Irã acusa Trump de traição, descarta diplomacia e ameaça rota de petróleo

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O governo do Irã acusou neste domingo, 22, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de traição e declarou que os americanos decidiram destruir a diplomacia ao bombardear as instalações nucleares do país. Em retaliação, Teerã ameaça bloquear o Estreito de Ormuz, que escoa cerca de 20% da produção mundial de petróleo. A crise levou o preço do barril a US$ 80 pela primeira vez em um ano.

 

Na TV estatal iraniana, um comentarista chegou a dizer que todo cidadão americano ou militar na região é agora um alvo legítimo. Pouco depois do bombardeio, o Irã realizou novos ataques com mísseis balísticos contra Israel. Ao menos 11 pessoas ficaram feridas em uma área residencial de Tel-Aviv.

 

O ministro das Relações Exteriores iraniano, Abbas Araghchi, disse ontem que o Irã tem "muitas opções" para responder ao ataque. Apesar de não oferecer detalhes, a declaração levantou o temor de uma ação contra as bases militares americanas espalhadas nos países do Golfo Pérsico. Pelo menos um deles, o Bahrein, emitiu alerta máximo de cuidado e ordenou que seus funcionários trabalhassem de casa.

 

Araghchi classificou o ataque como traição de Trump contra o Irã no momento em que os dois países negociavam um acordo em torno do programa nuclear iraniano, que Teerã diz ter fins pacíficos. O chanceler afirmou que o presidente americano também enganou os próprios eleitores, depois de fazer campanha com a promessa de acabar com guerras.

 

Quando questionado se a porta para a diplomacia ainda está aberta, Araghchi disse que "este não é o caso no momento". "Meu país está sob ataque, sob agressão, e temos que responder com base em nosso direito legítimo de autodefesa", afirmou durante uma coletiva de imprensa.

 

O governo do Irã considerou o ataque uma "violação grave e sem precedentes" do direito internacional e disse que defenderia seu território "com toda a força e meios". "O silêncio diante de uma agressão tão flagrante mergulharia o mundo em um nível sem precedentes de perigo e caos", acrescentou Aragchi.

 

Após a coletiva, o ministro viajou para Moscou para se reunir com o presidente Vladimir Putin para discutir a crise. "A Rússia é amiga do Irã, temos uma parceria estratégica e sempre nos consultamos e coordenamos nossas posições", disse.

 

Bloqueio

 

No Parlamento iraniano, os deputados da Comissão de Política Externa votaram a favor de uma resolução para bloquear o Estreito de Ormuz como resposta aos ataques. A recomendação foi entregue ao Conselho Supremo de Segurança Nacional e também precisa passar pelo crivo do aiatolá Ali Khamenei, líder supremo do Irã.

 

A ameaça se refletiu com um novo aumento de 3,9% no preço do petróleo. O preço do barril chegou a US$ 80 pela primeira vez desde julho do ano passado. Desde que Israel atacou o Irã, há 11 dias, o barril de petróleo subiu mais de 10%.

 

Caso seja aprovado, não seria a primeira vez que o Irã bloquearia o local, que interliga o Golfo Pérsico ao Golfo de Omã. O país já agiu dessa forma em momentos de tensão anteriores, com a colocação de minas marítimas e ações ofensivas da Marinha de guerra. Os recentes ataques israelenses ao país, no entanto, podem ter diminuído essa capacidade.

 

Novas ameaças

 

Com a promessa de retaliação do Irã, autoridades de Israel e dos EUA realizaram novas ameaças contra o país. Em entrevista ao canal Fox News, o secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, declarou que um ataque de retaliação "seria o pior erro que eles poderiam cometer" e sugeriu a disposição para novos ataques. "Podemos voar para dentro e para fora do Irã à vontade", disse.

 

Rubio descartou que os EUA busquem uma mudança de regime no Irã por ora. A ideia voltou a ser sugerida ontem pelo próprio Trump em uma postagem na sua rede social. "Se o regime do Irã não é capaz de tornar O IRÃ GRANDE NOVAMENTE, por que não haveria uma mudança de regime", escreveu o presidente americano.

 

O primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, elogiou a ação dos EUA e garantiu que o Exército israelense não pretende prolongar as operações no Irã, mas disse que estas serão encerradas somente quando "a ameaça nuclear e a ameaça de mísseis balísticos" chegar ao fim. As declarações foram seguidas de novos bombardeios israelenses. Um deles atingiu uma ambulância na cidade de Najafabad e matou várias pessoas.

 

Desde o início dos ataques, o aiatolá Ali Khamenei foi levado a um lugar seguro para evitar operações secretas israelenses ou americanas que podem matá-lo e nomeou sucessores. Na semana passada, Trump sugeriu que os EUA poderiam executar o aiatolá quando desejassem.

 

Ataque esperado

 

Imagens de satélite divulgadas pela Maxar Technologies indicam que o governo iraniano já esperava um ataque à central nuclear subterrânea de Fordow e agiu para protegê-la das megabombas americanas. Nos três dias anteriores ao bombardeio dos EUA, caminhões e escavadeiras trafegavam com frequência no túnel de entrada da instalação.

