Silvio Santos: relembre a sua trajetória

Variedades
Tipografia
  • Pequenina Pequena Media Grande Gigante
  • Padrão Helvetica Segoe Georgia Times
Senor Abravanel, mais conhecido como Silvio Santos, um dos maiores nomes da história da TV brasileira, morreu neste sábado, aos 93 anos de idade. A informação foi confirmada pelo SBT no X (antigo Twitter). Apresentador e empresário, foi o fundador do SBT, emissora em que trabalhou ao longo das últimas quatro décadas, e também de diversas empresas do Grupo Silvio Santos, como o Baú da Felicidade.

Ao longo das décadas, passou pelas principais emissoras de TV, como Tupi, Globo, Record e, o próprio SBT (anteriormente TVS). Fez parte do cotidiano dos brasileiros em diversos programas de auditório, como nos infindáveis quadros do Programa Silvio Santos, as perguntas e respostas do Show do Milhão, a junção de casais no Em Nome do Amor, a 'vida real' dos famosos do reality A Casa dos Artistas, a realização de sonhos na Porta da Esperança ou a ajuda financeira no Topa Tudo Por Dinheiro e no Roda a Roda, entre tantos outros.

É raro encontrar quem jamais tenha ouvido algum de seus bordões, como "Má ôe!", "Quem quer dinheiro?", "É namoro ou amizade?", "Você está certo disso?", ou a letra de músicas como Ritmo de Festa ou Silvio Santos Vem Aí! (Olê, olê, olá!).

No fim dos anos 1980, chegou a anunciar planos para se afastar da TV, elegendo Gugu Liberato como substituto. A ideia, porém, não foi à frente, e manteve-se em atividade por mais algumas décadas. Na mesma época, também explicitou pretensões políticas, com planos por um cargo executivo nas eleições.

A tentativa mais famosa e que mais se aproximou de ocorrer foi na disputa presidencial de 1989, quando chegou a fazer uma breve e atabalhoada campanha pelo Partido Municipalista Brasileiro, no lugar de Armando Corrêa, cujo nome já estava impresso nas cédulas. Silvio liderou pesquisas de intenção de voto contra Collor e Lula. O TSE, porém, indeferiu a candidatura antes do pleito.

Silvio Santos foi casado com Maria Aparecida Vieira Abravanel, a Cidinha, que morreu de câncer quando ainda era jovem. Posteriormente, teve um segundo casamento com Íris Abravanel. Dos relacionamentos, vieram suas seis filhas: Cintia, Silvia, Daniela, Patrícia, Rebeca e Renata. À exceção de Daniela, que usa o sobrenome Beyruti, todas são conhecidas pelo sobrenome do pai, Abravanel.

Alguns dos principais problemas de saúde começaram a surgir quando já tinha mais de 60 anos de idade, como no joelho, coração e próstata. Na década de 1980, foi aos Estados Unidos para uma cirurgia e tratamento na garganta, e posteriormente precisou se curar de um tumor na região da pálpebra de seu olho. Ao longo da vida, também apresentou uma conhecida alergia a perfumes.

Relembre abaixo a trajetória e o legado de Silvio Santos até se tornar o principal apresentador de televisão do Brasil.

Início como camelô

Silvio Santos nasceu no Rio de Janeiro, então capital do Brasil, como Senor Abravanel, em 12 de dezembro de 1930, filho do grego Alberto Abravanel e sua mulher, Rebeca Caro. Ele teve cinco irmãos: Henrique, Leon, Beatriz, Perla e Sara.

O apresentador puxou o lado vendedor de seu pai que, ainda jovem, fugiu da região de Salônica para não servir ao exército, se tornando jornaleiro em Atenas. Na sequência, foi para Marselha, na França, vender pistache e amendoim na rua, o que era proibido. Preso e expulso do país, foi de navio para o Rio de Janeiro, onde trabalhou no porto como intérprete e guia de turistas para juntar dinheiro e abrir uma loja.

