Tragédia com avião da Air India: o que a caixa-preta pode nos dizer sobre acidentes aéreos

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Uma conclusão preliminar sobre o acidente aéreo da Air India no mês passado sugeriu que os interruptores de controle de combustível da aeronave foram desligados, privando os motores de combustível e causando uma perda de impulso do motor logo após a decolagem.

O relatório, divulgado no sábado, 12, pelo Departamento de Investigação de Acidentes Aéreos da Índia, também revelou que um dos pilotos foi ouvido no gravador de voz da cabine perguntando ao outro por que ele cortou o combustível no momento final do voo. O outro piloto respondeu que não tinha feito isso.

O voo da Air India - um Boeing 787-8 Dreamliner - caiu em 12 de junho e matou pelo menos 260 pessoas, incluindo 19 em terra, na cidade de Ahmedabad, no noroeste do país. Apenas um passageiro sobreviveu ao acidente, que é um dos piores desastres aéreos da Índia.

O relatório baseou suas conclusões nos dados recuperados das caixas-pretas do avião - gravadores de voz da cabine e gravadores de dados de voo combinados. Aqui está uma explicação sobre o que são caixas-pretas e o que elas podem fazer.

O que são caixas-pretas?

O gravador de voz da cabine e o gravador de dados de voo são ferramentas que ajudam os investigadores a reconstruir os eventos que levaram a um acidente aéreo. Eles são de cor laranja para facilitar sua localização nos destroços, às vezes em grandes profundidades oceânicas. Geralmente são instalados na seção da cauda do avião, considerada a parte mais resistente da aeronave, de acordo com o site do National Transportation Safety Board (NTSB).

O que o gravador de voz da cabine faz?

O gravador de voz da cabine coleta transmissões de rádio e sons, como as vozes dos pilotos e os ruídos do motor, de acordo com o site do NTSB. Dependendo do que aconteceu, os investigadores podem prestar muita atenção ao ruído do motor, avisos de estolagem e outros cliques e estalos, disse o NTSB. E a partir desses sons, os investigadores muitas vezes podem determinar a velocidade do motor e a falha de alguns sistemas. Os investigadores também podem ouvir as conversas entre os pilotos e a tripulação e as comunicações com o controle de tráfego aéreo. Os especialistas fazem uma transcrição meticulosa da gravação de voz, o que pode levar até uma semana.

O que faz o gravador de dados de voo?

O gravador de dados de voo monitora a altitude, a velocidade e o rumo do avião, de acordo com o NTSB. Esses fatores estão entre os pelo menos 88 parâmetros que os aviões recém-construídos devem monitorar. Alguns podem coletar o status de mais de 1.000 outras características, desde a posição do flap da asa até os alarmes de fumaça. O NTSB disse que pode gerar uma reconstrução em vídeo animada por computador do voo a partir das informações coletadas.

Quais são as origens da caixa-preta?

Pelo menos duas pessoas são creditadas pela criação de dispositivos que registram o que acontece em um avião. Uma delas é o engenheiro aeronáutico francês François Hussenot. Na década de 1930, ele descobriu uma maneira de registrar a velocidade, altitude e outros parâmetros de um avião em um filme fotográfico, de acordo com o site da fabricante europeia de aviões Airbus.

Na década de 1950, o cientista australiano David Warren teve a ideia do gravador de voz da cabine, de acordo com seu obituário da AP de 2010. Warren estava investigando a queda do primeiro avião comercial a jato do mundo, o Comet, em 1953, e achou que seria útil para os investigadores de acidentes aéreos ter uma gravação das vozes na cabine, disse o Departamento de Defesa australiano em um comunicado após sua morte. Warren projetou e construiu um protótipo em 1956. Mas levou vários anos para que as autoridades compreendessem o quão valioso o dispositivo poderia ser e começassem a instalá-lo em companhias aéreas comerciais em todo o mundo.

Por que o nome "caixa-preta"?

Alguns sugeriram que ele deriva do dispositivo de Hussenot porque usava filme e "funcionava continuamente em uma caixa à prova de luz, daí o nome 'caixa-preta'", de acordo com a Airbus, que observou que a cor laranja foi escolhida para a caixa desde o início para facilitar sua localização.

Outras teorias incluem o fato de as caixas ficarem pretas quando carbonizadas em um acidente, escreveu a revista Smithsonian Magazine em 2019. A mídia continua a usar o termo, escreveu a revista, "por causa da sensação de mistério que ele transmite após um desastre aéreo".

