Jéssica Areias, em um ponto entre África, São Paulo e Bahia em novo álbum

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A angolana Jéssica Areias fala dos caminhos que busca aos 32 anos em algumas frases da canção Matura. Ela, a canção, diz que devemos encarar nossas ingenuidades e deixarmos o tempo agir, revelarmos nossa identidade no ato de existir e encontrarmos nossa autenticidade no ser e no sentir. São rimas que saem suaves, mas que pedem ações de investigação e paciência. Sua voz vem com o timbre doce e de um agudo robusto e confiante sobre uma base de tranquilidade oceânica conseguida pelas cordas arpejadas por Leonardo Mendes, filho do baiano de Santo Amaro, Roberto Mendes, e da percussão de Cauê Silva, seu marido.

Seu álbum novo, o segundo desde que chegou ao Brasil, há 12 anos, chama-se Matura. Ele é bem diferente do primeiro, Olisesa, de 2014, e a ponte de um para o outro se ergue nas sutilezas. Olisesa, "dá licença" em umbundo, idioma de origem banto falado no centro sul de Angola, vinha talvez menos africano. Era a sua chegada a São Paulo, o encontro com uma cidade que se orgulha de ser plural, mas que se revela em nichos e que se vende aberta a tudo desde que esse tudo soe urbano, de acordo com os códigos vigentes. Olisesa, assim, é uma espécie de distanciamento nem sempre tão natural de Jéssica de si mesma enquanto Matura faz um reencontro.

Se a cantora vem antes do canto, é melhor então seguir a cronologia. Jéssica Areias nasceu em Luanda como parte dos 2% da população não negra do país. Sua mãe é de Lubango e seu pai, de ancestralidade portuguesa, de Benguela. O canto veio aos nove anos e só aos 18 ela decidiu partir em busca de aventuras ultramarinas. Uma passagem por Lisboa acabou tornando-se uma estada de 13 anos, com inúmeras apresentações em bares e casas de fado do Bairro Alto. Qualquer resistência a uma angolana no fado tinha grandes chances de ser derrubada assim que Jéssica soltasse a voz e arrebatasse a plateia. Por outro lado, ela também absorvia o arabismo deixado pelos mouros nas escalas ibéricas, talvez a maior contribuição cultural do povo expulso pelas cruzadas cristãs depois de sete séculos de ocupação. Ou isso ou tais escalas e seus sensuais semitons que a Santa Inquisição católica proibiria depois da expulsão dos árabes e dos judeus da Península Ibérica já existissem em sua voz, já que na genealogia de Jéssica Camacho Areias Pereira também corre o sangue do cristão-novo por parte de pai.

Ao chegar ao Brasil, tudo isso já estava em Jéssica, mas, além de partir para ganhar a vida cantando jazz e bossa nova em lugares como o Bar Brahma e o Bar Piratininga, ela quis estudar. E, assim, fez regência coral, licenciatura em educação musical e pedagogia vocal. A época de Matura chegou depois de esta vida toda ser vivida e Jéssica decidir, musicalmente, assumir sua casa, Angola. Envolvida com o candomblé e entendendo-se mais africana do que quando deixou Luanda, procurou em si um ponto entre o que havia agora de Brasil e de Angola.

Aproximou-se de Léo Mendes, que traz do pai Roberto a África que existe no Recôncavo Baiano, e de Cauê Silva, íntimo dos terreiros, para começar a criar um álbum que soaria pendular: às vezes África, às vezes São Paulo, às vezes Bahia e, por muitas vezes, a urbanidade de todos os lugares.

Matura, a canção humanista; Lemba, uma regravação do também angolano Filipe Mukenga; e a bela Kimbu Liyetu, cheia de vozes sobrepostas, formam as primeiras canções, levando-nos a uma África contemplativa.

A partir de Pranto de Vento, uma parceria com a brasileira Thamires Tannous, a temperatura sobe até chegar aos calores de Kikongo, um samba de caboclo, e Muzonguê, a mistura de semba (que dizem guardar as origens do samba) com toques de ijexá.

