Lula: Brasil 'está pronto' para assinar acordo Mercosul-UE; Sánchez fala em conclusão 'breve'

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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou nesta quarta-feira, dia 6, que o Brasil está pronto para assinar o acordo entre o Mercosul e a União Europeia, que sofre forte oposição política da França. "As dificuldades que tinham foram acertadas com a União Europeia. Estamos hoje prontos para firmar o acordo com a União Europeia", disse Lula, ao lado do premiê da Espanha, Pedro Sánchez, no Palácio do Planalto. "Ainda vamos assinar esse acordo para o bem do Mercosul e da União Europeia."

A visita oficial de Sánchez ocorreu depois de ambos fracassarem na tentativa de alavancar politicamente e concluir o acordo no fim do ano passado, quando Brasil e Espanha exerciam as presidências dos blocos temporariamente. Lula afirmou que lamentou não ter alcançado o objetivo, porém, negou retrocesso na negociação: "Não voltamos atrás, nunca avançamos tanto".

O premiê espanhol Pedro Sánchez afirmou que gostaria de impulsionar a assinatura do acordo, negociado há 25 anos, e que América Latina e Europa são "aliados naturais". Ele afirmou estar determinado a "continuar construindo" os compromissos alcançados na cúpula entre a UE e a Comunidade de Estados Latino-americanos e Caribenhos (Celac), em Bruxelas, no ano passado. Na ocasião, os líderes políticos pressionavam por um acerto. Sánchez disse que a guerra na Ucrânia pressionou o bloco europeu a buscar mais diversificação de mercado.

"É preciso encontrar novos parceiros", disse o espanhol. "É uma obrigação nossa. Seria espetacular ter o acordo. Não somos problema e vamos trabalhar juntos para atingir o acordo que sem dúvida alguma vai promover uma mudança na geoplítica global. Esperamos que seja concluído em breve."

Em 2019, os dois lados anunciaram a conclusão de negociações em nível técnico, mas logo os europeus afirmaram que não levariam adiante para assinatura e posterior ratificação - eles passaram a exigir garantias ambientais, durante piora dos índices de desmatamento no governo Jair Bolsonaro. Já no governo Lula, o governo brasileiro rechaçou aceitar as exigências europeias, apresentadas por meio de um documento adicional, e decidiu advogar pela revisão de cláusulas de compras governamentais, que haviam sido acertadas antes.

Apesar de uma série de reuniões técnicas e políticas no ano passado, as divergências se impuseram em novembro, e a França se opôs abertamente à conclusão do acordo. Naquele momento, o Brasil ocupava a presidência temporária do Mercosul - agora nas mãos do Paraguai -, enquanto a Espanha presidia o Conselho da União Europeia, no momento liderado pela Bélgica.

Com a "janela ideal" perdida, Lula chegou a dizer que "o acordo não sairia mais". Mesmo assim, negociadores retomaram tratativas mais discretamente, embora já tenham indicado que a eleição para o Parlamento Europeu, em junho, impede a evolução e pode até inviabilizar a assinatura e ratificação posterior, caso haja crescimento da representação de extrema-direita.

'França pode não gostar, paciência'

O presidente Lula voltou a falar sobre o problema político com os produtores agrícolas franceses. O governo brasileiro entende que a França rejeita abrir mercados para proteger seus agricultores e usa exigências ambientais como forma de "protecionismo verde". Os franceses alegam refletir preocupações de consumidores europeus, embora admitam que existe resistência dos produtores.

O ambiente político piorou com uma recente onda de protestos de agricultores contrários ao endurecimento da lei ambiental e à entrada de produtos de fora no mercado europeu. Iniciado na França, o movimento teve adesões na Espanha e outros países.

O presidente francês, Emmanuel Macron, será o segundo líder político europeu a visitar Lula em março, como antecipou o Estadão. Eles vão discutir o acordo e outros temas, em 27 de março, em Brasília.

Lula esteve na França em junho passado e não conseguiu convencer Macron. O petista sabe da resistência de Paris e do peso político do agronegócio francês internamente e na formulação da política agrícola da União Europeia.

A França segue se opondo ao avanço do acordo politicamente. Em janeiro, Macron disse ser "impossível" a conclusão da negociação comercial e chegou a pedir que a Comissão Europeia abadonasse as tratativas, o que foi negado.

