Bolsonaro abre hoje Assembleia-Geral da ONU pressionado por falta de vacinação

Política
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O presidente da República, Jair Bolsonaro, faz, na manhã desta terça-feira, 21, a partir das 10 horas (horário de Brasília), o discurso de abertura da 76ª Assembleia-Geral da Organização das Nações Unidas, em Nova York. O brasileiro chega ao evento pressionado por líderes internacionais por não ter se vacinado contra covid-19. O avanço da imunização global como saída para o fim da pandemia de coronavírus será tema constante nos discursos desta terça-feira.

A passagem de Bolsonaro por NY nos últimos dois dias foi marcada por constrangimentos em razão da falta de vacinação do mandatário brasileiro - que é o único do G-20 a abertamente declarar que não irá se imunizar. A situação foi assunto da reunião bilateral de Bolsonaro com o primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson; foi abordada pelo prefeito de NY, Bill de Blasio; e fez a comitiva presidencial precisar driblar regras da cidade para circular e se alimentar.

Ao não se vacinar, Bolsonaro destoa dos chefes de Estado do restante do mundo e coloca em xeque a estratégia do Itamaraty de vender uma agenda positiva no evento e reverter o desgaste internacional do Brasil.

Bolsonaro já poderia ter se vacinado desde abril, mas, além de recusar a aplicação da dose, tem feito reiteradas críticas a imunizantes aplicados no País, como a Coronavac. Na semana passada, ele orientou o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, a suspender a vacinação em adolescentes, apesar de a própria Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) ter liberado o uso do produto da Pfizer nesta faixa etária.

Dedo do meio e provocações

Queiroga, por sua vez, mostrou o dedo do meio a manifestantes contrários ao governo que aguardavam Bolsonaro sair de um jantar na residência do embaixador brasileiro junto à ONU.

O presidente passou pelos poucos manifestantes e também fez provocações ao grupo, ao gravar um vídeo no local com ofensas ao grupo.

Tradição

A abertura da Assembleia-Geral é tradicionalmente feita pelo Brasil, desde a fundação da ONU. É possível que Bolsonaro e Biden se encontrem pela primeira vez logo após o pronunciamento do brasileiro.

Não será uma reunião formal. O norte-americano entra no palco para discursar logo na sequência e é praxe que os presidentes do Brasil e dos EUA, portanto, troquem cumprimentos na coxia entre uma fala e outra.

Discurso

Na sua primeira participação na ONU, em 2019, Bolsonaro fincou os pés nas bases do bolsonarismo em seu discurso. Na época, era aconselhado pelo então chanceler Ernesto Araújo. Com o Itamaraty sob nova direção, no comando de Carlos França, diplomatas dizem que desta vez o presidente fará um discurso mais sóbrio, que não desafiará a ordem global.

Antes, Bolsonaro se juntava a um time de líderes como o ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Agora, os EUA têm Joe Biden na presidência, que valoriza o sistema multilateral e a parceria com aliados.

Mas ao longo dos últimos dias, Bolsonaro deu sinais de que colocará seu tom - e improvisos - no roteiro desenhado por França e pelo almirante Flávio Rocha, da Secretaria de Assuntos Estratégicos. A intenção do presidente é falar para sua base eleitoral, que se energiza diante de pronunciamentos inflamados e retórica anti-socialismo.

Em uma live na semana passada, o presidente disse que defenderá a tese do marco temporal em demarcações de terras indígenas, por exemplo. O tema está em análise pelo Supremo Tribunal Federal, o que pode colocar Bolsonaro em um novo embate com a Corte. O assunto também deve despertar críticas de ambientalistas e outros governos, como o dos EUA.

Como revelou o jornal O Estado de S. Paulo, o Itamaraty quer que o presidente anuncie a doação de vacinas contra covid-19 a outros países da região, como Haiti, na abertura da Assembleia-Geral da ONU, hoje, e fale dos bons números da campanha de vacinação brasileira.

