EUA dizem que Ucrânia terá de ceder território em qualquer acordo de paz

Internacional
Tipografia
  • Pequenina Pequena Media Grande Gigante
  • Padrão Helvetica Segoe Georgia Times

Um dia antes do início das negociações entre EUA e Ucrânia, na Arábia Saudita, para pôr fim à guerra com a Rússia, o secretário de Estado americano, Marco Rubio, disse nesta segunda-feira, 10, que os ucranianos terão de ceder parte de seu território a Moscou em qualquer acordo de paz. Ele também afirmou que o Kremlin terá de fazer concessões, sem especificar quais.

 

O futuro dos territórios ucranianos ocupados pela Rússia, que incluem as províncias de Luhansk, Donetsk, Kherson e Zaporizhzia, além da Crimeia, anexada em 2014, são um dos principais impasses.

 

"Os dois lados precisam chegar a um entendimento de que não há solução militar para essa situação", disse Rubio. "Os russos não podem conquistar toda a Ucrânia e, obviamente, será muito difícil para a Ucrânia, em qualquer período de tempo razoável, forçar os russos a voltarem para onde estavam em 2014."

 

O corte temporal usado por Rubio, com referência indireta à anexação da Crimeia, pode sinalizar uma perda menor de território para a Ucrânia que as quatro províncias ocupadas atualmente, mas ele se recusou a dar detalhes das possíveis concessões.

 

O presidente da Ucrânia, Volodmir Zelenski, chegou ontem a Riad para discutir o futuro da guerra. Hoje, ele deve propor um cessar-fogo no Mar Negro e uma trégua nos ataques de mísseis de longo alcance, bem como a libertação de prisioneiros de guerra, segundo a agência France Presse.

 

Os ucranianos também demonstrarão aos EUA que estão dispostos a assinar um acordo que dá acesso aos minerais de terras raras da Ucrânia para os americanos. "São opções de cessar-fogo fáceis de implementar e de monitorar", indicou um funcionário ucraniano de alto escalão.

 

Elogios

 

Rubio considerou ontem a proposta promissora. "Não digo que seja suficiente, mas é o tipo de concessão que se necessita para pôr fim ao conflito", disse. Desde que Donald Trump retornou à Casa Branca, em janeiro, ele se aproximou da Rússia de Vladimir Putin. Como parte de sua agenda para pôr fim à guerra, o republicano abriu negociações com o Kremlin sem incluir ucranianos e europeus.

 

Antes do carnaval, Trump e Zelenski se reuniram na Casa Branca para assinar o acordo mineral, mas os dois se desentenderam sobre o papel da Rússia no conflito e bateram boca no Salão Oval. Após a reunião, ele suspendeu a ajuda militar e parou de compartilhar dados de inteligência com Kiev. Nos últimos dias, já sem essas informações, a Ucrânia sofreu pesados ataques russos dentro do país e na área que ocupa em Kursk, dentro da Rússia.

 

Enquanto isso, no front de batalha, forças russas estão tentando cruzar a fronteira e se firmar na província ucraniana de Sumy, à medida que avançam em uma contraofensiva com o objetivo de eliminar a última posição de Kiev na região russa de Kursk.

 

Andrei Demchenko, porta-voz da guarda de fronteira do Estado ucraniano, disse que as forças russas estavam tentando avançar em torno da aldeia ucraniana de Novenke e cortar as linhas de abastecimento.

 

Na arena diplomática, Zelenski ainda tenta reatar os laços com Trump. O líder ucraniano, que também se encontrará com o príncipe herdeiro saudita, Mohamed bin Salman, acrescentou que a Ucrânia busca "a paz desde o primeiro segundo da guerra".

 

A revista britânica The Economist ponderou, no entanto, que a Ucrânia, provavelmente, não aceitará nenhum acordo que limite sua capacidade de rearmamento, que reconheça os territórios ocupados como parte da Rússia ou que interfira na política interna ucraniana. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Em outra categoria

A deputada federal Tabata Amaral (PSB-SP) publicou um vídeo nas suas redes sociais nesta terça-feira, 22, sobre os riscos da taxação anunciada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, aos produtos brasileiros e a recente abertura de uma investigação sobre o Pix, sistema de pagamentos desenvolvido pelo Banco Central.

