O que mudou com o muro da prefeitura de SP na Cracolândia? 'Foi mais para esconder os usuários'

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Um muro construído pela Prefeitura de São Paulo em uma das ruas da região da Cracolândia, no centro da cidade, potencializou as críticas com relação à forma como a gestão do prefeito Ricardo Nunes (MDB) trata os problemas da dependência química e do crescimento da violência na região.

A obra foi realizada na rua General Couto de Magalhães, nos arredores da Estação da Luz, em maio de 2024. Segundo consta no Portal da Transparência, a prefeitura pagou quase R$ 96 mil pelo serviço. A empresa foi contratada por meio de um edital de licitação que ocorreu em abril do ano passado.

Ao Estadão, a gestão municipal afirma que o concreto substituiu os tapumes de metal instalados anteriormente para fechamento da área pública. "A troca dele foi realizada para proteger as pessoas em situação de vulnerabilidade, além de moradores e pedestres, e não para 'confinamento'", diz (veja mais abaixo).

Na avaliação de comerciantes do bairro, a proposta teve efeito apenas estético. "Se esse muro mudou alguma coisa por aqui, foi mais para esconder o fluxo (de usuários de drogas) dos carros que passam pela (Rua) General Couto de Magalhães", disse o lojista Antônio Francisco da Costa, de 72 anos.

O comerciante conta que, quando o fluxo se estabeleceu por lá, há quase dois anos, havia mais casos de quebra-vidro que roubavam motoristas. "Não necessariamente eram os usuários, mas bandidos que se escondiam dentro do fluxo", disse. Uma lojista relatou que houve 16 casos em um só dia.

Agora, a percepção é que as ocorrências diminuíram, mas Antônio atribui isso a outra medida. "Parece que há gente saindo por essa câmera de reconhecimento facial que foi instalada de frente para a Cracolândia", disse. "Mesmo que não estejam devendo nada na Justiça, é algo que gera uma desconfiança."

Segundo comerciantes, a Cracolândia hoje está até mais esvaziada do que há alguns meses, com pequenos grupos espalhados pela região central. Dados da Prefeitura apontam que, em média, tem havido cerca de 139 integrantes do fluxo durante o período vespertino em janeiro. De noite, são cerca de 240 pessoas. No mesmo recorte do ano passado, eram 524 pessoas no período diurno e 544, no noturno.

O Estadão percorreu o entorno do fluxo na manhã desta quarta-feira, 15, e encontrou o local, de fato, mais esvaziado do que em outras ocasiões. De um lado, na rua dos Protestantes, havia gradis instalados pela Prefeitura, medida que também foi alvo de críticas. Do outro, na General Couto de Magalhães, estava o muro de concreto, com 40 metros de comprimento por 2,5 metros de altura.

Lojistas ouvidos pela reportagem afirmam que houve quedas expressivas na clientela desde que a Cracolândia se fixou na rua dos Protestantes. Há comerciantes que relatam diminuição de até 90% nas vendas. "Mesmo que tenha menos usuários, os clientes não voltam mais", disse uma lojista.

Com uma bicicletaria aberta há 31 anos na região, Edna Pereira, de 54 anos, aponta com os dedos os vários comércios que fecharam recentemente. "Aqui era uma loja de impressoras, ali, uma de peças de eletrônicos. Na esquina, de sapatos", disse. "Antes deixavam o número de celular para a gente avisar quando um ponto vagasse, mas agora ninguém quer saber mais daqui."

O irmão dela, Sidney Pereira, de 58 anos, afirma que chegou a presenciar a ação de um quebra-vidro no região. "Foi muito rápido. Num piscar de olhos, ele levou o celular do motorista e já entrou para dentro do fluxo para se esconder", disse. A bicicletaria da família passou a fechar mais cedo, às 17h, por causa da insegurança, em movimento replicado por outros comércios.

Entidades criticam construção de muro

De lá pra cá, entidades que atuam no local alegam que a obra teve como objetivo isolar os usuários e dificultar os trabalhos de assistência. O padre Julio Lancellotti, coordenador da Pastoral do Povo de Rua de São Paulo, descreve a construção como o "muro da vergonha". "Em vez criar portas para sair, portas para entrar, pontes para mudar, criam-se muros para segregar. Isso não é solução", disse, nas redes sociais.

A ONG Craco Resiste também criticou a medida. "O espaço que foi delimitado para que as pessoas fiquem concentradas não conta com nenhum banheiro ou ponto de água potável próximo. Durante as revistas coletivas são tomados diversos objetos pessoais dessa população, sem nenhum critério objetivo claro, enquanto os guardas proferem xingamentos contra as pessoas", afirma, em nota.

"Caso as pessoas não fiquem no espaço delimitado pelo muro e pelas grades, guardas usam spray de pimenta sem aviso prévio. Viaturas circulam a região em busca de pessoas ou grupos que estejam em outros lugares para coagi-los a irem para o espaço cercado. Caso alguém se indigne com esse tratamento, é preso e acusado de forma irregular de desacato", acrescenta a ONG.

Segundo o psiquiatra Flavio Falcone, que trabalha com pessoas em situação de rua desde 2007 e atua na Cracolândia há mais de uma década, o efeito da construção do muro foi espalhar ainda mais os usuários. "Sou morador do centro, moro na (Avenida) Duque de Caxias, e o que estou vendo, principalmente de dezembro para cá, é que o fluxo está completamente espalhado pela região", disse.

