PGR diz que inquérito dos atos antidemocráticos pode ser 'inócuo' com fim da LSN

Política
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Para a Procuradoria-Geral da República, a 'mera abertura' da investigação sobre a organização de manifestações defendendo a volta da ditadura militar, intervenção das Forças Armadas e atacando instituições democráticas acabou tendo 'significado de dissuasão' para os investigados. Segundo o vice-procurador-geral da República, Humberto Jacques de Medeiros, o inquérito 'serviu para prevenir as consequências dos crimes que ensejaram sua instauração' e conseguiu 'produzir frutos' mesmo diante do que o aliado de Augusto Aras chamou de 'perda consumada e exaurida de oportunidades de investigação'.

A ponderação foi um dos argumentos usados por Humberto Jacques para defender a arquivamento do inquérito dos atos antidemocráticos, investigação que ele alega estar 'irremediavelmente comprometida'. Como mostrou o Estadão, o parecer foi emitido cinco meses após o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, abrir vista ao Ministério Público Federal sobre um relatório parcial da Polícia Federal de 154 páginas. No documento, delegada Denisse Dias Rosas Ribeiro defende a 'justa causa' no aprofundamento da apuração, mas reconhece a possibilidade de desmembramento do caso. A PF defendeu que fossem abertos oito inquéritos apartados.

Além de apontar a suposta 'disuassão' dos investigados, ou seja, o efeito de demovê-los, Humberto Jacques afirmou que o inquérito poderia se tornar 'inócuo' com uma eventual derrubada da Lei de Segurança Nacional, que embasa as apurações. O parecer que surpreendeu os investigadores e causou perplexidade entre ministros do STF foi enviado à Corte na noite de sexta, 4, logo depois de a Câmara dos Deputados aprovar um projeto de lei que revoga a lei editada durante a ditadura militar e cria a 'Lei do Estado Democrático', que tipificar dez crimes contra a democracia.

"Caso a urgência da matéria seja votada nas próximas semanas e o projeto normativo remetido ao Senado Federal, a tendência é que dispositivos da atual lei de segurança nacional aplicáveis aos fatos investigados nesse inquérito soam revogadas antes do fim dessa investigação", argumentou Medeiros no parecer enviado a Alexandre de Moraes. No documento, o subprocurador ainda lembra das ações que tramitam no STF contra a LSN.

O subprocurador-geral da República argumenta que 'em uma sociedade democrática, pessoas, ainda que no ponto de vista alheio estejam politicamente equivocadas, não possuem direito à expressão de ideias menor do que qualquer outro cidadão, inclusive catedráticos em Ciência Política'. "É a democracia: uma pessoa um voto; cada qual com sua convicção", sustenta.

Medeiros alega que 'todos os atos se presumem democráticos e no exercício de liberdades fundamentais', exigindo-se 'prudência' na invocação da Lei de Segurança Nacional para se afastar essa presunção, 'de forma tal que o meio ofenda o objeto que se quer proteger'.

"Na arena social com disputa da atenção do eleitor, com captura de bandeiras de potencial de geração de votos, e na visibilidade na média e nas redes sociais é esperável que homens públicos identifiquem espaços de sobrevivência de suas carreiras políticas medindo a quanto isso, ao fim e ao cabo, em bases utilitaristas pode Ihe render desempenho eleitoral nas urnas", registra logo em seguida.

Inquéritos à parte e citação a deputados bolsonaristas e marqueteiro do Aliança

Humberto Jacques de Medeiros defendeu o arquivamento do inquérito dos atos antidemocráticos 'com a expectativa de que não seja necessário revisitar a Lei de Segurança Nacional'. No documento, ainda se manifestou com as propostas da Polícia Federal sobre inquéritos a parte, sobre diversos temas, como suposta tentativa de obstrução da CPMI das Fake News e repasses de valores no exterior.

