Dois suspeitos de integrar uma gangue ligada aos chamados "quebra-vidros", bandidos que miram celulares de motoristas e passageiros, foram presos em uma operação deflagrada na manhã desta segunda-feira, 13, pela Polícia Civil de São Paulo. Outros dois homens estão foragidos.
Somente no primeiro semestre deste ano, o grupo teria desviado ao menos R$ 915 mil a partir de celulares roubados especialmente em vias que cortam o centro da capital paulista, como a Avenida do Estado e o Viaduto Júlio de Mesquita Filho.
As investigações indicam que 24 pessoas foram vítimas do esquema, todas também de janeiro a junho. Os suspeitos que foram alvo da operação desta segunda são descritos como integrantes de uma espécie de "núcleo central" de gangues "quebra-vidros", receptando aparelhos celulares roubados.
Conforme a Polícia Civil, o grupo alugou há pouco mais de um ano um apartamento na região do Glicério, no centro de São Paulo, para usá-lo como uma espécie de "QG (quartel-general) do crime" e facilitar a ação pós-furto.
"Era um apartamento usado exclusivamente para que esse núcleo tivesse tranquilidade (para atuar) e as ferramentas acessíveis, como internet, para analisar esses aparelhos e fazer as transações", afirma ao Estadão Lucas Lopes, delegado assistente do 8º Distrito Policial (Brás).
A investigação aponta que a gangue não escolhia de quem receberia os aparelhos. "É um dos grupos mais especializados nesse tipo de crime e que possuem um conhecimento amplo. Então, 'vinham' aparelhos celulares oriundos de vítimas de todo o centro de São Paulo", diz Lopes.
Quando os casos eram de bairros mais afastados, os criminosos levavam os aparelhos de bicicleta ou moto para os receptadores. Em ocorrências por perto, deslocavam-se inclusive a pé para entregar os celulares.
Os alvos preferenciais dos bandidos eram aparelhos celulares com GPS ligado, como os que geralmente ficam acoplados em painéis de motoristas. "Como a primeira camada de proteção não existia, eles mantinham esses celulares desbloqueados o tempo inteiro", explica o delegado.
Com os celulares em mãos, os criminosos responsáveis pelos desvios passavam a procurar brechas para multiplicar os prejuízos das vítimas, seja por meio de transferências para contas de laranjas ou outros meios.
"Começavam a fazer as varreduras para ver se encontravam alguma senha salva em bloco de notas, em navegador de internet ou em conversas de WhatsApp", diz Lopes. Em alguns casos, explica, eles também tentavam enganar familiares das vítimas com mensagens enganosas, pedindo transferências.
O grupo contava inclusive com uma "vasta quantidade de aparelhos celulares, máquinas de cartão, roteadores e chips", segundo a investigação. Alguns desses objetos foram apreendidos nesta segunda, além de dinheiro em espécie, mas até o momento não há um balanço oficial sobre quantidades.
De acordo com a polícia, a Justiça determinou o bloqueio de valores e ativos financeiros, inclusive em criptomoedas e investimentos, de pessoas físicas e jurídicas ligadas à quadrilha, totalizando um montante de R$ 915.006,59.
'QG do crime' foi localizado após furto a procurador
O imóvel usado como QG dos quebra-vidros foi localizado pela Polícia Civil de São Paulo após o furto, em julho deste ano, do celular do procurador de Justiça Antonio Calil Filho, que foi alvo de criminosos na região central da cidade.
A polícia identificou que alguns dos criminosos que atuariam por lá foram os mesmos alvos da primeira fase da Operação Broken Window (janela quebrada, em português), que resultou no cumprimento de mandados de busca e apreensão contra dois dos suspeitos.
A incursão de hoje foi a segunda fase da operação. A Polícia Civil busca cumprir, além dos quatro mandados de prisão, outros 27 de busca e apreensão em endereços localizados principalmente na capital paulista, em bairros como Cambuci e Mooca, mas não só.
Há um alvo até no Ceará, ligado a uma pessoa que seria responsável por fornecer a máquina de cartões para o grupo paulistano e facilitar desvios por meio dos cartões das vítimas. As investigações prosseguem.