Segundo diplomatas, na prática a Comissão Europeia - chefiada por Ursula von der Leyen - tem mandato para negociar acordos comerciais em nome dos 27 países, sem necessidade de posterior aprovação de cada um deles. Já acordos de teor político precisam de ratificação em cada parlamento. No caso do Mercosul, Argentina, Brasil, Uruguai e Paraguai negociam em nome próprio, dentro do bloco. O Acordo de Associação Mercosul-União Europeia tem as duas vertentes.

"A União Europeia não depende do voto da França para fazer o acordo. A UE tem procuração para fazer o acordo. A França pode não gostar, mas paciência ela faz parte do acordo e da União Europeia", afirmou Lula, segundo quem o acordo seria um sinal para o mundo. "A UE e o Mercosul precisam desse acordo, politicamente, economicamente e geograficamente."

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Ex-ministra do Desenvolvimento Social do segundo mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Márcia Lopes, de 67 anos, foi anunciada nesta segunda-feira, 5, para o posto de ministra das Mulheres, no lugar de Cida Gonçalves.

Formada em Serviço Social pela Universidade Estadual de Londrina (UEL), Márcia Lopes é filiada ao PT desde 1982. Assistente social por formação, a ministra atuou como professora universitária por 30 anos, desde 1981, em paralelo à vida pública.

A trajetória de Márcia no serviço público começou em Londrina, onde foi nomeada, em 1993, como secretária municipal de Assistência Social. Ficou no posto até 1996. No Paraná, atuou ainda como conselheira municipal de Assistência Social e dos Direitos da Criança e do Adolescente em Londrina e conselheira estadual de Assistência Social do Estado por duas gestões.

Em 2000, se candidatou e foi eleita vereadora de Londrina pelo PT. Cumpriu apenas um mandato e não tentou a reeleição. Oito anos após deixar a vereança, Márcia disputou, em 2012, a prefeitura de Londrina pelo PT e ficou em terceiro lugar no primeiro turno, com 38.484 votos (14,08%).

Em âmbito federal, foi secretária nacional de Assistência Social do Ministério de Desenvolvimento Social e Combate à Fome, em 2004, secretária executiva da pasta, de 2005 a 2007, e ministra, em 2010.

Especializada na área da Criança e Adolescente e com mestrado em Serviço Social pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), Márcia Lopes foi Conselheira Nacional de Assistência Social e dos Direitos da Criança e do Adolescente, do Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (Conanda). Atuou ainda como presidente da Rede de Pobreza e Proteção Social do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), em 2007.

Foi anunciada em novembro de 2022 pelo então vice-presidente eleito e coordenador da transição, Geraldo Alckmin (PSB), para coordenar a área da assistência social durante o governo de transição. É irmã de Gilberto Carvalho, ex-ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República do Brasil no governo de Dilma Rousseff.

O Conselho de Ética e Decoro Parlamentar da Câmara dos Deputados deve analisar nesta terça-feira, 6, o pedido que pode levar à suspensão cautelar do mandato e à abertura de um processo de cassação do mandato de Gilvan da Federal (PL-ES). No último dia 1, o presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), assinou uma representação contra Gilvan pela suposta quebra de decoro parlamentar ao ofender a ministra Gleisi Hoffmann (PT).

"As falas do representado excederam o direito constitucional à liberdade de expressão, caracterizando abuso das prerrogativas parlamentares, além de ofenderem a dignidade da Câmara dos Deputados, de seus membros e de outras autoridades públicas", diz o documento assinado pelo presidente da Câmara.

O documento afirma que Gilvan proferiu manifestações "gravemente ofensivas e difamatórias contra deputada licenciada para ocupar cargo de ministra de Estado [Gleisi], em evidente abuso das prerrogativas parlamentares, o que configura comportamento incompatível com a dignidade do mandato".

Quais os próximos passos?

Primeiro, o Conselho deve avaliar o pedido de suspensão cautelar do mandato do deputado Gilvan, por um período de seis meses. Posteriormente, será iniciado o processo de instrução, que pode resultar na cassação do mandato. Cabe recurso por parte de Gilvan caso a votação vá a plenário.

O local exato da reunião, marcada para às 11 horas, ainda não foi definido. O deputado Ricardo Maia (MDB-BA) foi designado como relator do caso.

Relembre o caso

Durante sessão da Comissão de Segurança Pública e Combate ao Crime Organizado, realizada no dia 29, o deputado proferiu comentários considerados abertamente insultuosos, desrespeitosos e pejorativos em relação à ministra Gleisi. Ainda naquela ocasião, Gilvan também protagonizou um desentendimento com o deputado Lindbergh Farias (PT-RJ), líder do partido na Câmara.

