Morador do Copan, Jean-Claude Bernardet se dizia mais paulista do que brasileiro

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O escritor francês radicado no Brasil Jean-Claude Bernardet - que morreu neste sábado, 12, aos 88 anos, adorava o País, especialmente São Paulo. Ele morava em um apartamento no 30º andar do Edifício Copan, ponto turístico e marco do centro da capital paulista, e chegou a afirmar que a cidade "é um pouco uma droga, vicia".

"Você fica viciado em São Paulo. O organismo tem necessidade de voltar para cá", disse ele, em entrevista ao g1, em 2013. Jean-Claude afirmou que jamais moraria no prédio "se tivesse como paisagem uma agência de um banco".

Os andares mais altos do Copan têm como vista as belíssimas imagens do centro da cidade e seus prédios históricos.

"É uma vista que me deixa respirar. Fico contemplando a inversão térmica, tem variações constantes, é um espetáculo de luz", enalteceu o escritor.

Jean-Claude Bernardet contou ainda que a relação com o centro da cidade seguiu amistosa mesmo após sofrer dezenas de agressões.

"Já foi roubado, jogado no chão, agredido". Mas resumiu os incidentes como "circunstâncias desagradáveis" que deixaram de acontecer após a evasão dos camelôs na região.

Na análise do escritor, "as barraquinhas comprometiam o caminhar pelas calçadas e deixavam as pessoas mais vulneráveis no meio da multidão".

Sem nunca ter feito aulas de português, Jean-Claude Bernardet revelou que aprendeu a língua com a ajuda de um colega da livraria, responsável por traduzir seus textos: "Ele me perguntava onde eu queria a vírgula, dava opções de palavras. Foi o meu laboratório de português".

Morte e obra de Jean-Claude Bernardet

A informação da morte do escritor, ator e crítico de cinema foi confirmada pela Cinemateca Brasileira, onde será realizado o velório do escritor. Segundo a instituição, ainda não há informações sobre horários.

Bernardet colecionou uma ampla contribuição ao cinema e, além de crítico, também atuou como ensaísta, professor, roteirista, escritor, diretor e, mais recentemente, ator.

Ele é autor de livros fundamentais como Brasil em Tempo de Cinema (Companhia das Letras), Historiografia Clássica do Cinema Brasileiro (Annablume) e O Nacional e o Popular na Cultura Brasileira (Editora Brasiliense), este em parceria com Maria Rita Galvão. Sua última obra foi o livro de memórias Wet mácula: memória/rapsódia (Companhia das Letras), escrito em parceria com Sabina Anzuategui.

Bernardet chegou a ganhar o prêmio de melhor ator no Festival de Brasília em FilmeFobia (2008), de Kiko Goifman. Também teve papéis em filmes como A Navalha do Avô, Periscópio, Pingo D'água e Fome. O crítico definia seu trabalho como ator como "uma opção radical".

Em entrevista concedida ao Estadão em 2016, ele descreveu que a interpretação surgiu como opção em "uma época de grande depressão".

Nos anos 1950, o crítico passou a escrever para o Suplemento Literário, do Estadão, a convite de Paulo Emílio Salles Gomes. Professor emérito na ECA-USP, Bernardet viveu muitos anos no 30º andar do Edifício Copan, no centro de São Paulo.

À capital paulista, dedicou um filme: São Paulo, Sinfonia e Cacofonia, de 1994.

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Pescadores capturaram no sábado, 19, um peixe-leão (Pterois volitans) em Taipu de Dentro, um estuário localizado na cidade de Maraú, na Baía de Camamu, no sul da Bahia. Antes, em fevereiro, biólogos já tinham encontrado um peixe-leão na região de Morro de São Paulo.

O peixe-leão é nativo da região indo-pacífico e foi identificado no Brasil pela primeira vez em 2014, no litoral do Rio de Janeiro. Depois, foram registrados casos da presença do peixe no litoral de Pernambuco, Ceará e Alagoas.

Apesar de parecer inofensivo, o peixe-leão oferece risco ao equilíbrio dos ecossistemas marinhos porque não tem predadores naturais no litoral brasileiro e compete por alimentos em condições desiguais, o que pode diminuir consideravelmente o desenvolvimento de outros peixes e crustáceos, impactando a cadeia da pesca.

O peixe-leão possui 18 espinhos venenosos e o contato com humanos pode causar dor intensa, náuseas e até convulsões. Cada fêmea pode colocar até 30 mil ovos, que eclodem em apenas 26 dias. Ele é extremamente voraz: pode comer até 20 peixes em 30 minutos, inclusive presas com até 70% do seu tamanho.

"É uma espécie exótica, não tem competidores aqui. Então, pesquisadores, nativos, pescadores, mergulhadores e todos que vivem do mar precisam fazer uma força-tarefa para conseguir controlar", disse Stella Furlan, supervisora de meio ambiente e educadora ambiental da Secretaria de Meio Ambiente de Maraú.

A Polícia Civil prendeu preventivamente nesta terça-feira, 22, em São Bernardo do Campo, um homem suspeito de participar de ao menos 18 ataques a ônibus na capital e cidades da região metropolitana de São Paulo.

O suspeito foi identificado como Edson Aparecido Campolongo, de 68 anos. Ele é servidor público há 30 anos e, antes de ser detido, trabalhava como motorista para funcionários da Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano (CDHU). Ele dirigia para o chefe de gabinete da companhia. A reportagem não conseguiu localizar a defesa de Campolongo.

As razões para cometer o crime não ficaram totalmente esclarecidas. O homem teria dito, em depoimento, que mobilizava os ataques para "consertar o Brasil".

