Após protesto de indígenas, rodovia dos Bandeirantes é liberada

Política
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Centenas de indígenas protestaram, no início da manhã desta sexta-feira, 25, na Rodovia dos Bandeirantes, contra a aprovação do Projeto de Lei 490/2007, que prevê mudanças na demarcação das terras e no acesso a povos isolados. O PL foi aprovado na última quarta-feira, 23, na Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania da Câmara (CCJ). Por volta das 8h30, as pistas já estavam liberadas e o ato já havia sido encerrado.

A manifestação, liderada pelo Povo Guarani da Terra Jaraguá, da zona noroeste de São Paulo, ocorreu no km 21 da rodovia e interditou totalmente a pista sentido capital. Na avaliação da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), o projeto "pode inviabilizar as demarcações de terras".

A nomeação do novo ministro do Meio Ambiente, Joaquim Pereira Lopes, também é alvo dos manifestantes. A família do ministro, empossado nesta quinta-feira para substituir Ricardo Salles, está envolvida numa disputa pelas terras do menor território indígena do país: a Terra Indígena Jaraguá. Nos 532 hectares, entre a capital e a cidade de Osasco, moram 534 indígenas dos povos Guarani Mbya e Nhandeva, segundo a Comissão Pró-Índio de São Paulo.

De acordo com um relatório da Fundação Nacional do Índio (Funai), empregados da família Pereira Leite chegaram a destruir uma casa dos indígenas na tentativa de expulsá-los da área. O mesmo documento demonstrou a presença de indígenas na região desde a década de 1940, informou que a família Pereira Leite cobrou várias vezes a paralisação da demarcação do território. Como a Funai não parou o processo, a família teria passado a ameaçar os índios.

Em 1986, Joaquim Álvaro Pereira Leite Neto, pai do novo ministro, exigiu que a Funai retirasse os marcos físicos usados na demarcação, alegando ser o proprietário da área. O episódio é relatado em um capítulo escrito por Camila Salles de Faria, doutora em Geografia na Universidade de São Paulo (USP), no livro "A grilagem de terras na formação territorial brasileira", organizado pelo também professor da USP Ariovaldo Umbelino de Oliveira.

O livro relata que o processo judicial contra a demarcação foi iniciado pelo avô do ministro, José Pereira Leite, já falecido. Em 1996, a família Pereira Leite pediu a retirada das famílias da área, alegando que os índios tinham 'invadido' suas terras. José Pereira entrou com ação de reintegração de posse e tentou realizar o despejo com apoio da Polícia Militar, mas o Ministério Público Federal interveio, já que as terras indígenas são áreas da União.

Após várias demandas judiciais de ambos os lados, em dezembro de 2014, o desembargador Paulo Fontes, do Tribunal Regional Federal da 3.a Região (TRF-3), suspendeu a decisão de reintegração de posse e manteve a permanência dos indígenas na área. Conforme a autora, a família entrou com recurso no Superior Tribunal de Justiça (STJ).

Por meio de nota, a Funai informou que a Terra Indígena Jaraguá está juridicamente regularizada desde 1987, havendo reivindicação de ampliação da área em análise no âmbito da fundação. O Estadão procurou Joaquim Lopes por meio do Ministério do Meio Ambiente, mas ainda não obteve resposta.

PL 490/2007

O projeto retira do Palácio do Planalto a competência de definir a demarcação de terras indígenas e transfere para o Congresso. O texto do relator, deputado Arthur Maia (DEM-BA), estabelece um marco temporal para definir o que são as terras demarcadas como território indígena.

De acordo com a proposta, são consideradas terras indígenas aquelas áreas que, em 5 de outubro de 1988, data da promulgação da Constituição, eram habitadas em caráter permanente por índios ou usadas para atividades produtivas e obrigatórias para a preservação dos recursos ambientais necessários à existência dos povos nativos.

Um estudo divulgado pelo Instituto Igarapé, em abril, mostrou os impactos negativos da mineração ilegal de ouro na Amazônia nas populações indígenas e na floresta. Segundo o levantamento, há 321 minas ilegais nos nove Estados da Bacia Amazônica brasileira. A estimativa é que hoje essa indústria renda US$ 28 bilhões ao ano.

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A presidente do México, Claudia Sheinbaum, defendeu nesta segunda-feira, 5, seu bom relacionamento com o presidente americano, Donald Trump, e descartou um debate na mídia sobre suas declarações recorrentes.

Como tem sido sua estratégia desde que o republicano chegou ao poder em janeiro, Sheinbaum reagiu com moderação aos comentários provocativos de Trump no domingo, 4, quando ele disse que ela "teme os poderosos cartéis mexicanos".

"Eu não gostaria que a comunicação entre o presidente Trump e a minha pessoa, entre os Estados Unidos e o México, fosse feita através da mídia", enfatizou Sheinbaum em sua conferência matinal.

Ela destacou a comunicação "boa" e "fluida" que mantém com o presidente dos EUA, o que lhe permitiu chegar a uma série de acordos e evitar as tarifas que Washington impôs a vários países.

A líder mexicana também negou que ele tenha feito qualquer ameaça quando, em uma conversa telefônica anterior, ofereceu enviar tropas ao México para apoiar na luta contra organizações criminosas e reiterou que "podemos colaborar em muitas outras coisas dentro da estrutura de nossa soberania e territorialidade".