O documento assinado por Motta argumenta que o deputado do PL ofendeu a ministra ao vinculá-la ao termo "amante", numa referência a uma alcunha que teria sido atribuída à petista em um suposto esquema de favorecimento envolvendo a empresa Odebrecht. Além disso, o parlamentar utilizou a palavra "prostituta" ao fazer tais declarações.

Gilvan fazia referência a chamada "lista da Odebrecht", relacionada à Operação Lava Jato, em 2016. Nessa "super planilha", o nome de Gleisi aparecia entre os de 279 políticos de 22 partidos, sob a suspeita de ter recebido repasses ilegais da construtora.

Dias antes, em discussão na Comissão de Segurança Pública sobre um projeto para desarmar a segurança da Presidência da República, Gilvan da Federal afirmou desejar a morte de Lula.

"Por mim, eu quero mais é que o Lula morra. Eu quero que ele vá para o 'quinto dos inferno' (sic). É um direito meu", disse o deputado federal. "Nem o diabo quer o Lula. É por isso que ele está vivendo aí. Superou o câncer... Tomara que tenha um 'ataque cardíaco'. Porque nem o diabo quer essa desgraça desse presidente que está afundando nosso País. E eu quero mais é que ele morra mesmo. Que andem desarmados. Não quer desarmar cidadão de bem? Que ele ande com seus seguranças desarmados", prosseguiu.

Após a repercussão negativa e pedidos de investigação sobre a conduta do parlamentar, ele pediu desculpas.

O governador da Bahia, Jerônimo Rodrigues (PT), sugeriu na última sexta-feira, 2, que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e seus eleitores poderiam ser todos levados "para a vala". O comentário foi feito durante a cerimônia de inauguração da Escola Estadual Nancy da Rocha Cardoso, localizada em América Dourada, e provocou reações, inclusive, do ex-presidente. Jerônimo Rodrigues se retratou nesta segunda-feira, 5.

"Tivemos um presidente que sorria daqueles que estavam na pandemia sentindo falta de ar. Ele vai pagar essa conta dele e quem votou nele podia pagar também a conta. Fazia no pacote. Bota uma 'enchedeira'. Sabe o que é uma 'enchedeira'? Uma retroescavadeira. Bota e leva tudo para vala", afirmou o petista.

No X (antigo Twitter) nesta segunda, Bolsonaro afirmou que a declaração se trata de discurso de ódio. "Um discurso carregado de ódio, que em qualquer cenário civilizado deveria gerar repúdio imediato e ações institucionais firmes. Mas nada aconteceu", escreveu Bolsonaro.

"Esse tipo de discurso, vindo de uma autoridade de Estado, não apenas normaliza o ódio como incentiva o pior: a violência política, o assassinato moral e até físico de quem pensa diferente. É a institucionalização da barbárie com o verniz de 'liberdade de expressão progressista'", escreveu.

Para o ex-presidente, a verdadeira ameaça à democracia "está no alto da cadeia de poder, onde os que gritam por 'tolerância' e 'combate às fake news' são os mesmos que, na prática, incitam o ódio, mentem descaradamente e permanecem blindados por um sistema que escolheu lado".

"O padrão é claro: só há crime quando convém ao sistema, só há repressão quando o alvo é a oposição", acrescentou.

O deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG) acusou o governador da Bahia de adotar um discurso extremista. "Quando eu digo que, se pudesse, esse pessoal matava a gente, duvidam. E ainda tem quem acredita que estamos lidando com apenas políticos com pensamentos contrários - não. São movidos por uma ideologia genocida", escreveu o parlamentar.

Nesta segunda-feira, 5, durante uma visita às obras de reforma do Teatro Castro Alves, em Salvador, Jerônimo Rodrigues afirmou ser contrário a qualquer forma de violência e alegou que suas palavras foram interpretadas "fora de contexto".

"Nós criticamos a forma que alguém deseja a morte do outro. Eu sou uma pessoa religiosa, de família, e não vou nunca tratar qualquer opositor com um tratamento deste. Foi descontextualizada (a declaração). Eu apresentei minha inconformação de como o País estava sendo tratado e dei o exemplo da pandemia. Se o termo vala foi pejorativo ou forte, eu peço desculpas. Não tenho problemas em registrar se houve excessos na palavra. Não houve intenção nenhuma de desejar a morte de ninguém", disse o governador.