Em Nova York, mergulhadores se dedicam à missão de recolher lixo submarino

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Em uma recente tarde de domingo, mergulhadores chegaram a uma estreita faixa de areia no extremo mais distante e aquático da cidade de Nova York. Com os tanques de ar presos nas costas, entraram no mar e submergiram até um ambiente muito diferente de seu entorno terrestre habitual de concreto, trânsito e calçadas cheias de lixo.

Caranguejos-ferradura e outros crustáceos rastejam no fundo do mar, recoberto de cracas e colônias de coral. Peixes-borboleta de nadadeiras raiadas, bodiões e acarás erráticos nadam nas águas turvas tingidas de verde por camadas de algas.

Nem tudo é bonito. Garrafas plásticas, embalagens de balas e quilômetros e quilômetros de linhas de pesca flutuam com as marés, colocando em risco a vida marinha.

O lixo submarino nem sempre é visível da costa. Mas já há muito tempo ele preocupa Nicole Zelek, fundadora da escola de mergulho SuperDive, que há quatro anos iniciou limpezas mensais nesta pequena enseada da comunidade de Far Rockaway, onde a cidade de Nova York encontra o Oceano Atlântico, pouco mais de 6 quilômetros ao sul do Aeroporto Internacional John F. Kennedy, no bairro de Queens.

Uma cultura de desperdício de plásticos descartáveis e outros materiais de difícil decomposição contaminou as águas do mundo ao longo das décadas, representando um risco à vida dos oceanos, como focas e aves marinhas.

Um mergulho de cada vez, pequenos grupos como o de Zelek vêm tentando desfazer um pouco do dano, como parte da Iniciativa DIVERS-ity, que promove a inclusão no esporte.

"Todo mês entregamos um prêmio para a descoberta mais estranha", conta. Entre elas já estiveram esporádicos crânios de bode, talvez usados como parte de algum ritual, supõe Zelek.

"O melhor achado de todos os tempos foi um caixa eletrônico de verdade. Infelizmente, ele estava vazio", diz.

O carregamento dos mergulhadores em uma tarde de domingo no fim do verão não foi nada de mais, mas havia muitos amontoados de linha de pesca desembaraçada de objetos subaquáticos. O que os mergulhadores não conseguem arrancar com a mão é cortado com tesoura.

"Infelizmente, inúmeros caranguejos e caranguejos-ferradura - uma espécie ameaçada - ficam presos nas linhas de pesca e morrem", explica Zelek.

Embora estejam em curso projetos mais ambiciosos para recolher imensos acúmulos de detritos flutuantes em águas profundas, limpezas costeiras de pequeno porte como a de Zelek são uma parte importante da batalha contra a poluição dos oceanos, diz Nick Mallos, vice-presidente de conservação da organização Ocean Conservancy.

"As conclusões científicas são muito claras e isso serve para lidar com a nossa crise global de poluição por plásticos", diz. "Precisamos fazer tudo."

Todo mês de setembro, a organização realiza limpezas costeiras internacionais de duração mensal. Desde sua criação, quase quarenta anos atrás, as limpezas retiraram cerca de 180 mil toneladas de lixo de áreas costeiras em todo o mundo.

A melhor forma de combater o plástico que chega aos oceanos, segundo Mallos, é reduzir a dependência mundial deles, especialmente nas embalagens de produtos de consumo. Mas a limpeza por mãos humanas é a menos dispendiosa das opções de limpeza.

Até 2025, cerca de 226 milhões de toneladas de plástico terão chegado aos oceanos, segundo a Fundação PADI AWARE, um grupo conservacionista que patrocina um projeto global chamado Dive Against Debris (Mergulho Contra os Detritos).

O projeto convida os "cientistas cidadãos", como chamam os organizadores, a investigar seus locais de mergulho para ajudar a catalogar a infinidade de itens que não pertencem aos oceanos, lagos e outras massas de água. Pelas contas do grupo, mais de 90 mil participantes já realizaram mais de 21 mil investigações desse tipo e removeram 2,2 milhões de itens de lixo, grandes e pequenos.

Zelek e os outros mergulhadores contribuíram com seus achados para esse projeto.

