'Lula precisa pensar num ministério das Favelas', diz fundador da Cufa

Política
Tipografia
  • Pequenina Pequena Media Grande Gigante
  • Padrão Helvetica Segoe Georgia Times

Duas décadas depois do primeiro governo do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT), a favela cresceu e os problemas continuam os mesmos, aponta Celso Athayde, fundador da Central Única das Favelas (Cufa), organização presente e reconhecida em todo o Brasil. Para ele, a desigualdade econômica no País segue em crescimento e o problema habitacional é ainda maior. Se em 2011, 11,1 milhões de pessoas moravam nas favelas, o número chegou aos 17 milhões no ano passado.

Em entrevista ao Estadão, Athayde destaca a necessidade de se criar um ministério das favelas. Um núcleo dentro do governo que saiba interagir e entenda os problemas que a população periférica vive. "Não é uma apologia para uma maior quantidade de ministérios, mas uma provocação para haver um setor que possa olhar essas pessoas com uma visão diferente", afirma. "São pessoas que vivem sob gestão não do poder público, mas de um poder paralelo".

Athayde, que também é criador da Favela Holding, primeira holding social no mundo, que reúne mais de 20 empresas focadas em negócios de favela, acredita que, diferente da gestão Jair Bolsonaro (PL), haverá diálogo do novo governo com as periferias, mas ainda faltará representatividade do setor nos principais cargos que podem influir na vida de milhões de pessoas.

Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontam que os 17,1 milhões de pessoas na favela representariam o quarto Estado mais populoso do Brasil, atrás apenas de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro.

Uma das soluções para melhorar a vida nas favelas, aponta Athayde, é o estímulo ao empreendedorismo e à criação de uma "zona franca", com isenções fiscais aos empregadores que venham da região. Ele foi eleito empreendedor de impacto e inovação pelo Fórum Econômico Mundial neste ano. Confira os principais trechos da entrevista.

Quais desafios se impõem ao novo governo Lula em relação às favelas?

Nesses últimos 20 anos, o mundo mudou. Ainda que Lula tenha reduzido a desigualdade econômica no primeiro governo, nas favelas, ela cresceu neste período. O primeiro desafio que eu acho que ainda existia e que ele continua havendo é como resolver o déficit habitacional. O Minha Casa Minha Vida não foi capaz de dar respostas objetivas para essas milhares de pessoas que vivem nesse território. O outro desafio é estimular o empreendedorismo na base da pirâmide.

Por que o estímulo ao empreendedorismo é importante?

Quando eu falo de empregabilidade e de empreendedorismo, eu falo de combate à desigualdade econômica porque é geração de renda. Uma pessoa que trabalha na Cidade Tiradentes (bairro da zona leste de São Paulo) e trabalha no centro da cidade leva duas horas para ir ao trabalho e mais duas horas para voltar para casa. Se essas pessoas ganharem o mesmo valor e não precisarem gastar quatro horas num ônibus, mais autoestima, mais felicidade. Até por isso, quando se cria um projeto efetivo para melhorar a vida desses empreendedores, isso contribui para o avanço dessa agenda nas favelas.

A favela ainda sente a ausência do Estado?

É importante a existência do Estado, óbvio, mas ele não é capaz de atender a necessidade das favelas. Pessoas morrem de doenças causadas por falta de saneamento básico. Mas problemas do tipo acontecem também em outros setores. O mundo corporativo não olha para a favela e não tem responsabilidade de resolver todos os problemas. No terceiro setor, das ONGs e movimentos sociais, são movimentos que criminalizam o lucro. Quando você transforma o lucro em pecado, você diz que na favela é preciso se viver com escassez e não com abundância. Não digo que eles não são do bem. Mas geralmente são movimentos de fora das favelas. As ONGs das favelas não têm dinheiro, não têm CNPJ e não conseguem pagar os impostos.

Qual a solução neste caso?

Uma das propostas que a gente tem é transformar a favela numa zona franca, onde os empregadores das favelas tenham menos encargos e tenham maior facilidade para empreender. Assim, as empresas recebem incentivos fiscais em municípios para desenvolver aquela cidade.

