional.

 

Essa menor exposição, por outro lado, também significa que ele ainda é amplamente desconhecido pelo eleitorado nacional. Uma pesquisa da ABC News/Ipsos realizada em julho, pouco depois de Biden desistir de disputar as eleições, indicou que apenas 13% dos americanos sabiam o suficiente sobre Walz para opinar sobre ele.

 

Ex-professor do ensino médio e técnico de futebol, Walz tem 60 anos e nasceu em West Point, cidade rural do Estado americano de Nebraska. Após o colegial ele se alistou para a Guarda Nacional dos Estados Unidos e se formou em ciências sociais em 1989. Seu passado permeou parte de sua fala diante dos democratas nesta noite, incorporando o espírito "treinador" de sua época de técnico de futebol estudantil e destacando que ele e Kamala são "o time certo".

 

"Foram esses jogadores e meus alunos que me inspiraram a concorrer ao Congresso. Eles viram em mim o que eu esperava incutir neles - um comprometimento com o bem comum, um entendimento de que estamos todos juntos nisso e a crença de que uma única pessoa pode fazer uma diferença real para seus vizinhos", disse.

 

"Então lá estava eu, um professor de ensino médio de 40 e poucos anos com filhos pequenos, experiência política zero e sem dinheiro, concorrendo em um distrito profundamente vermelho. Mas sabe de uma coisa? Nunca subestime um professor de escola pública", declarou Walz, provocando aplausos intensos do público.

 

Conhecido pela personalidade alegre, ele se junta à Kamala na corrida eleitoral com a missão de renovar as energias entre o eleitorado democrata após semanas de tensão diante da troca de candidato presidencial. Em seu discurso, Walz descreveu a parceira de chapa como "durona, experiente e pronta".

 

"Se você é uma família de classe média, Kamala Harris vai cortar seus impostos. Se você está sendo pressionado pelos preços dos medicamentos prescritos, Kamala Harris vai enfrentar as grandes farmacêuticas", afirmou Walz. "Não importa quem você seja, Kamala Harris vai se levantar e lutar pela sua liberdade de viver a vida que você quer levar", bravejou o candidato a vice.

 

Uma pesquisa da AP-NORC divulgada nesta quarta-feira, 21, revelou que cerca de um terço dos adultos americanos (36%) tem uma visão favorável de Walz, enquanto cerca de um quarto (27%) tem uma opinião positiva de J.D. Vance, o candidato a vice de Donald Trump. Significativamente mais adultos também têm uma visão desfavorável de Vance do que Walz, 44% a 25%. Walz criticou os republicanos ao evocar o Projeto 2025.

 

"O Projeto 2025 deles tornará as coisas muito, muito mais difíceis para as pessoas que estão apenas tentando viver suas vidas. Eles passaram muito tempo fingindo que não sabiam nada sobre isso. Mas olha, eu treinei futebol americano no ensino médio por tempo suficiente para saber e confiar em mim sobre isso. Quando alguém se dá ao trabalho de elaborar um manual de jogo, eles vão usá-lo", disse ele.

 

O discurso de Walz destacou seu histórico como um "defensor das famílias", contando sobre o processo compartilhado com sua esposa com fertilização in vitro que gerou sua filha Hope, e um "protetor de nossas liberdades fundamentais". Em seu histórico político, o candidato carrega a promulgação de leis para proteger o acesso ao aborto e direitos trans.

 

"Protegemos a liberdade reprodutiva, porque em Minnesota, respeitamos nossos vizinhos e as escolhas pessoais que eles fazem", disse. "E mesmo que não fizéssemos as mesmas escolhas por nós mesmos, temos uma regra de ouro: cuide da sua própria vida."

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O governo Lula rechaçou a sondagem feita pela administração Trump para categorizar o Primeiro Comando da Capital (PCC) e o Comando Vermelho (CV), as duas maiores facções criminosas do País, como organizações terroristas.

A opção foi sugerida durante uma reunião na tarde desta terça-feira, 6, em Brasília, entre autoridades do Brasil e uma comitiva liderada por David Gamble, chefe interino da coordenação de sanções do Departamento de Estado americano. Servidores dos ministérios das Relações Exteriores e da Justiça e Segurança Pública e da Polícia Federal participaram do lado brasileiro.

