Documentário sobre o Copan expõe histórias e 'magnetismo' do edifício

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Uma das construções mais imponentes de São Paulo agora vai para as telas de cinema. Símbolo da arquitetura moderna brasileira concebido por Oscar Niemeyer, o Copan visto sob o olhar da diretora Carine Wallauer é uma entidade complexa e viva. Em seu filme documental Copan, que estreou mundialmente no Festival Internacional de Documentários de Copenhague, o CPH:DOX, e que está na programação do Festival É Tudo Verdade 2025, ela retrata a vida no edifício em meio a um dos momentos políticos mais conturbados dos últimos anos, as eleições presidenciais de 2022, ecoando-o em outro mais particular para os moradores do prédio: as eleições para síndico.

"As nossas microestruturas políticas do dia a dia se relacionam muito bem com esse macro. A eleição presidencial, no nosso dia a dia, é distante, no sentido de que você vota uma vez a cada quatro anos", reflete Carine Wallauer, ao Estadão, ao explicar como surgiu a correlação.

"A gente tem essas pequenas eleições que acontecem nas microsferas, seja para síndico, seja para diretor sindical, seja para qualquer tipo de liderança que afeta a nossa vida. Às vezes a gente não se importa tanto com elas, mas, no fim, elas têm um impacto gigante também no modo como a gente vive", nota.

"Num prédio como o Copan, a escolha do síndico impacta diretamente a vida das pessoas, não só de quem mora, mas de quem visita e de quem trabalha. Talvez, se a gente ficar atento ao micro, a gente possa entender e ter uma entrada maior no macro também", completa.

Relação afetiva com o Copan

Nascida em Novo Hamburgo, RS, Carine tem uma relação bem pessoal com o Copan, e foi isso que a inspirou a fazer o documentário, seu primeiro longa-metragem como diretora. Moradora do prédio por sete anos, ela encontrou ali os primeiros laços afetivos ao se mudar para São Paulo, e assim surgiu uma relação muito próxima que a inspirou como artista.

"Quando eu cheguei, não tinha ainda uma rede de amigos muito estabelecida, e os funcionários do prédio sabiam tudo da minha vida e cuidavam de mim", recorda. "Quando comecei a pensar em fazer o filme, a minha primeira ideia sempre foi dar esse protagonismo para eles e para a relação deles com o Copan. É um prédio que inspira. Eu acho que ele inspira até quem não é artista, que dirá quem é."

Ao longo do filme, Carine põe sua câmera no lugar de observadora, sem que faça grandes interferências nos acontecimentos, e apresenta uma obra que joga luz sobre a multiplicidade de vozes e vivências que precisam coexistir nos 32 andares do edifício - no caminho, ela reflete como essa mesma coexistência deve acontecer no mundo. Os diálogos, tanto sobre as eleições quanto sobre a rotina de trabalho ou amenidades, são expostos com naturalidade, sem que haja uma provocação para isso.

"No começo, entrevistei todos os personagens, mas nunca foi o meu objetivo utilizar [as entrevistas]. É muito difícil escolher, dentro de 5 mil pessoas, quem você vai eleger para representar esse prédio. Então, mais do que escolher 10 entre a 5 mil, eu quis dar uma sensação de como é o Copan, mostrar esse magnetismo, o que corre nas veias desse lugar. É um filme muito mais sobre um efeito subjetivo que o Copan exerce na gente", justifica.

Carine enfatiza que, em sua visão, era primordial dar destaque aos funcionários e à observação da logística do prédio ao longo do filme. Dividindo as cenas entre reuniões de moradores, almoços de colegas e conversas triviais de vizinhos, ela expõe de forma bastante natural como as transformações físicas que acontecem o tempo todo dentro e nos arredores do Copan afetam moradores e trabalhadores.

A realizadora salienta que se trata de um movimento que segue o fluxo que acontece no centro de São Paulo hoje, com a construção de novos prédios e espaços pensados no turismo e na revitalização de determinadas áreas. Para ela, é uma estratégia que funciona comercialmente, mas é necessário se aproximar com cautela para entender os efeitos práticos de tudo isso.