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Integrantes do PT da Bahia pediram impugnação da eleição interna do partido após identificarem mortos que votaram em duas cidades. A chapa Partido Forte, derrotada na votação que consagrou Tássio Brito - apadrinhado do senador Jaques Wagner (PT-BA) - como novo presidente da sigla no Estado no começo do mês, também denuncia outras fraudes que, segundo estimativa, representariam cerca de sete mil votos.

No processo eleitoral em Camaçari (BA), a chapa diz ter identificado cinco pessoas falecidas participaram do processo eleitoral. Em Barro Preto (BA) pelo menos um morto votou. Procurados o diretório do PT na Bahia e a chapa Partido Forte não responderam aos contatos do Estadão.

A reportagem teve acesso às listas de votação assinadas e ao certificado de óbito dos falecidos que votaram. O diretório do PT na Bahia decidiu anular os votos dos falecidos, mas aprovou a eleição nas duas cidades, enquanto a chapa Partido Forte pretende recorrer a nível nacional.

Procurado, o PT da Bahia não respondeu ao questionamento da reportagem. Em nota pública, o PT de Camaçari diz que os erros se deveram em razão de "rubricas grandes o suficiente que tomaram duas ou três linhas da lista", refuta "qualquer narrativa opositora que tente macular o processo eleitoral" e que acionará o corpo jurídico para tomar providências cabíveis (veja a íntegra da nota mais abaixo).

Já Wagner diz que qualquer questionamento sobre o processo eleitoral "deve ser tratado diretamente com o diretório estadual".

A disputa interna no PT foi marcada por episódios de tensão, com denúncias de filiações em massa, acusações de golpe e até judicialização. Em 2017, o PT anulou votação em 30 cidades paulistas por suspeitas de fraudes, incluindo a contagem de votos de filiados já falecidos.

"Essa direção estadual do PT que não tem autonomia dirigente, submissa a gabinetes, em detrimento a diversidade interna que é a marca do partido, aprovou eleições comprovadamente fraudulentas em diversas cidades, manchando a imagem do nosso partido e submetendo sua democracia interna a um vexame", diz nota da chapa Partido Forte.

A chapa Partido Forte, encabeçada por Jonas Paulo, faz parte da tendência predominante no PT: a Construindo um Novo Brasil (CNB). Em contraste ao resultado nos principais Estados, a CNB foi derrotada por Tássio Brito, da tendência Esquerda Popular Socialista (EPS), apadrinhado por Wagner.

Tássio venceu com 73% dos votos na eleição do PT na Bahia, em que votaram cerca de 42 mil filiados. A chapa Partido Forte teve cerca de 20% dos votos.

O resultado serviu para consagrar Wagner como a principal liderança do PT no Estado, afastando o grupo político do ministro da Casa Civil, Rui Costa, que optou por não apoiar outro candidato para evitar uma derrota política.

"A mensagem que a atual direção estadual e a próxima, com essa maioria fantasmagórica, passam ao PT é clara: em eleições internas do partido, até mortos podem votar - e isso é considerado 'normal'. O PED (Processo de Eleição Direta) 2025, na Bahia, virou uma gincana de vale-tudo eleitoral", diz a nota interna do Partido Forte.

A chapa denuncia um caso de um dos mortos eleitores como "revoltante" - o sindicalista Crispim Carvalho da Hora, morto em 2016, aparece como uma das pessoas que assinaram e registraram voto na eleição na cidade baiana.

"Sua suposta participação como votante constitui não apenas uma fraude eleitoral, mas um desrespeito à sua memória e à dor de sua família e de vários outros companheiros e companheiras que como ele ajudaram a criar o PT e o movimento sindical no Estado", dizem os integrantes da chapa Partido Forte no pedido de impugnação da eleição.

Além dos mortos votantes em Camaçari e em Barro Preto, a chapa denuncia, entre outros casos, a existência de 91 páginas de votação duplicadas e falsificações em assinaturas na votação em Itabuna (BA).

Como mostrou o Estadão, as eleições internas na Bahia têm sido marcadas pela judicialização. Na mesma Itabuna, a petista Nina Germano, candidata ao diretório municipal da sigla, entrou com uma ação contra o partido após ter sua candidatura anulada por inadimplência.

Na quinta-feira, 3, a Justiça da Bahia concedeu uma decisão favorável à candidata, determinando a manutenção de seu nome na disputa e impondo multa diária de R$ 15 mil em caso de descumprimento.

Em Feira de Santana, outro candidato à presidência municipal também acionou a Justiça pelo mesmo motivo, buscando garantir sua participação na eleição.

Na Bahia, o PT cogita lançar uma chapa puro sangue, indicando dois senadores (Wagner e Rui), além do nome ao governo do Estado. Desde 2002 a sigla não perde uma eleição presidencial na Bahia e está invicta na disputa pelo governo do Estado desde 2006.