Os enviados da Casa Branca alegaram, segundo relatos de pessoas envolvidas, que a legislação americana permitiria sanções mais pesadas contra PCC e CV se eles fossem enquadrados como terroristas pelo governo do Brasil. Isso porque o sistema penal dos Estados Unidos é mais duro com esse tipo de atividade.

Gamble e sua comitiva também mencionaram que o FBI (a Polícia Federal americana) avalia que o PCC e o CV estão presentes em 12 estados americanos, como Nova York, Flórida, Nova Jersey, Massachussets, Connecticut e Tennessee.

As duas facções têm usado o território americano para lavar dinheiro, por meio de brasileiros que viajam ao País, de acordo com membros da comitiva de Trump. Eles citaram que 113 brasileiros tiveram visto negado pela Embaixada dos Estados Unidos após terem sido identificadas como ligadas às quadrilhas.

O argumento dado pelo governo brasileiro é que o sistema legal nacional não considera facções criminosas como terrorismo, uma vez que a atuação desses grupos não atendem a uma causa ou ideologia, mas sim a busca por lucro de diversas atividades ilícitas.

De volta à Casa Branca, o presidente Donald Trump tem colocado a preocupação com a entrada de imigrantes no País como sua principal batalha. No primeiro mês deste mandato, o republicano declarou emergência na fronteira e designou cartéis de drogas como organizações terroristas - o que ele agora quer fazer com as duas maiores quadrilhas brasileiras.

Autoridades brasileiras também argumentaram a Gamble que o Brasil tem se dedicado a implementar políticas públicas para combater facções como o PCC e o CV. O plano de fortalecer a integração com os demais países da América Latina foi mencionado no encontro.

Os presídios federais, onde governos têm isolado lideranças das cúpulas dessas quadrilhas, e operações feitas em conjunto pelas polícias e Ministérios Públicos - como, por exemplo, por meio dos Grupos de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco) - também foram foram colocados como exemplos.

Estavam presentes, além de Gamble, John Jacobs, da Embaixada dos Estados Unidos, o adido judicial Michael Dreher, os assessores sênior Ricardo Pita e John Johnson, a conselheira política Holly Kirking Loomis e o adido policial Shawn Sherlock. O ministério diz que o encontro foi feito a pedido dos americanos.

Na tarde da segunda-feira, 5, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) recebeu Pita em seu gabinete no Senado, também para tratar de crime organizado. Ele afirmou ter solicitado o encontro dias atrás com a Embaixada americana para tratar de segurança pública.

Nas redes sociais, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), entretanto, vinha tratando a vinda de Gamble como um passo para a imposição de sanções por parte de Trump contra o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, considerado algoz pelo bolsonarismo. Mas o assunto não foi discutido, de acordo com o senador.

Questionado sobre o fato de o próprio irmão ter sugerido nas redes sociais que o encontro seria feito para tratar de sanções a Moraes, Flávio negou a intenção. "Não, ele (Eduardo) está tratando disso nos Estados Unidos, mas esta reunião específica foi uma coincidência de verdade. Não vai ter outra (reunião) com a gente", declarou Flávio após a reunião.

O Supremo Tribunal Federal (STF) deve usar o julgamento da ação penal do "núcleo de desinformação" do plano de golpe para definir parâmetros mais claros de como punir fake news.

A Primeira Turma do STF recebeu nesta terça-feira, 6, por unanimidade, a denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR) contra sete aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) acusados de disseminar notícias falsas e ataques ao sistema eleitoral e a instituições e autoridades como parte do plano para mantê-lo no poder.

Uma ala do tribunal considera que essa é uma boa oportunidade para debater como enquadrar a divulgação de notícias falsas e se é possível tipificar as fake news como crime, mesmo sem uma lei específica que regulamente o assunto.

Na sessão desta terça, o ministro Flávio Dino defendeu a necessidade de reconhecer que as fake news são uma "modalidade de violência gravíssima" que tem causado "danos gravíssimos e incontornáveis similares a uma facada ou a um tiro".

Segundo Dino, esse reconhecimento precisa vir "pela via legislativa ou mesmo pela via jurisprudencial".