No domingo, Trump confirmou que havia proposto o envio de tropas americanas a Sheinbaum e criticou-a por ter rejeitado sua oferta.

O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, anunciou nesta segunda-feira, 5, uma nova ofensiva militar na Faixa de Gaza, classificada por ele como uma operação "intensiva" com o objetivo de derrotar o Hamas. Apesar do tom firme, ele não especificou a extensão do território que poderá ser ocupado pelas forças israelenses.

Em um vídeo publicado na rede social X, Netanyahu afirmou que civis serão retirados da área durante a ofensiva. "A população será movida para sua própria proteção", disse. O premiê também ressaltou que a ação militar não se limitará a incursões pontuais. "Os soldados não vão entrar, lançar ataques e depois recuar. A intenção é o oposto disso", declarou.

O Gabinete de Segurança de Israel aprovou por unanimidade um plano para assumir o controle total da Faixa de Gaza, em uma operação descrita por Netanyahu como "poderosa" e voltada para a destruição do Hamas. A decisão seguiu a recomendação do chefe das Forças Armadas israelenses, general Eyal Zamir, segundo explicou o primeiro-ministro.

As declarações de Netanyahu ocorrem em meio à escalada de tensão na região. Ainda não há informações sobre quando a operação terá início nem quais áreas serão atingidas. O governo israelense também não informou para onde os civis seriam deslocados, nem como pretende garantir sua segurança durante o avanço militar.

Em mais um esforço de sua agenda de deportação em massa, o governo Donald Trump vai oferecer um auxílio em dinheiro e pagar as viagens de volta para casa aos imigrantes indocumentados que deixarem os Estados Unidos voluntariamente, disseram autoridades nesta segunda-feira, 5.

A política, que oferecerá US$ 1.000 (R$ 5.600) e uma passagem aérea de volta, faz parte da iniciativa do governo Trump para persuadir imigrantes a se deportarem como forma de ajudar o presidente a cumprir suas ambiciosas promessas de imigração. Autoridades disseram que um imigrante de Honduras já aceitou a oferta do governo e voou de Chicago de volta ao seu país de origem.

Nas últimas semanas, o governo americano tem aconselhado cada vez mais certos imigrantes a deixarem o país antes de serem alvos das autoridades. Também adotou políticas para tornar a vida desconfortável para aqueles que estão no país sem status legal, como impedir o acesso de certos migrantes a serviços financeiros.

O dinheiro oferecido aos imigrantes que partem por conta própria será pago após a confirmação da viagem de volta por meio de um aplicativo lançado pelo governo Trump no início deste ano, chamado CBP Home. Autoridades afirmam que o programa economizará recursos do governo, evitando os custos necessários para prender, deter e transportar pessoas para fora do país em aviões fretados pelo governo.

"Se você está aqui ilegalmente, a autodeportação é a melhor, mais segura e mais econômica maneira de deixar os Estados Unidos e evitar ser preso", disse Kristi Noem, secretária de segurança interna, em um comunicado.

O governo Trump anunciou na semana passada que havia deportado cerca de 140.000 imigrantes dos EUA desde janeiro. Os números, até o momento, estão muito longe da promessa central de campanha de Trump: remover milhões de pessoas que estão ilegalmente no país.

O número não é muito diferente da quantidade de deportações do governo Biden no mesmo período de tempo. Porém, as expulsões do republicano tem sido muito mais controvertidas, com uso de aviões militares, deportação sem o devido processo legal - em violação à Constituição americana - e com imigrantes legais sendo deportados erroneamente, como foi o caso do salvadorenho Kilmar Abrego Garcia.

As deportações podem ser custosas e demoradas, visto que as autoridades americanas frequentemente precisam deter migrantes por um longo período de tempo, coordenar documentos de viagem e preparar voos fretados para diversos países.

São frequentes também os problemas envolvendo migrantes de países que não aceitam seus cidadãos ou tornam o processo tão complexo que a remoção demora ainda mais.

O custo médio para o Departamento de Imigração e Alfândega dos EUA prender, deter e remover um imigrante ilegalmente nos Estados Unidos é de US$ 17.121 (R$ 96,7 mil), segundo o Departamento de Segurança Interna. A agência afirma que, mesmo com o custo do auxílio, uma "autodeportação" reduziria o encargo de uma deportação em cerca de 70%.

Trump sugeriu uma política de incentivo a viagens em uma entrevista recente à Fox News.

"Mas o que queremos fazer é ter um programa de autodeportação, que ainda nem anunciamos", disse ele à emissora em meados de abril. "A única coisa que ainda não decidi é: o que vamos fazer? Vamos dar a eles um estipêndio, algum dinheiro e uma passagem de avião, e então vamos trabalhar com eles, se forem bons, se os quisermos de volta, vamos trabalhar com eles para trazê-los de volta o mais rápido possível."

Trump prometeu deportar pelo menos 1 milhão de pessoas no primeiro ano de seu segundo mandato e tem usado agências federais, ordens executivas e até mesmo a centenária Lei de Inimigos Estrangeiros para facilitar sua promessa, muitas vezes com ramificações legais questionáveis.

"Fui eleito para tirá-los daqui", disse ele no domingo, 4, em uma entrevista no programa "Meet the Press" da NBC onde admitiu não saber se precisava obedecer à Constituição no caso dos direitos de não-cidadãos. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)