Estado Islâmico e busca por cúmplices: o que se sabe sobre o ataque em Nova Orleans

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O motorista que avançou sobre uma multidão em Nova Orleans havia publicado vídeos em que expressava o desejo de matar e afirmava ter sido inspirado pelo Estado Islâmico horas antes do ataque, que matou 15 pessoas e feriu dezenas. O homem foi identificado como Shamsud-Din Jabbar, um veterano do Exército dos EUA de 42 anos, e o FBI acredita que ele não agiu sozinho.

O ataque interrompeu a celebração do ano-novo na agitada Bourbon Street. As cenas eram de horror, com vítimas mutiladas, corpos ensanguentados e pedestres fugindo para se esconder em boates e restaurantes. "Corpos, corpos por toda a rua, todo mundo gritando e chorando", disse Zion Parsons, amigo de uma das vítimas, ao relatar que viu a caminhonete "avançando, jogando pessoas para o alto como em uma cena de filme".

Depois de atropelar a multidão, o autor do ataque morreu em troca de tiros com a polícia. Dentro do carro, os investigadores encontraram armas, explosivos improvisados e uma bandeira do Estado Islâmico. O FBI investiga se Jabbar estava associado a organizações terroristas.

Como aconteceu o ataque?

O motorista identificado como Shamsud-Din Jabbar avançou sobre a multidão, que celebrava o ano-novo no agitado centro histórico de Nova Orleans. O ataque, ocorrido pouco depois das 3h, deixou 15 mortos e cerca de 30 feridos.

Jabbar desviou da viatura que estava posicionada para bloquear o trânsito e acelerou sobre a calçada com a caminhonete branca que havia alugado por aplicativo. Parte essencial do sistema de barreiras para prevenção de ataques estava em reforma, em razão da preparação da cidade para o Super Bowl em fevereiro.

O motorista superou as medidas de segurança em vigor para proteger os pedestres, disse a superintendente da polícia de Nova Orleans, Anne Kirkpatrick. "Tínhamos um carro lá, tínhamos barreiras lá, tínhamos policiais lá", destacou. "Nós realmente tínhamos um plano, mas o terrorista o derrotou".

Depois de bater o carro, Jabbar desceu e abriu fogo contra os policiais. Três agentes revidaram e dois foram baleados - o quadro de saúde deles é estável. O motorista foi morto na troca de tiros.

Qual a relação com o Estado Islâmico?

O presidente americano, Joe Biden, disse que o motorista parecia inspirado no Estado Islâmico (EI), refletindo uma preocupação crescente nos Estados Unidos. Biden disse em pronunciamento que o FBI encontrou vídeos publicados nas redes sociais pouco antes do ataque em que Jabbar expressava desejo de matar e sinalizava inspiração no grupo terrorista.

Os investigadores encontraram dentro da caminhonete uma bandeira do EI, armas e um explosivo improvisado, que foi neutralizado pelo esquadrão antibombas. O FBI disse não acreditar que Jabbar tenha agido sozinho e busca possíveis associações dele com grupos terroristas.

O que apontam as investigações?

Um policial com conhecimento sobre as investigações disse ao jornal Washington Post, sob condição de anonimato, que mais duas bombas caseiras preparadas para detonação remota foram encontradas nas proximidades. Os explosivos, afirma, continham pregos, o que sugere a intenção de promover uma carnificina ainda maior.

Os investigadores analisam ainda imagens de câmeras de segurança que parecem mostrar três homens e uma mulher colocando o que seriam explosivos na área. As informações são preliminares e ainda não está claro quem são essas pessoas, nem se elas têm relação com o ataque.

Enquanto policiais percorriam o local em busca de possíveis ameaças, as autoridades pediram que as pessoas fornecessem qualquer dica que pudesse ajudar na investigação e prometeram rastrear todos os envolvidos no ataque. "Temos um plano, sabemos o que fazer e pegaremos essas pessoas", disse Anne Kirkpatrick.

Quem era o motorista?

Shamsud-Din Jabbar era cidadão americano nascido no Texas que trabalhou como corretor de imóveis depois de passar pelo Exército. Ele ingressou na carreira militar em 2007, servindo em regime de tempo integral na área de recursos humanos e tecnologia da informação. Foi enviado ao Afeganistão de 2009 a 2010 e transferido para a reserva em 2015 até deixar o Exército, cinco anos depois, com o posto de sargento.

A ficha criminal de Jabbar antes do ataque, levantada pelo jornal The New York Times, tinha apenas delitos menores: uma passagem por furto, em 2002, e outra por dirigir com uma licença inválida, em 2005.

