Acadêmico dos EUA é detido na Tailândia por crime de lesa-majestade

Internacional
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Um professor universitário dos Estados Unidos foi acusado de insultar a monarquia tailandesa e está em prisão preventiva desde terça-feira, 8, com base em uma rigorosa lei sobre crimes de lesa-majestade que raramente é aplicada a cidadãos estrangeiros.

Paul Chambers, professor na Universidade Naresuan, na província de Phitsanulok, no norte da Tailândia, foi inicialmente convocado pela polícia na semana passada para tomar ciência das acusações contra ele, incluindo a violação da Lei de Crimes Cibernéticos, que abrange atividades online.

Chambers, um norte-americano de 58 anos, natural de Oklahoma e doutor em ciência política pela Northern Illinois University, estuda o poder e a influência dos militares tailandeses, que desempenham um papel central na política do país. Desde que a Tailândia se tornou uma monarquia constitucional em 1932, os militares já realizaram 13 golpes de Estado, o mais recente há 11 anos.

Os Estados Unidos disseram estar "alarmados" com a prisão de Chambers e afirmaram que ofereceriam assistência consular.

O Departamento de Estado escreveu em um comunicado que "este caso reforça nossas preocupações de longa data sobre o uso das leis de lesa-majestade na Tailândia. Continuamos a instar as autoridades tailandesas a respeitarem a liberdade de expressão e a garantirem que as leis não sejam usadas para silenciar manifestações legítimas."

Chambers se apresentou à polícia na terça-feira para reconhecer formalmente as acusações e foi então levado a um tribunal provincial para uma audiência de detenção preventiva, segundo o grupo de defesa jurídica Thai Lawyers for Human Rights.

O tribunal negou a liberdade sob fiança a Chambers, supostamente devido à "gravidade da pena potencial", seu status como estrangeiro e à objeção da polícia, segundo o grupo. Um novo pedido de fiança seria apresentado ao tribunal de apelação nesta quarta-feira, 9. Ainda não há data marcada para o julgamento.

O policial que atendeu ao telefone na delegacia responsável pelo caso disse que não podia comentar à Associated Press e encaminhou o assunto ao seu superior, que não atendeu às ligações.

Não é incomum que tribunais tailandeses neguem fiança em casos de insulto à monarquia, popularmente conhecidos como "112", em referência ao número do artigo no Código Penal.

O projeto Scholars at Risk, com sede nos EUA, declarou que Chambers, no final de 2024, fez comentários em um seminário online sobre uma reestruturação dos militares, o que pode ter motivado a denúncia feita contra ele pela 3ª Região Militar, responsável pelo norte da Tailândia.

No entanto, a esposa de Chambers, Napisa Waitoolkiat, reitora da Faculdade de Ciências Sociais da Universidade Naresuan, afirmou que as provas apresentadas pelas autoridades não se referem às palavras de seu marido, mas sim a um site operado pelo ISEAS-Yusof Ishak Institute, um centro de estudos de Cingapura que transmitiu o seminário.

O Thai Lawyers for Human Rights disse que as acusações se baseiam no texto do convite para o seminário realizado em outubro de 2024, intitulado "Reestruturações Militares e Policiais da Tailândia em 2024: O Que Elas Significam?", e que a denúncia inclui a tradução para o tailandês da descrição do evento.

Napisa também afirmou que seu marido não foi convocado para depor antes de receber o mandado de prisão, como costuma ocorrer nesse tipo de caso.

"Parece que o objetivo era desencorajar o Paul de continuar seu trabalho e pesquisa, que muitas vezes abordam temas como a economia do exército tailandês", disse ela à Associated Press por telefone.

O que é a lei de lesa-majestade?

A legislação tailandesa prevê penas de 3 a 15 anos de prisão para qualquer pessoa que difame, insulte ou ameace o rei, a rainha, o herdeiro do trono ou o regente. Críticos dizem que é uma das leis mais severas do tipo no mundo e que também tem sido usada para punir críticos do governo e dos militares.

A monarquia há muito é considerada um pilar da sociedade tailandesa, e criticá-la costumava ser um tabu absoluto. Conservadores, especialmente no meio militar e no judiciário, ainda a consideram intocável.

No entanto, o debate público sobre o tema cresceu na última década, especialmente entre os jovens, e os protestos pró-democracia liderados por estudantes, iniciados em 2020, passaram a criticar abertamente a instituição. Isso levou a um aumento das acusações com base nessa lei, até então pouco utilizada.

O Thai Lawyers for Human Rights afirmou que, desde o início de 2020, mais de 270 pessoas - muitas delas ativistas estudantis - foram acusadas de violar essa legislação. (Com agências internacionais).

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O Tribunal de Justiça do Distrito Federal (TJDFT) negou nesta quarta-feira, 30, um recurso de Jair Bolsonaro (PL) em uma ação movida contra o deputado federal Guilherme Boulos (PSOL-SP) por falas associando o ex-presidente ao assassinato de Marielle Franco, em 2018. Bolsonaro pedia uma indenização de R$ 50 mil e retratação pública. No entanto, em fevereiro deste ano, a ação já havia sido julgada improcedente.

A ação de Bolsonaro questionava pronunciamentos feitos por Boulos em 2023. O ex-presidente apresentou à justiça publicações do X (antigo Twitter) e uma entrevista de Boulos à CNN, em que ele teria feito "ilações" e "acusações" sobre uma suposta participação do ex-presidente no assassinato da então vereadora do PSOL.

A defesa de Jair Bolsonaro foi procurada pelo Estadão e ainda não se manifestou.