"Creio que temos esse encontro marcado, nesses autos e em outros, com a aquilatação adequada acerca desse juízo que cabe aos julgadores", defendeu.

"Em algum momento é preciso que haja essa compreensão social de que as fake news imbutem em si mesmas uma violência simbólica que extermina, que mata. Mata moralmente, mata psicologicamente, cria danos mentais, assassina reputações e leva ao terror dos alvos deste tipo de procedimento industrial que é uma das marcas terríveis do nosso tempo, que é a monetização do ódio, a monetização dessa violência simbólica por intermédio da tecnologia", concluiu Dino.

O ministro Alexandre de Moraes é outro que defende uma punição dura para a disseminação em massa de notícias falsas. Essa é uma das maiores bandeiras do ministro. Moraes já comprou briga com as redes sociais ao exigir mais controle sobre o conteúdo que circula nas plataformas.

Nesta terça, na sessão da Primeira Turma, Cármen Lúcia sinalizou que deve seguir a mesma linha dos colegas. "Quando a mentira se põe a serviço dos ódios, as consequências são muito pouco humanas e, principalmente, nunca serão democráticas", criticou a ministra.

A atualização do Marco Civil da Internet para punir a divulgação de notícias falsas está travada na pauta do Congresso. A iniciativa mais promissora foi o PL das Fake News, projeto de lei para regulamentar as redes sociais. A proposta foi retirada de pauta em 2023, após amplo lobby e pressão de grandes empresas de tecnologia, como Google e Telegram.

A Câmara dos Deputados aprovou, nesta terça-feira, 6, o requerimento de urgência para o projeto de lei que permite o aumento do número de vagas para deputados federais. No parecer do relator, deputado Damião Feliciano (União-PB), divulgado durante a tarde, haveria um acréscimo de 18 cadeiras. 268 deputados votaram a favor da urgência. Outros 199 parlamentares votaram contra a tramitação acelerada do texto.

O projeto altera a Lei Complementar nº 78 de 1993, que disciplina a fixação do número de deputados. A proposta do relator é estabelecer o número de 531 deputados a partir de 2026. Atualmente, a Câmara tem 513 deputados. O projeto prevê acréscimos para os seguintes Estados:

- Santa Catarina - Mais quatro cadeiras;

- Pará - Mais quatro cadeiras;

- Amazonas - Mais duas cadeiras;

- Rio Grande do Norte - Mais duas cadeiras;

- Mato Grosso - Mais duas cadeiras;

- Goiás - Mais uma cadeira;

- Ceará - Mais uma cadeira;

- Minas Gerais - Mais uma cadeira;

- Paraná - Mais uma cadeira;

Segundo o parecer, a distribuição das vagas terá como base os dados oficiais do censo demográfico realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), com submissão dos dados ao Tribunal de Contas da União (TCU).

No documento, o relator sustenta que, segundo informações da Direção-Geral da Câmara, a criação das 18 vagas geraria um impacto anual de aproximadamente R$ 64,6 milhões. "Considerando a margem orçamentária estimada para o exercício de 2025, a Direção da Casa conclui que, mesmo hoje, o orçamento da Câmara dos Deputados já comportaria as despesas decorrentes da aprovação do projeto", alega o deputado.

No parecer, Damião Feliciano (União-PB) não detalha quais aspectos foram levados em consideração para o cálculo de que cada novo deputado geraria um custo anual de aproximadamente R$ 3,6 milhões.

A medida responde a uma determinação do Supremo Tribunal Federal (STF) para que o Congresso Nacional revise a distribuição do número de deputados, de acordo com a atual população de cada Estado.

A discussão partiu de uma ação do governo do Pará que argumenta que a distribuição dos 513 deputados federais foi estabelecida em 1993 e que, desde 2010, tem direito a mais quatro parlamentares. O STF, então, estabeleceu um prazo de até 30 de junho deste ano para que o Congresso dê uma solução à questão.

Caso a determinação não seja cumprida, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) poderá fixar o novo número de deputados federais e estaduais de cada Estado, além dos deputados do Distrito Federal, para a legislatura que se iniciará em 2027.

No caso, serão observados o piso e o teto constitucional por circunscrição, os dados demográficos coletados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) no Censo de 2022 e a metodologia utilizada em resolução do TSE sobre o tema.