Um dos inquéritos próprios que a PF pediu diz respeito aos valores que a Inclutech Tecnologia da Informação, empresa de Sérgio Lima, marqueteiro do Aliança pelo Brasil, partido político que o presidente Jair Bolsonaro tenta tirar do papel. Como mostrou o Estadão, os deputados bolsonaristas Aline Sleutjes (PSL-PR), Bia Kicis (PSL-DF), General Girão (PSL-RN) e Guiga Peixoto (PSL-SP) gastaram R$58.110, pagos com verba dos gabinetes, para contratar os serviços do publicitário.

A PF põe sob suspeita R$30.300,00 que os parlamentares repassaram à Inclutech. Segundo Sérgio Lima relatou à PF, os valores estariam relacionados à prestação de serviço de desenvolvimento de redes sociais dos deputados. A PF também quer investigar transferências de contas associadas a Luís Felipe Belmonte - empresário casado com a deputada Paula Belmonte - que repassaram para a Iclutech R$ 700 mil e para Sérgio Lima R$ 1,05 milhão. O marqueteiro disse à PF que os valores estariam associados a prestação de serviço em redes sociais e a um empréstimo.

Apesar de os parlamentares bolsonaristas serem citados no pedido de inquérito, Humberto Martins defendeu que a documentação pertinente a tal caso fosse enviada à Justiça Estadual.

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A presidente do México, Claudia Sheinbaum, defendeu nesta segunda-feira, 5, seu bom relacionamento com o presidente americano, Donald Trump, e descartou um debate na mídia sobre suas declarações recorrentes.

Como tem sido sua estratégia desde que o republicano chegou ao poder em janeiro, Sheinbaum reagiu com moderação aos comentários provocativos de Trump no domingo, 4, quando ele disse que ela "teme os poderosos cartéis mexicanos".

"Eu não gostaria que a comunicação entre o presidente Trump e a minha pessoa, entre os Estados Unidos e o México, fosse feita através da mídia", enfatizou Sheinbaum em sua conferência matinal.

Ela destacou a comunicação "boa" e "fluida" que mantém com o presidente dos EUA, o que lhe permitiu chegar a uma série de acordos e evitar as tarifas que Washington impôs a vários países.

A líder mexicana também negou que ele tenha feito qualquer ameaça quando, em uma conversa telefônica anterior, ofereceu enviar tropas ao México para apoiar na luta contra organizações criminosas e reiterou que "podemos colaborar em muitas outras coisas dentro da estrutura de nossa soberania e territorialidade".

No domingo, Trump confirmou que havia proposto o envio de tropas americanas a Sheinbaum e criticou-a por ter rejeitado sua oferta.

O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, anunciou nesta segunda-feira, 5, uma nova ofensiva militar na Faixa de Gaza, classificada por ele como uma operação "intensiva" com o objetivo de derrotar o Hamas. Apesar do tom firme, ele não especificou a extensão do território que poderá ser ocupado pelas forças israelenses.

Em um vídeo publicado na rede social X, Netanyahu afirmou que civis serão retirados da área durante a ofensiva. "A população será movida para sua própria proteção", disse. O premiê também ressaltou que a ação militar não se limitará a incursões pontuais. "Os soldados não vão entrar, lançar ataques e depois recuar. A intenção é o oposto disso", declarou.

O Gabinete de Segurança de Israel aprovou por unanimidade um plano para assumir o controle total da Faixa de Gaza, em uma operação descrita por Netanyahu como "poderosa" e voltada para a destruição do Hamas. A decisão seguiu a recomendação do chefe das Forças Armadas israelenses, general Eyal Zamir, segundo explicou o primeiro-ministro.

As declarações de Netanyahu ocorrem em meio à escalada de tensão na região. Ainda não há informações sobre quando a operação terá início nem quais áreas serão atingidas. O governo israelense também não informou para onde os civis seriam deslocados, nem como pretende garantir sua segurança durante o avanço militar.

