García Márquez x Vargas Llosa: relembre a briga entre os escritores que resultou em olho roxo

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Em fevereiro de 1976, o colombiano Gabriel García Márquez (1927-2014) e o peruano Mario Vargas Llosa encontraram-se na estreia do filme Os Sobreviventes dos Andes, de René Cardona, no Palacio de Bellas Artes, na Cidade do México. Ao se aproximar para abraçar o então amigo, com um sorriso no rosto, Gabo foi surpreendido com um soco. O resultado foi um olho roxo e um acordo mútuo de silêncio - que até hoje atiça especulações no mundo literário.

A misteriosa desavença, que resultou em rompimento, foi recuperada na internet por uma usuária do X (antigo Twitter), deleitando os fãs da literatura latino-americana com a fofoca. Quase 50 anos se passaram sem que nenhum deles revelasse o motivo da briga. Gabo morreu em 2014, e Vargas Llosa, com 89 anos recém-completos, garantiu que vai levar para o túmulo. "É um pacto entre García Márquez e eu. Ele respeitou isso até a sua morte e vou fazer o mesmo", afirmou.

O que garantiram, nas raras ocasiões em que mencionaram algo sobre o imbróglio, é que o estranhamento se deu por razões pessoais, e não por divergências políticas, como muito já se especulou. García Márquez foi militante de esquerda até o fim de sua vida, enquanto Vargas Llosa abandonou as ideias socialistas em uma forte guinada à direita liberal, chegando a disputar a presidência do Peru como candidato da direita nos anos 1990.

Há também quem tenha cogitado questões de rivalidade profissional. Dois grandes nomes da literatura latino-americana, escreveram os romances mais importantes em língua espanhola e ambos receberam o Prêmio Nobel de Literatura: Gabo em 1982 e Vargas Llosa em 2010.

Qual o motivo da briga entre García Márquez e Vargas Llosa?

García Márquez e Vargas Llosa se conheceram em 1967 e acabaram se tornando amigos próximos. Apreciavam o trabalho um do outro e tinham experimentado uma trajetória de dificuldades antes de alcançar o sucesso. Era tanta a admiração do peruano que ele chegou a estudar a obra do amigo, obtendo um doutorado em Filosofia e Letras na Universidade Complutense de Madri com uma tese sobre a literatura de Gabo.

Apesar do juramento de levar a briga para o túmulo, a versão mais popular da história, corroborada por várias testemunhas, é a de que o soco foi uma reação do peruano a um conselho dado à sua então esposa, Patricia, por Gabo.

Vargas Llosa sempre teve fama de "mulherengo". Na época, era casado com Patricia quando conheceu uma sueca durante uma viagem e decidiu abandonar a esposa.

Patricia buscou acolhimento com o amigo do marido, Gabo, e a esposa dele, Mercedes, que aconselharam que ela pedisse o divórcio. No entanto, Vargas Llosa voltou para casa e reatou com a esposa, que teria atiçado o ciúme dando a entender que Gabo flertou com ela. Outras versões são mais maliciosas, embora tenham pouco respaldo, e apontam traição.

Ao ficar sabendo do tal conselho, Vargas Llosa esperou o reencontro para desferir o golpe no amigo. "Como você se atreve a me abraçar depois do que fez com Patricia em Barcelona?", teria questionado o peruano, enquanto o rosto do colombiano sangrava. Não há consenso entre as testemunhas: Mario justificou o soco dizendo que era pelo que Gabo havia dito para sua mulher? Ou pelo que havia feito à ela? Arranjaram um bife congelado na tentativa de evitar um hematoma no olho de Gabo.

No dia seguinte, o colombiano de olho roxo foi clicado pelo fotógrafo de confiança Rodrigo Moya, mas as imagens só foram publicadas em 2007, trinta anos depois da briga. Em 2021, Moya contou ao Estadão sobre o incidente. Naquela manhã, Gabo chegou ao estúdio acompanhado por Mercedes, pedindo para que ele tirasse algumas fotos. "Perguntei: 'O que aconteceu?'. Ele fez uma piada, como 'Eu estava lutando boxe e perdi'. Quem explicou foi Mercedes", que teria chamado Mario de "um idiota ciumento", relembrou Moya.

