Especialista dá dicas de como usar a internet pela defesa e letramento feminino digital
O século XXI marca o fortalecimento do feminino como nunca visto na humanidade. Nem por isso, as mulheres estão protegias e têm suas garantias legais resguardadas. Nesse cenário, o acesso aos direitos dela, por meio da tecnologia, tornou-se essencial na busca pelo avanço da equidade de gênero.
Cidadãs de todo o mundo usam hoje a internet para disseminar conhecimento, compartilhar histórias inspiradoras, construir redes de apoio e fazer denúncias. Até as famosas. Foi na internet que a empresária e modelo Ana Hickman conseguiu dar visibilidade às violências que ela conta ter sofrido do marido.
Não menos famosa e também muito articulada, a atriz Paola Oliveira usou sua reputação para debater o objetificação do corpo feminino e os padrões de beleza estereotipados em suas redes sociais. Além do posicionamento, existem diversos outros caminhos para o uso das ferramentas digitais na defesa dos direitos e segurança das mulheres.
Para a Lorena Lage, professora do curso de Direito da Faculdade SKEMA, nos últimos cinco anos, houveram avanços significativos na luta pelos direitos das mulheres e as ferramentas tecnológicas emergiram como aliadas poderosas nesse cenário.
"Em uma era dominada pela tecnologia, as mulheres têm encontrado novas formas de exercer seus direitos, superar desafios e promover a igualdade de gênero. No entanto, não podemos esquecer que, regra geral, as tecnologias têm sido desenvolvidas, em sua maioria, por homens, brancos e de classe alta. E, por isso, acaba por não levar em consideração importantes aspectos de diversidade, aos quais, por inúmeras razões, poderiam não estar ao alcance de seus desenvolvedores. Portanto, defendo que toda a sociedade precisa avançar neste assunto, compreendendo melhor os impactos que os desenvolvedores das tecnologias podem ter em suas respectivas criações. Para aumentar a eficácia do uso das ferramentas pelo desenvolvimento e empoderamento feminino homens, idosos, adolescentes e crianças precisam passar por um letramento contra o machismo e, também, pela desafiadora educação digital"
A especialista reforça que não é a tecnologia defensora ou vilã. Ela reproduz o que somos enquanto sociedade pois é desenvolvida por nós. E pondera:
"Ao mesmo tempo que temos ameaças online, incluindo assédio virtual e violência de gênero conseguimos que muitas mulheres ganhem voz nas redes sociais. Portanto, a sociedade e a legislação precisam evoluir em conjunto para abordar essas questões, garantindo a proteção das mulheres no espaço virtual e físico."
Para reforçar a relevância da educação, Lorena menciona canais que podem ser usados pela defesa da mulher e fortalecimento do feminino:
=>Segurança
Aplicativos de Emergência: projetados para enviar alertas de emergência para contatos predefinidos, compartilhar localização em tempo real e até mesmo gravar áudio ou vídeo durante uma situação de perigo.
Ex: Mulher Segura Link
*Mapa do Acolhimento: Algumas cidades e regiões possuem mapas digitais que destacam locais seguros para mulheres em situação de violência, como delegacias especializadas e centros de apoio.
Ex: Link
*Botão do Pânico:
Aplicativos que funcionam como um botão de pânico, permitindo que a mulher acione ajuda rapidamente em caso de emergência. APP SOS Mulher – Patrulha Maria da Penha
=>Educação:
Chatbots e Assistentes Virtuais: para oferecer informações sobre direitos das mulheres, saúde mental, recursos e orientações
Ex: Wysa - Link
Redes Sociais de Apoio ou denúncia
Grupos online dedicados à troca de experiências, apoio mútuo e compartilhamento de informações sobre direitos e recursos disponíveis.
Ex: APP Proteja-se
Conselhos Estaduais do Direito da Mulher Link
Aplicativos de Educação Sexual e Empoderamento:
Ferramentas que oferecem informações sobre direitos sexuais e reprodutivos, consentimento, e promovem o empoderamento das mulheres.
Ex: APP Educação Feminista
FemiAPP
Jogos Educativos e Simulações Interativas:
Papo Reto: Um jogo de tabuleiro digital que aborda temas como desigualdade de gênero, machismo e estereótipos. Ele busca promover a conscientização e o diálogo sobre essas questões.
Half the Sky Movement: The Game: Inspirado pelo livro "Half the Sky" de Nicholas Kristof e Sheryl WuDunn, este jogo visa conscientizar sobre questões relacionadas às mulheres e meninas em situações de opressão ao redor do mundo. Ele aborda temas como saúde, educação e violência de gênero.
Além de conhecer as ferramentas, outro ponto fundamental destacado pela professora é saber usá-las bem. Lorena enfatiza a questão do preconceito algorítmico, que é a reprodução do preconceito humano na construção da inteligência de máquina. Para exemplificar, ela relembra a ferramenta de busca do Google que foi denunciada por disponibilizar imagens de mulheres negras sexualizadas quando as palavras-chave de busca eram "garotas negras".
Lorena traz um exemplo da gamificação para mostrar como agimos. Ela avalia, por exemplo, o Moral Machine, criado por pesquisadores do Instituto de Tecnologia de Massachusetts, MIT para o projeto de pesquisa do Max Planck Institute (MPI) for Human Development, para avaliar comportamento frente questões éticas e morais:
"O jogo é um carro autônomo sem frio e o jogador precisar salvar pessoas diante de diversas condições dicotômicas. Notadamente, no resultado de parâmetro que o estudo entrega, quanto aos resultados, mulheres são menos salvas que homens. E gordas ou idosas, menos ainda, havendo preferência de condição física para pessoas atléticas e preferência de idade para pessoas jovens. Isso significa que precisamos aprimorar nosso valor como indivíduo globalmente. Parte disso, começa na consciência digital. Ser usuária de internet é também lutar pelas mulheres".
Dicas de autocuidado na internet
- Não negligenciar os contratos com as plataformas e suspeitar de contratos longos e de difícil compreensão
- Privilegiar as soluções que defendam o valor da mulher
- Utilizar as ferramentas de direitos e segurança já disponíveis em apps
- Denunciar ao Ministério Público Estadual e Procon local conteúdos e aplicações que tenham sentido preconceituoso ou distorcidos em relação à mulher
- Fomentar o letramento digital para promover a conscientização do preconceito contra a mulher por meio da tecnologia
Tecnologia e empoderamento: conheça ferramentas que ajudam no exercício do direito feminino
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