No discurso, o presidente do Brasil também deve falar da questão ambiental. Bolsonaro deve dizer que os recursos para o Ibama foram duplicados, que houve anúncio de contratação de mais de 700 servidores para a fiscalização ambiental e que os números de desmate ilegal na Amazônia caíram em julho e agosto deste ano, na comparação com o ano passado.

Contexto internacional

Sem Trump, a Assembleia-Geral da ONU marca a reabertura do diálogo internacional após a pausa de um ano e meio em razão da pandemia de coronavírus e após o período de embate entre americanos e o sistema multilateral. Com 193 membros, o encontro é o primeiro grande fórum a reunir, presencialmente, líderes mundiais desde março de 2020.

Ano passado, nos 75 anos da ONU, o encontro foi virtual. Desta vez, uma parte dos presidentes irá participar virtualmente, enquanto quase 90 deles devem se encontrar em Nova York. O encontro será mais um teste para as apostas pré-eleição americana que davam conta de que Joe Biden na presidência dos EUA acalmaria os ânimos mundiais.

A Assembleia-Geral acontece oito meses após a posse de Biden, que prometeu valorizar as decisões multilaterais e recolocar os Estados Unidos no centro de uma liderança global.

O democrata reverteu uma série de ações do antecessor, com o retorno dos EUA ao Acordo de Paris e a volta do diálogo com aliados.

Diferentemente de Trump, que incomodava a maior parte dos presentes na ONU, Biden fala a mesma língua dos defensores do multilateralismo.

Em outra categoria

A presidente do México, Claudia Sheinbaum, defendeu nesta segunda-feira, 5, seu bom relacionamento com o presidente americano, Donald Trump, e descartou um debate na mídia sobre suas declarações recorrentes.

Como tem sido sua estratégia desde que o republicano chegou ao poder em janeiro, Sheinbaum reagiu com moderação aos comentários provocativos de Trump no domingo, 4, quando ele disse que ela "teme os poderosos cartéis mexicanos".

"Eu não gostaria que a comunicação entre o presidente Trump e a minha pessoa, entre os Estados Unidos e o México, fosse feita através da mídia", enfatizou Sheinbaum em sua conferência matinal.

Ela destacou a comunicação "boa" e "fluida" que mantém com o presidente dos EUA, o que lhe permitiu chegar a uma série de acordos e evitar as tarifas que Washington impôs a vários países.

A líder mexicana também negou que ele tenha feito qualquer ameaça quando, em uma conversa telefônica anterior, ofereceu enviar tropas ao México para apoiar na luta contra organizações criminosas e reiterou que "podemos colaborar em muitas outras coisas dentro da estrutura de nossa soberania e territorialidade".

No domingo, Trump confirmou que havia proposto o envio de tropas americanas a Sheinbaum e criticou-a por ter rejeitado sua oferta.

O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, anunciou nesta segunda-feira, 5, uma nova ofensiva militar na Faixa de Gaza, classificada por ele como uma operação "intensiva" com o objetivo de derrotar o Hamas. Apesar do tom firme, ele não especificou a extensão do território que poderá ser ocupado pelas forças israelenses.

Em um vídeo publicado na rede social X, Netanyahu afirmou que civis serão retirados da área durante a ofensiva. "A população será movida para sua própria proteção", disse. O premiê também ressaltou que a ação militar não se limitará a incursões pontuais. "Os soldados não vão entrar, lançar ataques e depois recuar. A intenção é o oposto disso", declarou.

O Gabinete de Segurança de Israel aprovou por unanimidade um plano para assumir o controle total da Faixa de Gaza, em uma operação descrita por Netanyahu como "poderosa" e voltada para a destruição do Hamas. A decisão seguiu a recomendação do chefe das Forças Armadas israelenses, general Eyal Zamir, segundo explicou o primeiro-ministro.

As declarações de Netanyahu ocorrem em meio à escalada de tensão na região. Ainda não há informações sobre quando a operação terá início nem quais áreas serão atingidas. O governo israelense também não informou para onde os civis seriam deslocados, nem como pretende garantir sua segurança durante o avanço militar.

