Dream.lab/São Paulo, obra inédita no Brasil, apresentada no fim do ano passado e início deste na Áustria, agora feita com crianças brasileiras e seus sonhos desenhados; Mestre Zenóbio e o Cordão da Bicharada, vídeo comissionado realizado em colaboração com o cineasta Cao Guimarães; As Insubmissas e Perversos, marcianos, canibais e alienados, dois conjuntos formados por seres surreais que representam a realidade; Apocaplástico, que evoca a região do rio Tocantins, onde há mais templos do que hospitais e escolas, e cinco pinturas inéditas acrescidas à série Notícias de Jornal. Estas são as novas peças da artista visual Rivane Neuenschwander, que, com outras obras construídas por ela ao longo de sua trajetória de três décadas, compõem a exposição Brasil de susto e sonho: um panorama da obra de Rivane Neuenschwander.
Com abertura no Itaú Cultural (IC) na noite de 13 de agosto – e visitação do público do dia seguinte, 14, até 2 de novembro –, a mostra tem curadoria da pesquisadora (Universidade Federal de Pernambuco/UFPE) e jornalista Fabiana Moraes e realização da equipe do IC. A exposição se estende pelos três pisos do espaço expositivo da instituição dedicados às mostras temporárias.
No conjunto, Brasil de susto e sonho: um panorama da obra de Rivane Neuenschwander apresenta o olhar atento da artista sobre assuntos que vêm movendo os brasileiros na história contemporânea do país – dos anos de 1970 aos atuais. Os suportes artísticos são variados: vídeos, esculturas, pinturas, instalações e desenhos. A inspiração trafega entre registros de manifestações diversas captadas por ela em solo firme, no espaço das redes sociais, em sonhos de crianças, em festas folclóricas e em observações subjetivas capturadas em suas andanças pelo país.Este andar acolhe duas de suas obras inéditas: Dream.lab/São Paulo, ainda não vista pelo público brasileiro, e a estreia de Mestre Zenóbio e o Cordão da Bicharada. A primeira navega pelos sonhos de crianças, cuja colaboração, como uma espécie de coautores de produção espontânea, marca outros trabalhos da artista. Apresentada no museu de arte moderna KinderKunstLabor, na Áustria, com curadoria de Mona Jas e Andreas Hoffer, esta é a primeira montagem da obra no Brasil após um processo de pesquisa denso e específico para a exposição. Resultado de oficinas conduzidas pela equipe de mediação cultural do Itaú Cultural, ao lado da artista, com alunos da Escola Municipal de Ensino Fundamental (Emef) Abrão de Moraes e da Emef Desembargador Amorim Lima, as atividades partiram de uma leitura do livro Sonhozzz (editora Salamandra, 2021), de Silvana Tavano e Daniel Kondo, que também assina as ilustrações. As crianças fizeram exercícios para a produção de desenhos nos quais manifestaram seus sonhos, desembocando em uma delicada investigação sobre a infância, o inconsciente coletivo e os sonhos desses brasileiros em crescimento.
A segunda obra, Mestre Zenóbio e o Cordão da Bicharada, é um vídeo de cerca de 20 minutos dirigido por Cao Guimarães e Rivane, que retomam uma parceria já vista na obra Quarta-feira de Cinzas/Epílogo (2006), também presente na exposição. O trabalho versa sobre o cordão que lhe dá nome, fundado por Mestre Zenóbio na Vila de Juaba, em Cametá, interior do Pará, na primeira metade dos anos de 1970. Em um tempo em que a Copa do Mundo e a Transamazônica dominavam as telas e os discursos do regime ditatorial, Zenóbio enchia uma pequena embarcação com representações de animais de países e climas distintos para chamar a atenção para a preservação da natureza, em um cortejo que se repete todos os anos no Carnaval das Águas (tradição centenária da cultura paraense). Rivane e Cao registraram o mais recente, resultando neste filme que mescla sonho e susto, beleza e plástico jogado fora, ontem e agora. A trilha é da dupla performer brasileira O Grivo, que também aparece em trabalhos como Erotisme.
Ainda fazem parte deste piso Atrás da porta e L.L. (O vendedor de furos). A primeira é de 2007, uma serigrafia sobre madeira composta de 140 peças de dimensões variadas com desenhos e rabiscos, que a artista foi capturando ao longo dos anos nas portas de banheiros públicos. De 2023, a segunda reúne pequenas esculturas, que se espalham pelos três andares da exposição. A obra é baseada em uma memória de infância de L.L., amiga de Rivane, na qual ela imaginava um comerciante que ganhava dinheiro vendendo buracos, e faz uma conexão precisa sobre o mundo em que vivemos na atualidade.
Brasil de susto e sonho: um panorama da obra de Rivane Neuenschwander, nova exposição do Itaú Cultural
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