"Eu cheguei no prédio em 2017 e saí em 2024 porque o apartamento onde eu morava foi vendido para virar um Airbnb. Ao longo do tempo, fui ficando insegura porque quase não tinha moradores [no andar], mas tinha esse fluxo de pessoas que acho complexo", conta, revelando que a movimentação gerada pelos locatários por temporada cria uma sensação de insegurança.

"Entendo o ponto de vista comercial, mas, para quem mora, é um pouco estranho", diz. "Há uma descaracterização, a planta original é modificada para dar conta dessa estética Pinterest, de hotel. E isso acaba afetando a vida de quem mora e de quem trabalha, porque os porteiros acabam tendo que ser recepcionistas. Isso é fruto de uma gentrificação do centro, definitivamente. Do ponto de vista turístico e comercial, faz sentido, mas enquanto um prédio residencial é uma questão a se pensar."

Falando ao Estadão diretamente de Copenhague, onde participou de sessões de exibição e perguntas e respostas sobre o filme, Wallauer se prepara para o lançamento de Copan no É Tudo Verdade 2025, que acontece no Rio de Janeiro e em São Paulo entre os dias 3 e 13 de abril. Para ela, a grande expectativa é ver o filme chegar até as pessoas retratadas no documentário, e impactar sobretudo quem se sente afetado pela imponente construção.

"Pensar que os trabalhadores do Copan vão estar lá [na estreia] com suas famílias me emociona, vai ser muito especial. Quero muito viver esse momento com eles. O Copan é um marco para a cidade de São Paulo e qualquer coisa feita sobre ele vai sempre gerar algum tipo de repercussão, e espero que seja positiva no caso do filme", torce.

Carine se emociona ao explicar de onde vem sua preocupação ao priorizar o olhar da classe trabalhadora. Filha de mãe empregada doméstica e pai que foi caixeiro-viajante por 30 anos, ela ressalta o desejo de que seu filme converse com todos os públicos.

"Meu intuito era fazer um filme artístico, claro, mas também um filme que não fosse hermético, um filme que minha mãe pudesse assistir, entender e se identificar. Que o Joselito, funcionário da limpeza que faz uma performance de dança, olhasse para si e visse todo o poder e força que ele tem. Que o Alberi, que toca violino e é um artista autodidata, se veja e saiba o valor que ele tem", reflete.

"A ideia de dar o protagonismo para os funcionários passa por todas essas esferas. Quando a gente vem de um contexto social que não é relacionado com artes, é muito difícil", completa. "Não é que você não tem talento, você não tem oportunidade. Eu queria muito que, no filme, eles tivessem esse espaço para brilhar. Acredito muito que a gente tem artistas fenomenais no Brasil que infelizmente não tiveram oportunidade porque não vieram de uma família rica."

Onde conferir as sessões de 'Copan' no É Tudo Verdade:

São Paulo:

- 08/04, às 20h30 - CineSesc: R. Augusta, 2075 - Cerqueira César

- 09/04, às 17h - Cinemateca Brasileira: Largo Senador Raul Cardoso, 207 - Vila Mariana

Rio de Janeiro:

- 11/04, às 20h30 - Estação NET Botafogo: R. Voluntários da Pátria, 88 - Botafogo

12/04, às 21h - Estação NET Rio: Rua Voluntários da Pátria, 35 - Botafogo

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Pelo menos 63% dos brasileiros já usaram alguma plataforma de Inteligência Artificial (IA) generativa como Gemini, ChatGPT, Veo3, IA do Canva, Copilot ou Midjourney. Os dados são de pesquisa da Nexus, divulgada nesta segunda-feira, 20, e também mostram que 51% das pessoas no País acreditam que essas ferramentas podem tomar decisões melhores que seres humanos em determinadas situações.

A Nexus entrevistou 2.012 pessoas com idade a partir de 18 anos, nas 27 Unidades da Federação, entre os dias 26 de agosto e 1º de setembro, de forma presencial. A margem de erro da amostra é de dois pontos porcentuais, com nível de confiança de 95%.