Em 1945, ainda adolescente, Silvio despertou para o caminho dos negócios quando se deparou com um homem vendendo capas de plástico para títulos de eleitor na Avenida Rio Branco. Seguiu-o para saber onde ficava seu fornecedor, entrou na loja e comprou uma delas por dois cruzeiros. Levou-a para a rua e ofereceu a quem passava, afirmando ser a última. Com o dinheiro da primeira venda, comprou mais duas e revendeu-as, novamente com o discurso de que era a última - ainda que houvesse outra - e assim por diante.

Na sequência, foi diversificando os negócios. Aprendeu a fazer alguns truques com moedas e baralhos para chamar a atenção, e passou a vender dezenas de canetas diariamente. À época, contava com a ajuda de amigos, tanto para fazer o papel de 'comprador' interessado, quanto para avisá-lo da chegada da fiscalização.

Foi numa das vezes em que foi pego pelo 'rapa' que Silvio encontrou sua primeira oportunidade com a comunicação. Na ocasião, o diretor de fiscalização da prefeitura à época pretendia puni-lo. "Quando ele viu que eu tinha pouca idade, falava regularmente e era estudante, modificou seu pensamento a meu respeito. Em vez de me levar para o juizado de menores, me deu um cartão para que eu fosse procurar um amigo dele na rádio Guanabara, Jorge de Matos", relatou o apresentador na biografia A Fantástica História de Silvio Santos, escrita por seu assessor, Arlindo Silva.

Ao chegar à emissora, descobriu um concurso de locutores e decidiu se inscrever. Foi o campeão e ganhou uma vaga com salário de 1,3 mil cruzeiros mensais, muito menor que os mais de 900 cruzeiros diários que conquistava como camelô. Um mês após a contratação, se demitiu e voltou a vender suas mercadorias pelas ruas.

Surge Silvio Santos

Inspirado em grandes nomes da rádio na época, como César de Alencar, Heber de Boscoli, Osvaldo Luiz e Manoel Barcelos, tinha o costume de frequentar os auditórios durante as gravações, e foi justamente numa dessas ocasiões que surgiu o nome Silvio Santos.

"Minha mãe costumava chamar-me de Silvio, em vez de Senor. Um dia, quando fui entrar no programa de calouros do Jorge Cury, o Mario Ramos, produtor, perguntou o meu nome. 'Silvio', respondi. 'Silvio de quê?'. Eu disse: 'Silvio Santos - porque os santos ajudam'. Foi um estalo que me deu, uma coisa do momento, que pegou. Também foi uma maneira de disfarçar, porque meu nome, Senor Abravanel, já estava muito 'manjado' nos programas de calouros, pois eu sempre ganhava alguma coisa", explicava.

Exército, rádio e novos desafios

Aos 18 anos, o jovem se alistou no exército, fazendo a escola de paraquedistas, obrigando-o a se afastar das atividades como camelô. Voltou para a rádio, no programa de Silveira Lima, na Mauá, posteriormente migrando para a Tupi. Inclusive, foram em algumas figurações na TV Tupi que suas primeiras aparições televisivas.

Silvio Santos ainda trabalhou nas noites da rádio Continental, em Niterói, antes de pedir demissão e mudar de área. Ao Estadão, em 1983, relatava que a ideia surgiu quando pegava a última barca do dia para voltar para casa, já depois da meia-noite: "Era muito monótona. Só viajavam três ou quatro homens e o resto era tudo prostituta, fugindo para Niterói porque eram reprimidas pela polícia do Rio. Aí eu pensei: por que não botar música? Pelo menos fica um ambiente mais alegre".

O apresentador firmou um acordo com uma loja de eletrodomésticos com a intenção de criar um serviço de anúncios em alto-falante nas barcas da Cantareira. Em troca do aparelho, faria propaganda gratuita à casa ao longo de um ano. Silvio investiu em um bar para venda de bebidas e cartelas de bingo para os usuários da barca. Nessa época, considerava que havia deixado a vida de camelô definitivamente para trás.