Como o Estado e o novo governo podem se aproximar das favelas?

Há dois meses disse na ONU que seja qual for o governo ele precisaria pensar no ministério das Favelas. Estamos falando de uma população de 17 milhões de pessoas. Se você transformar todas as favelas em um Estado, ele seria o quarto maior do País em termos populacionais. Sendo que, segundo os critérios do IBGE, algumas favelas nem são consideradas favelas. O número pode ser muito maior. É uma população que mobiliza R$ 180 bilhões por ano e não são percebidas pelas empresas. Aqui não é uma apologia para uma maior quantidade de ministérios, mas uma provocação para haver um setor que possa olhar essas pessoas com uma visão diferente. São pessoas que vivem sob gestão não do poder público, mas de um poder paralelo.

Em outra categoria

O governo Donald Trump informou que a Universidade de Harvard não poderá receber novos subsídios federais para a pesquisa até cumprir com as exigências, que colocaram a universidade mais rica e prestigiada o país em rota de colisão com a Casa Branca.

O bloqueio foi comunicado em carta enviada pelo Departamento de Educação ao reitor da universidade e confirmado em entrevista coletiva nesta segunda-feira, 5. O representante do departamento disse à imprensa que Harvard não receberá novos subsídios federais até que "demonstre uma gestão responsável da universidade" e atenda às exigências do governo.

A Casa Branca já havia congelado US$ 2,2 bilhões em subsídios federais destinados à universidade. Em outra frente, Trump pressiona para que Harvard perca o seu status de isenção fiscal enquanto tenta forçar a instituição de ensino a atender suas demandas.

A carta foi a primeira resposta significativa do governo desde que Harvard entrou com ação judicial na tentativa de impedir o corte bilionário de verbas. "Esta carta é para informá-lo de que Harvard não deve mais buscar subsídios do governo federal, pois nenhum será fornecido", escreveu a secretária da Educação Linda McMahon ao reitor Alan Garber.

O documento estipula que Harvard deve abordar preocupações relacionadas ao antissemitismo no campus; revisar políticas raciais; e responder a queixas de que teria abandonado a busca pela "excelência acadêmica" ao empregar relativamente poucos professores conservadores, segundo a visão do governo.

Representantes de Harvard não responderam imediatamente ao pedido de comentário.

A ameaça sugere que o governo pode estar alterando ou reforçando suas táticas contra as universidades. Inicialmente, a Casa Branca havia retirado subsídios existentes - medida drástica, mas que deixa margem para contestações na Justiça, como no caso de Harvard.

Representantes do setor em todo país tem expressado de forma reservada preocupações com uma campanha mais ordenada de pressão sobre as universidades, que seria mais difícil de reverter nos tribunais.

O embate com Harvard começou quando o governo Donald Trump enviou, no mês passado, um série de exigências à universidade. A lista incluía a obrigatoriedade de relatar ao governo federal quaisquer estudantes internacionais acusados de má conduta e a nomeação de um supervisor externo para garantir que os departamentos acadêmicos fossem "diversos em termos de pontos de vista".

A universidade se negou a cumprir as demandas da Casa Branca e denunciou uma tentativa de interferir na liberdade acadêmica. Na ação judicial, Harvard acusou o governo Donald Trump de tentar exercer um "controle inédito e indevido".

No ano fiscal de 2024, os recursos federais para pesquisa representaram cerca de 11% do orçamento de Harvard - aproximadamente US$ 687 milhões. Embora o fundo patrimonial da universidade ultrapasse os US$ 53 bilhões, grande parte desse valor é restrito, o que limita como a instituição pode utilizá-lo.

O congelamento duradouro dos novos subsídios poderia causar um caos financeiro para Harvard, que já está elaborando planos de contingência e buscando captar recursos no mercado de títulos. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)

A primeira-ministra da província canadense de Alberta, Danielle Smith, disse que realizará um referendo no próximo ano que poderá incluir uma votação sobre a separação do Canadá.