A pesquisa da Nexus aponta que seis em cada dez brasileiros veem como positiva a presença da IA no dia a dia, enquanto apenas 25% veem como negativa.

A visão otimista é maior entre homens (67%), quem ganha mais de cinco salários mínimos (65%), jovens de 18 a 30 anos (63%) e com ensino superior (63%). Já pessoas acima de 60 anos (33%), mulheres (31%), pessoas com ensino fundamental (28%) e quem recebe abaixo de um salário mínimo (28%) são mais resistentes a essa tecnologia.

De acordo com o estudo, 16% dos brasileiros usam IA todos os dias e outros 20% usam algumas vezes por semana. Os dados mostram que 18% da população recorrem raramente a ferramenta e que 36% nunca a utilizaram. A opinião de que a IA pode tomar decisões melhores que um ser humano em certas situações é especialmente forte entre jovens de 18 a 30 anos, 64% da chamada geração Z acredita nisso.

Por sua vez, dos 45% que não veem as plataformas de IA com essa capacidade, os mais enfáticos são os com mais de 60 anos (57%), pessoas com ensino fundamental (51%), homens (49%) e moradores do Nordeste (49%).

Compras e pesquisas

A pesquisa também perguntou aos entrevistados se eles já tiveram alguma compra influenciada pela IA e 37% dos brasileiros responderam positivamente.

Esse hábito é ainda mais comum entre o público de 18 a 30 anos, em que 46% do grupo já teve uma decisão de comprar algo influenciada pela IA.

Entre os mais influenciados, estão também quem ganha acima de cinco salários mínimos (45%), possui ensino superior (44%), homens (40%) e moradores da região Sudeste (42%).

"Não há como negar o impacto dessa geração de conteúdo, o que sugere a necessidade, por parte das empresas, de preparação, estratégia e adaptação a uma realidade que está aí", analisa Marcelo Tokarski, CEO da Nexus.

Os dados do estudo apontam quase metade dos brasileiros usam IA para buscar informações gerais. São 48% das pessoas, na sequência, vêm a utilização para estudar ou aprender algo novo (45%), criar conteúdo (41%) ou para lazer e entretenimento (39%).

Além disso, 38% declaram utilizá-la para ajudar em questões de saúde e bem-estar, 38% para automatizar tarefas de trabalho ou de estudos e 37% para melhorar a produtividade.

Cerca de um terço dos brasileiros (30%) já recorreram à IA para entender sobre temas considerados complexos, como política, economia e ciências.

A cidade de São Paulo registrou nesta segunda-feira, 20, o dia mais frio do mês de outubro em 11 anos. Os termômetros da capital paulista marcaram 11,2°C, a temperatura mais baixa registrada no mês desde 2014. Em outubro daquele ano, foi registrado 10,7°C, e em 2003, 11,0°C. A informação é da Defesa Civil do Estado de São Paulo.

A queda acentuada nas temperaturas é consequência da passagem de uma frente fria acompanhada por ventos intensos e massa de ar polar, que derrubou as temperaturas em diversas regiões do Estado.

O órgão estadual já havia emitido alerta de frio intenso, orientando a população e mobilizando acolhimento às pessoas vulneráveis.

Entre as ações emergenciais adotadas pelas autoridades está a ativação do Abrigo Solidário, iniciativa do governo do Estado coordenada pela Defesa Civil, que oferece acolhimento temporário à população em situação de rua.

O abrigo conta com estrutura de refeições, camas, colchões, cobertores, além de espaço e espaço para os pets, garantindo proteção e dignidade durante o período de frio intenso.

A Defesa Civil orienta ainda a população a evitar exposição prolongada ao frio, especialmente durante a madrugada e nas primeiras horas da manhã; redobrar a atenção com crianças, idosos e pessoas com doenças crônicas; e evitar o uso de fogareiros e brasas em ambientes fechados, devido ao risco de intoxicação.

O órgão estadual continuará emitindo atualizações e orientações conforme a evolução das condições climáticas.

O monitoramento meteorológico é realizado 24 horas por dia pelo Centro de Gerenciamento de Emergências.