O lixo da superfície pode ser fácil de limpar com um rastelo, mas a tarefa é mais desafiadora debaixo d'água. Ao longo dos anos, as camadas de linha de pesca monofilamento se acumularam. E até alguns anos atrás, ninguém recolhia as linhas, os anzóis e os pesos de chumbo.

Desembaraçado, um filamento de pesca de peso médio teria um pouco mais do que 6 quilômetros de extensão. Ninguém sabe ao certo quantos quilômetros de linhas de pesca permanecem no fundo do canal.

"Essas coisas pequenas realmente começam a acumular e se tornam um problema muito maior", diz Tanasia Swift, que está com o grupo há um ano e trabalha para uma organização ambiental sem fins lucrativos voltada para a recuperação da saúde das águas de Nova York.

"Se vemos algo que não pertence à água, nós retiramos", explica.

Enquanto os mergulhadores trabalham, pescadores lançam suas linhas de uma saliência onde o concreto da cidade acaba. A praia é frequentada principalmente por moradores das proximidades.

Raquel Gonzalez é uma dessas moradoras, e frequenta a praia há anos. Ela e um vizinho levaram um rastelo no mesmo domingo em que os mergulhadores estavam lá.

"Precisa de muita limpeza aqui. Não há ninguém que faça essa limpeza. Precisamos limpar por conta própria", reclama.

"Adoro este lugar, adoro os mergulhadores", diz Gonzalez. "Veja todas as boas pessoas aqui."

(Cedar Attanasio, jornalista da Associated Press, contribuiu com esta matéria e é voluntário na equipe de mergulho apresentada)

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A cantora Nana Caymmi, que morreu na noite desta quinta-feira, 1º, aos 84 anos, fez aniversário no último dia 29 de abril. Internada desde julho de 2024, Nana recebeu uma mensagem da também cantora Maria Bethânia, de quem era amiga.

Bethânia escreveu: "Nana, quero que receba um abraço muito demorado, cheio de tanto carinho e admiração que tenho por você. Querida, precisamos de você e da sua voz. Queremos você perto e cheia de suas alegrias, dons e águas do mar na sua voz mais linda que há. Amor para você, hoje, seu aniversário, e sempre. Rezo à Nossa Senhora para você vencer esse tempo tão duro e difícil. Peço por sua voz e por sua saúde. Te amo. Sua irmã, Maria Bethânia".

Nana e Bethânia tinham uma longa relação de amizade e gravaram juntas no álbum Brasileirinho, de Bethânia, lançado em 2003. Bethânia afirmou mais de uma vez que Nana era a maior cantora do Brasil.

De acordo com informações divulgadas pela Casa de Saúde São José, onde Nana estava internada há nove meses para tratar de problemas cardíacos, a cantora morreu às 19h10 desta quinta-feira, em decorrência da disfunção de múltiplos órgãos.

Morreu nesta quinta-feira, 1° de maio, Nana Caymmi, aos 84 anos, em decorrência de problemas cardíacos. A morte foi confirmada pelo irmão da artista, o também músico e compositor Danilo Caymmi. Ela estava internada havia nove meses em uma clínica no Rio de Janeiro.

"Eu comunico o falecimento da minha irmã, Nana Caymmi. Estamos, lógico, na família, todos muito chocados e tristes, mas ela também passou nove meses sofrendo em um hospital", disse Danilo Caymmi.

"O Brasil perde uma grande cantora, uma das maiores intérpretes que o Brasil já viu, de sentimento, de tudo. Nós estamos, realmente, todos muito tristes, mas ela terminou nove meses de sofrimento intenso dentro de uma UTI (Unidade de Terapia Intensiva) do hospital", acrescentou o irmão, em um vídeo publicado no Instagram.

Nas redes, amigos e admiradores também prestaram homenagens à cantora.

"Uma perda imensa para a música do Brasil", escreveu o músico João Bosco, com quem Nana dividiu palcos e microfones. Bosco também teve canções interpretadas por Nana Caymmi, como Quando o Amor Acontece.

O cantor Djavan disse que o País perde uma de suas maiores cantoras e ele, particularmente, uma amiga. "Descanse em paz, Nana querida. Vamos sentir muito sua falta, sua voz continuará a tocar nossos corações."

Alcione também diz que perdeu uma amiga e que a intérprete, filha de Dorival Caymmi, tinha "a voz". "Quem poderá esquecer de Nana Caymmi?"