Pouco depois, voltou à rádio, desta vez na Nacional. Contatou Costa Lima e fez um teste para locutor, assinando contrato no valor de 5 mil cruzeiros ao mês em 1954, mesma época em que teve o primeiro contato com Manoel de Nóbrega, de quem se tornaria amigo. Com dívidas, continuava a trabalhar no bar, sem conseguir a quantia que precisava. Foi então que teve a ideia de criar uma publicação, a revistinha Brincadeiras para Você, que trazia passatempos como palavras cruzadas, charadas e piadas. Silvio passou a vender exemplares para lojas, que as distribuíam de graça aos clientes.

O locutor passou a trabalhar também em circos, fazendo a apresentação de artistas. Quando ocorriam atrasos, buscava entreter a plateia, tendo suas primeiras experiências como animador de auditório, o que faria muitas vezes dali em diante. O apresentador, porém, ficava envergonhado em algumas ocasiões, e seu rosto avermelhado acabou lhe rendendo o apelido de 'Peru que fala'. Aproveitando este lado de Silvio, Nóbrega chamou-o para fazer parte de seu programa na rádio Nacional.

O baú da felicidade

A origem do Baú da Felicidade não envolve diretamente Silvio Santos, mas sim Manoel de Nóbrega. Em 1957, um homem de origem alemã contatou-o para oferecer um serviço de cestas de Natal semelhante ao que ofereciam empresas como Columbus e Amaral, porém, em vez de produtos natalinos, seriam entregues brinquedos. Basicamente, o comprador pagava com antecedência e recebia o produto final ao término do ano.

Foi oferecido a Nóbrega que investisse em anúncios da rádio, atribuindo sua credibilidade ao Baú, enquanto o alemão cuidaria do resto. O homem, porém, teria aplicado um golpe em Manoel e sumido com o dinheiro, fazendo com que muitas das cestas tivessem de ter o valor devolvido. Foi aí que o radialista pediu a Silvio que ficasse na empresa ajudando a ressarcir os clientes e pedir que não fossem à imprensa reclamar.

Silvio demorou, mas acabou cedendo aos pedidos do amigo. À época, o Baú da Felicidade ficava em um porão na rua Líbero Badaró, no centro de São Paulo. Ele expulsou o ex-sócio de Nóbrega do local, que tinha apenas uma mesa, algumas caixas, gavetas e máquinas de autenticar cheques, além de uma funcionária.

Depois de alguns dias, chegou à conclusão de que a iniciativa poderia render lucro, e passou a fazer algumas mudanças e investimentos. O negócio foi tomando uma proporção maior e mais variada, com louças e outros objetos domésticos além dos brinquedos. Nóbrega, com medo de um prejuízo ainda maior, decidiu sair do negócio, passando a empresa totalmente ao comando de Silvio Santos, o que foi visto como um grande ato de generosidade e fortaleceu os laços entre a dupla.

Início na televisão

Em 1961, com o crescimento do Baú, Silvio decidiu também buscar espaço na televisão, lançada onze anos antes e em fase de crescimento no Brasil. Sua estreia como apresentador foi em um programa chamado Vamos Brincar de Forca, na TV Paulista (comprada pela Globo em 1966), que contava com patrocínio do então deputado Carlos Kherlakian.

Com a boa repercussão, decidiu se arriscar e alugar um horário aos domingos, com o Programa Silvio Santos, que inicialmente tinha apenas duas horas de duração, começando ao meio-dia. À época, a emissora costumava ficar praticamente fechada aos domingos, contando, no máximo, com uma transmissão de futebol. Com shows, brincadeiras e prêmios baseados no Baú da Felicidade, a atração fez sua estreia em 1962 com quadros como o Cuidado com a Buzina, Só Compra Quem Tem, Pergunte e Dance e Rainha Por Um Dia. Na sequência, foi abrindo outras empresas e ganhando mais notoriedade perante o público. Em 1964, recebeu o seu primeiro Troféu Imprensa, como Melhor Animador.

Em 1965, o apresentador também investiu em um programa na TV Tupi, nas noites de quarta-feira, Festa dos Sinos. Posteriormente, seria mudado para Sua Majestade, o Ibope, Cidade contra Cidade e Silvio Santos Diferente, que migrou para a Record em 1976.