As raízes africanas estão lá, mas são sempre diluídas em algum grau pelas mãos de Léo e de Cauê. Algo impede uma imersão completa por um lado e, ao mesmo tempo, leva o que poderia ser geográfico para um plano universal. O quanto do álbum é de Jéssica e o quanto é dos produtores? "Eu precisava do contraponto e minha ideia era de que eles me mostrassem os caminhos", diz ela. "Quando ficamos só com nossas ideias, acabamos não expandindo. Eles me fizeram ir além." Uma entrega que só o tempo de matura pode oferecer às ingenuidades.

Lugar de canto

A origem de Jéssica está em seu país, não em sua cor, mas a foto que ilustra essa página a mostra com a tonalidade da pele bem mais escura do que de fato é. Alertada pelo repórter sobre as questões que a imagem pode suscitar, reduzindo a beleza de seu álbum à acusação de apropriação cultural, ela fala sobre o assunto: "Eu jamais faria uma foto com a intenção de parecer negra, não foi o objetivo. O fotógrafo pensou em uma iluminação mais escura para esconder o peito descoberto."

Seja qual for a intenção, o ruído existe e quem a vê na foto pode enxergá-la negra. Sua fala fica incisiva: "Nunca quis soar ofensiva, tomar um lugar que não é meu. Sou branca e me reconheço como branca e privilegiada, mas a legitimação da minha música não pode passar pela cor de minha pele, mas pela minha origem. Só espero que a música fale antes de mim." E vai além: "Eu não posso deixar de cantar as minhas raízes só porque sou branca. Se estivesse com a pele mais clara em outra foto, o problema seria o turbante. Afinal, o que é pertencer a uma cultura?"

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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Morreu nesta quinta-feira, 1° de maio, Nana Caymmi, aos 84 anos, em decorrência de problemas cardíacos. A morte foi confirmada pelo irmão da artista, o também músico e compositor Danilo Caymmi. Ela estava internada havia nove meses em uma clínica no Rio de Janeiro.

"Eu comunico o falecimento da minha irmã, Nana Caymmi. Estamos, lógico, na família, todos muito chocados e tristes, mas ela também passou nove meses sofrendo em um hospital", disse Danilo Caymmi.

"O Brasil perde uma grande cantora, uma das maiores intérpretes que o Brasil já viu, de sentimento, de tudo. Nós estamos, realmente, todos muito tristes, mas ela terminou nove meses de sofrimento intenso dentro de uma UTI (Unidade de Terapia Intensiva) do hospital", acrescentou o irmão, em um vídeo publicado no Instagram.

Nas redes, amigos e admiradores também prestaram homenagens à cantora.

"Uma perda imensa para a música do Brasil", escreveu o músico João Bosco, com quem Nana dividiu palcos e microfones. Bosco também teve canções interpretadas por Nana Caymmi, como Quando o Amor Acontece.

O cantor Djavan disse que o País perde uma de suas maiores cantoras e ele, particularmente, uma amiga. "Descanse em paz, Nana querida. Vamos sentir muito sua falta, sua voz continuará a tocar nossos corações."

Alcione também diz que perdeu uma amiga e que a intérprete, filha de Dorival Caymmi, tinha "a voz". "Quem poderá esquecer de Nana Caymmi?"

"Longe, longe ouço essa voz que o tempo não vai levar! Nana das maiores, das maiores das maiores", postou a cantora Monica Salmaso, que já tinha prestado uma homenagem para Nana na última terça, quando a artista completou 84 anos. "Voz de catedral", descreveu Monica na ocasião.

O escritor, roteirista e dramaturgo Walcyr Carrasco disse que, nesta quinta, a música brasileira deve ficar em silêncio em respeito à partida da artista. "Que sua voz siga ecoando onde houver saudade. Meus sentimentos à família, amigos e admiradores!"

A deputada federal e ex-prefeita de São Paulo Luiza Erundina (PSOL-SP) disse que Nana Caymmi tinha umas das vozes "mais marcantes da música popular brasileira" e que a cantora deixa um "legado extraordinário" para o Brasil por meio de interpretações "únicas e carregadas de emoção". "Que sua arte siga viva, e que ela descanse em paz", disse a parlamentar.

A artista Eliana Pittman diz que se despede com tristeza de Nana Caymmi, a quem descreveu com uma das uma "das maiores vozes" que o Brasil já teve, e elogiou a cantora pela irreverência e forte personalidade.

