O povo da Guiana foi às urnas na segunda-feira cedo para votar nas eleições gerais, que já começaram no país com apelos à "paz" e à "ordem" feitos pelo presidente, Irfaan Ali, que pediu especialmente aos líderes políticos e candidatos que sejam governados pelo "bom senso".
Espera-se que cerca de 800.000 eleitores votem no dia da eleição, a primeira desde o aumento da tensão sobre a disputa territorial com a Venezuela, que reivindica o Essequibo, que cobre mais da metade do território do país, como seu.
Agora, a Comissão Eleitoral da Guiana anunciou que as eleições já começaram e indicou que os primeiros resultados serão conhecidos na manhã de 4 de setembro. Para facilitar a votação, 2.790 seções eleitorais foram instaladas em uma dúzia de regiões administrativas em todo o país, de acordo com o Stabroek News.
De acordo com a lei guianense, o candidato cujo partido vence a eleição é automaticamente eleito presidente. Estão concorrendo o presidente cessante Irfaan Ali, do Partido Progressista do Povo (PPP), que busca um segundo mandato, o líder da oposição Aubrey Norton (APNU, coalizão da Aliança para uma Nova Unidade) e o bilionário Azruddin Mohamed, fundador da WIN (We Invest in the Nation).
Tradicionalmente, a votação é dividida entre o partido de Ali, que é de origem indiana, e os apoiadores da organização de Norton, que é de ascendência afro-guianense.
O presidente cessante enfatizou a importância de os políticos darem um "exemplo" na votação e pediu "escolha sem caos". "Peço que essas eleições sejam pacíficas e ordeiras, que nossa democracia prevaleça novamente e que nossa pátria saia mais forte e mais unida", disse Ali.
"Vamos moderar nossa paixão para que o bom senso e a decência prevaleçam e guiem nossas ações. Os olhos do mundo estão voltados para nós, mas o mais importante é que as esperanças de nossos filhos dependem de nós. Não vamos decepcioná-los", disse ele.
DISPUTA PELO ESEQUIBO
A disputa entre a Venezuela e a Guiana sobre o Essequibo remonta a quase dois séculos, embora tenha se intensificado nos últimos anos com a descoberta de grandes depósitos de petróleo em suas águas. Os dois países estão envolvidos em uma disputa por 159.000 quilômetros quadrados de território a oeste do Rio Essequibo, uma região rica em petróleo que frequentemente aparece nos mapas venezuelanos como uma área de reivindicação e constitui dois terços da área total da Guiana.
Para a Venezuela, que se tornou independente da Grã-Colômbia em 1830, é o curso do rio Essequibo que delimita a fronteira - uma teoria aceita pelos britânicos até a descoberta dessas reservas de ouro - e é protegida pelo "uti possidetis iuris", uma figura jurídica do direito internacional que dá aos Estados o controle sobre territórios que lhes pertencem geográfica e historicamente.
A primeira reivindicação foi apresentada pela Venezuela em 1841, denunciando a incursão britânica e pedindo o apoio dos Estados Unidos, que pressionaram ambos a aceitar a decisão final da arbitragem internacional. O chamado Prêmio Arbitral de Paris de 1899 foi favorável a Londres e fixou a linha traçada por Schomburgk como a fronteira entre os dois países.
Entretanto, já em meados do século XX, foi descoberta documentação sobre um suposto acordo político entre os britânicos e o jurista russo Friedrich Martens, que fazia parte do tribunal e cujo voto foi decisivo para a decisão.
A Guiana, por sua vez, considera que o território foi adquirido pelo Reino Unido por meio de um acordo com a Holanda em 1814 e que a Venezuela deve aceitar os limites estabelecidos na decisão de Paris.
Em 2018, em meio a um dos altos e baixos da disputa, a Guiana pediu à Corte Internacional de Justiça em Haia, o principal órgão judicial das Nações Unidas, que mediasse o conflito com base na decisão de Paris, que não é reconhecida pela Venezuela.
Eleições gerais começam na Guiana em meio a disputa com a Venezuela
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