Conhecidos disseram ao jornal americano que Jabbar foi criado como cristão, mas se converteu ao islamismo e se tornou cada vez mais devoto. Ele foi descrito como alguém quieto, reservado e inteligente que passava a maior parte do tempo em casa. Apesar de uma mudança de comportamento relatada nos últimos meses, pessoas próximas receberam com surpresa a notícia do ataque.

Uma foto que circulou entre autoridades de segurança mostrou Jabbar com barba, vestindo camuflagem, ao lado da caminhonete após ser morto. Informações da polícia sugerem que ele usava colete balístico e capacete.

Quem são as vítimas?

Entre as vítimas do ataque, está Nicole Perez, 27, descrita como mãe amorosa de uma criança de 4 anos, que havia acabado de ser promovida no trabalho e mudar de apartamento com o filho. Ela celebrava o ano-novo com amigos e morreu após ser atingida pela caminhonete, afirmou Kimberly Usher-Fall, dona da delicatessen que Nicole administrava.

Outra vítima identificada do ataque, Martin "Tiger" Bech, de 28 anos, era ex-jogador de futebol americano. Naquela noite, ele jantou com a mãe, Michelle, e saiu para celebração da virada com o melhor amigo, que ficou ferido no ataque e está no hospital.

Ataque tem relação com explosão de Tesla?

O presidente Joe Biden disse que os investigadores buscam estabelecer se o ataque em Nova Orleans está relacionado com a explosão de um Tesla, que deixou um morto e sete feridos em frente ao Trump Hotel em Las Vegas mais tarde no mesmo dia. Ainda não há, contudo, nenhuma conexão entre os episódios além de os carros terem sido alugados no mesmo aplicativo.

O chefe da polícia de Las Vegas, Kevin McMahill, acredita que isso tenha sido uma coincidência, mas ainda não descarta a possibilidade de ligação com o atentado em Nova Orleans. As investigações estão em andamento.

O que dizem as autoridades?

Falando da casa de campo presidencial em Camp David, Joe Biden se dirigiu às

vítimas e à comunidade de Nova Orleans: "Quero que saibam que lamento com vocês. Nossa nação lamenta com vocês enquanto choram e se curam." Em comunicado, ele afirmou que não há justificativa para violência e nenhum ataque será tolerado.

O presidente eleito Donald Trump, que assume a Casa Branca neste mês, sugeriu falsamente que o motorista seria imigrante. "Quando eu disse que os criminosos que chegam são muito piores do que os criminosos que temos em nosso país, essa afirmação foi constantemente refutada pelos democratas e pela mídia de notícias falsas, mas acabou se tornando verdade", escreveu nas redes socais horas depois do ataque.

"Nossos corações estão com todas as vítimas inocentes e seus entes queridos, incluindo os corajosos policiais do Departamento de Polícia de Nova Orleans. O governo Trump apoiará totalmente a cidade de Nova Orleans enquanto ela investiga e se recupera desse ato de pura maldade!", concluiu.

O governador de Louisiana, Jeff Landry (republicano) lamentou o "ato horrível de violência". Ele afirma que a prioridade é garantir a segurança em Nova Orleans, amparar os familiares, honrar as vítimas e buscar justiça.

O FBI tem alertado repetidamente para ameaça crescente de terrorismo internacional com a guerra no Oriente Médio. No último ano, a agência interrompeu potenciais ataques, incluindo o suposto plano orquestrado para o dia da eleição nos Estados Unidos. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)

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O subsecretário de Diplomacia Pública dos Estados Unidos, Darren Beattie, fez uma ameaça aos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) por meio de seu X (antigo Twitter) nesta quarta-feira, 6. Compartilhando publicação do Departamento de Estado dos EUA - órgão equivalente ao Itamaraty - que condena a prisão domiciliar do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), ele pediu para que outros magistrados não apoiem Alexandre de Moraes.

"Os aliados de Moraes na Suprema Corte e em outros lugares são fortemente aconselhados a não auxiliar ou encorajar o comportamento sancionado de Moraes", escreveu o funcionário de alto escalão dos EUA.

Beattie ainda definiu Moraes como "o principal arquiteto do complexo de censura e perseguição direcionado a Bolsonaro e seus apoiadores" e afirmou que "os flagrantes abusos de direitos humanos cometidos por Moraes lhe renderam uma sanção Global Magnitsky do presidente Trump".

O ministro foi alvo de sanções via Lei Magnistsky. O dispositivo americano impede Moraes de acessar o país, de movimentar bens nos Estados Unidos e de ter acesso a serviços de empresas americanas. Até o momento, a norma só tinha sido usada para punir violadores de direitos humanos, ditadores e criminosos.