 

Ao menos 16 caminhões de carga estavam posicionados perto de um túnel de entrada em 19 de junho. No dia seguinte, eles se moveram para noroeste, afastando-se da instalação, mas outros caminhões e escavadeiras eram visíveis perto da entrada. Segundo uma análise do Open Source Centre, de Londres, o Irã poderia estar preparando a instalação para um ataque.

 

Essa suspeita se tornou ainda maior com as declarações de autoridades iranianas após o bombardeio americano. "O local foi esvaziado há muito tempo e não sofreu danos irreversíveis no ataque", declarou Mahdi Mohammadi, assessor do presidente do Parlamento do Irã, no X (antigo Twitter).

 

Radiação

 

A Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) convocou uma reunião de emergência para discutir o ataque americano ao Irã, mas declarou que não houve vazamento de radiação nos locais bombardeados.

 

O bombardeio às centrais nucleares com os aviões B-2 e as chamadas bombas "bunker buster", capazes de penetrar as instalações subterrâneas de Fordow e Natanz, ocorreu no começo da noite de sábado (no horário de Brasília) após Trump ter dito na quinta-feira que daria uma chance à diplomacia. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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Os agentes da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) aprovaram nesta terça-feira, 24, indicativo de greve e o ingresso de uma Ação Civil Pública que pede o afastamento dos três delegados que dirigem a organização, incluindo o diretor-geral, Luiz Fernando Corrêa, que é suspeito de ter agido em "conluio" com servidores investigados para atrasar investigações no caso da Abin paralela.

O comunicado foi feito por meio da Intelis (União dos Profissionais de Inteligência de Estado da Abin), entidade que representa a categoria. De acordo com a organização, a assembleia geral extraordinária, que decidiu sobre o tema, "registrou participação recorde e demonstrou o alto grau de preocupação e revolta dos servidores".

Na nota, a entidade afirma que "as denúncias envolvendo a cúpula da Agência, que resultaram em indiciamentos, foram classificadas como 'graves', 'nojentas' e 'inaceitáveis'".

Os servidores da Abin pedem o afastamento de Corrêa desde o dia 17 de junho. O diretor-geral é um dos 35 indiciados pela Polícia Federal no caso da Abin paralela e pode ter atrapalhado a apuração sobre o aparelhamento da agência para fins políticos pelo ex-presidente Jair Bolsonaro.

O diretor-geral foi mantido no cargo pelo presidente Luiz Inácio da Silva (PT) e prosseguiu após o indiciamento. Em nota, a Intelis, que planejava a assembleia desde 20 de junho, já tinha criticado "a falta de controle de questões sigilosas por parte da Polícia Federal, do Ministério da Justiça".

"Com o indicativo de greve aprovado, a entidade apresentará um conjunto de reivindicações formais. Caso não haja resposta satisfatória dentro do prazo estipulado, uma nova assembleia será convocada", afirma a organização que representa os servidores. O não atendimento das solicitações pode resultar em paralisação.

De acordo com a PF, a Abin paralela seria um esquema conduzido pelo vereador Carlos Bolsonaro (PL-RJ) e pelo seu pai, o ex-presidente Jair Bolsonaro. Os políticos teriam criado uma estrutura para espionar ilegalmente ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), políticos opositores, jornalistas, deputados e outros brasileiros.

O objetivo, segundo a PF, seria atender os interesses políticos dos Bolsonaro, atacar opositores e desacreditar instituições democráticas.

Estima-se que quase 1,8 mil celulares tenham sido monitorados ilegalmente entre fevereiro de 2019 e abril de 2021 por meio dessa estrutura. A Polícia Federal ainda afirma que Bolsonaro seria o "centro decisório", que determinaria os alvos de monitoramento e usou a Abin para conduzir ataques às urnas eletrônicas.

A aposta de bolsonaristas para acelerar a aplicação de possíveis sanções contra o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, parece não ter surtido o efeito desejado. Uma audiência da Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados dos Estados Unidos, realizada nesta terça-feira, 24, com a participação do blogueiro Paulo Figueiredo, terminou em embate com o deputado democrata James P. McGovern.

Durante suas considerações finais, Figueiredo afirmou que se sentia seguro como jornalista nos Estados Unidos e descreveu o país como "o mais livre do mundo". Em resposta, McGovern ironizou: "Fico feliz que você se sinta seguro como jornalista nos Estados Unidos. Eu, como político, não tenho certeza de me sentir tão seguro, mas essa é a realidade". Figueiredo retrucou, questionando se o país teria "presos políticos".

McGovern respondeu mencionando o ataque a opositores do presidente Donald Trump e afirmou: "Você acabou de ver um senador ser derrubado no chão e algemado. Também vimos pessoas sendo alvos de assassinato político neste país", em referência a ex-presidente da Câmara estadual, Melissa Hortman, e seu marido, Mark, mortos a tiros dentro de casa, em Brooklyn Park.