A saga pelo canal próprio

Com a Globo passando por algumas mudanças em 1971, o apresentador chegou perto de não ter seu contrato renovado com a emissora. Na mesma época, teve a oportunidade de comprar 50% das ações da TV Record de João Batista Amaral, o Pipa, então sócio de Paulo Machado de Carvalho Filho. Sem nenhuma concorrência aberta pelo governo para uma concessão, era a forma mais próxima que Silvio Santos teria de se aproximar do sonho de ser dono de um canal de televisão, ainda que em um período de crise. O negócio não deu certo e, para sua surpresa, o próprio Roberto Marinho contatou-o - sem saber do fiasco da negociação- pedindo para que ficasse mais um tempo na emissora, renovando sua permanência por mais cinco anos, com a condição de que não adquirisse as ações da concorrente.

Cerca de seis meses depois, os mesmos 50%, que haviam sido adquiridos pelo grupo Gerdau, foram colocados à venda novamente. Apesar do interesse, Santos não poderia comprá-los enquanto estivesse vinculado à Globo, e contou com a ajuda de um amigo, Joaquim Cintra Gordinho, para participar do negócio. Sua participação na Record seria vendida somente em 1989, quando a emissora foi comprada por Edir Macedo.

Surge a TVS

Silvio Santos conquistou a sua própria emissora de televisão em 1975, após esforços junto ao governo, principalmente ao ministro das comunicações, Euclides Quandt de Oliveira. Em 22 de outubro de 1975, o presidente Ernesto Geisel outorgou o canal 11 ao apresentador, pelo decreto nº 76.488. Surgia oficialmente a TV Studios Silvio Santos Ltda., mais conhecida como TVS. A oficialização do contrato ocorreu em Brasília, em 22 de dezembro daquele ano.

Uma das testemunhas da assinatura foi Manoel de Nóbrega, seu amigo de longa data, que viajou para a ocasião mesmo já bastante doente, praticamente em estado terminal. Ele morreria meses depois, em 17 de março de 1976. "É a primeira vez na história do Brasil que um canal de televisão é entregue a um punhado de artistas", discursou Nóbrega na ocasião. A TVS entrou no ar oficialmente pela primeira vez em 14 de maio de 1976, através da transmissão da torre da antiga Continental.

Na programação inicial da emissora, constavam alguns conteúdos comprados dos Estados Unidos, além de sessões de filmes que chegavam a ser exibidos três vezes seguidas, e seriados como Hazel, a Empregada Maluca e Joe Forrester. O Programa Silvio Santos era exibido aos domingos, e também ia ao ar simultaneamente pela Tupi durante algum tempo.

SBT

O SBT como conhecemos hoje, sigla para Sistema Brasileiro de Televisão, só surgiria oficialmente em 19 de agosto de 1981, quando a emissora tomou, de fato, proporção nacional.

O entretenimento sempre foi o carro-chefe. Hebe Camargo, Flávio Cavalcanti, Gugu Liberato, Ratinho, Raul Gil, Carlos Alberto de Nóbrega, Jô Soares, Serginho Groisman, Marília Gabriela, Otávio Mesquita, Celso Portiolli, Eliana, Angélica, Danilo Gentili, Maisa Silva, entre tantos outros, estão entre os apresentadores que estrelaram programas no canal ao longo das gerações. Todos, é claro, contemporâneos à presença de Silvio Santos, que se acostumou a tomar conta de boas horas da programação dominical. Hoje, é impossível pensar na história do SBT sem atrelá-la automaticamente ao apresentador.

O canal se acostumou a focar outra parcela de seu horário em programação infantil, com diversos desenhos e apresentadores como palhaço Bozo, Angélica, Eliana, Maisa Silva, Yudi Tamashiro e, mais recentemente, Silvia Abravanel, uma das filhas do apresentador, que assim como as irmãs Patrícia e Rebeca, também se aventuram em frente às câmeras. Outras atrações atingiram sucesso com os jovens em décadas distintas, com mais de uma versão, tanto estrangeiras como nacionais, como Chiquititas e Carrossel.