"Nana nunca se curvou a convenções: cantava o que queria, do jeito que queria - e por isso, marcou gerações", disse Eliana, que também fez elogios qualidade técnica da intérprete. "Sua voz grave, seu timbre inconfundível e sua forma tão particular de existir na música deixam um vazio irreparável".

O Grupo MPB4 postou: "Siga em paz, querida Nana Caymmi! Nosso mais fraterno abraço para os amigos Dori Caymmi, Danilo Caymmi (irmãos de Nana Caymmi) e toda a família".

A cantora Nana Caymmi morreu nesta quinta-feira, aos 84 anos, em decorrência de problemas cardíacos. Ela estava internada há nove meses na Clínica São José, no Rio de Janeiro. A morte da cantora foi confirmada por seu irmão, o músico e compositor Danilo Caymmi, no início da noite.

Além dos problemas cardíacos que abalaram sua saúde em 2024, que obrigaram os médicos implantar um marcapasso para contornar uma arritmia cardíaca, Nana enfrentou um câncer de estômago em 2015.

Filha do compositor baiano Dorival Caymmi e da cantora Stella Maris, Nana nasceu no Rio de Janeiro, com o nome de Dinahir Tostes Caymmi, o mesmo de uma tia, irmã do pai. Incentivada pelos pais, começou a estudar piano clássico ainda criança. Em 1960, entrou no estúdio com Caymmi para fazer sua primeira gravação, Acalanto, a canção de ninar feita para ela pelo pai. No mesmo ano, gravou um compacto simples com as músicas Adeus e Nossos Beijos.

Ao mesmo tempo que dava seus primeiros passos na carreira como cantora, Nana decide deixar o Brasil e se casar com o médico venezuelano Gilberto José Aponte Paoli, com quem teve seus três filhos, Stella, Denise e João Gilberto.

De volta ao País, separada, enfrenta o preconceito de Caymmi, que decide não falar mais com a filha. Nana é então socorrida pelo irmão, Dori, que faz a canção Saveiros para ela cantar no I Festival Internacional da Canção (TV Globo). Foi vaiada ao ser anunciada a vencedora da competição.

Casada agora com Gilberto Gil, apresenta-se no III Festival de Música Popular Brasileira na TV Record, em 1967, com a canção Bom Dia, assinada em parceria com Gil. Grava com o grupo Os Mutantes a canção Alegria, Alegria, de Caetano Veloso, além de um álbum de carreira.

Em 1973, faz uma exitosa temporada em Buenos Aires, na Argentina, onde lança um disco pela gravadora Trova. No repertório, músicas de compositores que seriam presença constantes em seus discos, como Tom Jobim, João Donato, Chico Buarque, além de Caymmi. Nesse mesmo ano, Caymmi se reaproxima da filha, em um programa de televisão.

Ao longo dos anos 1970 e 1980, grava regularmente. Seus álbuns reuniam não somente um repertório sofisticado, mas também grandes músicos, como João Donato, Helio Delmiro, Toninho Horta, Novelli, além dos irmãos Dori e Danilo. Em 1980, participa da faixa Sentinela, no disco de Milton Nascimento. No início dos anos 1990, grava Bolero, disco inteiramente dedicado ao gênero.

Com o prestígio de uma das principais cantoras do País, Nana, embora tenha alcançado relativo sucesso com músicas como Mãos de Afeto, Beijo Partido, Contrato de Separação e De Volta ao Começo, além de ser voz presente em trilhas sonoras de novelas da TV Globo, não tinha, no entanto, a mesma popularidade de nomes como Maria Bethânia, Gal Costa e Elis Regina.

Sucesso popular

O reconhecimento popular só chegou em 1998, quando o bolero Resposta ao Tempo, de Cristovão Bastos e Aldir Blanc, foi escolhido para ser tema de abertura da minissérie Hilda Furacão, de Glória Perez. A história da moça de uma família tradicional mineira que larga o noivo no altar e se torna uma das mais famosos prostitutas da zona boêmia de Belo Horizonte conquistou a audiência e ampliou o público de Nana.

Anos antes, Nana havia batido na trave. Sua gravação de Vem Morena havia sido escolhida para a abertura da novela Tieta, um dos maiores sucessos da TV Globo. Porém, dias antes da estreia da trama, em agosto de 1989, o então diretor geral da emissora, José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, pediu uma música "mais animada". Ele mesmo fez a letra da canção gravada por Luiz Caldas. "Fiquei esperando minha música tocar e aparece o Luiz Caldas dizendo que a lua estava cheia de tesão", reclamou, tempos depois, Nana nos jornais.