Em mais um esforço de sua agenda de deportação em massa, o governo Donald Trump vai oferecer um auxílio em dinheiro e pagar as viagens de volta para casa aos imigrantes indocumentados que deixarem os Estados Unidos voluntariamente, disseram autoridades nesta segunda-feira, 5.

A política, que oferecerá US$ 1.000 (R$ 5.600) e uma passagem aérea de volta, faz parte da iniciativa do governo Trump para persuadir imigrantes a se deportarem como forma de ajudar o presidente a cumprir suas ambiciosas promessas de imigração. Autoridades disseram que um imigrante de Honduras já aceitou a oferta do governo e voou de Chicago de volta ao seu país de origem.

Nas últimas semanas, o governo americano tem aconselhado cada vez mais certos imigrantes a deixarem o país antes de serem alvos das autoridades. Também adotou políticas para tornar a vida desconfortável para aqueles que estão no país sem status legal, como impedir o acesso de certos migrantes a serviços financeiros.

O dinheiro oferecido aos imigrantes que partem por conta própria será pago após a confirmação da viagem de volta por meio de um aplicativo lançado pelo governo Trump no início deste ano, chamado CBP Home. Autoridades afirmam que o programa economizará recursos do governo, evitando os custos necessários para prender, deter e transportar pessoas para fora do país em aviões fretados pelo governo.

"Se você está aqui ilegalmente, a autodeportação é a melhor, mais segura e mais econômica maneira de deixar os Estados Unidos e evitar ser preso", disse Kristi Noem, secretária de segurança interna, em um comunicado.

O governo Trump anunciou na semana passada que havia deportado cerca de 140.000 imigrantes dos EUA desde janeiro. Os números, até o momento, estão muito longe da promessa central de campanha de Trump: remover milhões de pessoas que estão ilegalmente no país.

O número não é muito diferente da quantidade de deportações do governo Biden no mesmo período de tempo. Porém, as expulsões do republicano tem sido muito mais controvertidas, com uso de aviões militares, deportação sem o devido processo legal - em violação à Constituição americana - e com imigrantes legais sendo deportados erroneamente, como foi o caso do salvadorenho Kilmar Abrego Garcia.

As deportações podem ser custosas e demoradas, visto que as autoridades americanas frequentemente precisam deter migrantes por um longo período de tempo, coordenar documentos de viagem e preparar voos fretados para diversos países.

São frequentes também os problemas envolvendo migrantes de países que não aceitam seus cidadãos ou tornam o processo tão complexo que a remoção demora ainda mais.

O custo médio para o Departamento de Imigração e Alfândega dos EUA prender, deter e remover um imigrante ilegalmente nos Estados Unidos é de US$ 17.121 (R$ 96,7 mil), segundo o Departamento de Segurança Interna. A agência afirma que, mesmo com o custo do auxílio, uma "autodeportação" reduziria o encargo de uma deportação em cerca de 70%.

Trump sugeriu uma política de incentivo a viagens em uma entrevista recente à Fox News.

"Mas o que queremos fazer é ter um programa de autodeportação, que ainda nem anunciamos", disse ele à emissora em meados de abril. "A única coisa que ainda não decidi é: o que vamos fazer? Vamos dar a eles um estipêndio, algum dinheiro e uma passagem de avião, e então vamos trabalhar com eles, se forem bons, se os quisermos de volta, vamos trabalhar com eles para trazê-los de volta o mais rápido possível."

Trump prometeu deportar pelo menos 1 milhão de pessoas no primeiro ano de seu segundo mandato e tem usado agências federais, ordens executivas e até mesmo a centenária Lei de Inimigos Estrangeiros para facilitar sua promessa, muitas vezes com ramificações legais questionáveis.

"Fui eleito para tirá-los daqui", disse ele no domingo, 4, em uma entrevista no programa "Meet the Press" da NBC onde admitiu não saber se precisava obedecer à Constituição no caso dos direitos de não-cidadãos. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)