Egito e Jordânia reafirmam unidade contra plano de Trump para realocar palestinos de Gaza

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Na mira de Donald Trump, e de sua ideia de tomar a Faixa de Gaza, Jordânia e Egito emitiram um comunicado para demonstrar unidade em suas posições, recusando o deslocamento forçado de 2 milhões palestinos proposto por Trump. Ao mesmo tempo, os países garantiram que queriam cooperar com o presidente para alcançar "uma paz justa e duradoura" no Oriente Médio.

"Os dois líderes afirmaram a unidade das posições egípcia e jordaniana, especialmente sobre a necessidade de plena implementação do acordo de cessar-fogo na Faixa de Gaza, a contínua libertação de reféns e prisioneiros, bem como facilitar a entrada de ajuda humanitária", disse a presidência egípcia em um comunicado nesta quarta-feira, 12.

O presidente do Egito, Abdel Fattah el-Sisi, e o rei da Jordânia, Abdullah II também afirmaram a importância do "lançamento imediato do processo de reconstrução na Faixa de Gaza, sem deslocar o povo palestino de sua terra".

Um comunicado do palácio real jordaniano informou ainda que os dois líderes ressaltaram sua "posição comum", recusando o deslocamento forçado dos palestinos.

Os dois países também garantiram que queriam "cooperar" com o presidente Trump para alcançar "uma paz justa e duradoura" no Oriente Médio. Mas rejeitaram categoricamente a ideia do americano de realocar em seus territórios os palestinos de Gaza.

Na terça-feira, o rei Abdullah usou um tom conciliatório em seu encontro com Trump no Salão Oval, dizendo a ele que seu país acolheria 2 mil crianças palestinas de Gaza com câncer e outras doenças.

A Jordânia já vem tratando alguns pacientes com câncer de Gaza há meses, tornando a oferta mais um gesto simbólico do que uma concessão real. Mas Trump chamou isso de um "gesto lindo".

Países não querem acirrar os ânimos de Trump

Para os dois governos árabes, a estratégia parece ser a de apaziguar o presidente com ofertas para trabalharem juntos. Isso poderia ajudá-los a ganhar tempo, segundo analistas, talvez o suficiente para Trump afastar a complicada ideia ou reconhecer as desvantagens estratégicas e de segurança de se desestabilizar dois dos mais próximos aliados dos EUA na região.

Mesmo enquanto o rei se opunha a Trump em sua postagem, mais tarde, para deixar claro que estava rejeitando o deslocamento em massa de palestinos, ele observou que os EUA tinham um papel-chave a desempenhar. "Alcançar uma paz justa com base na solução de dois estados é o caminho para garantir a estabilidade regional", disse. "Isso requer liderança dos EUA."

O Egito também disse que queria trabalhar com Trump para "alcançar uma paz abrangente e justa na região", segundo uma declaração egípcia divulgada mais tarde na terça-feira. Mas a declaração não mencionava participação na proposta de Trump e reiterava a posição do Egito de que a paz só poderia ser alcançada concedendo aos palestinos um Estado.

Palestinos e outros árabes rejeitaram a proposta forçada de deslocamento considerando-a não apenas como limpeza étnica, um crime de guerra que vai contra a lei internacional, mas também como a pá de cal para o seu sonho de longa data de um Estado palestino.

O Egito buscou, em vez disso, apresentar um plano alternativo para Trump, dizendo na declaração que "apresentará uma visão abrangente para a reconstrução da Faixa de Gaza de maneira que garanta que o povo palestino permaneça em sua terra natal."

Nos últimos dias, à medida que o alarme sobre a ideia do presidente aumentava no Cairo, oficiais egípcios enfatizaram que o Egito está pronto para ajudar a reconstruir Gaza, com a qual compartilha uma passagem de fronteira vital, como fez após conflitos anteriores.

Estabilidade em jogo

Um magnata do setor imobiliário egípcio, Hisham Talaat Moustafa, que, como Trump, desenvolveu uma cadeia de propriedades residenciais e hotéis, apareceu em um programa de notícias na noite do último domingo para falar de uma proposta de US$20 bilhões para a construção de 200 mil unidades habitacionais em Gaza, como se tentasse conversar com o Trump de desenvolvedor para desenvolvedor.