Smith afirmou que não apoia a separação no site do governo da província e em sua página no Facebook, mas acrescentou que, caso os cidadãos de Alberta reúnam as assinaturas necessárias, uma pergunta sobre a separação poderá fazer parte da votação de 2026. "Nosso governo respeitará o processo democrático", enfatizou ela.

Seus comentários são a mais recente investida da província produtora de petróleo e gás depois que os liberais federais conquistaram um quarto mandato na eleição de 28 de abril. Smith, os líderes empresariais e os cidadãos de Alberta estão profundamente frustrados com a política ambiental da última década, que, segundo eles, prejudicou as perspectivas econômicas da província. As medidas incluem a proibição de navios-tanque que transportam petróleo bruto para o noroeste da Colúmbia Britânica, um limite para as emissões de carbono do setor de energia e um processo de avaliação ambiental mais rigoroso.

Ela disse que teve uma conversa telefônica construtiva nos últimos dias com o primeiro-ministro canadense, Mark Carney, mas "até que eu veja provas tangíveis de mudanças reais, Alberta tomará medidas para se proteger melhor de Ottawa".

Uma porta-voz de Carney não respondeu imediatamente a um pedido de comentário.

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmou neste domingo, 4, que instruiu seu governo a reabrir e expandir a notória prisão de Alcatraz, que foi fechada em 1963 e se tornou um ponto turístico na Califórnia.

"Por muito tempo, os Estados Unidos foram atormentados por criminosos cruéis, violentos e reincidentes, a escória da sociedade, que nunca contribuirão com nada além de miséria e sofrimento. Quando éramos uma nação mais séria, no passado, não hesitávamos em prender os criminosos mais perigosos e mantê-los longe de qualquer pessoa que pudessem prejudicar. É assim que deve ser", disse Trump, em uma publicação na plataforma Truth Social.

"É por isso que, hoje, estou instruindo o Departamento de Prisões, juntamente com o Departamento de Justiça, o FBI e a Segurança Interna, a reabrir uma prisão de Alcatraz substancialmente ampliada e reconstruída, para abrigar os criminosos mais cruéis e violentos dos Estados Unidos", escreveu o presidente americano, acrescentando: "A reabertura de Alcatraz servirá como um símbolo de Lei, Ordem e justiça."

A ordem foi emitida em um momento em que Trump vem enfrentando conflitos com os tribunais ao tentar enviar membros de gangues acusados ??para uma prisão notória em El Salvador, sem o devido processo legal. Trump também já sinalizou que poderia enviar cidadãos americanos para El Salvador.

Trump também ordenou a abertura de um centro de detenção na Baía de Guantánamo, em Cuba, para abrigar até 30 mil detentos que ele rotulou como os "piores criminosos estrangeiros".

Prisão

Alcatraz, hoje uma atração turística, fechou em 1963 devido aos altos custos operacionais após apenas 29 anos de operação, de acordo com o Departamento de Prisões dos EUA, porque tudo, de combustível à comida, tinha que ser trazido de barco.

Localizada a dois quilômetros da costa de São Francisco e com apenas 336 prisioneiros, a prisão abrigou vários criminosos notórios, incluindo o chefe da máfia da época da Lei Seca, Al Capone, e foi palco de muitas tentativas de fuga incríveis dos presos.

36 homens tentaram 14 fugas diferentes da prisão, segundo o FBI. Quase todos foram capturados ou não sobreviveram à tentativa.

O local ficou conhecido pelo filme "Alcatraz: Fuga Impossível", longa de 1979 que é protagonizado por Clint Eastwood. O filme conta a história de três prisioneiros que conseguiram fugir de Alcatraz.

Um porta-voz do Departamento de Prisões dos EUA disse em um comunicado que a agência "cumprirá todas as ordens presidenciais".

Atualmente, o Departamento de Prisões tem 16 penitenciárias que desempenham as mesmas funções de alta segurança de Alcatraz, incluindo sua unidade de segurança máxima em Florence, no Colorado, e a penitenciária dos EUA em Terre Haute, em Indiana. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)