Novelas mexicanas, como A Usurpadora, Esmeralda, Maria do Bairro e Marimar, tornaram-se 'marca registrada' do SBT, com diversas reprises dubladas. Do país norte-americano vêm também Chaves e Chapolin, que fizeram sua estreia no Brasil em 1984, sendo exibidos até 2020, quando uma questão envolvendo os direitos autorais entre a Televisa e a família de Roberto Gómez Bolaños, criador da atração, impediu que os seriados continuassem sendo exibidos.

O primeiro telejornal da casa foi o Noticentro, em 1981. Na década de 1990, uma abordagem mais popular foi vista no Aqui Agora. Posteriormente, vieram atrações especiais como o SBT Repórter e o Conexão Repórter, de Roberto Cabrini. Entre os nomes que passaram pela emissora, constam Gil Gomes, Wagner Montes, César Tralli, Celso Russomano, Luiz Bacci, César Filho, Ana Paula Padrão, Sérgio Chapelin, Hermano Henning e Joseval Peixoto.

Nos anos 1980, Silvio Santos chegou a propôr que todas as emissoras de TV no Brasil reservassem o mesmo horário para exibir somente telejornais, por mais simples que fossem, com a intenção de incentivar o público a ficar inteirado das notícias diariamente. A ideia, porém, não foi concretizada.

Polêmicas

Nem só de bons momentos foi composta a vida de Silvio Santos. Por diversas ocasiões, o apresentador foi alvo de críticas, acusações e até mesmo investigações que contaram com grande cobertura midiática. Muitas delas remetiam ao seu lado empresário.

Durante o início de sua carreira, escondeu o fato de ser casado. "Quando eu me lembro da minha mulher que morreu, e que dizia que era solteiro... Escondi minhas filhas para poder ser o galã, o herói. Quando falo com a minha consciência, acho que é uma das coisas mais imperdoáveis que fiz diante da minha maturidade. Hoje vejo as besteiras que fiz", refletia, em 1987.

Naquele mesmo ano, Silvio assumiu problemas na Liderança Capitalização, uma das empresas de seu grupo, após denúncias feitas por clientes que se sentiram enganados. "Não pode ir na conversa do vendedor. O vendedor é 'fogo'. Vender papel é 'fogo'. Às vezes, eles tapeiam. Com o carnê também eles tapeiam, mas é mais difícil. Tomei conhecimento, chamei a diretoria e mandei devolver o dinheiro. Vi quais eram as irregularidades, tentei sanar. Ainda não é uma empresa boa, que me convença. Ainda acho que devo fazer melhor ou acabar com ela. Olha, tudo é permitido por lei, mas ainda assim tem vendedor que tapeia. Os papeleiros são fogo. Eles inventam histórias. Estamos policiando os vendedores, mandamos prender, botamos na penitenciária se é possível", justificava ao Estadão.

No mesmo ano, também se defendia de acusações de uso de trabalho escravo na fazenda Tamakavy, no Mato Grosso, comprada por Silvio com incentivos fiscais durante o regime militar na década de 1970: "Se havia, também não é culpa minha. Nunca fui lá, só vi de fotografia. Sei que é uma das maiores fazendas do Brasil".

Em 1991, precisou prestar depoimento à Polícia Federal para justificar o destino que deu aos cerca de 45 milhões de dólares recebidos de Edir Macedo quando vendeu suas ações da TV Record. À época, havia suspeita de que o empresário não teria incluído o recebimento do dinheiro em sua declaração de renda. Silvio depôs durante quatro horas em São Paulo, e ao ser abordado pela imprensa na saída, debochou: "Demorei porque a conversa estava boa".

Em 2001, foi vítima de um sequestro que contou com ampla cobertura televisiva. Inicialmente, os criminosos levaram sua filha, Patrícia, e mantiveram-na em cárcere privado por alguns dias. O resgate foi pago e ela foi liberada pelo sequestrador Fernando Dutra Pinto, que, após longa perseguição policial, conseguiu fugir. No dia seguinte, ele foi até a casa de Silvio Santos e driblou a segurança, pulando o muro e mantendo o apresentador como refém. O criminoso só se entregou após negociação direta do então governador do Estado de São Paulo, Geraldo Alckmin, que foi pessoalmente à mansão de Silvio.

