CPI pretende confrontar Pazuello com carta da White Martins que pede apoio no AM

Política
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Atenção senhor (a) editor (a): matéria exclusiva publicada no Portal do Estadão em 25/5/2021

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Uma carta da empresa White Martins e uma nota assinada pelo ex-secretário executivo do Ministério da Saúde, Élcio Franco, contradizem declarações dadas pelo ex-ministro Eduardo Pazuello à CPI da Covid, na semana passada. Obtida pelo Estadão, a carta enviada para a comissão parlamentar de inquérito mostra que a multinacional alertou o governo do Amazonas sobre a necessidade de apoio e "esforços adicionais" para suprir a necessidade de oxigênio diante do aumento exponencial de casos de covid-19 no Estado.

Avisada, a Secretaria entrou em contato com Pazuello. Em entrevista transmitida pelas redes sociais, na tarde de 18 de janeiro, o então ministro da Saúde admitiu ter ficado "surpreso" com o colapso no sistema de saúde do Amazonas. Em Manaus, pessoas morreram asfixiadas por falta de oxigênio hospitalar.

"No dia 8 de janeiro, nós tivemos a compreensão, a partir de uma carta da White Martins, de que poderia haver falta de oxigênio se não houvesse ações para que a gente mitigasse esse problema. Mas aquela foi uma surpresa tanto para o governo do Estado quanto para nós (Ministério da Saúde)", afirmou Pazuello na entrevista. A carta da multinacional tem a data de 7 de janeiro.

O primeiro avião da Força Aérea Brasileira (FAB) com carregamento de oxigênio para Manaus - uma das capitais que mais sofreram com a pandemia de coronavírus - chegou apenas no dia 14 de janeiro. Em depoimento à CPI, na semana passada, o ex-ministro responsabilizou a Secretaria de Saúde do Amazonas pela gravidade da crise de oxigênio no Estado.

O general disse que a secretaria tinha informações sobre um possível desabastecimento, mas não repassou os dados para o ministério. "Se a Secretaria de Saúde tivesse acompanhado de perto, teria descoberto que estaria consumindo a reserva estratégica. Vejo aí duas responsabilidades muito claras. Uma começa na empresa (White Martins) e a outra, na Secretaria de Saúde. De nossa parte, fomos muito proativos a partir do momento em que tomamos conhecimento", declarou Pazuello aos senadores.

Na carta do dia 7 de janeiro, porém, a White Martins informou a Secretaria de Saúde do Amazonas que, com o agravamento da crise, eram necessários "novos esforços adicionais" para superar o problema.

"Vale registrar que a White Martins vem oferecendo o produto em questão em quantidades muito superiores às suas obrigações previstas em contrato, estando rigorosamente em dia com suas responsabilidades contratuais", diz um trecho do comunicado enviado pela multinacional. "Contudo, o imprevisto aumento da demanda ocorrido nos últimos dias agravou consideravelmente a situação de forma abrupta, superando em muito o volume contratado pela Secretaria junto à White Martins, fazendo com que sejam necessários novos esforços adicionais para que a totalidade das necessidades sejam cumpridas".

Naquele mesmo 7 de janeiro, à noite, Pazuello foi avisado sobre o iminente colapso no abastecimento de oxigênio em uma conversa mantida por telefone com o secretário de Saúde do Amazonas, Marcellus Campêlo. A informação consta de nota técnica assinada pelo ex-secretário-executivo do Ministério da Saúde Élcio Franco e enviada à Câmara como resposta a um requerimento apresentado pelo deputado José Ricardo (PT-AM), como mostrou o Estadão.

"Esclareço que, na noite de 7 de janeiro de 2021, este ministério tomou ciência de problemas relacionados ao abastecimento de oxigênio da rede de saúde do Amazonas. Tratou-se de uma conversa informal entre o secretário de Saúde do Estado do Amazonas e o ministro da Saúde (…), por telefone, apenas e tão somente para solicitar apoio no transporte de 350 cilindros de oxigênio de Belém para Manaus", destacou Franco na nota técnica.

Depois que Pazuello apareceu, neste domingo, 23, em ato político ao lado do presidente Jair Bolsonaro, no Rio, a cúpula da CPI quer convocá-lo para novo depoimento. O relator da CPI, senador Renan Calheiros (MDB-AL), disse ao Estadão que a ida de Pazuello a uma manifestação dessa natureza, sem máscara e incentivando aglomerações, é um "escárnio".

Se o requerimento para mais uma convocação de Pazuello for aprovado, senadores vão questioná-lo sobre inverdades e falsas alegações proferidas por ele no depoimento anterior. Na lista produzida por Renan, por exemplo, há "15 mentiras" ditas pelo ex-ministro da Saúde à CPI, entre as quais a que se refere ao colapso de oxigênio no Amazonas.

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A presidente do México, Claudia Sheinbaum, defendeu nesta segunda-feira, 5, seu bom relacionamento com o presidente americano, Donald Trump, e descartou um debate na mídia sobre suas declarações recorrentes.

Como tem sido sua estratégia desde que o republicano chegou ao poder em janeiro, Sheinbaum reagiu com moderação aos comentários provocativos de Trump no domingo, 4, quando ele disse que ela "teme os poderosos cartéis mexicanos".

"Eu não gostaria que a comunicação entre o presidente Trump e a minha pessoa, entre os Estados Unidos e o México, fosse feita através da mídia", enfatizou Sheinbaum em sua conferência matinal.

Ela destacou a comunicação "boa" e "fluida" que mantém com o presidente dos EUA, o que lhe permitiu chegar a uma série de acordos e evitar as tarifas que Washington impôs a vários países.