Em mais um esforço de sua agenda de deportação em massa, o governo Donald Trump vai oferecer um auxílio em dinheiro e pagar as viagens de volta para casa aos imigrantes indocumentados que deixarem os Estados Unidos voluntariamente, disseram autoridades nesta segunda-feira, 5.

A política, que oferecerá US$ 1.000 (R$ 5.600) e uma passagem aérea de volta, faz parte da iniciativa do governo Trump para persuadir imigrantes a se deportarem como forma de ajudar o presidente a cumprir suas ambiciosas promessas de imigração. Autoridades disseram que um imigrante de Honduras já aceitou a oferta do governo e voou de Chicago de volta ao seu país de origem.

Nas últimas semanas, o governo americano tem aconselhado cada vez mais certos imigrantes a deixarem o país antes de serem alvos das autoridades. Também adotou políticas para tornar a vida desconfortável para aqueles que estão no país sem status legal, como impedir o acesso de certos migrantes a serviços financeiros.

O dinheiro oferecido aos imigrantes que partem por conta própria será pago após a confirmação da viagem de volta por meio de um aplicativo lançado pelo governo Trump no início deste ano, chamado CBP Home. Autoridades afirmam que o programa economizará recursos do governo, evitando os custos necessários para prender, deter e transportar pessoas para fora do país em aviões fretados pelo governo.

"Se você está aqui ilegalmente, a autodeportação é a melhor, mais segura e mais econômica maneira de deixar os Estados Unidos e evitar ser preso", disse Kristi Noem, secretária de segurança interna, em um comunicado.

O governo Trump anunciou na semana passada que havia deportado cerca de 140.000 imigrantes dos EUA desde janeiro. Os números, até o momento, estão muito longe da promessa central de campanha de Trump: remover milhões de pessoas que estão ilegalmente no país.

O número não é muito diferente da quantidade de deportações do governo Biden no mesmo período de tempo. Porém, as expulsões do republicano tem sido muito mais controvertidas, com uso de aviões militares, deportação sem o devido processo legal - em violação à Constituição americana - e com imigrantes legais sendo deportados erroneamente, como foi o caso do salvadorenho Kilmar Abrego Garcia.

As deportações podem ser custosas e demoradas, visto que as autoridades americanas frequentemente precisam deter migrantes por um longo período de tempo, coordenar documentos de viagem e preparar voos fretados para diversos países.

São frequentes também os problemas envolvendo migrantes de países que não aceitam seus cidadãos ou tornam o processo tão complexo que a remoção demora ainda mais.

O custo médio para o Departamento de Imigração e Alfândega dos EUA prender, deter e remover um imigrante ilegalmente nos Estados Unidos é de US$ 17.121 (R$ 96,7 mil), segundo o Departamento de Segurança Interna. A agência afirma que, mesmo com o custo do auxílio, uma "autodeportação" reduziria o encargo de uma deportação em cerca de 70%.

Trump sugeriu uma política de incentivo a viagens em uma entrevista recente à Fox News.

"Mas o que queremos fazer é ter um programa de autodeportação, que ainda nem anunciamos", disse ele à emissora em meados de abril. "A única coisa que ainda não decidi é: o que vamos fazer? Vamos dar a eles um estipêndio, algum dinheiro e uma passagem de avião, e então vamos trabalhar com eles, se forem bons, se os quisermos de volta, vamos trabalhar com eles para trazê-los de volta o mais rápido possível."

Trump prometeu deportar pelo menos 1 milhão de pessoas no primeiro ano de seu segundo mandato e tem usado agências federais, ordens executivas e até mesmo a centenária Lei de Inimigos Estrangeiros para facilitar sua promessa, muitas vezes com ramificações legais questionáveis.

"Fui eleito para tirá-los daqui", disse ele no domingo, 4, em uma entrevista no programa "Meet the Press" da NBC onde admitiu não saber se precisava obedecer à Constituição no caso dos direitos de não-cidadãos. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)