Em 2003, o apresentador saiu na capa da revista Contigo com algumas declarações bombásticas que, apesar de irônicas, repercutiram bastante. "Estou mal, muito mal. Você não sabe o que é esperar a morte, deitado, fazendo transfusões de sangue, exames, mais nada. É uma doença nas coronárias, se chama 'ataque do coração em seis anos'", afirmou, na ocasião. Ele ainda 'anunciou' que pretendia se desfazer de seu canal: "SBT? Eu já vendi, como é que eu vou saber o que se passa no SBT? Agora quem vai tomar conta do SBT é o Boni e a Televisa".

Em 2011, após constatação de um rombo no Banco Panamericano, o empresário precisou disponibilizar seu próprio patrimônio, as 44 empresas do Grupo Silvio Santos, como garantia a um empréstimo de R$ 2,5 bilhões do Fundo Garantidor de Crédito (FGC).

O lado apresentador também se envolveu em diversas polêmicas. Muitas delas em anos recentes, quando o apresentador já estava mais idoso. Durante apresentação do Teleton, em 2018, por exemplo, foi acusado de assédio por fazer comentários indelicados após negar um abraço à cantora Claudia Leitte. "Esse negócio de ficar dando abraço me excita, e eu não posso ficar excitado".

No mesmo ano, ao saber que a convidada Mariana Kupfer tinha uma filha sem ser casada, se revoltou: "Não casou e tem filho? Isso é uma vergonha! Vocês que não casam e têm filhos, é uma vergonha, não pode fazer uma coisa dessa. Quem faz isso é pecadora, não entra no céu".

Em 2019, o Ministério Público do Trabalho (MPT) em São Paulo e a Promotoria de Justiça de Osasco instauraram inquérito para investigar um concurso de miss infantil no Programa Silvio Santos exibido em 22 de setembro daquele ano. Diante de participantes que tinham entre sete e oito anos de idade, Silvio Santos comentou que a votação da vencedora levaria em conta "quem tem as pernas mais bonitas, o colo mais bonito, o rosto mais bonito e o conjunto mais bonito". Na década de 1980, a secretaria de educação chegou a proibir a participação de crianças em seus programas de auditório durante um período.

Em 1971, uma passagem curiosa: a pedido de Plácido Manaia Nunes, então diretor da revista Melodias, em dificuldades financeiras, Silvio Santos apareceu na capa de uma edição 'revelando' ser careca - o que não era verdade. A história quintuplicou as vendas e ajudou a publicação a se manter mais algum tempo em atividade.

Em outra categoria

A professora de Matemática Fernanda Reinecke Bonin, de 42 anos, foi encontrada morta, na última segunda-feira, 28, em um terreno baldio ermo e pouco iluminado na Avenida João Paulo da Silva, próximo ao Autódromo de Interlagos, na zona sul de São Paulo.

O caso é investigado pela Divisão de Homicídios do Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP). A Polícia Civil diz analisar imagens de câmeras de monitoramento, ouvir familiares e coletar mais materiais para esclarecer o episódio.

"As investigações seguem para apurar se o crime configura latrocínio, conforme registrado inicialmente, ou homicídio", informa Secretaria da Segurança Pública do Estado (SSP-SP), em nota. Veja o que se sabe sobre o caso até agora.

O que aconteceu no dia do crime?

Conforme a investigação, Fernanda saiu de casa no último domingo para socorrer a esposa, de 45 anos, que teve um problema mecânico com seu carro, na Avenida Jaguaré, na zona oeste.

As duas estavam casadas havia oito anos, mas moravam em casas separadas desde o ano passado. A mulher levava os dois filhos do casal para a residência da professora, quando seu carro parou. Como estava com os filhos, ela pediu ajuda a Fernanda e enviou sua localização.

Imagens de câmeras de vigilância do prédio mostram a vítima descendo sozinha pelo elevador, portando seu celular. Em seguida, ela deixa o prédio a bordo de uma SUV Hyundai Tucson para socorrer a companheira.