Mas Moustafa, que é próximo do presidente egípcio, Abdel Fattah el-Sisi, disse que imaginava reconstruir Gaza sem mover nenhum palestino do território.

Durante a reunião de terça-feira, o rei Abdullah também falou sobre a necessidade de consultas com o Egito e outros países árabes antes de responder à proposta de Trump, mencionando uma reunião em Riad com o príncipe herdeiro, Mohammed bin Salman. O Egito também convocou uma cúpula de líderes árabes para discutir a questão no Cairo no dia 27.

Casal será reembolsado após comprar mansão de R$ 229 milhões infestada por traças

Apesar da resistência do Egito e da Jordânia, Trump tem insistido na ideia de que os EUA "assumam" Gaza e a transforme em uma Riviera para turismo e empregos. Chegou a ameaçar cortar a ajuda americana a Egito e Jordânia, caso se recusem a receber os palestinos, mas pareceu suavizar sua ameaça na reunião. "Estamos acima disso", disse Trump, que também sugeriu que estava considerando um grupo mais amplo de países que poderiam receber os moradores de Gaza.

Quando um jornalista perguntou se dois desses países poderiam ser Albânia e Indonésia, ele respondeu, "Sim, claro" (os líderes de ambos os países afastaram qualquer possibilidade).

Especialistas em Oriente Médio dizem que Trump parece estar ignorando os cálculos anteriores dos EUA sobre a importância da estabilidade no Egito e na Jordânia, vizinhos árabes que fizeram paz com Israel há anos e cooperam estreitamente com Washington em questões de segurança.

"A maneira como ele fala sobre essas relações, é como se esses países fossem apenas beneficiários, e que recebemos muito pouco deles", disse Brian Katulis, um membro sênior do Instituto do Oriente Médio que se concentra em Egito, Israel, Jordânia e nos palestinos.

De fato, muitos defensores dos direitos humanos e críticos do Egito questionaram o quão sábio é o investimento dos EUA no país, argumentando que ele sustenta um regime repressivo que muitas vezes vai contra os interesses americanos. Mas analistas dizem que a cooperação do Egito e especialmente da Jordânia em segurança regional tem sido valiosa para os EUA.

O Egito, que recebe US$1,3 bilhão por ano em assistência militar dos EUA para comprar armas, tornando-o o segundo maior receptor desse financiamento depois de Israel, trabalhou com os americanos em esforços de contraterrorismo.

A Jordânia tem sido a porta de entrada dos EUA para o Oriente Médio por décadas, hospedando uma base militar americana e uma grande estação da CIA, e atuando como um polo diplomático. Como o Egito, a monarquia jordaniana compartilha a visão dos EUA do islamismo militante como uma grande ameaça e tem apoiado Washington na luta contra a Al Qaeda e depois o Estado Islâmico, entre outros inimigos comuns.

Quando o Irã alvejou Israel com mísseis e drones no ano passado, a Jordânia também ajudou a derrubar alguns deles. "A Jordânia tem estado com os americanos passo a passo", disse Katulis.

O Egito e a Jordânia ambos aceitaram refugiados palestinos depois que eles foram deslocados durante a guerra de 1948 em torno da criação do estado de Israel, e o Egito agora acolheu pelo menos 100 mil palestinos que precisaram de assistência médica.

Mas analistas dizem que ambos os países prefeririam arriscar perder a ajuda dos EUA a alienar suas populações parecendo cúmplices na limpeza étnica de Gaza.

Para a Jordânia, acolher um grande número de palestinos forçados a sair de Gaza é inaceitável porque poderia ampliar uma cisão existente entre cidadãos de ascendência palestina e aqueles que não são, desestabilizando a monarquia. Mais da metade dos 12 milhões de súditos do rei Abdullah são de ascendência palestina.

A Jordânia já hospeda cerca de 700 mil refugiados, incluindo sírios e iraquianos, bem como palestinos. Essa população em grande parte empobrecida praticamente sobrecarregou os recursos limitados do pequeno país.