Nas redes sociais, Campolongo tinha um perfil ativo, com publicações diárias contra o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e movimentos de esquerda, e posts enaltecendo o ex-presidente Jair Bolsonaro.

O delegado Júlio César Teixeira, que esteve à frente da investigação que prendeu Edson Campolongo, disse que o servidor negou ser filiado a partidos políticos ou a sindicatos.

A disputa sindical é uma das hipóteses levantadas para a onda de vandalismo contra o transporte público na capital e na Grande SP. Desde o dia 12 de junho, 530 ataques foram registrados na cidade de São Paulo, segundo dados da SPTrans.

Ainda conforme o delegado, Edson Campolongo admitiu ter participado de, ao menos, 17 ações, mas diz que se arrependeu dos ataques. Ele também teria, conforme as investigações, planejado as ações com antecedência.

Além de confessar o crime, ele afirmou que seu irmão, Sergio Campolongo, atuou junto com ele. A polícia pediu pela prisão preventiva de ambos, mas Sergio ainda não foi localizado.

Os irmãos respondem pelos crimes de dano qualificado e atentado à segurança de outro meio de transporte. A reportagem não localizou a defesa de Sergio.

As ações dos dois irmãos se concentraram nas cidades de São Bernardo do Campo e Osasco, na Grande São Paulo. Edson admitiu ter participado de 16 ataques, todos realizados no dia 17. E, segundo a polícia, ele também esteve envolvido em uma ação na capital, na Avenida Jorge João Saad, no dia 15, no Morumbi.

Na ocasião, uma criança de 10 anos ficou ferida com estilhaços depois de uma bolinha de gude ser arremessada contra a janela. Nas buscas feitas na casa e no trabalho de Campolongo, foram encontradas bolinhas de metal e estilingue.

De acordo com Domingos Paulo Neto, delegado seccional no ABC Paulista, a polícia chegou ao suspeito ao verificar, com o setor de inteligência, que o carro dele estava sempre próximo ao das ocorrências.

"Muitos outros indivíduos identificados só participaram uma vez (do ataque) e não apresentaram uma causa. Neste caso do servidor, nós o colocamos na cena do crime não uma, duas ou três, mas diversas vezes", disse o delegado Domingos.

A polícia trabalha com duas possíveis causas para a onda de ataques, como brigas sindicais e conflitos entre empresas de viação, que buscam criar um clima de medo para desestabilizar o setor e forçar a Prefeitura da capital a fazer mudanças no transporte público.

Contudo, não descartam também que a onda de vandalismo esteja acontecendo por um "efeito manada" e ausente de uma articulação maior por trás dos ataques.

"Acreditamos que não existe só uma motivação. Existe o efeito manada, o contágio, o propósito inicial, assim como existe alguém pegando onda, uma sucessão de propósitos", disse o delegado Ronaldo Sayeg, diretor do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic) de São Paulo.

A Delegacia Especializada de Investigações Criminais (Deic) de São Bernardo do Campo, na Grande São Paulo, prendeu nesta terça-feira, 22, um suspeito de participar de 16 ataques a ônibus em um só dia na capital e em outros municípios. Edson Aparecido Campolongo teria confessado os ataques no dia 17, além de ter participado de ação semelhante na Avenida Jorge João Saad, zona sul de São Paulo. Na ocasião, uma criança de 10 anos ficou ferida com estilhaços de vidro.

A reportagem não localizou a defesa de Campolongo. Com ele, foram apreendidos um estilingue e pequenas esferas de metal, utilizados nos atentados, segundo a Secretaria da Segurança Pública do Estado (SSP). Sua prisão foi solicitada e está em análise.

Campolongo é servidor público há mais de 30 anos, funcionário da Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano (CDHU). "Hoje a gente fez mais uma prisão de uma pessoa que depredou uma série de ônibus, inclusive é servidor do Estado. Então, obviamente, a gente vai tomar todas as medidas cabíveis", disse ontem o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), em Rio Claro, no interior do Estado. "São ataques que têm motivações diferentes e a gente está investigando todas elas. Já caiu muita a quantidade de ataques aos ônibus, a gente agora está tendo um, dois ataques por dia."

Justificativa

As investigações da polícia apontam que os crimes foram planejados com antecedência, e o suspeito preso recrutava outras pessoas para promover as ações. Seu carro foi visto sempre perto dos ataques. Conforme os delegados, o suspeito atuava com o irmão, identificado como Sérgio Aparecido Campolongo. A polícia também pediu a prisão preventiva do irmão, que está foragido.

Em depoimento, Campolongo afirmou que cometeu os ataques porque queria "consertar o Brasil". Conforme a polícia, não foram encontrados indícios de relações dele com líderes políticos e sindicais ou com facções criminosas. Até o momento, as investigações apontam que ele não mirava empresas específicas: os ataques eram aleatórios. Campolongo chegou a efetuar um dos ataques com coquetel molotov, que não explodiu.

A polícia segue com as investigações para identificar os demais envolvidos nessas ações. "Muitos outros indivíduos identificados só participaram uma vez (de ataques) e não apresentaram uma razão. Neste caso do servidor, nós o colocamos na cena do crime não uma, duas ou três, mas diversas vezes", disse Domingos Paulo Neto, delegado seccional no ABC.

Balanço

Desde o dia 12 de junho, 530 veículos do sistema municipal de transporte da capital foram depredados, segundo dados da SPtrans. Na segunda e na terça-feira desta semana, foram seis ataques. Os atos aconteceram de forma distribuída por todas as regiões da capital paulista.

Até o momento, 22 pessoas foram detidas no total, sendo 14 adultos, 7 adolescentes e 1 criança. Muitos casos foram esporádicos e não se notou uma motivação única.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.