A esposa teria sido a última pessoa com quem a professora de Matemática teve contato.

O que diz a esposa de Fernanda?

Segundo a companheira de Fernanda, a professora não chegou ao local combinado. Em depoimento à polícia, ela disse que o carro voltou a funcionar cerca de meia hora depois e se dirigiu ao prédio da vítima para deixar as crianças, mas ela não estava.

No dia seguinte, a professora não foi trabalhar. Como a esposa não conseguia contato, resolveu comunicar o desaparecimento de Fernanda à polícia.

Quando e onde Fernanda foi encontrada?

Após denúncia anônima, policiais militares encontraram o corpo de Fernanda na última segunda-feira, 28. A vítima foi localizada em um terreno na Avenida João Paulo da Silva, na Vila da Paz. O local é descrito como ermo e pouco iluminado.

Fernanda estava caída de costas, vestida com calça, blusa, meia e sandálias, aparentando um pijama. Conforme a polícia, o corpo apresentava sinais de estrangulamento. Foi encontrado um cadarço amarrado em seu pescoço.

O que aconteceu com os pertences da professora?

O celular e o carro de Fernanda não foram encontrados, o que levou a polícia a suspeitar inicialmente de latrocínio. No mesmo dia, o foco das apurações passou a incluir o homicídio.

"Ressalta-se que a natureza da ocorrência, lançada no registro preliminar, pode ser revista e ajustada durante o curso do inquérito, sem prejuízo à investigação", diz a SSP-SP.

Quem era Fernanda Reinecke Bonin?

Fernanda era graduada em Matemática pela Universidade de São Paulo (USP) e especializada em necessidades especiais na educação pela Universidade MacEwan, do Canadá. Ela lecionava na Beacon School, escola bilíngue de alto padrão, localizada na zona oeste da cidade.

"Fernanda marcou profundamente a vida de muitos estudantes e colegas com sua dedicação, gentileza e compromisso com a educação e deixará muita saudade", informou o colégio, por meio de nota.

O corpo dela foi sepultado nesta quarta-feira, 30, em um cemitério de Santo André, na região do ABC paulista.

Como era a relação da professora com a esposa?

Segundo o boletim de ocorrência, ao qual o Estadão teve acesso, a professora de Matemática era casada havia oito anos com Fernanda Fazio, de 45 anos.

Fazia um ano que as duas não moravam juntas, após idas e vindas no relacionamento. Elas frequentavam sessões de terapia de casal e buscavam a reconciliação. Juntas, elas tiveram dois filhos, que se revezavam nas casas das mães.

Morte foi planejada?

A polícia ainda não informou ter localizado, identificado ou prendido algum suspeito do crime e não deu outros esclarecimentos sobre o caso.

A pasta informou nesta quinta, 1°, que as investigações seguem para apurar se o crime configura latrocínio - roubo seguido de morte -, conforme registrado inicialmente, ou homicídio. Neste segundo caso, a hipótese é de que alguém planejou a morte da educadora, podendo ter simulado um roubo.

"A Divisão de Homicídios do DHPP investiga a morte de uma mulher de 42 anos, cujo corpo foi localizado na manhã de segunda-feira (28), em um terreno na Avenida João Paulo da Silva, na zona sul da capital. A autoridade policial analisa imagens de câmeras de monitoramento, realiza a oitiva de familiares e atua na coleta de elementos que auxiliem no esclarecimento dos fatos", disse a pasta, em nota.

O cenário de praias cobertas com lonas e barracas que chegam a impedir o banho de sol na areia pode estar com os dias contados, em Ubatuba, no litoral norte de São Paulo. Um projeto de lei legislativo proíbe a instalação de tendas, barracas, gazebos e estruturas similares em todas as 102 praias do município. Quem descumprir terá o apetrecho apreendido pela fiscalização e pagará R$ 1 mil para reavê-lo. Recebe também uma multa de R$ 1 mil pela infração à lei.

