Câmara registra resistência do bolsonarismo à PEC da Segurança, projeto crucial do governo Lula

Política
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A bancada bolsonarista na Câmara dos Deputados começou a abrir a trincheira contra a proposta de emenda à Constituição chamada de PEC da Segurança Pública, elaborada pelo governo Lula e enviada ao Congresso nesta terça-feira, 8.

 

Apesar dos esforços do Executivo para aparar arestas do texto e ganhar apoio até da oposição, lideranças do Partido Liberal (PL) do ex-presidente Jair Bolsonaro passaram a centrar fogo na proposta tão logo ela chegou ao Legislativo.

 

A PEC amplia as atribuições da Polícia Rodoviária Federal (PRF) e da Polícia Federal (PF) para fortalecer o combate a facções criminosas, inclui na Constituição o Sistema Único de Segurança Pública (Susp) e os fundos nacionais de financiamento do setor, fixa as atribuições das guardas municipais e prevê a criação de corregedorias e ouvidorias dotadas de autonomia funcional.

 

O presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), disse que a Casa dará "total prioridade" à discussão da PEC e que há unanimidade entre os líderes partidários para apreciar o tema com urgência. Ele recebeu o texto nesta manhã das mãos dos ministros da Justiça, Ricardo Lewandowski, e de Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann.

 

A oposição reagiu horas depois e deu o tom que pretende usar na resistência à proposição. A Comissão de Segurança Pública da Casa aprovou um requerimento, de autoria do líder da oposição, Luciano Zucco (PL-RS), convidando Lewandowski a se explicar sobre a PEC.

 

A iniciativa foi motivada por uma declaração recente do ministro, após ele ter declarado que a "polícia prende mal e o Judiciário é obrigado a soltar" e depois se corrigindo. Mas os bolsonaristas querem aproveitar a ocasião para pressioná-lo sobre a proposta.

 

Os bolsonaristas dizem que a PEC enfraquece a autonomia dos Estados na formulação de políticas de segurança, centraliza demais as decisões no Ministério da Justiça e pode culminar no "aparelhamento" das corporações.

 

"Essa PEC, da forma como está, é um retrocesso. Em vez de valorizar os profissionais da segurança, ela os engessa, concentra decisões em Brasília e abre margem para ingerências políticas inaceitáveis", declara Zucco em nota.

 

O presidente do colegiado, Paulo Bilynskyj (PL-SP), afirmou ao Estadão que o governo federal quer "intervir nos Estados" e que o ministro quer "transformar a PRF numa guarda bolivariana". Ele também critica o fortalecimento

 

"Ele impõe na Constituição Federal a existência de ouvidoria. Mas já está prevista na lei. Ouvidoria só serve para ouvir ladrão. Não serve em nada na segurança pública", declara Bilynskyj.

 

Ele diz que apenas o trecho referente à constitucionalização das guardas municipais. "É a única coisa que dá para salvar desse texto", afirma. "O resto não passa".

 

O deputado federal Alberto Fraga (PL-DF), coordenador da Frente Parlamentar da Segurança Pública, informalmente chamada de "bancada da bala", segue na mesma linha das críticas: a de que a PEC fere a autonomia dos Estados e não ajuda a combater a criminalidade.

 

A proposta ainda deve passar pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) e por uma comissão especial. Os bolsonaristas, por sua vez, trabalham para desidratá-la.

 

A reação na sociedade civil especializada foi antagônica. O Fórum Brasileiro de Segurança Pública, por exemplo, defende a PEC, a que chama de "iniciativa inédita e essencial, sobretudo porque é a primeira vez desde a redemocratização que o governo federal sugere mudanças no modelo constitucional de funcionamento da segurança pública do País".

 

O fórum, composto de estudiosos do tema e integrantes de forças de segurança, destaca os seguintes pontos do texto: "maior independência às ouvidorias e corregedorias das forças de segurança; transformação da Polícia Rodoviária Federal em Polícia Viária Federal, com a inclusão do patrulhamento de hidrovias e ferrovias, que vai ampliar o policiamento a áreas que hoje não estão cobertas por sua presença; e a criação de protocolos e procedimentos comuns a todas as polícias, uma maneira de uniformizar a forma como o direito social à segurança é implementado entre diferentes agências, instituições e esferas de poder".

 

Os especialistas também dizer ser importante a inclusão de representantes da sociedade civil no Conselho Nacional de Segurança Pública e Defesa Social, "um passo importante para garantir a participação de diversos atores na formulação de políticas de segurança".

