A força espiritual e a política da arte do MAHKU (Movimento dos Artistas Huni Kuin) - coletivo de artistas indígenas originários da Terra Kaxinawá do Rio Jordão, no Acre - é tema da mostra “Espíritos da Floresta: MAHKU”, que acontece entre os dias 09 de outubro e 25 de janeiro de 2026, na CAIXA Cultural Belém. Com curadoria e expografia de Aline Ambrósio, a exposição reúne um conjunto de aproximadamente 30 obras, em sua maioria inéditas.
A exposição - que também é uma realização de Aline Ambrósio, conta com patrocínio da CAIXA Econômica Federal e do Governo Federal - nasce da escuta da floresta como sujeito vivo e de seus espíritos como mestres e parentes. Segundo a curadora, "Não estamos fora da Terra: somos a própria Terra. Em sua travessia entre tempos e mundos, a exposição convida o público à florestania - o direito de pertencer à floresta - e a floresticidade - a condição de viver em comunhão profunda com ela. Ao apresentar pinturas inéditas, que traduzem em imagens os cantos sagrados huni meka, o coletivo MAHKU reafirma não só a dimensão espiritual de sua produção, mas principalmente, a luta concreta pela reconquista de territórios ao redor das aldeias Huni Kuin, garantindo a preservação da floresta e de seus saberes ancestrais."
A produção do MAHKU é inseparável da luta pela preservação da floresta e dos territórios indígenas. Suas obras revivem narrativas míticas, ao mesmo tempo em que denunciam as ameaças do desmatamento, as disputas territoriais e a perda da biodiversidade. O lema “vende tela, compra tela” traduz a força dessa prática: as pinturas são ato político, instrumento de resistência cultural e reconquista territorial. O coletivo direciona a venda de suas telas para a aquisição de terras ao redor das aldeias Huni Kuin, assegurando a proteção da floresta e de seu povo.
O núcleo principal da mostra é formado por pinturas sobre tela em grandes e médios formatos, mas a exposição se expande para além das paredes da galeria com a realização de um mural em grande formato - 30m x 4m - que será pintado pelos artistas integrantes do coletivo MAHKU na fachada da CAIXA Cultural Belém. A obra pública que será concebida integra à mostra como gesto de ampliação e diálogo, dissolvendo fronteiras entre arte e cidade; tradição e contemporaneidade; espiritualidade e ação política, ao mesmo tempo em que convida o público a experimentar a força e a presença da floresta no cotidiano urbano.
A expografia, também assinada por Aline Ambrósio, valoriza a dimensão imersiva das obras, concebendo a galeria como um espaço de atravessamento espiritual, onde pintura, canto, medicinas e a presença da floresta se entrelaçam. O painel central, sinuoso e em formato de jiboia, remete ao povo Huni Kuin, conhecido como povo-jiboia. “A narrativa curatorial e a expografia se entrelaçam e são conduzidas por Yube, a jiboia mítica do povo Huni Kuin. Guardiã do nixi pae (ayahuasca), mestra dos grafismos (kene) e a mais importante xamã, Yube atravessa terra e água; corpo e espírito; tempo e sonho. É dela que emanam os padrões visuais que sustentam a vida e a arte do povo jiboia (povo huni kuin), inspirando pinturas corporais, cerâmicas, tecelagem, jóias, arquiteturas e as telas do MAHKU. A exposição convida a colocar corpo e espírito em escuta ativa, a ver com os olhos da jiboia e a sentir a Terra como parte de si, pois nós não estamos na floresta: nós somos a floresta”, explica Ambrósio.
A exposição coincide com a COP30 e com a semana do Círio de Nazaré, maior evento religioso da Amazônia, que mobiliza fé, espiritualidade e multidões em Belém. Nesse contexto, a mostra estabelece um diálogo profundo entre tradições espirituais: “as obras do MAHKU são mais do que pinturas - são presenças vivas, manifestações da própria fala dos espíritos da floresta. Não por acaso, MAHKU significa espírito. Enquanto a COP30 transforma Belém em palco de debates globais sobre clima, território e futuro da Terra, o Círio mobiliza a fé e a espiritualidade de milhões de devotos em celebração. O MAHKU se insere nesse contexto como uma voz direta da floresta: suas obras transmitem os cantos que evocam equilíbrio, cura e preservação, reforçando a urgência de ouvir os povos originários na construção de soluções para a crise climática”, pontua Aline Ambrósio.
Caixa Cultural Belém recebe exposição inédita do coletivo MAHKU
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