A proposta de Trump também inflama temores de que Israel expulsará a seguir os palestinos da Cisjordânia ocupada para a Jordânia, uma ambição de longa data dos israelenses de extrema direita.

O secretário-geral da Liga Árabe, Ahmed Aboul Gheit, aludiu a tais temores na quarta-feira. "Hoje o foco está em Gaza e amanhã se deslocará para a Cisjordânia, com o objetivo de esvaziar a Palestina histórica de seu povo, algo que é inaceitável."

O Egito também vê a possibilidade de palestinos reassentarem no país como uma séria ameaça à segurança. Palestinos deslocados à força podem lançar ataques contra Israel do solo egípcio, dizem os oficiais, convidando a retaliação militar israelense. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)

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O ex-coach Pablo Marçal (PRTB) foi condenado nesta terça-feira, 22, a oito anos de inelegibilidade pela Justiça Eleitoral. É a terceira vez que ele é condenado por crimes praticados nas eleições de 2024, quando disputou a Prefeitura de São Paulo. Procurado, Marçal diz estar confiante de que a decisão será revista nas instâncias superiores.

A sentença contra o influenciador foi proferida pelo juiz eleitoral Antônio Maria Patiño Zord, da 1.ª Zona Eleitoral. O magistrado analisou duas ações de modo simultâneo, concluindo que Marçal praticou abuso de poder econômico, captação e gastos ilícitos e uso indevido dos meios de comunicação social.

As ações foram protocoladas pelo Partido Socialista Brasileiro (PSB), da então candidata à Prefeitura Tabata Amaral, e pela vereadora Silvia Ferraro (PSOL). As denúncias apontam que o ex-coach promoveu sorteios nas redes sociais, atacou adversários e questionou a lisura do processo eleitoral.

Na sentença, Zord julgou parcialmente procedente as acusações contra Marçal. O magistrado, no entanto, absolveu Antônia de Jesus (PRTB), candidata a vice na chapa encabeçada pelo ex-coach. A condenação é de primeira instância, e cabe recurso.

Por meio de sua assessoria, Marçal afirmou que recebeu com serenidade a decisão. "Embora respeite o posicionamento da Justiça Eleitoral, reafirmo minha total convicção de que sou inocente e reforço que os recursos cabíveis serão apresentados no tempo certo. Sigo confiante na revisão dessa decisão pelas instâncias superiores".

Em abril deste ano, Marçal já havia sido condenado pela 1.ª Zona Eleitoral. Na ocasião, o ex-coach foi sentenciado a multa de R$ 420 mil, além de oito anos de inelegibilidade. A decisão também apontou a pratica de abuso de poder econômico, captação ilícita de recurso e uso indevido de meio de comunicação social.

"Pablo Marçal buscou garantir uma alavancamento da sua presença nas redes sociais por meio de mecanismos ilícitos correspondentes ao concurso de 'cortes' de seus vídeos para fins de estimular impulsionamento de propaganda eleitoral de terceiros com a promessa de pagamento de prêmio aos vencedores ficando, desta forma, caracterizado o abuso de poder econômico", escreveu Zord, na segunda sentença contra Marçal.

Já primeira condenação de Marçal ocorreu em fevereiro deste ano em ação movida pelo PSB e pelo PSOL após Marçal divulgar um vídeo em que diz que venderia seu apoio a candidatos a vereador de "perfil de direita" em troca de doação de R$ 5.000 para sua campanha. A decisão também o declarou inelegível por oito anos. As condenações, porém, não são acumulativas.

O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) promoveram ações nas sedes do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) em 22 Estados nesta quarta-feira, 23. A autarquia é responsável pela política agrária no Brasil, e os atos são mais um movimento com o objetivo de pressionar o governo pela reforma agrária. O MST também se reuniu com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no mesmo dia.

"Entre as pautas levadas ao governo estão a criação e estruturação de novos assentamentos, acesso ao crédito e políticas públicas para a produção de alimentos saudáveis, além de moradia, educação e infraestrutura para as famílias do campo", afirma a organização em post no Instagram.

