Juiz britânico vê crítica a sotaque como assédio racial após caso de brasileira no trabalho

Internacional
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O Tribunal de Apelações Trabalhistas (EAT, na sigla em inglês) do Reino Unido reconheceu que críticas a um sotaque estrangeiro podem ser consideradas assédio racial, depois que uma brasileira entrou com uma ação contra a universidade onde trabalhava por ouvir críticas sobre seu "forte" sotaque brasileiro. As informações foram reveladas pelo jornal britânico The Telegraph. Elaine Carozzi, que trabalhava como gerente de marketing na Universidade Hertfordshire, relatou que, apesar de sua fluência na língua inglesa, colegas e superiores faziam críticas sobre o seu sotaque, o que teria impactado sua atuação profissional e limitado sua participação em reuniões importantes.

 

"Como gerente de MKT (marketing) na UH Arts + Culture, por mais de um ano, suportei críticas bizarras sobre meu 'forte' sotaque brasileiro, incluindo trabalhar meu sotaque como condição para confirmar minha nomeação", escreveu a brasileira no LinkedIn.

 

Elaine foi aos tribunais argumentando que, ao longo de 13 meses, sua chefe fez comentários depreciativos sobre sua postura, cultura e sotaque brasileiro.

 

De acordo com a reportagem, em 2021, o tribunal de primeira instância rejeitou as acusações, argumentando que os comentários sobre seu sotaque não estavam relacionados à raça.

 

No entanto, o juiz James Tayler, do Tribunal de Apelações, considerou que houve erros nessa decisão. Com isso, Elaine venceu uma batalha legal para que parte de seu caso seja reavaliado.

 

Tayler destacou que, embora as declarações dos gestores de Carozzi não tivessem sido motivadas por preconceito racial, ainda poderiam estar conectadas à sua origem e, portanto, poderiam violar sua dignidade.

 

Ele ordenou que partes do caso fossem reexaminadas por um novo tribunal.

 

"Todo mundo tem dificuldades com sotaques diferentes às vezes. Eu tenho - isso é uma parte normal da comunicação humana. No entanto, há uma diferença crucial entre desafios naturais de comunicação e comportamento discriminatório", disse Elaine nas redes sociais.

 

Em comunicado ao Telegraph, a Universidade de Hertfordshire afirmou que não foram constatadas práticas discriminatórias relacionadas ao caso.

 

"Estamos comprometidos em criar um ambiente diverso, inclusivo e acolhedor para nossa comunidade global", declarou um porta-voz da instituição.

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O deputado italiano Angelo Bonelli, do partido Europa Verde, afirmou nesta quarta-feira, 30, que é falsa a versão de que a deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) se entregou voluntariamente às autoridades da Itália. O parlamentar afirmou ser o responsável por informar à polícia o endereço da brasileira em Roma.

"Não é verdade que Carla chegou à polícia. Foi a polícia que chegou a ela", disse Bonelli em entrevista ao ICL Notícias.

Nesta terça-feira, 29, o advogado Fábio Pagozzi, que representa Carla Zambelli, publicou um vídeo nas redes sociais afirmando que a deputada "não foi surpreendida" pela polícia, mas se apresentou voluntariamente. A versão foi defendida pelo filho da parlamentar, Bruno Zambelli, e pelo líder do PL, Sóstenes Cavalcante (RJ).

"Na tarde de hoje, minha cliente, deputada Carla Zambelli, decidiu se entregar às autoridades italianas a fim de colaborar administrativamente com os pedidos das autoridades, mostrando o seu endereço, mostrando que nunca foi foragida na Itália e estava esperando um posicionamento oficial para que ela pudesse se apresentar. A Carla busca a não-extradição e, obviamente, ser julgada com parcialidade e justiça", disse o advogado.

O deputado italiano, no entanto, refutou a versão da defesa e descreveu como ocorreu a prisão de Zambelli.

"Às 18h40, no horário da Itália, fui informado do paradeiro de Carla. 19h50, eu repassei o endereço de Zambelli à polícia nacional, representada pelo delegado de polícia de Roma. Às 21h, a polícia nacional identificou Carla Zambelli, que estava no endereço que eu havia fornecido: um apartamento no bairro Aurélio, em Roma", contou.

Bonelli também afirmou na entrevista que está recebendo diversas intimidações de apoiadores de Zambelli em suas redes sociais. "Tenho recebido mensagens de ameaça nas redes sociais, inclusive mensagens de morte, em relação a este caso."

O deputado afirmou, no entanto, que "está tranquilo" em relação às ameaças, pois "compreende o clima violento que vive o Brasil neste momento". Bonelli disse que analisa "a questão criminal, e não a política, envolvendo Carla". Além disso, afirmou que entregou a deputada por um "dever cívico", após ela declarar, em entrevista, que estava "intocável na Itália".

Segundo Bonelli, o Tribunal de Roma deve decidir ainda nesta quinta-feira, 31, se vai manter ou não a prisão de Carla Zambelli. A extradição também será decidida pelo governo italiano.

Segundo apurou o Estadão com investigadores, a deputada Carla Zambelli foi localizada pelo adido da Polícia Federal em Roma, que trabalha na embaixada, em conjunto com as autoridades italianas.

De acordo com autoridades do governo italiano, Zambelli deve ficar na penitenciária feminina de Rebibbia, em Roma, até que seja tomada uma definição sobre sua extradição.