Foi ideia dela registrar que Gabo, apesar do olho roxo, estava bem. "Gabriel não gostava de ser fotografado e, naquele dia, estava também deprimido", diz Moya, que precisou de várias tentativas até conseguiu capturar um sorriso do colombiano.

Livros registram a briga entre os dois escritores

Diversos livros sobre a trajetória literária dos autores (exploradas com enfoque individual ou paralelamente) e a amizade deles já foram publicados. Ambos pertencentes à geração de escritores do chamado boom latino-americano na literatura. O incidente cabeludo acaba aparecendo na maioria dessas narrativas.

Dasso Saldivar, autor de uma biografia de Gabo intitulada Viagem à Semente (Editora Record), explorou o motivo em seu livro. Na obra De Gabo a Mario, os acadêmicos Ángel Esteban e Ana Gallego também versam sobre a briga ao se debruçarem sobre o boom e a grandeza dos dois autores.

Entre críticos literários, há quem aponte que o soco, inclusive, não só acabou com a amizade como também simbolizou o fim desse importante momento da literatura local.

Há ainda Duas Solidões: Um Diálogo Sobre o Romance na América Latina (Editora Record) e Las Cartas del Boom, que reproduz a correspondência entre Gabo, Vargas Llosa, Julio Cortázar e Carlos Fuentes - os principais romancistas desse movimento. Enquanto isso, Jaime Bayly ficcionalizou a amizade e o rompimento no romance Los Genios, sendo duramente criticado por Vargas Llosa.

Em 2021, outra biografia de Gabo - Solidão e Companhia (Editora Crítica), da colombiana Silvana Paternostro - dedicou um capítulo ao incidente, reunindo versões da história e novos detalhes.

Segundo contou Plinio Apuleyo Mendoza, romancista e diplomata colombiano, após a traição de Mario, Gabo e Mercedes fizeram companhia à Patricia. Quando ela precisou voltar a Santiago, Gabo a levou até o aeroporto, e, como estavam atrasados, o colombiano disse: "Se o avião decolar sem você, faremos uma festa". "Gabo é caribenho, e foi nesse espírito que ele disse isso, e ela entendeu mal", apontou Mendoza.

O fotógrafo colombiano Guillermo Angulo, amigo próximo de García Márquez, contou que Patricia teria dito a Mario algo como: 'Não pense que não sou atraente. Amigos seus como o Gabo estavam atrás de mim'." O resto é história.

García Márquez e Vargas Llosa se reconciliaram?

Não há registros de que os dois autores tenham feito as pazes. Consta que várias tentativas de reconciliação foram empreendidas por amigos em comum depois do episódio agressivo. Em 2007, quando o autor de Cem Anos de Solidão fez 80 anos, voltaram a bater nessa tecla, mas Mercedes, que sempre incentivou o rancor do marido, teria dito: "Vivemos tão felizes esses 30 anos que não os necessitamos [Mario e sua mulher] para nada".

García Márquez morreu em 2014. Na ocasião, o ex-amigo enviou condolências à família do colombiano em uma rápida entrevista televisiva. "Morreu um grande escritor, cujas obras deram ampla publicidade e prestígio à literatura de nossa língua", disse. Mercedes morreu em 2020. Vargas Llosa separou-se de Patricia em 2015, e viveu um relacionamento com a filipina Isabel Preysler, ex-esposa de Julio Iglesias.

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A mulher que estava nua no colo do juiz aposentado Fernando Augusto Fontes Rodrigues Junior, de 61 anos, que atropelou e matou uma ciclista em Araçatuba (SP) disse à polícia que tentou assumir a direção da caminhonete ao perceber que ele estava embriagado. A morte ocorreu no último dia 24.

A reportagem teve acesso aos depoimentos. No momento em que ela tentava trocar de lugar, ele não parou e atropelou a ciclista Thais Bonatti de Andrade, de 30 anos. A auxiliar de cozinha foi internada, mas morreu no hospital.

Procurada, a defesa informou que pediu sigilo no processo e disse que, por ora, não se manifestará. Em seu depoimento dado antes da morte da vítima, o juiz manifestou "estar arrasado" com a situação da ciclista e ofereceu apoio aos familiares.