No vídeo, Tabata diz que a inclusão do Pix nas investigações do governo Trump sobre práticas comerciais do Brasil é motivada pelo lobby das grandes bandeiras de cartão de crédito que lucram bilhões com as transações feitas no mercado brasileiro.

"O resto do mundo não tem Pix. Na Europa não tem nada parecido. Nos Estados Unidos ainda é comum usar cheque. [...] E, por isso, o nosso Pix virou alvo, porque cresceu rápido. Fez o uso de cartão de crédito cair", argumentou a deputada.

Além disso, Tabata afirma que o alcance do Pix também ameaça big techs, que possuem seu próprio sistema de pagamento. Essas empresas, segundo a deputada, teriam interesse em enfraquecer o Pix para manter o monopólio de seus serviços.

"Todas elas estavam na primeira fila na posse de Donald Trump, porque o projeto de poder dele também é bom para elas, manter o mundo usando tecnologia americana, sem concorrência, sem regulação", disse Tabata.

Ela também faz referência ao embate das big techs com o Judiciário brasileiro, que propõe responsabilizar as redes sociais por golpes, fraudes, jogo ilegal, discurso de ódio e outros crimes cometidos dentro das plataformas.

Outro argumento levantado pela deputada é o da aliança entre o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e o governo norte-americano. Donald Trump, em carta enviada ao governo brasileiro, anunciou o tarifaço em resposta ao tratamento da Justiça ao ex-chefe do Executivo, à liberdade de expressão e ao comércio norte-americano.

"Bolsonaro é útil para essas empresas. Ele topa tudo, desde que consiga escapar da Justiça, manter relevância política, reconstruir poder. É por isso que Eduardo Bolsonaro está conspirando nos Estados Unidos", disse Tabata.

Segundo a deputada, atacar o Pix é atingir diretamente o povo, que pode perder um sistema de pagamentos moderno e acessível.

"Aqui tem uma democracia, aqui tem um povo soberano e aqui a gente sabe se defender quando é necessário. Primeiro atacaram nossas exportações de laranja, café, carne bovina, agora atacam Pix. E se a gente se calar, vão atacar mais", afirmou a deputada.

O ex-presidente Jair Bolsonaro se limitou a dizer que não poderia dar entrevistas a jornalistas ao chegar à sede do PL, em Brasília, na manhã desta quarta-feira, 23. O ex-chefe do Executivo federal estava acompanhado do filho Jair Renan, vereador de Balneário Camboriú (SC).

"Vocês sabem que eu não posso falar", afirmou diante de fotógrafos e cinegrafistas. No dia anterior, ao deixar a sede do diretório partidário, Bolsonaro havia adotado a mesma postura.

Bolsonaro cumpre medidas restritivas ordenadas pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moares no último dia 18. Além de usar tornozeleira eletrônica, o ex-presidente não pode se comunicar via rede social própria ou de terceiros.

Bolsonaro esteve na Câmara na tarde de segunda-feira, 21, e, na saída, mostrou aos jornalistas a tornozeleira eletrônica e afirmou que o dispositivo simbolizava a "máxima humilhação". As imagens foram compartilhadas nas redes sociais por aliados do ex-chefe do Executivo e pela imprensa.

Moraes pediu explicações para a defesa sobre o episódio e citou que havia esclarecido, mais cedo, que a proibição de uso das redes sociais, diretamente ou por intermédio de terceiros, imposta a Bolsonaro incluía, "obviamente, as transmissões, retransmissões ou veiculação de áudios, vídeos ou transcrições de entrevistas em qualquer das plataformas das redes sociais de terceiros".

Em resposta dentro do prazo de 24h estabelecido pelo ministro da Corte, a defesa de Bolsonaro afirmou que ele não descumpriu as ordens da Justiça e prometeu que Bolsonaro permanecerá calado, sem fazer "qualquer manifestação" sobre o caso.