Em São Paulo, 300 militantes do MST invadiram o Incra enquanto perguntavam "Lula, cadê a reforma agrária?". De acordo com o movimento, as ocupações também foram registradas em Tocantins, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Paraná, Minas Gerais, Espírito Santo, Rio de Janeiro, Paraíba, Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Pernambuco, Bahia, Sergipe, Alagoas, Goiás, Mato Grosso, Distrito Federal, Maranhão, Pará e Roraima.

MST enviou carta em que pedia rapidez reforma agrária, ministério rebateu

O MST intensificou os atos na "Semana Camponesa", mobilização nacional da entidade que deve se estender até o dia 25. Na segunda, 21, o movimento divulgou uma carta aberta na qual cobrava avanços na reforma agrária e dizia que "soberania nacional só é possível com soberania alimentar", fazendo alusão à campanha que Lula encampa em prol da soberania do País após o tarifaço de Donald Trump.

No mesmo dia, o Ministério do Desenvolvimento Agrário respondeu o movimento e negou demora para regularizar terras. "Ao contrário do que diz a carta do MST, a reforma agrária no Brasil retomou o ritmo dos dois primeiros governos do presidente Lula", escreveu a pasta.

"Em 2025 foram obtidos e disponibilizados 13.944 novos lotes para assentamentos, número comparável aos dos governos Lula 1 e 2", acrescentou.

O MST tem adotado a soberania nacional como mote e relacionado o tema com a reforma agrária. "Representantes de diversos acampamentos e assentamentos do Tocantins reforçam a importância da Reforma Agrária Popular como política estratégica para a soberania alimentar e justiça social", escreveu a entidade em uma das publicações que anunciou as ocupações.

A entidade também divulgou uma carta em defesa da soberania nacional no Instagram.

O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) afirmou nesta quarta-feira, 23, que as contas bancárias de sua esposa foram bloqueadas por ordem do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). Nas redes sociais, o parlamentar classificou a medida como "arbitrária" e alegou que não foi citado nos inquéritos recentemente abertos contra ele. O STF não se manifestou sobre a alegação de Eduardo Bolsonaro.

Na segunda-feira, 21, o próprio Eduardo já havia informado que teve suas contas bancárias e chave Pix bloqueadas. Como mostrou o Estadão, a decisão de Moraes também incluiu o bloqueio de bens móveis, imóveis e do salário como parlamentar. O objetivo da medida é tentar dificultar suas ações nos Estados Unidos.

A medida é mais uma estratégia da investigação contra as ações do ex-presidente Jair Bolsonaro e de seu filho para obter sanções do governo de Donald Trump contra o Brasil.

Após ter obtido a aplicação de medidas restritivas a Jair Bolsonaro, como o uso de tornozeleira eletrônica, a PF considerou que seria mais eficaz aplicar medidas patrimoniais contra Eduardo, já que ele está nos Estados Unidos.

Os investigadores analisaram a possibilidade de pedir a deflagração de medidas ostensivas contra o filho do ex-presidente, como decretar prisão, mas avaliaram que seriam de baixa efetividade.

Em casos recentes nos quais o STF determinou a prisão de brasileiros residentes nos EUA e acusados de atos antidemocráticos, não houve sucesso em obter a extradição deles.

O entendimento dos investigadores foi que medidas patrimoniais seriam mais eficientes para tentar dificultar as ações de Eduardo no exterior. A PF mira, por exemplo, os R$ 2 milhões que Jair Bolsonaro transferiu a Eduardo para financiar sua permanência nos EUA nesse período.

Bolsonaro foi alvo de busca e apreensão na última sexta-feira, 18, sob suspeita de ter estimulado, em conjunto com seu filho, ações do presidente Donald Trump contra o governo brasileiro. Para a Polícia Federal, essas ações tiveram seu ápice quando Trump anunciou uma taxação de 50% sobre os produtos brasileiros.

Após a operação da PF, o governo dos EUA anunciou como nova retaliação a suspensão do visto do ministro Alexandre de Moraes e de outros integrantes do STF.