O Papa Leão XIV se encontrou nesta segunda-feira, 20, pela primeira vez, com uma organização de sobreviventes e defensores de abusos cometidos pelo clero, que disse que o pontífice concordou em manter um diálogo permanente enquanto eles pressionam por uma política de tolerância zero para abusos na Igreja Católica.

A Ending Clergy Abuse (ECA é uma organização global que vem fazendo campanha para universalizar a política de abuso da Igreja nos Estados Unidos. Entre outras coisas, a política exige a remoção permanente do ministério de um padre com base em um único ato de abuso sexual que seja admitido ou comprovado de acordo com a lei da Igreja.

A política dos EUA, articulada pela primeira vez na década de 1990, foi adotada publicamente no auge do escândalo naquele país, numa tentativa de restaurar a confiança e a credibilidade na hierarquia americana após revelações de décadas de abusos e acobertamentos. É lei religiosa nos Estados Unidos, mas não é adotada em outros lugares.

O pontífice reconheceu que "havia grande resistência" à ideia de uma lei universal de tolerância zero, disse Tim Law, cofundador da ECA. Mas Law afirmou ter informado a ele que a ECA queria trabalhar com ele e o Vaticano para levar a ideia adiante.

Leão XIV já se encontrou com sobreviventes de abusos cometidos pelo clero e foi o interlocutor para ouvir as vítimas na Conferência Episcopal Peruana quando era bispo. Mas o primeiro papa americano da história reconheceu a importância de se reunir com a ECA como uma organização ativista, disseram os membros em uma coletiva de imprensa.

Antes dele, o Papa Francisco e o Papa Bento XVI também se encontraram com vítimas individuais, mas mantiveram ativistas e grupos de defesa à distância.

"Ele disse: 'Este é o próximo passo histórico: sentarmos juntos e conversarmos'", disse o participante alemão Matthias Katsch sobre a reunião desta segunda-feira. "Ele nos permitiu manter contato, ter um canal aberto de comunicação."

A audiência dentro do Palácio Apostólico durou uma hora e o papa ouviu atentamente, disseram os participantes. O Vaticano não a incluiu inicialmente entre as audiências de Leão XIV nesta segunda-feira, embora versões subsequentes da agenda do papa a incluíssem.

Seis membros do conselho da ECA, da Argentina, Canadá, Alemanha, Uganda e Estados Unidos, compareceram. Também em Roma estava Pedro Salinas, membro da ECA, um sobrevivente e jornalista peruano que conhecia Robert Prevost por meio do trabalho que eles realizaram em busca de justiça para sobreviventes de um grupo leigo católico peruano abusivo.

Os sobreviventes começaram a reunião descrevendo suas principais iniciativas: a política de tolerância zero, a convocação de uma conferência sobre supostos abusos no Opus Dei na Argentina e a ajuda a sobreviventes de abuso nas Filipinas para formar uma organização nacional.

"Inspirados por suas palavras ao se tornar papa, viemos como construtores de pontes, prontos para caminhar juntos em direção à verdade, à justiça e à cura", disse a cofundadora da ECA, Gemma Hickey, a Leão XIV.

A sobrevivente ugandense Janet Aguti disse que o papa parecia entender os impedimentos culturais para lidar com o problema do abuso na África, onde líderes religiosos frequentemente afirmam que o abuso não existe, já que não é amplamente discutido na sociedade. Ela disse que as crianças nos Estados Unidos não deveriam ser mais protegidas do que as crianças na África.

"Saí da reunião com esperança e sei que é um grande passo para nós e um momento histórico para mim", disse ela.

Os participantes disseram que buscaram uma audiência com o antecessor Francisco a partir de 2019. Eles disseram que acharam Leão XIV humilde, sincero e comprometido em trabalhar para acabar com o abuso, embora tenham dito que ele pediu que fossem pacientes.

"Hoje sinto que fui ouvida", disse Evelyn Korkmaz, cofundadora da ECA e sobrevivente de um internato no Canadá, da Nação Nishnawbe Aski. "Acredito que ele continuará neste caminho de reconciliação." (Fonte: Associated Press).