Ainda segundo os advogados, o ex-presidente não pode ser responsabilizado pela conduta de terceiros que postaram em redes sociais o que ele faz. "Tais atos não contam com a participação direta ou indireta do entrevistado, que não pode ser punido por atos de terceiros", afirmou.

A defesa ainda solicitou que o ministro esclareça o que Bolsonaro pode ou não fazer e justificou que não tinha conhecimento de que ele estava proibido de conceder entrevistas. Moraes ainda não respondeu a essa manifestação dos advogados.

O jornalista Edward Luce, editor e colunista do jornal Financial Times, um dos principais do Reino Unido, publicou nesta terça-feira, 22, um artigo intitulado "Trump, Imperador do Brasil". O articulista criticou a imposição de tarifas de 50% sobre produtos brasileiros nos Estados Unidos, anunciada pelo presidente Donald Trump em 9 de julho, e repreendeu a tentativa de ingerência no processo penal contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), réu por tentativa de golpe no Supremo Tribunal Federal (STF).

Para o articulista, a exemplo do que ocorreu no Canadá e na Austrália, a investida de Trump contra o Brasil acabará tendo um efeito contrário ao pretendido pelo republicano, prejudicando seu aliado e fortalecendo o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). "Poucas coisas unem os eleitores em torno da bandeira nacional mais rápido do que um ataque de uma superpotência à sua economia", afirmou o editor do jornal britânico.

Segundo o artigo, Trump não previu que, com as tarifas, prejudicaria as exportações do agronegócio brasileiro, isolando Bolsonaro de uma de suas principais bases de apoio. "Não é surpresa que a sorte de Lula tenha voltado", afirmou Luce.

Segundo levantamento da Genial/Quaest realizado após o anúncio das tarifas de Trump, o petista ganhou fôlego na crise de popularidade que enfrentava desde meados de 2024.

O jornalista criticou o uso de tarifas como instrumento de pressão no processo contra o ex-presidente. Para Luce, há um ímpeto "imperial" na política comercial de Trump. O jornalista criticou a política externa do republicano e repreendeu a revogação de vistos de oito dos 11 ministros do STF, anunciada pelo Secretário de Estado do país, Marco Rubio, na sexta-feira, 18.

"A atitude de Rubio é daquelas que nos fazem dizer 'Macacos me mordam!'. O ex-senador construiu sua reputação defendendo os valores democráticos dos Estados Unidos e o Estado de Direito. Agora, ele está punindo o sistema jurídico de uma democracia irmã por aplicar a lei", disse Edward Luce.

O ministro Alexandre de Moraes, do STF, impôs medidas cautelares a Bolsonaro na última sexta-feira. Segundo a Procuradoria-Geral da República (PGR), o ex-presidente tentou obstruir o curso do processo em que é réu por meio de "entraves econômicos" no relacionamento entre Brasil e Estados Unidos.

Segundo o jornalista, há um paralelo "impressionante" entre Trump e o ex-presidente brasileiro. "A diferença é que Bolsonaro está sendo responsabilizado", afirmou Luce, elogiando as instituições brasileiras no comparativo com as americanas. "Se hoje existe algum farol de democracia liberal no hemisfério de (Marco) Rubio, ele vem de Brasília e Ottawa. Por ora, Washington está fora."

Trump insuflou a invasão do Congresso americano em 6 de janeiro de 2021. O republicano foi indiciado por quatro crimes relacionados à invasão, mas não foi responsabilizado na Justiça.

No Brasil, segundo a PGR, a tentativa de golpe liderada por Bolsonaro teve seu ato final na invasão aos prédios públicos em 8 de janeiro de 2023. Para a Procuradoria, o 8 de Janeiro foi a "última esperança" da trama golpista. "O episódio foi fomentado e facilitado pela organização denunciada", afirmou a PGR ao denunciar Bolsonaro e mais sete como integrantes do "núcleo crucial" da tentativa de golpe.