Na entrevista, Boulos disse: "O que levaria Bolsonaro, se não tivesse nada a esconder em relação ao assassinato da Marielle Franco, a colocar sob sigilo telegramas do Itamaraty que tratam do caso Marielle? Quem deve teme!".

Já em postagens na rede social, o deputado escreveu: "O pacote 'anticrime' de Moro reforça sombrias aproximações entre o governo Bolsonaro e Duterte, das Filipinas que é acusado de, no passado, ter liderado 'esquadrões da morte', semelhantes à milícia suspeita de matar Marielle Franco e de ter ligações com a família de Bolsonaro".

No acórdão, a juíza Maria Isabel da Silva entendeu que, pelo recorrente, no caso, Bolsonaro, ser ex-presidente e "figura pública, comumente assídua nas redes sociais", ele estaria exposto a "críticas mais acintosas do que ocorre com as demais pessoas".

Além disso, a juíza também entendeu que as manifestações de Boulos "se inserem no contexto do debate político, ainda que expressas de forma incisiva, estando relacionadas ao exercício do mandato parlamentar".

O governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), afirmou que o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) é "bem-intencionado" e disse apoiar uma anistia caso o parlamentar seja condenado por ameaça à soberania nacional.

Zema, porém, criticou a atuação de Eduardo pelo tarifaço de 50% a produtos brasileiros nos Estados Unidos e disse que não se deve colocar interesses particulares acima dos nacionais. A declaração foi dada nesta quinta-feira, 31, em entrevista ao jornal O Globo.

"Acho que ele (Eduardo Bolsonaro) até tem sido bem-intencionado na questão, mas agora nós não podemos colocar os interesses do Brasil abaixo de um interesse particular de quem quer que seja", declarou.

Eduardo, que se autoexilou nos EUA, tem pedido por sanções contra o Brasil e contra autoridades nacionais para favorecer o pai, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), na ação penal por golpe de Estado.

Para o governador, a situação de Eduardo se assemelha a dos envolvidos no 8 de Janeiro e endossa o pedido de anistia.

"Eu sou da posição de que nós temos de olhar para o futuro, e não ficar remoendo feridas do passado. Quem começa a carregar sentimentos de culpa, de ressentimento, para de andar para frente", disse. "Eu sou favorável, sim, está dentro do mesmo contexto, do 8 de Janeiro e de outras questões que vêm sendo discutidas."

Na semana passada, em entrevista ao Estadão/Broadcast, o governador mineiro afirmou que Eduardo "causou um problema para a direita" ao articular as tarifas contra o Brasil. Após a declaração, o filho do ex-presidente se defendeu afirmando que Zema representa a "turminha da elite financeira".

"Enquanto são pessoas simples e comuns as vítimas da tirania (se referindo aos condenados pelo 8 de Janeiro), não há problema, mas mexeu na sua turminha da elite financeira, daí temos o apocalipse para resolver", respondeu Eduardo ao mineiro.

Tanto Zema quanto Eduardo são apontados como possíveis sucessores de Jair Bolsonaro na disputa presidencial de 2026, uma vez que o ex-presidente está inelegível até 2030, condenado por abuso de poder político e uso indevido dos meios de comunicação.

O vice-presidente da República e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin (PSB), comparou a postura do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) com do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), ao dizer que Lula ficou preso durante um ano e, apesar disso, não atentou contra a autonomia do Judiciário.

"Lula ficou preso um ano e meio, não foi um dia e meio. Com um ano e meio preso, e nunca quis derrubar a democracia nem o Poder Judiciário", disse o vice-presidente.

Lula foi preso em 7 de abril de 2018, condenado a pena de 12 anos e um mês por corrupção passiva e lavagem de dinheiro no processo do tríplex do Guarujá, no âmbito da Operação Lava Jato.

Durante o tempo que esteve na prisão, na superintendência da Polícia Federal, em Curitiba, o então ex-presidente criticou o Judiciário inúmeras vezes. Ele não defendeu sanções contra o Poder nem seus representantes.

No discurso antes de se entregar à Justiça, o petista criticou ministros da Suprema Corte por supostamente se subordinarem à opinião pública. Lula foi solto um ano e sete meses depois, quando o STF declarou que a prisão após condenação em segunda instância é inconstitucional.

Mais tarde, o processo contra ele foi anulado por falhas processuais, sem análise do mérito. O ex-juiz da operação e hoje senador Sérgio Moro (União-PR) foi considerado suspeito para conduzir os casos, por agir em conluio com procurador.

Tanto as tarifas impostas ao Brasil pelos Estados Unidos quanto sanção individual aplicada ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), tem influência do lobby encampado pelo filho de Bolsonaro, deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), que tenta livrar o pai da condenação na ação penal do golpe de Estado.

Na sequência, ao ser questionado se o tom "de confronto" adotado pelo governo acaba prejudicando a situação, Alckmin afirmou que Lula tem um perfil conciliador e que sempre resolveu os impasses com diálogo.

Alckmin participou do programa Mais Você, apresentado por Ana Maria Braga, na TV Globo, para comentar a oficialização da tarifa de 50% a produtos brasileiros pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, nesta quarta-feira, 30.

O anúncio ocorreu no mesmo dia Moraes foi punido pelo governo de norte-americano com a Lei Magnitsky, sendo a primeira vez que uma autoridade de país democrático é alvo da lei americana. Entre as punições estabelecidas, estão a proibição de entrada nos Estados Unidos, o bloqueio de bens e propriedades no país, e o bloqueio de contas bancárias e o acesso do ministro ao sistema financeiro americano.