Desfile de tanques expõe isolamento de Bolsonaro

Política
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O ato militar da Marinha com blindados na Praça dos Três Poderes, uma tentativa de demonstração de força política do Palácio do Planalto, evidenciou o isolamento do presidente Jair Bolsonaro. Contestada por aliados como Arthur Lira (Progressistas-AL), presidente da Câmara, a iniciativa não teve apoio do vice-presidente Hamilton Mourão, e a manobra para convidar autoridades da cúpula do Legislativo e do Judiciário fracassou.

A classe política viu margem para intimidação, depois das ameaças às eleições feitas por Bolsonaro e pelo ministro da Defesa, general Walter Braga Netto. A exibição bélica, ontem, ocorreu no dia em que o Congresso analisava a PEC do voto impresso. Nem Lira, nem o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), compareceram. Também ausente, Mourão disse a interlocutores considerar "inadequado" participar do ato. O vice não recebeu um convite oficial de Bolsonaro para assistir à chegada dos militares ao Planalto.

Até o líder do governo no Senado, Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE), afirmou, na abertura de audiência na CPI da Covid, que dividia as "preocupações" levantadas pelos senadores sobre o ato. "Estamos em trincheiras distintas, mas somos do Parlamento. Eu tenho uma história nesse Congresso, sou subscritor da Constituinte cidadã, aposto na democracia e no estado democrático de direito. Quero compartilhar as preocupações de todos aqui que reverberaram, apenas, digamos, assim, querendo retirar os excessos das falas que foram feitas", disse Bezerra.

De tribunais superiores, apenas ministros alinhados ao Planalto posaram para a foto na rampa do Planalto: o ministro do Tribunal de Contas da União Jorge Oliveira e o ministro do Tribunal Superior do Trabalho Ives Gandra Filho.

Do outro lado, no chão da praça, apenas um pequeno grupo de apoiadores do presidente fazia campanha pelo voto impresso. Eles acenavam e gritavam "mito" para Bolsonaro e uma fileira de ministros e parlamentares do Centrão, como o líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (Progressistas-PR). Um manifestante foi detido durante o desfile de tanques.

O evento inédito fez parte da Operação Formosa, da Marinha, que ocorre todos os anos, desde 1988. Foi a primeira vez que os blindados vindos do Rio passaram por Brasília e foram recebido por um presidente. A passagem de mais de 40 viaturas, entre jipes, blindados, tanques e caminhões, foi justificada como uma forma de convidar Bolsonaro a assistir, na semana que vem, à Operação Formosa, tradicional treinamento de fuzileiros navais em Goiás.

A ideia, segundo almirantes da ativa, partiu do Comando da Marinha. A ordem política para a Marinha desviar tanques e lançadores de mísseis para a Praça dos Três Poderes e a Esplanada dos Ministérios, porém, partiu de Bolsonaro e de Braga Netto, como mostrou a colunista do Estadão Eliane Cantanhêde.

Em nota, a Marinha afirmou que a "entrega simbólica" ao presidente foi planejada antes da definição da data de votação da PEC do voto impresso na Câmara e que o comboio militar deixou o Rio em 8 de julho.

Comandante da Marinha, o almirante de esquadra Almir Garnier Santos não estava com o tradicional traje branco da Força, que o distinguiria dos demais comandantes do Exército, general Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, e da Aeronáutica, brigadeiro Carlos de Almeida Baptista Junior. Garnier foi ao Planalto trajado como fuzileiro naval, farda cor camuflada e coturno marrom. Ele não se pronunciou durante o ato.

Os três comandantes foram escolhidos por Bolsonaro, com intermédio de Braga Netto, justamente após insatisfações do presidente com os chefes militares antecessores, que teriam resistido a um alinhamento político com o Planalto.

Repercussão

O desfile bélico repercutiu na imprensa internacional. O jornal britânico The Guardian destacou que o ato correu em momento de queda de popularidade do presidente pela "caótica resposta à pandemia de covid". O Le Monde afirmou que Bolsonaro teme "um cenário Trump", de derrota na eleição do ano que vem, "agarrando-se ao poder e mobilizando seus apoiadores nas ruas". As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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Esta é a primeira eleição sob a liderança de Wong desde que ele sucedeu Lee Hsien Loong, que deixou o cargo no ano passado após duas décadas no comando da cidade-Estado.

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