Coreia do Sul: polícia vasculha gabinete do presidente Yoon Suk Yeol após lei marcial

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A polícia sul-coreana realizou uma busca no escritório do presidente Yoon Suk Yeol nesta quarta-feira, 11 (noite de terça-feira, 10, no Brasil) devido à imposição da lei marcial na semana passada. Em paralelo às investigações no escritório do presidente, alguns dos principais assessores foram presos, detidos e interrogados sobre suas ações para cumprir suas ordens.

 

Os desdobramentos ocorrem poucas horas antes de o principal partido liberal de oposição, o Partido Democrático, apresentar uma nova moção para o impeachment de Yoon. A primeira tentativa de impeachment fracassou no último sábado, quando o partido governista boicotou a votação. O Partido Democrático afirmou que pretende submeter a nova moção à votação no próximo sábado. A agência de notícias Yonhap inicialmente informou que a polícia está investigando o escritório de Yoon. Mais tarde, uma unidade especial de investigação da polícia sul-coreana confirmou a busca no gabinete presidencial.

 

As principais instituições de aplicação da lei do país estão focadas em descobrir se Yoon e outros envolvidos na imposição da lei marcial cometeram o crime de rebelião. Mais cedo nesta quarta-feira, o ex-ministro da Defesa de Yoon, Kim Yong Hyun, foi preso após um tribunal de Seul aprovar um mandado contra ele por alegações de desempenhar um papel fundamental na rebelião e cometer abuso de poder.

 

Posteriormente, comissário-geral da Agência Nacional de Polícia, Cho Ji Ho, e Kim Bong-sik, chefe da agência de polícia metropolitana de Seul, foram detidos devido a suas ações durante a lei marcial. Eles estão sendo investigados por seu papel no envio de forças policiais ao Parlamento Nacional para impedir que legisladores votassem a revogação do decreto de lei marcial de Yoon.

 

A tentativa de consolidação de poder de Yoon paralisou a política sul-coreana, congelou a política externa do país e abalou os mercados financeiros, reduzindo drasticamente suas chances de completar seu mandato de cinco anos e lançando uma sombra turbulenta sobre uma das democracias mais robustas da Ásia.

 

Após a moção de impeachment fracassada, o líder do partido conservador de Yoon prometeu organizar uma saída estável do presidente, dizendo que o partido coordenará os assuntos do Estado com os membros do gabinete e que Yoon será afastado de suas funções durante uma transição para uma eleição antecipada. No entanto, os planos foram amplamente criticados como irrealistas e inconstitucionais.

 

A constituição estabelece explicitamente que o impeachment é o único método para suspender os poderes presidenciais e que a autoridade para comandar as forças armadas pertence exclusivamente ao presidente. O Ministério da Defesa afirmou nesta semana que Yoon continua no comando das forças militares do país. O Parlamento também foi cercado por tropas fortemente armadas, que os comandantes militares afirmam terem sido enviadas sob as ordens do ex-ministro da Defesa. No entanto, um número suficiente de legisladores conseguiu entrar na câmara do parlamento e rejeitou por unanimidade o decreto de Yoon, forçando o gabinete a revogar a lei marcial antes do amanhecer de 4 de dezembro.

 

Durante uma audiência parlamentar na terça-feira, Kwak Jong-keun, comandante do Comando de Guerra Especial do Exército, cujas tropas foram enviadas ao parlamento, testemunhou que recebeu instruções diretas de Kim Yong Hyun, ex-ministro da Defesa, para impedir que os legisladores entrassem na câmara principal da Assembleia.

 

Kwak afirmou que o objetivo das instruções de Kim era impedir que os 300 membros do parlamento reunissem os 150 votos necessários para anular o decreto de lei marcial de Yoon. Ele também declarou que Yoon posteriormente ligou diretamente para ele e ordenou que as tropas "destruíssem rapidamente a porta e arrastassem os legisladores que estavam dentro".

 

Na mesma audiência, o oficial sênior Kim Dae-woo, da agência de contrainteligência militar, afirmou que seu comandante, Yeo In-hyung, perguntou se havia espaço em um bunker militar em Seul para deter políticos e outras figuras após a imposição da lei marcial. Yeo é considerado um aliado próximo de Kim Yong Hyun.

 

Na semana passada, Hong Jang-won, vice-diretor da agência de inteligência do país, afirmou que Yoon ordenou que ele ajudasse o comando de Yeo a deter alguns de seus rivais políticos, mas que ele ignorou a ordem do presidente. Kwak e Yeo estão entre os que enfrentam acusações de rebelião levantadas pela oposição, juntamente com Yoon e Kim, e o Ministério da Defesa os suspendeu na semana passada.

 

Se Yoon for impedido, seus poderes presidenciais seriam suspensos até que o Tribunal Constitucional decida se restaura ou remove seus poderes. Caso seja destituído, seria necessária uma nova eleição presidencial. Partidos de oposição e muitos especialistas afirmam que o decreto de lei marcial foi inconstitucional, argumentando que um presidente pode, por lei, declarar lei marcial apenas em "tempos de guerra, situações semelhantes a guerras ou outros estados de emergência nacional comparáveis", o que não era o caso da Coreia do Sul. Fonte: Associated Press.

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O ministro das Relações Exteriores, Mauro Veira, se reuniu nesta quarta-feira, dia 30, em Washington, com o secretário de Estado dos Estados Unidos, Marco Rubio.

Esse foi primeiro encontro entre os chefes das diplomacias brasileira e americana. Vieira estava orientado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva a reforçar que o Brasil desejava discutir a questão tarifária - e apenas a relação econômica-comercial - sem entrar em questões políticas.

O diálogo ocorreu no mesmo dia em que o governo Donald Trump anunciou sanções ao ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes e o tarifaço de 50% sobre exportações do Brasil.