Falcone afirma que a nova configuração tem dificultado inclusive o tratamento dos usuários. "Não consigo entender a relação do muro com dar mais segurança às equipes e melhorar o atendimento. As equipes dos consultórios de rua não entram no fluxo", disse. "Não é uma ação de saúde, é mais uma ação higienista, de estigmatizar e desumanizar essas pessoas, o que não é de agora", acrescentou.

Em nota, o Ministério Público do Estado de São Paulo (MP-SP) afirmou que a Promotoria de Justiça de Habitação e Urbanismo da Capital vai apurar o caso.

A Prefeitura, também por meio de nota, disse ainda que os tapumes eram quebrados com frequência, oferecendo risco de ferimentos para as pessoas. Por isso, foram trocados por alvenaria.

"O trecho ao lado da Rua Couto de Magalhães foi mantido para proteção das mesmas em decorrência do fluxo de veículos na via e circulação nas calçadas." A gestão municipal também afirma que, além da substituição dos tapumes que havia no local anteriormente pelo muro, fez melhorias no piso da área ocupada para as pessoas em situação de vulnerabilidade.

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A morte de Ozzy Osbourne, anunciada na última terça-feira, 22, provocou uma forte comoção entre fãs e artistas ao redor do mundo, e também se refletiu nas plataformas de streaming. No Spotify, os números da discografia do cantor britânico e de sua histórica banda, o Black Sabbath, tiveram um crescimento expressivo nos últimos dias.

Como artista solo, Ozzy saltou de 12,4 milhões para 18,7 milhões de ouvintes mensais na plataforma. Já o Black Sabbath, grupo que ajudou a definir o heavy metal nas décadas de 1970 e 1980, passou de 19,8 milhões para 24,6 milhões de ouvintes.

Além do aumento geral de público, faixas emblemáticas de Osbourne registraram picos de execução. Crazy Train, um de seus maiores sucessos, acumulou 8 milhões de reproduções desde o anúncio da morte, chegando a 809 milhões de streams no total. A balada Mama, I'm Coming Home cresceu em 7,2 milhões, alcançando quase 245 milhões, enquanto No More Tears somou mais 7 milhões, ultrapassando 266 milhões de execuções.

No caso do Black Sabbath, os números também impressionam. Paranoid, talvez a faixa mais emblemática da banda, foi ouvida 9,3 milhões de vezes apenas nos últimos dias, alcançando 1,38 bilhão de streams. Iron Man teve um salto de cerca de 6 milhões, totalizando mais de 587 milhões, e War Pigs ganhou cerca de 5 milhões de novas execuções, ultrapassando 384 milhões.

A morte de Ozzy ocorreu poucas semanas após o show de despedida Back to the Beginning, realizado em Birmingham, na Inglaterra, cidade natal da banda. A apresentação marcou a reunião final de Osbourne com os membros do Black Sabbath e encerrou, de forma simbólica, uma das trajetórias mais influentes do rock mundial.

Na manhã deste sábado, 26, Gilberto Gil e Flora Gil usaram as redes sociais para prestar homenagens à cantora Preta Gil, filha do cantor com Sandra Gadelha, que morreu aos 50 anos no último domingo, 20. O velório da artista foi realizado ontem, 25, no Theatro Municipal do Rio de Janeiro, seguido da cerimônia de cremação no Cemitério da Penitência, no bairro do Caju.

Gilberto Gil compartilhou imagens em que aparece tocando o rosto da filha, visivelmente emocionado. "Até os próximos 50 bilhões de anos… Onde houver alegria e amor, haverá Preta", escreveu.

Flora Gil, que foi madrasta da cantora, escreveu: "Pra sempre dentro do meu coração. Te amarei eternamente", disse ela.

Velório e cremação

O tom de despedida marcou a cerimônia no Theatro Municipal do Rio de Janeiro, onde familiares, amigos e artistas estiveram reunidos para celebrar a vida e a trajetória da cantora.

A cerimônia de cremação de Preta se encerrou por volta das 17h de ontem, no Cemitério e Crematório da Penitência, no Caju, Zona Portuário do Rio. A opção de cremação foi um pedido da cantora à família. A cerimônia foi restrita a familiares e amigos íntimos da cantora.

A cantora Preta Gil, que morreu aos 50 anos no último domingo, 20, seguirá sendo homenageada por familiares, amigos e admiradores em missas de sétimo dia marcadas para este sábado, 26, e segunda-feira, 28.

As celebrações religiosas ocorrerão em Salvador e no Rio de Janeiro.

Neste sábado, às 16h, será realizada a primeira missa no Santuário Santa Dulce dos Pobres, na capital baiana. O local escolhido é o mesmo que recebeu apoio da artista nos últimos meses, e a cerimônia foi anunciada pela apresentadora Rita Batista, durante o programa É de Casa.

A assessoria da família afirmou ao Estadão que, no Rio de Janeiro, a missa está marcada para segunda-feira, às 19h, na Igreja de Santa Mônica, no bairro do Leblon, em cerimônia aberta ao público.

Velório e cremação

A cerimônia de cremação de Preta Gil se encerrou por volta das 17h de sexta-feira, 25, no Cemitério e Crematório da Penitência, no Caju, Zona Portuário do Rio.

A opção de cremação foi um pedido de Preta à família. O corpo dela foi levado até o cemitério em cortejo em um carro do Corpo de Bombeiros e passou pelo chamado Circuito de Carnaval de Rua Preta Gil.

A cerimônia foi restrita a familiares e amigos íntimos da cantora.

Mais cedo, parentes e amigos participaram de uma última despedida à cantora, que foi velada no Theatro Municipal. A cerimônia foi aberta ao público das 9h às 13h.