Veja a íntegra da nota do PT de Camaçari:

O último Processo de Eleição Direta (PED) do Partidos dos Trabalhadores, ocorrido no último dia 06 Julho, no Sindicato dos Professores de Camaçari foi marcado por grande mobilização e participação da nossa militância para escolha democrática da nova direção para o partido.

Norteados pelo regimento interno, pelas orientações nacionais e pelas regras que regulamentam o PED, todo o processo de fiscalização foi devidamente respeitado pela Comissão Organizadora Eleitoral (COE). Tendo em vista a chuva e a aglomeração, devido intensa mobilização e participação dos filiados, o PED também foi marcado por tumultos, atrasando as filas e expondo pessoas mais idosas a intensa espera.

Atrelados à espera, a aglomeração, a pressa e a má iluminação do ambiente, é justificável situações onde de forma não intensional houvessem erros na assinatura das listas de votação, tendo pessoas assinado na parte superior ou inferior da linha do seu nome, tão como erros de rubricas grandes o suficiente que tomara duas ou três linhas da lista. É importante ressaltar que tais listas são confeccionadas e expedidas exclusivamente pela direção nacional do partido, e que ao nosso ver, precisam urgentemente serem atualizadas.

Compreedemos que a intensa mobilização do PED, dos mais de 3 mil filiados que foram votar e da real intenção do processo eleitoral, que por ventura havia apenas uma chapa inscrita. Refutamos qualquer narrativa opositora que tente macular o nosso processo eleitoral, usando imprensa chapa branca, aliada do ex-prefeito de Camaçari, que tentou deslegitimar nosso partido e o nosso processo eleitoral, inclusive propagando fakenews, calúnias e difamações. Por esse motivo, acionaremos nosso corpo jurídico para tomar as medidas cabíveis.

Deste modo, agradecemos a todos que se fizeram presentes no nosso PED, nos solidarizamos com todos aqueles que tiveram suas vidas e entes expostos, e parabenizamos à única chapa inscrita e eleita legitimamente pelos filiados ao PT de Camaçari.

A Procuradoria-Geral da República (PGR) chamou de "bizarra" e "esdrúxula" uma sugestão elaborada pelo ex-diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) Alexandre Ramagem e pelo general Augusto Heleno para, supostamente, desobrigar o governo de Jair Bolsonaro (PL) de cumprir decisões do Judiciário.

Segundo a Procuradoria, a estratégia serviria para anular decisões do Supremo Tribunal Federal (STF) que contrariassem interesses de Bolsonaro.

Em um memorando encaminhado a Bolsonaro, Ramagem propôs que o presidente acionasse a Advocacia-Geral da União (AGU) para a elaboração de pareceres técnicos que, em tese, desobrigariam o governo federal de cumprir decisões judiciais. Segundo Ramagem, os pareceres respaldariam "o não atendimento" de decisões da Justiça que fossem "contrárias à lei". Uma tese de mesmo teor foi encontrada em um documento em posse de Augusto Heleno.

"A ideia de que um parecer jurídico da Advocacia-Geral da União (AGU) pudesse se sobrepor a decisões da Suprema Corte carece de qualquer amparo constitucional e legal, configurando uma subversão da ordem jurídica", afirmou a PGR nas alegações finais contra o "núcleo crucial" da ação penal por tentativa de golpe de Estado.

"Tais orientações revelam não apenas desprezo pelo princípio da separação de Poderes, mas tentativa concreta de criar base pseudo-jurídica para a desobediência institucional, numa antecipação da tese de ruptura que viria a ser mobilizada em 2022", disse o relatório assinado pelo procurador-geral da República, Paulo Gonet. Em outros trechos do parecer, a PGR chamou a solução elaborada por Ramagem e Heleno de "esdrúxula" e "bizarra".

Em depoimento ao STF, tanto Ramagem quanto Heleno confirmaram o teor da tese. Ramagem alegou que se tratariam apenas de "consultas" à AGU, enquanto Heleno afirmou que Bolsonaro precisava de "meios" para agir contra decisões que vinham "impedindo uma série de ações do governo".

Durante o governo Bolsonaro, Alexandre Ramagem era diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) e Augusto Heleno, chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI).

Para a PGR, Ramagem "preparou a narrativa difundida" por Bolsonaro sobre fraude nas urnas eletrônicas e comandou "espionagens ilegais baseadas em interesses particulares" do então presidente, "em flagrante desvio da estrutura brasileira de inteligência". A Procuradoria quer a condenação de Ramagem por organização criminosa armada, tentativa de abolição do Estado Democrático de Direito e golpe de Estado.