A mulher, de 25 anos, disse que já conhecia o magistrado, que a pegou em sua casa, por volta das 23 horas daquela noite para irem à boate. Na mesa em que estavam, foram servidos uísque, champanhe, cerveja e drinques. O juiz consumiu bebidas, segundo ela. Por volta das dez horas da manhã seguinte, o Rodrigues Junior decidiu ir embora e disse que a levaria para casa.

Segundo a depoente, em razão de o ex-magistrado estar bêbado, o dono da boate chegou a oferecer o serviço de Uber, mas ele não aceitou. Durante o percurso, o juiz chegou a percorrer um trecho de uma rua na contramão. Ele teria dito que estava "sem condições" e ela tentou assumir o volante com a caminhonete em movimento - foi quando aconteceu o acidente.

Outra testemunha, o motorista de aplicativo que tinha se colocado à disposição do juiz quando ele saiu da boate, disse que conhecia a mulher que estava com ele, por isso se preocupou com o fato de o condutor estar embriagado e acompanhou a caminhonete.

No percurso, o juiz teria trafegado um trecho de uma rua na contramão, sem causar acidente. O motorista de aplicativo presenciou quando a mulher tentou sentar no colo do juiz e também narrou detalhes do acidente.

O policial militar que atendeu a ocorrência disse que, no momento em que foi abordado, o ex-juiz negou que tivesse bebido, mas apresentava "sinais claros de embriaguez, como fala enrolada, olhos vermelhos, dificuldade para andar, odor etílico e comportamento desorientado".

Segundo ele, a mulher que acompanhava o condutor confirmou que os dois haviam consumido bebida alcoólica durante a madrugada.

Em seu depoimento, o juiz aposentado afirmou que tinha tomado duas cervejas em um barzinho e disse que não bebeu durante o período em que esteve na boate. Ele acrescentou que ficou várias horas sem beber, pois precisava tomar medicamentos para depressão.

O ex-magistrado alegou que não viu a ciclista, pois ela entrou na rotatória pelo lado direito - o lado do passageiro - em um ponto cego. Ele confirmou que pediu à mulher que assumisse o volante, mas ela teria se negado. Após o acidente, aguardou a chegada da polícia e do atendimento médico.

Thais morreu após ficar dois dias internada em estado grave e passar por duas cirurgias na Santa Casa de Araçatuba. A morte foi decorrente das fraturas e ferimentos sofridos durante o atropelamento. O corpo foi sepultado no sábado, 26. A mulher trabalhava como auxiliar de cozinha.

Após o acidente, o juiz foi preso em flagrante e autuado pela Polícia Civil por lesão corporal culposa na direção do veículo. Na sexta-feira, 25, o juiz pagou fiança de R$ 40 mil e foi colocado em liberdade. Com a morte da ciclista, ele passou a responder por homicídio culposo na condução de veículo automotor.

O ex-magistrado teve a Carteira Nacional de Habilitação (CNH) suspensa e precisa de autorização da justiça para sair da cidade, além de não poder sair à noite, frequentar bares e casas noturnas.

Um grupo de servidoras municipais de São Paulo protestou na noite de quinta-feira, 31, contra o encerramento das atividades do centro obstétrico do Hospital do Servidor Público Municipal (HSPM), localizado na Aclimação, região central da cidade.

Em ato simbólico, as mulheres usaram correntes para se prender às portas do oitavo andar da unidade, onde fica o setor de obstetrícia.

A manifestação foi uma reação à decisão da Prefeitura de transferir a realização de partos de servidoras municipais para um hospital particular, contratado via pregão. O centro de saúde em questão é o Hospital San Patrick Portinari, na Vila Jaguara, zona oeste da cidade.

Segundo as manifestantes, o modelo de contrato não garante critérios de qualidade ou estrutura equivalente à do HSPM. "(O pregão) é uma forma de contratação usada para adquirir serviços comuns, como canetas e cadeiras, porque nela não se pode exigir indicadores de qualidade mais profundos", diz Flávia Anunciação, diretora do Sindicato dos Servidores Municipais de São Paulo (Sindsep) e enfermeira da UTI Neonatal do HSPM.

"É uma contratação baseada em critérios superficiais e padronizados. Como pode ser usado para contratar um serviço tão especializado como obstetrícia?", questiona a servidora.

