A Páscoa é muito mais do que ovos de chocolate e coelhinhos sorridentes em vitrines coloridas. A data, que este ano será celebrada em 20 de abril, carrega consigo séculos de história, tradição religiosa, manifestações culturais e também, claro, mudanças significativas trazidas pela sociedade contemporânea.
Originada de antigas festividades judaicas — mais especificamente o Pessach, que comemora a libertação dos hebreus da escravidão no Egito — a Páscoa ganhou novos contornos com o cristianismo, passando a simbolizar a ressurreição de Jesus Cristo. Ao longo dos séculos, o período pascal se transformou em uma das mais importantes celebrações religiosas do mundo ocidental.
Mas para além da fé, a Páscoa se consolidou como um fenômeno cultural. Em muitas cidades brasileiras, o feriado é marcado por procissões, encenações da Paixão de Cristo e rituais familiares, que misturam elementos religiosos e seculares. Em Nova Jerusalém, Pernambuco, o maior teatro ao ar livre do mundo recebe milhares de espectadores todos os anos para assistir à encenação da vida e morte de Cristo.
Do sagrado ao simbólico
Se para os cristãos a ressurreição é o cerne da celebração, para o imaginário popular, o coelho e os ovos de chocolate roubam a cena. O coelho, símbolo de fertilidade, e os ovos, representando vida nova, têm origens em festivais pagãos da primavera europeia, apropriados mais tarde pelas tradições cristãs e, enfim, pelo mercado.
"A simbologia da Páscoa atravessa culturas, religiões e séculos. É uma data que fala de renascimento, esperança e transformação — conceitos universais", explica a antropóloga e professora da USP, Maria Helena Vidal.
Tradições em mutação
Com o passar do tempo, a Páscoa também foi sendo apropriada pelo mercado. Hoje, a data movimenta bilhões no setor de alimentos, principalmente no ramo da confeitaria e do chocolate. As marcas investem em lançamentos cada vez mais criativos e sofisticados, como ovos recheados, versões gourmet e até experiências sensoriais.
Mas nem tudo é consumo. Em comunidades do interior do Brasil, rituais como a malhação de Judas, que ocorre no Sábado de Aleluia, mantêm viva a memória popular e o senso de coletividade. "É uma forma de catarse coletiva, um momento em que a comunidade se reúne para encenar, rir e refletir", comenta o historiador cultural João Rocha.
Uma celebração plural
Em tempos de redes sociais, a Páscoa também ganha novos contornos. Celebrações são transmitidas online, receitas viram virais e o espírito da data se reinventa nas plataformas digitais. Para muitos, a Páscoa de hoje se tornou mais um momento de encontro, seja espiritual, familiar ou simplesmente afetivo.
Entre o sagrado, o simbólico e o comercial, a Páscoa segue sendo uma celebração plural, que continua a se transformar conforme mudam os tempos — mas sem perder o seu significado essencial: o de renovação.
Tradição e Transformação: a Páscoa e seus múltiplos significados culturais
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