Segundo a PGR, Heleno também tomou parte nos preparativos da narrativa de fraude nas urnas. Paulo Gonet pediu que Heleno seja condenado por organização criminosa armada, abolição do Estado de Direito, golpe de Estado, dano qualificado e deterioração de patrimônio tombado.

O ministro Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal, decretou nesta terça-feira, 15, a 'nulidade absoluta' de todos os atos da operação Lava Jato contra o doleiro Alberto Youssef, réu confesso.

O ministro aponta, em 53 páginas, um 'conluio processual entre acusação e magistrado' contra o delator que revelou esquema de corrupção e cartel na Petrobras entre 2003 e 2014. Toffoli se refere ao ex-juiz Sérgio Moro, hoje senador, que conduziu a Lava Jato, então na titularidade da 13ª Vara Criminal Federal de Curitiba, base e origem da operação.

No entanto, Toffoli não anulou o acordo de colaboração de Youssef firmado em 2014. O doleiro é um nome emblemático da Lava Jato. Preso em março de 2014, quando a primeira etapa da operação foi deflagrada, Youssef fechou segundo acordo de delação premiada no âmbito da investigação - antes dele, o então diretor de Abastecimento da estatal petrolífera, Paulo Roberto Costa, já havia adotado o mesmo caminho.

Para o ministro, "se revela incontestável o quadro de conluio processual entre acusação e magistrado em detrimento de direitos fundamentais do requerente (Alberto Youssef)".

O ministro acolheu o pedido da defesa de Alberto Youssef ao reafirmar a suspeição de Sérgio Moro na condução dos procedimentos investigativos e ações penais que tramitaram na 13ª Vara Federal de Curitiba.

A decisão destaca que a Operação Soopfing- investigação sobre hackeamento de comunicações de Moro e procuradores - permitiu que diversos réus da Lava Jato apontassem ilegalidades do então juiz federal.

"O estudo mais aprofundado do material colhido na referida operação (Soopfing) revelou um complexo sistema de captura do Poder Judiciário e do Ministério Público para o desenvolvimento de projetos pessoais e políticos, o que ficou estampado em centenas de decisões proferidas por esta Suprema Corte", ressalta.

Toffoli considera que Youssef foi alvo dos mesmos 'métodos acusatórios' que os procuradores da Lava Jato e Moro impuseram contra ao então ex-presidente Lula, preso e condenado por corrução e lavagem de dinheiro. Após ficar 580 dias preso, o petista foi beneficiado por uma decisão do Supremo que reconheceu nulidades e extinguiu as ações contra ele.

"Por meios heterodoxos e ilegais os personagens desse episódio histórico atingiram pessoas naturais e jurídicas, independentemente de sua culpabilidade ou não", pontua o ministro.

'Padrão de conduta'

Para Toffoli, 'esse vasto apanhado indica que a parcialidade do juízo da 13ª Vara Federal de Curitiba extrapolou todos os limites, porquanto os constantes ajustes e combinações realizados entre o magistrado e o Parquet (Ministério Público) representam verdadeiro conluio a inviabilizar o exercício do contraditório e da ampla defesa'.

"Nota-se, portanto, um padrão de conduta de determinados procuradores integrantes da Força Tarefa da Lava Jato, bem como de certos magistrados que ignoraram o devido processo legal, o contraditório, a ampla defesa e a própria institucionalidade para garantir seus objetivos, o que não se pode admitir em um Estado Democrático de Direito."

O ministro avalia que 'o necessário combate à corrupção não autoriza o fiscal e o aplicador da lei a descumpri-la, devendo-se lamentar que esse comportamento, devidamente identificado a partir dos diálogos da Operação Spoofing tenha desembocado em nulidade, com enormes prejuízos para o Brasil'.

'Vala comum'

"Em outras palavras, o que poderia e deveria ter sido feito na forma da lei para combater a corrupção foi realizado de maneira clandestina e ilegal, equiparando-se órgão acusador aos réus na vala comum de condutas tipificadas como crime".

Segundo Toffoli, 'medidas enérgicas estão sendo adotadas pelos órgãos competentes não apenas na esfera criminal, mas também no campo civil e administrativo'. Ele critica agentes públicos que atuando como fiscais da lei usam como método de investigação 'belos enredos e incontáveis recursos semânticos que procuram justificar o injustificável'.

Essa conduta, para o ministro, revela 'o interesse pessoal e político de poucos, que saíram do anonimato para ganhar projeção nacional se apoiando em instituições e em tábua de valores que, na verdade, sempre desprezaram'.