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O Hamas condenou a visita do enviado especial dos Estados Unidos ao Oriente Médio, Steve Witkoff, a centros de distribuição de ajuda humanitária na Faixa de Gaza. Segundo o grupo, a visita foi uma "peça teatral previamente preparada para enganar a opinião pública, embelezar a imagem da ocupação e conceder-lhe uma cobertura política".

A chamada Fundação Humanitária de Gaza, supervisionada por Israel e visitada por Witkoff, é descrita pelo Hamas como uma entidade "criada para completar os capítulos de assassinato e genocídio". Para o grupo, os EUA têm responsabilidade direta na crise humanitária. "O governo americano é um parceiro completo no crime de fome e genocídio que ocorre diante dos olhos e ouvidos do mundo inteiro", escreveu.

O Hamas ainda exigiu que Washington retire seu apoio a Israel, defendam um cessar-fogo e promovam a "retirada do exército de ocupação israelense e o levantamento do cerco injusto ao nosso povo". O grupo afirma que o atual alinhamento dos EUA às ações israelenses aprofundam a "catástrofe humanitária" e perpetuam o conflito na região.

As Forças Armadas da Ucrânia afirmaram hoje que realizaram ataques bem-sucedidos contra "infraestruturas críticas" da Rússia, incluindo duas refinarias de petróleo, em resposta aos recentes bombardeios russos contra cidades ucranianas. Segundo comunicado divulgado pelo Comando Militar por meio do Telegram, foram atingidas as refinarias de Riazã e Novokuibyshevsk, duas das maiores do país, segundo a estatal que as administra, além de um depósito de combustível na região de Voronej.

De acordo com o comunicado, "foi confirmado o impacto em empresas da indústria de refino de petróleo do país ocupante Rússia". Além disso, drones ucranianos atacaram com sucesso "a base de combustíveis e lubrificantes 'Anna Naftoprodukt' na região de Voronej".

As forças ucranianas também disseram ter danificado uma fábrica militar na região de Penza. Segundo o texto, "foi atingida a empresa Elektroprylad, que se especializa na produção de sistemas de telecomunicações protegidos, equipamentos criptográficos e placas de circuito para equipamentos militares".

O ataque, segundo Kiev, foi uma retaliação direta aos "recentes ataques terroristas da Rússia contra cidades ucranianas, que resultaram em civis mortos e feridos". O texto afirma que explosões e incêndios foram registrados nos locais atingidos e que informações mais detalhadas sobre as consequências dos ataques estão sendo apuradas.

Os militares ucranianos prometeram manter os ataques até um cessar-fogo completo da "agressão armada da Federação Russa contra a Ucrânia".

Ataques com drones ucranianos durante a madrugada deste sábado, 2, mataram três pessoas, informaram autoridades russas. O Ministério da Defesa da Rússia disse que as defesas aéreas interceptaram ou destruíram 112 drones em oito regiões russas e na Península da Crimeia, ocupada pela Rússia.

Um ataque com drones na região de Rostov, na fronteira com a Ucrânia, matou uma pessoa, disse o governador interino Yuri Slyusar. Mais longe da linha de frente, uma mulher foi morta e outras duas pessoas ficaram feridas em um ataque com drones a instalações comerciais na região de Penza, de acordo com o governador regional Oleg Melnichenko. Na região de Samara, os destroços de um drone provocaram um incêndio que matou um idoso, disse o governador regional Vyacheslav Fedorishchev.

De acordo com a força aérea ucraniana, a Rússia lançou 53 drones contra a Ucrânia durante a madrugada de sábado. Ela disse que as defesas aéreas abateram ou bloquearam 45 drones.

Onze pessoas ficaram feridas em um ataque com drones durante a madrugada na região de Kharkiv, disse o governador Oleh Syniehubov no sábado. Os ataques recíprocos com drones ocorreram após um dia de luto na capital ucraniana, Kiev, na sexta-feira, depois que um ataque com drones e mísseis russos matou 31 pessoas, incluindo cinco crianças, e feriu mais de 150.

Os ataques contínuos ocorrem depois que o presidente dos EUA, Donald Trump, concedeu ao presidente russo, Vladimir Putin, um prazo mais curto - até 8 de agosto - para que os esforços de paz avancem.

Trump afirmou na quinta-feira, 31, que o enviado especial Steve Witkoff está indo para a Rússia para pressionar Moscou a concordar com um cessar-fogo na guerra com a Ucrânia e ameaçou com novas sanções econômicas se não houver progresso.