Em nota, a Secretaria Municipal da Saúde (SMS) afirma que as servidoras gestantes continuarão tendo assistência garantida para o atendimento de obstetrícia e que a reestruturação visa otimizar os leitos hospitalares para outras especialidades - entre 1º e 30 de julho, foram realizados sete partos na unidade.

"Eles alegam que o espaço está ocioso, que as servidoras estão envelhecendo e não têm mais tido filhos", comenta Laudicéia Reis, secretária de mulheres trabalhadoras do Sindsep, sobre os motivos apresentados pela administração municipal.

Para o sindicato, a saída seria o redimensionamento dos leitos de acordo com a demanda, não a troca de hospital. "(Na proposta atual) todo o acompanhamento é feito no HSPM, e só o parto seria feito no Saint Patrick. Mas não há segurança, não há preparo, há relatos de desrespeito e a empresa tem histórico negativo", diz Flávia, citando críticas publicadas no "Reclame Aqui".

"Das 144 reclamações envolvendo o hospital nos últimos 12 meses, apenas 33,3% foram respondidas", diz o sindicato, em nota.

O fluxo entre os dois hospitais, definido em contrato, também é motivo de preocupação para as servidoras, que apontam a distância de quase 20 km entre as unidades e a dificuldade de acesso ao Saint Patrick.

"Se o bebê nascer e precisar de UTI neonatal, ele só pode permanecer três dias no hospital contratado. Depois disso, será transferido para o Hospital do Servidor", afirma Laudicéia.

Prefeitura prevê 'avaliação do atendimento'

O secretário municipal de Saúde de São Paulo, Luiz Carlos Zamarco, realiza nesta sexta-feira, 1º, uma visita à maternidade do Hospital Saint Patrick para conhecer as instalações.

"Além da pesquisa institucional de satisfação do cliente, encontra-se em fase de implementação um questionário específico para as pacientes da clínica de obstetrícia para ampliar o canal de comunicação e avaliar o atendimento no serviço contratado", diz a SMS.

Segundo a pasta, após a alta do Saint Patrick, as puérperas e recém-nascidos seguirão sendo acompanhados em consultas previamente agendadas nos ambulatórios central e descentralizados do HSPM.

Saint Patrick diz que vai responder reclamações

Em nota, o Hospital Saint Patrick afirma que opera como maternidade desde 2008 e que realiza 60 partos por mês, "oferecendo toda estrutura com equipes altamente treinadas para atendimento humanizado".

Sobre a alegação de falta de respostas às críticas no "Reclame Aqui", a instituição informa que foi contratada uma equipe especial de Ouvidoria para analisar caso a caso e normalizar a situação em até 7 dias.

Preso por agredir a namorada com mais de 60 socos, o ex-atleta de basquete Igor Eduardo Pereira Cabral, 29 anos, foi transferido para uma unidade prisional do Sistema Penal do Rio Grande do Norte. A informação é da Secretaria de Estado da Administração Penitenciária (Seap).

O preso saiu do Centro de Recebimento e Triagem (CRT), em Parnamirim, espécie de porta de entrada do sistema penitenciário, para a Cadeia Pública Dinorá Sinas, em Ceará-Mirim, na Grande Natal. Ele está preso de maneira preventiva e a defesa diz que ele está à disposição das autoridades.

"O interno foi alocado em ala de segurança adequada, de forma a preservar a integridade física dos custodiados e garantir a estabilidade operacional da unidade", disse a Seap em nota. A pasta confirmou ainda que, apesar do custodiado estar sozinho em uma cela, ele não ficará em cela individual, uma vez que não há celas individuais na Cadeia Pública de Ceará-Mirim.

"A Seap ressalta que todas as transferências de pessoas privadas de liberdade, assim como a definição de local de custódia, seguem critérios rigorosos que consideram a segurança do sistema prisional, o perfil do custodiado e a necessidade de garantir a ordem e disciplina nas unidades prisionais", finalizou a pasta.

A defesa de Igor Cabral havia pedido à Justiça o isolamento do detento no presídio alegando risco à "vida e a integridade física" do acusado. Ele responde por tentativa de feminicídio.

No pedido protocolado na terça-feira, 29, a defesa alegou ameaças de uma facção criminosa local e pediu "isolamento para preservar sua vida e integridade física" por causa da grande repercussão do caso.