Figueiredo concluiu dizendo que o congressista seria "bem-vindo ao Brasil para ver como lá é pior". McGovern rebateu: "Estou tentando salvar a nossa democracia [norte-americana]".

Em seu perfil no X, Paulo Figueiredo publicou uma foto da audiência e escreveu: "Grande dia".

Durante a audiência, Figueiredo mencionou o pronunciamento do senador Marco Rubio que, em audiência na Câmara, declarou que "há uma grande possibilidade" de Moraes ser alvo de sanções com base na Lei Magnitsky, e cobrou urgência na decisão, afirmando que, se isso não acontecer logo, o Brasil estará no "ponto de não retorno".

Ele também citou os casos do deputado licenciado Eduardo Bolsonaro (PL) e da deputada Carla Zambelli (PL) como alvos de perseguição política no País, afirmando que Zambelli estava nos Estados Unidos para um "tratamento médico" e Eduardo temia uma prisão no Brasil. Figueiredo também mencionou o CEO da Rumble, Chris Pavlovsky, e Elon Musk como vítimas de Moraes.

Paulo Figueiredo e Eduardo Bolsonaro atuam juntos na busca por sanções contra o ministro do STF. Internamente, no entanto, bolsonaristas avaliam que o deputado federal não conseguiu, até o momento, obter resultados concretos. O congressista Chris Smith, do partido Republicano, que preside a comissão ao lado de McGovern, não conseguiu comparecer à audiência.

Ele enviou uma carta a Moraes em maio deste ano, afirmando que foram constatadas "graves violações" contra os direitos humanos por parte do governo brasileiro.

Eduardo Bolsonaro também compartilhou a foto de Paulo Figueiredo, afirmando que "medidas podem ser tomadas após a oitiva dos declarantes".

A deputada federal Érika Hilton (PSOL-SP) empregou dois maquiadores em seu gabinete. Ronaldo Cesar Camargo Hass e Índy Cunha Montiel da Rocha, trabalham desde maio de 2024 com a parlamentar e recebem, respectivamente, R$ 9.678,22 e R$ 2.126,59.

Nas redes sociais, tanto Hass como Rocha divulgam o trabalho como maquiadores, com a congressista aparecendo constantemente em publicações. Hass acompanhou Hilton em Paris (que foi à Europa a convite do Parlamento Europeu) para um show da Beyoncé no fim de semana. A informação da contratação dos maquiadores foi noticiada pelo portal Metrópoles e confirmada pelo Estadão.

Segundo Hilton, ambos exercem funções como secretários parlamentares, como "atuação na pauta LGBT e de cidades", "articulação com movimentos sociais", "interlocuções das mais diversas áreas" e "acompanhamento nas comissões" em Brasília e em São Paulo e ainda prestam serviço estético.

"Ambos os meus assessores são assessores com qualidade, são maquiadores sim, ótimos maquiadores, mas não são apenas maquiadores. São duas pessoas LGBTs com formação profissional, com graduação, que atuam em pautas importantes para o meu mandato", diz a deputada.

Ainda de acordo com a parlamentar, ela os conheceu pelo trabalho com maquiagem e que foram contratados por serem "amigos" dela, "da comunidade". "São profissionais da maquiagem, os conheci sendo profissionais da maquiagem, mas por serem meus amigos, por serem da minha comunidade, chamei para o meu mandato para que cumprisse um trabalho importante nas pautas que nós tocamos diariamente e são vozes necessárias", afirma. "Me acompanham nas viagens, ajudam a fazer foto, preparam os briefings, tudo isso é muito fácil de ser comprovado."

O trabalho de secretariado parlamentar é regulamentado por ato da mesa da Câmara. O texto, de 1997, diz que esse cargo, exercido pelos dois assessores de Erika, "tem por finalidade a prestação de serviços de secretaria, assistência e assessoramento direto e exclusivo nos gabinetes dos deputados para atendimento das atividades parlamentares específicas de cada gabinete".

Procurado, o gabinete ainda enviou imagens dos dois assessores acompanhando a deputada em atividade legislativa. Nessas imagens, Rocha aparece acompanhando a deputada nas dependências da Câmara dos Deputados, em Brasília, enquanto Hass segue a parlamentar em evento no interior de São Paulo.

A oposição na Câmara reagiu e anunciou que irá protocolar representação no Conselho de Ética da Câmara, por quebra de decoro parlamentar e outra representação junto ao Ministério Público Federal, por possível prática de improbidade administrativa e crime de responsabilidade.

"Eles não me querem dentro do Parlamento, eles odeiam a minha voz, odeiam o meu mandato, odeiam o trabalho sério que eu realizo dentro da Câmara, mas fora dela", afirma Hilton. "Fazem de tudo para me colocar em uma situação ruim às vésperas das eleições, porque sabem da minha capacidade de transformar as realidades e de levar para a política corpos e vozes que nunca puderam estar lá."