A líder mexicana também negou que ele tenha feito qualquer ameaça quando, em uma conversa telefônica anterior, ofereceu enviar tropas ao México para apoiar na luta contra organizações criminosas e reiterou que "podemos colaborar em muitas outras coisas dentro da estrutura de nossa soberania e territorialidade".

No domingo, Trump confirmou que havia proposto o envio de tropas americanas a Sheinbaum e criticou-a por ter rejeitado sua oferta.

O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, anunciou nesta segunda-feira, 5, uma nova ofensiva militar na Faixa de Gaza, classificada por ele como uma operação "intensiva" com o objetivo de derrotar o Hamas. Apesar do tom firme, ele não especificou a extensão do território que poderá ser ocupado pelas forças israelenses.

Em um vídeo publicado na rede social X, Netanyahu afirmou que civis serão retirados da área durante a ofensiva. "A população será movida para sua própria proteção", disse. O premiê também ressaltou que a ação militar não se limitará a incursões pontuais. "Os soldados não vão entrar, lançar ataques e depois recuar. A intenção é o oposto disso", declarou.

O Gabinete de Segurança de Israel aprovou por unanimidade um plano para assumir o controle total da Faixa de Gaza, em uma operação descrita por Netanyahu como "poderosa" e voltada para a destruição do Hamas. A decisão seguiu a recomendação do chefe das Forças Armadas israelenses, general Eyal Zamir, segundo explicou o primeiro-ministro.

As declarações de Netanyahu ocorrem em meio à escalada de tensão na região. Ainda não há informações sobre quando a operação terá início nem quais áreas serão atingidas. O governo israelense também não informou para onde os civis seriam deslocados, nem como pretende garantir sua segurança durante o avanço militar.

Em mais um esforço de sua agenda de deportação em massa, o governo Donald Trump vai oferecer um auxílio em dinheiro e pagar as viagens de volta para casa aos imigrantes indocumentados que deixarem os Estados Unidos voluntariamente, disseram autoridades nesta segunda-feira, 5.

A política, que oferecerá US$ 1.000 (R$ 5.600) e uma passagem aérea de volta, faz parte da iniciativa do governo Trump para persuadir imigrantes a se deportarem como forma de ajudar o presidente a cumprir suas ambiciosas promessas de imigração. Autoridades disseram que um imigrante de Honduras já aceitou a oferta do governo e voou de Chicago de volta ao seu país de origem.

Nas últimas semanas, o governo americano tem aconselhado cada vez mais certos imigrantes a deixarem o país antes de serem alvos das autoridades. Também adotou políticas para tornar a vida desconfortável para aqueles que estão no país sem status legal, como impedir o acesso de certos migrantes a serviços financeiros.

O dinheiro oferecido aos imigrantes que partem por conta própria será pago após a confirmação da viagem de volta por meio de um aplicativo lançado pelo governo Trump no início deste ano, chamado CBP Home. Autoridades afirmam que o programa economizará recursos do governo, evitando os custos necessários para prender, deter e transportar pessoas para fora do país em aviões fretados pelo governo.

"Se você está aqui ilegalmente, a autodeportação é a melhor, mais segura e mais econômica maneira de deixar os Estados Unidos e evitar ser preso", disse Kristi Noem, secretária de segurança interna, em um comunicado.

O governo Trump anunciou na semana passada que havia deportado cerca de 140.000 imigrantes dos EUA desde janeiro. Os números, até o momento, estão muito longe da promessa central de campanha de Trump: remover milhões de pessoas que estão ilegalmente no país.

O número não é muito diferente da quantidade de deportações do governo Biden no mesmo período de tempo. Porém, as expulsões do republicano tem sido muito mais controvertidas, com uso de aviões militares, deportação sem o devido processo legal - em violação à Constituição americana - e com imigrantes legais sendo deportados erroneamente, como foi o caso do salvadorenho Kilmar Abrego Garcia.

As deportações podem ser custosas e demoradas, visto que as autoridades americanas frequentemente precisam deter migrantes por um longo período de tempo, coordenar documentos de viagem e preparar voos fretados para diversos países.

São frequentes também os problemas envolvendo migrantes de países que não aceitam seus cidadãos ou tornam o processo tão complexo que a remoção demora ainda mais.

O custo médio para o Departamento de Imigração e Alfândega dos EUA prender, deter e remover um imigrante ilegalmente nos Estados Unidos é de US$ 17.121 (R$ 96,7 mil), segundo o Departamento de Segurança Interna. A agência afirma que, mesmo com o custo do auxílio, uma "autodeportação" reduziria o encargo de uma deportação em cerca de 70%.

Trump sugeriu uma política de incentivo a viagens em uma entrevista recente à Fox News.

"Mas o que queremos fazer é ter um programa de autodeportação, que ainda nem anunciamos", disse ele à emissora em meados de abril. "A única coisa que ainda não decidi é: o que vamos fazer? Vamos dar a eles um estipêndio, algum dinheiro e uma passagem de avião, e então vamos trabalhar com eles, se forem bons, se os quisermos de volta, vamos trabalhar com eles para trazê-los de volta o mais rápido possível."

Trump prometeu deportar pelo menos 1 milhão de pessoas no primeiro ano de seu segundo mandato e tem usado agências federais, ordens executivas e até mesmo a centenária Lei de Inimigos Estrangeiros para facilitar sua promessa, muitas vezes com ramificações legais questionáveis.

"Fui eleito para tirá-los daqui", disse ele no domingo, 4, em uma entrevista no programa "Meet the Press" da NBC onde admitiu não saber se precisava obedecer à Constituição no caso dos direitos de não-cidadãos. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)