"Longe, longe ouço essa voz que o tempo não vai levar! Nana das maiores, das maiores das maiores", postou a cantora Monica Salmaso, que já tinha prestado uma homenagem para Nana na última terça, quando a artista completou 84 anos. "Voz de catedral", descreveu Monica na ocasião.

O escritor, roteirista e dramaturgo Walcyr Carrasco disse que, nesta quinta, a música brasileira deve ficar em silêncio em respeito à partida da artista. "Que sua voz siga ecoando onde houver saudade. Meus sentimentos à família, amigos e admiradores!"

A deputada federal e ex-prefeita de São Paulo Luiza Erundina (PSOL-SP) disse que Nana Caymmi tinha umas das vozes "mais marcantes da música popular brasileira" e que a cantora deixa um "legado extraordinário" para o Brasil por meio de interpretações "únicas e carregadas de emoção". "Que sua arte siga viva, e que ela descanse em paz", disse a parlamentar.

A artista Eliana Pittman diz que se despede com tristeza de Nana Caymmi, a quem descreveu com uma das uma "das maiores vozes" que o Brasil já teve, e elogiou a cantora pela irreverência e forte personalidade.

"Nana nunca se curvou a convenções: cantava o que queria, do jeito que queria - e por isso, marcou gerações", disse Eliana, que também fez elogios qualidade técnica da intérprete. "Sua voz grave, seu timbre inconfundível e sua forma tão particular de existir na música deixam um vazio irreparável".

O Grupo MPB4 postou: "Siga em paz, querida Nana Caymmi! Nosso mais fraterno abraço para os amigos Dori Caymmi, Danilo Caymmi (irmãos de Nana Caymmi) e toda a família".

A cantora Nana Caymmi morreu nesta quinta-feira, aos 84 anos, em decorrência de problemas cardíacos. Ela estava internada há nove meses na Clínica São José, no Rio de Janeiro. A morte da cantora foi confirmada por seu irmão, o músico e compositor Danilo Caymmi, no início da noite.

Além dos problemas cardíacos que abalaram sua saúde em 2024, que obrigaram os médicos implantar um marcapasso para contornar uma arritmia cardíaca, Nana enfrentou um câncer de estômago em 2015.

Filha do compositor baiano Dorival Caymmi e da cantora Stella Maris, Nana nasceu no Rio de Janeiro, com o nome de Dinahir Tostes Caymmi, o mesmo de uma tia, irmã do pai. Incentivada pelos pais, começou a estudar piano clássico ainda criança. Em 1960, entrou no estúdio com Caymmi para fazer sua primeira gravação, Acalanto, a canção de ninar feita para ela pelo pai. No mesmo ano, gravou um compacto simples com as músicas Adeus e Nossos Beijos.

Ao mesmo tempo que dava seus primeiros passos na carreira como cantora, Nana decide deixar o Brasil e se casar com o médico venezuelano Gilberto José Aponte Paoli, com quem teve seus três filhos, Stella, Denise e João Gilberto.

De volta ao País, separada, enfrenta o preconceito de Caymmi, que decide não falar mais com a filha. Nana é então socorrida pelo irmão, Dori, que faz a canção Saveiros para ela cantar no I Festival Internacional da Canção (TV Globo). Foi vaiada ao ser anunciada a vencedora da competição.

Casada agora com Gilberto Gil, apresenta-se no III Festival de Música Popular Brasileira na TV Record, em 1967, com a canção Bom Dia, assinada em parceria com Gil. Grava com o grupo Os Mutantes a canção Alegria, Alegria, de Caetano Veloso, além de um álbum de carreira.

Em 1973, faz uma exitosa temporada em Buenos Aires, na Argentina, onde lança um disco pela gravadora Trova. No repertório, músicas de compositores que seriam presença constantes em seus discos, como Tom Jobim, João Donato, Chico Buarque, além de Caymmi. Nesse mesmo ano, Caymmi se reaproxima da filha, em um programa de televisão.

Ao longo dos anos 1970 e 1980, grava regularmente. Seus álbuns reuniam não somente um repertório sofisticado, mas também grandes músicos, como João Donato, Helio Delmiro, Toninho Horta, Novelli, além dos irmãos Dori e Danilo. Em 1980, participa da faixa Sentinela, no disco de Milton Nascimento. No início dos anos 1990, grava Bolero, disco inteiramente dedicado ao gênero.