Mas o projeto ainda depende de sanção da prefeita Flávia Pascoal (PL). Caso a norma seja sancionada, haverá um prazo de 60 dias para a regulamentação. A reportagem procurou a prefeitura de Ubatuba para se manifestar sobre a iniciativa da Câmara e aguarda retorno.

A nova regra permite o uso de guarda-sóis com até três metros de diâmetro e abre exceções para eventos previamente autorizados e estruturas de apoio a órgãos públicos ou prestadores de serviços licenciados. Também são permitidas as tendas de ambulantes em pontos fixados pela prefeitura, geralmente na borda da faixa de areia.

A medida foca principalmente nas praias mais movimentadas da cidade, como Praia Grande, Itamambuca, Praia do Tenório e Toninhas. Nestas, as tendas e barracas ocupam grandes espaços. O problema é menor nas praias mais afastadas do centro e de ilhas, como a Anchieta.

O projeto, que foi aprovado por unanimidade, na sessão desta terça-feira, 29, prevê que os valores arrecadados com as multas e apreensões serão destinados ao Fundo Municipal de Turismo e ao Fundo Social.

De acordo com o autor da proposta, vereador Gady Gonzalez (MDB), o objetivo é dar ao turista mais acessibilidade às áreas comuns da orla e evitar riscos à segurança. "Está havendo uma ocupação desordenada das praias, o que tem dificultado o trabalho de guarda-vidas, pois atrapalha a visibilidade para salvamentos, e causa um aumento nos casos de crianças perdidas", diz o vereador, que também é presidente da Câmara.

Segundo ele, a beleza das praias desaparece sob a profusão de tendas e barracas, que dificultam inclusive o trânsito dos banhistas pela faixa de areia. A situação se agrava na alta temporada, quando a cidade recebe um grande número de turistas. "Não dá para caminhar, nem tomar sol. A praia toda fica coberta pelas tendas e barracas. É uma regulamentação para mudar a cara da nossa cidade", diz.

A Associação Comercial de Ubatuba declarou apoio à proposta. De acordo com o presidente Adriano Klopfer, o ordenamento urbano é importante para atrair o turismo sustentável e para o desenvolvimento da cidade com preservação e atenção, não só ao turista, mas também à população local.

Ubatuba já cobra uma taxa do turista que busca suas praias. A Taxa de Preservação Ambiental é cobrada de cada veículo de fora que fica mais de quatro horas na cidade e varia conforme o tipo de veículo. Os valores em vigor este ano são de R$ 3,69 por dia para motos, R$ 13,73 para carros de passeio e R$ 20,59 para utilitários. Vans de excursão pagam R$ 41,18, micro-ônibus e caminhões R$ 62,30, e dos ônibus são cobrados R$ 97,14.

Uma policial militar que atua na Baixada Santista foi assaltada e agredida por criminosos, na noite desta quarta-feira, 30, no Sistema Anchieta-Imigrantes, em Cubatão.

Ela foi abordada por dois homens que levaram seus pertences, inclusive sua arma, uma pistola calibre 40. A ocorrência foi confirmada nesta quinta-feira, 1, pela Secretaria da Segurança Pública de São Paulo (SSP-SP).

A policial, de 33 anos, atua no 29º Batalhão da Polícia Militar do Interior, sediado em Itanhaém, mas que atende também as cidades de Mongaguá, Peruíbe, Pedro de Toledo e Itariri.

Ela tinha saído do trabalho e seguia de carro para São Paulo. No km 59 da Interligação Anchieta-Imigrantes, na altura do Jardim Nova República, a PM percebeu que o carro estava trepidando e parou no acostamento para verificar se algum pneu havia furado.

Foi quando dois homens a abordaram e, agindo com violência, exigiram que entregasse seus pertences. Além da pistola da policial com quatro munições e um carregador, os suspeitos roubaram documentos, cartões de crédito e um celular. Eles fugiram em seguida.

Segundo a SSP, a PM foi agredida durante a ação e precisou ser socorrida ao Pronto-Socorro Central de Cubatão. Ela foi medicada e liberada. O caso foi registrado como roubo pela delegacia da Polícia Civil, que investiga o assalto e tenta identificar os suspeitos. A PM acompanha o andamento das investigações.