Zambelli foi condenada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) por ter pedido a um hacker a invasão dos sistemas do Conselho Nacional de Justiça, para emitir um mandado de prisão falso contra o ministro Alexandre de Moraes.

O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) agradeceu nesta quarta-feira, 30, ao vice-premiê italiano Matteo Salvini pela "atenção ao caso da deputada Carla Zambelli (PL-SP)". Após a parlamentar ser presa na Itália nesta terça-feira, 29, Salvini, liderança da direita no país, anunciou que deve visitá-la na prisão.

Zambelli estava foragida na Itália após ser condenada a dez anos de prisão pelo Supremo Tribunal Federal (STF) por coordenar uma invasão hacker aos sistemas do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). A deputada afirmava que graças à cidadania italiana seria "intocável" no país.

Até o momento, Flávio foi o único membro da família Bolsonaro a mencionar o caso da deputada do PL. Em seu perfil no X (antigo Twitter), o senador republicou a notícia da visita de Salvini à Zambelli e escreveu que ela "também é vítima da perseguição política promovida contra a direita e aliados de Bolsonaro aqui no Brasil. Vamos resgatar a nossa democracia!".

Três dias antes de sua prisão, no último sábado, 26, Zambelli havia publicado um vídeo em suas redes sociais agradecendo Flávio por ter pedido às autoridades do país europeu que a recebessem.

"Eu queria dizer que hoje acordei com uma notícia muito boa, que é um vídeo do Flávio Bolsonaro falando por mim, pedindo por mim para a Giorgia Meloni (primeira-ministra da Itália), para o Matteo Salvini, que é o vice-primeiro-ministro daqui, pedindo para que me recebessem porque sou uma exilada política, sou uma perseguida política no Brasil", disse Zambelli em vídeo publicado em seu perfil reserva no Instagram.

Carla Zambelli está na Itália há quase dois meses, na tentativa de evitar o cumprimento de sua pena no Brasil. Segundo apurou o Estadão com investigadores, a deputada Carla Zambelli foi localizada por volta das 21h pelo adido da Polícia Federal em Roma, que trabalha na embaixada, em conjunto com as autoridades italianas.

O deputado italiano Angelo Bonelli, responsável por entregar o endereço de Carla à polícia descreveu como ocorreu a prisão, em entrevista ao ICL Notícias nesta quarta.

"Às 18h40, no horário da Itália, fui informado do paradeiro de Carla. 19h50, eu repassei o endereço de Zambelli à polícia nacional, representada pelo delegado de polícia de Roma. Às 21h, a polícia nacional identificou Carla Zambelli, que estava no endereço que eu havia fornecido: um apartamento no bairro Aurélio, em Roma", contou.

A deputada federal licenciada Carla Zambelli (PL-SP) foi presa na Itália nesta terça-feira, 29. Após ser condenada a dez anos de prisão por coordenar uma invasão hacker aos sistemas do Poder Judiciário, a parlamentar fugiu do País.

A extradição de Zambelli levará meses para ser concluída. Em paralelo, mesmo presa, ela não perde o mandato de imediato, cabendo ao plenário da Câmara decidir pela cassação. Também há a possibilidade de Zambelli perder o mandato por exceder o limite de faltas não justificadas.

Zambelli foi condenada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) por ter pedido a um hacker a invasão dos sistemas do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), para emitir um mandado de prisão falso contra o ministro Alexandre de Moraes. A sentença também determina a perda do cargo na Câmara.

Zambelli também é ré por empunhar uma arma contra um homem na véspera do segundo turno da eleição presidencial de 2022. O julgamento por porte ilegal de arma e constrangimento ilegal está pausado por um pedido de vista do ministro Kassio Nunes Marques, mas já há maioria entre os ministros para condená-la.

O que ocorre depois da prisão?

Após a detenção, o próximo passo é a confirmação da prisão da parlamentar. O órgão da Itália equivalente ao Ministério da Justiça brasileiro avaliará se pede ou não a confirmação da prisão de Zambelli. A decisão cabe ao Judiciário italiano.

O Brasil, em seguida, deve formalizar o pedido de extradição. O processo envolve as manifestações do Ministério Público italiano e da defesa de Carla Zambelli. A decisão, novamente, caberá à Justiça da Itália.

Segundo juristas ouvidos pelo Estadão, todo esse trâmite pode levar de um ano e meio a dois anos.

O que ocorre com o mandato na Câmara?

Em paralelo, caberá à Câmara decidir se cassa ou não o mandato de Zambelli. O processo de cassação da deputada federal tramita na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara. O andamento do caso não depende do período de licença da parlamentar.

O pedido de perda do mandato de Zambelli é relatado pelo deputado federal Diego Garcia (Republicanos-PR). A defesa da deputada federal já apresentou alegações no caso. A partir de agora, cabe a Garcia conduzir a fase de instrução do processo, ou seja, anunciar se pretende pedir diligências e audiências com testemunhas. Não há prazo para essa etapa.

Finalizada a instrução, o relator tem cinco sessões para apresentar seu parecer. O relatório deve ser aprovado na CCJ e, depois, obter um aval do plenário da Câmara. A cassação deve ser aprovada por 257 dos 513 parlamentares da Casa.

O presidente da Casa, Hugo Motta (Republicanos-PB), afirma que a Câmara não decidirá sobre a prisão de Zambelli, avaliando apenas a cassação do mandato.