O objetivo do governo dos EUA, ao aplicar as sanções, era interferir no julgamento que investiga a participação de Jair Bolsonaro na tentativa de golpe de Estado.

Anteriormente, Beattie já tinha definido a taxação de 50% sobre produtos nacionais pelos EUA como "consequências há muito esperadas à Suprema Corte de Moraes e ao governo Lula por seus ataques a Jair Bolsonaro, à liberdade de expressão e ao comércio americano".

Além de Moraes, o governo dos EUA também aplicou sanções a outros sete ministros do STF, cassando os vistos americanos dos magistrados. O tarifaço sobre produtos nacionais também foi uma forma de pressionar o Brasil, por meio de coerção econômica, a interromper o julgamento de Bolsonaro.

As sanções dos Estados Unidos contra o Brasil são conduzidas a pedido do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), que se autoexilou nos EUA e de lá articula ataques contra o País e autoridades nacionais com o objetivo de pressionar a concessão de uma anistia para os condenados pela tentativa de golpe de Estado, incluindo seu pai.

A deputada bolsonarista Julia Zanatta (PL-SC) entrou no plenário da Câmara dos Deputados na noite desta quarta-feira, 6, com a filha de quatro meses no colo, em meio à expectativa de que o presidente da Casa, Hugo Motta (Republicanos-PB), reocupe sua cadeira na Mesa. A parlamentar já havia gravado um vídeo participando da obstrução da oposição em prol do ex-presidente Jair Bolsonaro, com a bebê do colo e sentada na cadeira de Motta.

O presidente convocou uma sessão para as 20h30 e indicou que deputados que tentarem impedi-lo de abrir a sessão podem ser suspensos por seis meses. Líderes indicaram ainda que há a possibilidade de a Polícia Legislativa ser acionada para desocupar a mesa em último caso.

O clima da Câmara é de tensão ante à expectativa de Motta reassumir sua cadeira na Mesa do plenário, que está ocupada por bolsonaristas desde terça-feira, 5. Enquanto o presidente da Casa já indicou que deputados que tentarem impedi-lo de abrir sessão convocada para as 20h30 podem ser suspensos por seis meses, bolsonaristas dizem que vão resistir à desocupação.

Parte da tensão se deve à possibilidade, em último caso, de ação da Polícia Legislativa. A deputada Adriana Ventura (Novo-SP) chegou a indicar que pediu às parlamentares de oposição que saíssem da Mesa da Câmara, permanecendo em plenário para a obstrução, justamente ante essa possibilidade.

Por ora, somente deputados podem entrar no plenário. Enquanto isso, assessores e jornalistas aguardam a liberação de entrada no Salão Verde. Há uma indicação de que a entrada só será permitida quando a sessão for iniciada. Se a hipótese se cumprir, a desmobilização ocorreria a portas fechadas.

O líder do PSB no Senado, Cid Gomes (CE), afirmou nesta quarta-feira, 6, que o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), pedirá por meio da Advocacia da Casa para que o Supremo Tribunal Federal reconsidere as medidas cautelares contra o senador Marcos do Val (Podemos-ES).

O ministro do STF Alexandre de Moraes impôs a Do Val uma série de determinações na segunda-feira, 4, após o senador driblar uma ordem anterior da Justiça e viajar aos Estados Unidos sem autorização. Além do uso de tornozeleira eletrônica, as medidas incluem recolhimento domiciliar noturno, cancelamento do passaporte diplomático, bloqueio das contas bancárias, cartões e chaves Pix e também do pagamento de salários e verbas de gabinete de Do Val.

Em nota, a defesa de Marcos do Val negou descumprimento de ordem judicial e afirmou que a decisão de Moraes "ultrapassa a razoabilidade". As medidas cautelares irritaram os colegas no Senado, que viram nela uma afronta à Casa.

"(Alcolumbre) optou que vai pedir a revisão. Não se trata de entrar no mérito do Marcos do Val. Pessoalmente, eu acho que se tiverem dois senadores que compreendam que o Marcos do Val tem um exercício normal de mandato, é muito", afirmou Cid a jornalistas após uma reunião entre Alcolumbre e líderes do Senado.

Líder do governo no Congresso, Randolfe Rodrigues (PT-AP), disse que a medida servirá para que Do Val volte a ter acesso ao seu salário como parlamentar e à cota para exercer mandato.

Os líderes combinaram, em contrapartida ao recuo de Moraes, que a Procuradoria do Senado apresentará um pedido para que Do Val fique seis meses afastado de seu mandato.

"O procurador do Senado pedirá à Mesa que o senador Marcos do Val seja afastado por seis meses do exercício do mandato. A Mesa vai votar", declarou Cid.