Com o prestígio de uma das principais cantoras do País, Nana, embora tenha alcançado relativo sucesso com músicas como Mãos de Afeto, Beijo Partido, Contrato de Separação e De Volta ao Começo, além de ser voz presente em trilhas sonoras de novelas da TV Globo, não tinha, no entanto, a mesma popularidade de nomes como Maria Bethânia, Gal Costa e Elis Regina.

Sucesso popular

O reconhecimento popular só chegou em 1998, quando o bolero Resposta ao Tempo, de Cristovão Bastos e Aldir Blanc, foi escolhido para ser tema de abertura da minissérie Hilda Furacão, de Glória Perez. A história da moça de uma família tradicional mineira que larga o noivo no altar e se torna uma das mais famosos prostitutas da zona boêmia de Belo Horizonte conquistou a audiência e ampliou o público de Nana.

Anos antes, Nana havia batido na trave. Sua gravação de Vem Morena havia sido escolhida para a abertura da novela Tieta, um dos maiores sucessos da TV Globo. Porém, dias antes da estreia da trama, em agosto de 1989, o então diretor geral da emissora, José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, pediu uma música "mais animada". Ele mesmo fez a letra da canção gravada por Luiz Caldas. "Fiquei esperando minha música tocar e aparece o Luiz Caldas dizendo que a lua estava cheia de tesão", reclamou, tempos depois, Nana nos jornais.

Com a carreira em alta, arrisca e coloca em prática um antigo desejo: fazer uma segundo volume de um álbum dedicado apenas a boleros. Sangra de Mi Alma foi lançado em 2000, com clássicos do gênero como Amor de Mi Amores e Solamente Una Vez, essa última escolhida para trilha da novela Laços de Família.

Nos anos 2000, Nana se dedica a regravar as canções de Caymmi em álbuns temáticos. O Mar e o Tempo (2002), Para Caymmi: de Nana, Dori e Danilo (2004), Quem Inventou o Amor (2007) e Caymmi (2013) compreenderam boa parte da obra do compositor.

Seus últimos dois álbuns foram Nana Caymmi Canta Tito Madi, de 2019, sobre a obra do compositor pré-bossanovista, e Nana, Tom, Vinicius, de 2020, com canções de seus dois grandes amigos, Tom Jobim e Vinicius de Moraes.

Nana, porém, a essa altura, já estava afastada dos palcos. Sua última apresentação foi em 2015, em São Paulo. A cantora havia prometido voltar a cantar ao vivo se o empresário Danilo Santos de Miranda, seu grande amigo, diretor do Sesc São Paulo, se recuperasse de uma internação. Miranda morreu em outubro de 2023. O Selo Sesc, projeto criado por Miranda, guarda um registro inédito do show Resposta ao Tempo, gerado a partir de uma apresentação de Nana no Sesc Pompeia.

A última imagem conhecida de Nana é a que aparece no documentário Dorival Caymmi - Um Homem de Afetos, de Daniela Broitman. Nele, Nana dá um forte depoimento sobre o pai e canta, à capela, o samba canção Não Tem Solução, em um dos melhores momentos do filme.

Em agosto de 2024, o cantor Renato Brás lançou a faixa A Lua e Eu, sucesso de Cassiano, com a participação de Nana nos vocais. A voz de Nana foi capturada em sua casa, no Rio de Janeiro.

Em sua última entrevista ao Estadão, quando completou 80 anos, Nana manifestou o desejo de gravar as parcerias do irmão Dori com Nelson Motta. Também desejava cantar Milton Nascimento - um de seus grandes amigos - e Beto Guedes. "Se eu não gravei, são inéditas para mim", disse, reforçando uma insatisfação constante dos últimos anos, a de que não havia bons novos compositores para lhe fornecerem repertório.

Como uma metáfora da vida, Nana, também nessa entrevista, falou sobre seu sentimento ao gravar uma canção. "Ela acontece, assim como o amor. É como uma nascente, ela corre. Para quem consegue molhar o rosto nessa água límpida, como eu faço quando estou gravando, é um delírio", disse.