Com a carreira em alta, arrisca e coloca em prática um antigo desejo: fazer uma segundo volume de um álbum dedicado apenas a boleros. Sangra de Mi Alma foi lançado em 2000, com clássicos do gênero como Amor de Mi Amores e Solamente Una Vez, essa última escolhida para trilha da novela Laços de Família.

Nos anos 2000, Nana se dedica a regravar as canções de Caymmi em álbuns temáticos. O Mar e o Tempo (2002), Para Caymmi: de Nana, Dori e Danilo (2004), Quem Inventou o Amor (2007) e Caymmi (2013) compreenderam boa parte da obra do compositor.

Seus últimos dois álbuns foram Nana Caymmi Canta Tito Madi, de 2019, sobre a obra do compositor pré-bossanovista, e Nana, Tom, Vinicius, de 2020, com canções de seus dois grandes amigos, Tom Jobim e Vinicius de Moraes.

Nana, porém, a essa altura, já estava afastada dos palcos. Sua última apresentação foi em 2015, em São Paulo. A cantora havia prometido voltar a cantar ao vivo se o empresário Danilo Santos de Miranda, seu grande amigo, diretor do Sesc São Paulo, se recuperasse de uma internação. Miranda morreu em outubro de 2023. O Selo Sesc, projeto criado por Miranda, guarda um registro inédito do show Resposta ao Tempo, gerado a partir de uma apresentação de Nana no Sesc Pompeia.

A última imagem conhecida de Nana é a que aparece no documentário Dorival Caymmi - Um Homem de Afetos, de Daniela Broitman. Nele, Nana dá um forte depoimento sobre o pai e canta, à capela, o samba canção Não Tem Solução, em um dos melhores momentos do filme.

Em agosto de 2024, o cantor Renato Brás lançou a faixa A Lua e Eu, sucesso de Cassiano, com a participação de Nana nos vocais. A voz de Nana foi capturada em sua casa, no Rio de Janeiro.

Em sua última entrevista ao Estadão, quando completou 80 anos, Nana manifestou o desejo de gravar as parcerias do irmão Dori com Nelson Motta. Também desejava cantar Milton Nascimento - um de seus grandes amigos - e Beto Guedes. "Se eu não gravei, são inéditas para mim", disse, reforçando uma insatisfação constante dos últimos anos, a de que não havia bons novos compositores para lhe fornecerem repertório.

Como uma metáfora da vida, Nana, também nessa entrevista, falou sobre seu sentimento ao gravar uma canção. "Ela acontece, assim como o amor. É como uma nascente, ela corre. Para quem consegue molhar o rosto nessa água límpida, como eu faço quando estou gravando, é um delírio", disse.

Por Laysa Zanetti

Caco Ciocler vai entrar para o elenco de Vale Tudo, interpretando um personagem inédito na trama. O ator será Esteban, um interesse amoroso de Celina (Malu Galli). A informação foi publicada pela coluna Play, do jornal O Globo, e confirmada por Caco em seu perfil no Instagram.

Na versão de 1988 da novela, a irmã de Odete não teve sua vida afetiva explorada e, portanto, o personagem Esteban não existiu. Ainda não se sabe qual será a sua história ou como vai conhecer Celina.

Na trama original, Celina era interpretada por Nathalia Timberg, e dedicava a maior parte do tempo aos sobrinhos e aos cuidados da mansão. Desta vez, a autora Manuela Dias pretende adicionar mais camadas à sua história e dar a ela mais autonomia.

"Celina é uma cinquentona que não se casou, criou os filhos da irmã e não trabalha", resumiu Galli ao jornal O Globo, explicando os novos traços da personagem. "A gente trouxe o interesse dela pelas artes plásticas, ela é uma incentivadora dos artistas. É mais ativa nesse sentido."

Longe das novelas desde a refilmagem de Pantanal, Caco vai começar a gravar suas cenas no folhetim neste sábado, 3. Recentemente, participou da minissérie Os Quatro da Candelária e do filme Meu Sangue Ferve por Você, cinebiografia de Sidney Magal.