Na reunião com Rubio, Vieira afirmou ter enfatizado que "é inaceitável e descabida a ingerência na soberania nacional no que diz respeito a decisões do Poder Judiciário do Brasil".

O ministro disse ter abordado a ação penal contra o ex-presidente Jair Bolsonaro, que Trump classifica como "caça às bruxas" e deseja ver encerrada. Vieira respondeu que a Justiça nacional é tão "independente" quanto a dos EUA e "não se curvará a pressões externas".

Em pronunciamento posterior na embaixada brasileira em Washington, ele disse ter afirmado a Rubio que o governo brasileiro se reserva o direito de responder às medidas de restrição americanas contra Moraes.

O chanceler retorna ao País nesta noite e vai relatar o teor da conversa a Lula, a fim de discutir medidas do governo contra o tarifaço da Casa Branca, e as restrições aplicadas pelos Departamento de Estado e o Tesouro americano.

Segundo interlocutores do governo brasileiro, Vieira se deslocou a Washington para ser recebido por Rubio, após dias de articulação discreta. O encontro não ocorreu na sede do Departamento de Estado, tampouco na embaixada brasileira. O local não foi informado. A reunião também não foi previamente divulgada, até que fosse realizada, nas respectivas agendas públicas de ambos.

Vieira havia viajado aos Estados Unidos após sinalizar disposição para uma conversa. Ele passou dois dias em Nova York, em debates sobre o conflito entre Israel e Palestina.

A deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) será interrogada pela justiça italiana na próxima sexta-feira, 1º de agosto. A parlamentar foi presa em Roma, capital do país, na última terça-feira, 29, e se encontra no presídio feminino de Rebibbia.

No interrogatório, a justiça italiana perguntará se Zambelli prefere voltar ao Brasil ou passar por um processo de extradição. Caso opte pela segunda opção, o juiz deverá decidir se ela ficará presa ou terá medidas cautelares enquanto aguarda o resultado do processo. Como já apontou o Estadão, os trâmites para concretizar a extradição podem demorar de um ano e meio a dois anos.

Dentre as medidas cautelares que podem ser impostas à parlamentar, estão a prisão domiciliar, a continuidade no presídio ou, até mesmo, a possibilidade de seguir em liberdade enquanto o processo corre.

A defesa da deputada já afirmou que ela deseja permanecer no país e não deve escolher voltar ao Brasil por conta própria. "A Carla busca a não extradição e, obviamente, ser julgada com imparcialidade e justiça", afirmou o advogado Fábio Pagnozzi, que representa a deputada, por meio de um vídeo publicado no seu Instagram.

O deputado italiano de esquerda Angelo Bonelli, do Partido Europa Verde, diz ter encontrado a deputada em Roma e fornecido o endereço dela à polícia nacional.

O parlamentar europeu era vocal nas críticas à Zambelli e, em junho, pressionou o governo de seu país, questionando ao ministro das Relações Exteriores e da Cooperação Internacional, ao ministro do Interior e ao ministro da Justiça, sobre a permanência de Zambelli na Itália.

A defesa de Zambelli, no entanto, sustenta uma versão diferente. O advogado e a deputada afirmam que ela se entregou às autoridades italianas e busca por um julgamento no país.

A deputada deixou o Brasil após ser condenada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) a dez anos de prisão e a perda do seu mandato por ser mentora intelectual da invasão ao sistema do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Na ocasião, um mandato de prisão falso foi emitido para o ministro Alexandre de Moraes, do STF.

A nova briga travada no campo das narrativas entre governistas e bolsonaristas é atribuir um responsável pelo governo de Donald Trump ter recuado e deixado de fora da taxação quase 700 itens produzidos pelo Brasil.

Na primeira declaração sobre o anúncio do governo norte-americano, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) atribuiu a desidratação da medida ao seu próprio trabalho com autoridades americanas.

"Trabalhamos diretamente nas últimas semanas para que as medidas fossem ainda melhor direcionadas, atingindo o alvo correto e poupando ao máximo possível o povo brasileiro e o setor produtivo", disse, após semanas afirmando que buscou as sanções contra o Brasil.

O anúncio de Trump ocorre no mesmo dia em que o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), foi punido com a Lei Magnitsky pelo governo americano, o que representou vitória dos bolsonaristas e de Eduardo, que há meses tem buscado a sanção internacional contra o ministro.

Eduardo encheu as próprias redes com agradecimentos às autoridades americanas e declarações sobre os próprios esforços. Após as notícias sobre a oficialização das tarifas, entretanto, o deputado demorou quase quatro horas até se pronunciar sobre as medidas.

Já os aliados do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) conferem ao petista e à posição do governo os créditos pelo recuo de Trump.

O deputado federal Guilherme Boulos (PSOL-SP) afirmou que País "não se ajoelhou, respondeu com firmeza, defendeu sua soberania", e as exceções listadas pelo americano são resultados dessa postura.

Fotos de Lula, do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e do vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, circulam nas redes com frases como "os mais brabos".

As publicações fazem referência a fotos do trio Trump, Eduardo, e do influenciador bolsonarista Paulo Figueiredo, que trabalha com o deputado em busca das sanções para punir autoridades brasileiras; ou do deputado, do presidente americano, e do secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio.

Tão logo as tarifas foram anunciadas pelo americano no início de julho, que deixou claro que a medida estava vinculada à ação penal que Jair Bolsonaro (PL) responde no STF por golpe de Estado, bolsonaristas demonstraram dificuldade em centralizar as críticas em um único culpado, se dividindo entre Lula e Moraes.

O efeito ainda foi visto nesta quarta nas declarações após decreto de Trump, mas o principal alvo, principalmente de parlamentares, foi o presidente Lula.