Grupos criam cursos para formar candidatas negras

Política
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Mulheres negras como Erika Hilton, Karen Santos e Dani Portela figuraram entre os nomes mais votados nas capitais brasileiras nas eleições do ano passado. Mas apesar de o número de candidatas ter aumentado em 24,5%, o porcentual de eleitas continuou praticamente o mesmo de 2016 para 2020, de acordo com dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Das 98,8 mil que concorreram no último pleito, apenas 3,8 mil se elegeram - uma "taxa de sucesso" de 4,19%.

Organizações da sociedade civil esperam que esse porcentual suba no ano que vem. Já a partir deste ano, entidades têm apostado em cursos de formação para alavancar essas candidaturas em 2022. Um deles é o Lab Ativista, criado por seis ativistas, entre eles Keit Lima, de 30 anos, que no ano passado concorreu à Câmara Municipal de São Paulo, mas não se elegeu.

Mulher, preta e periférica, ela sabe bem as dificuldades de conseguir uma vaga no legislativo paulista. Os 11.355 mil votos foram conquistados a partir de uma campanha com pouca estrutura. Ao Estadão, ela contou que recebeu apenas R$ 9 mil do partido, enquanto candidatos homens brancos garantiram uma verba próxima a R$ 100 mil. "Ninguém vota em quem não conhece. Você precisa de estrutura para conseguir alcançar as pessoas", disse Keit, que contou com a ajuda de voluntários para a sua candidatura. "É inconcebível dizer que um candidato com uma verba onze vezes maior está em pé de igualdade na hora da disputa."

Assim como outras mulheres negras que saíram candidatas, Keit construiu sua trajetória dentro dos movimentos sociais. Nascida em Recife, mas moradora da Brasilândia desde os oito anos, ela foi a primeira da família a fazer o ensino superior. Desde os 13, a ativista atua dentro das periferias, levando as demandas da base para a política institucional.

Dentro do Lab Ativista, Keit quer preparar principalmente mulheres negras de base para disputar espaços na política e em outros cargos de decisão. "As poucas mulheres negras que temos é graças aos movimentos sociais, que dão formação e ensinam a fazer campanha."

Pesquisadora e integrante do Instituto Alziras, Roberta Eugênio disse que as eleições de 2020 não foram um sucesso quantitativo para as mulheres negras, mas com certeza houve um ganho qualitativo. "Nós temos, sim, o que comemorar. Tivemos eleitas em cidades que até então não tinham nenhuma vereadora negra. Outros lugares em que mulheres negras foram as mais votadas. Existem muitos significados nisso, sobretudo em uma sociedade como o Brasil, em que estruturas se organizam com mulheres fora desses espaços de poder", afirmou ao Estadão.

A falta de estrutura também impactou a candidatura da cientista social Simony dos Anjos, de 34 anos. Única mulher e única pessoa negra a disputar a prefeitura de Osasco (SP), ela teve uma receita de R$ 43,9 mil, enquanto o candidato vencedor arrecadou R$ 2,7 milhões. Simony também conta que sua campanha sofreu ataques racistas e sexistas - situação que se repete com outras candidatas negras.

No mês passado, Simony participou da Jornada das Pretas, um evento da Oxfam Brasil que reuniu mulheres negras não eleitas no ano passado. A coordenadora de Juventude, Raça e Gênero da organização, Tauá Pires, disse que o espaço foi criado para dar suporte a essas mulheres que pretendem voltar às urnas no ano que vem. "Queremos fornecer informações básicas e fazer com que essas mulheres troquem experiências para formar candidaturas mais fortes em 2022 e com novas formas de fazer política", disse ela.

A produtora cultural no Amazonas, Michelle Andrews, de 36 anos, também participou do ciclo de encontros. Ela decidiu entrar para a política para melhorar a condição de seu setor, mas também sentia falta de mulheres negras na política, como ela, que pudessem pautar a desigualdade racial e de gênero na política.

Na tentativa de abrir mais espaço de representação, Michelle se filiou ao PSOL em 2017 e decidiu disputar a eleição do ano seguinte. Na primeira disputa, conseguiu 3,1 mil votos para deputada federal. Dois anos depois, se candidatou a vereadora em Manaus em uma chapa coletiva, com outras quatro mulheres, e recebeu 6 mil votos, alcançando a quinta maior votação, mas não se elegeu por falta de quociente partidário.

Na legislatura atual, a Câmara Municipal de Manaus tem apenas 4 mulheres entre 41 vereadores. Significa menos de 10% da Câmara. Entre elas, três se declaram pardas, e uma, branca. "Mas não existe uma representatividade negra em termos de pauta. O debate racial só surge em datas comemorativas e sob uma ótica do sofrimento, que não cria políticas transformadoras", declarou Michelle.

A atuação política de Michelle é um exemplo do aumento da participação de mulheres negras na política, apesar do número baixo de candidatas eleitas. Na campanha do ano passado, ela utilizou das chapas coletivas e do foco em redes sociais, duas novidades das disputas eleitorais.

No Congresso Nacional, um dos debates em torno da reforma política é a criação de cotas para mulheres no parlamento. O Observatório de Candidaturas Femininas da OAB-SP vai encaminhar para a comissão que discute as mudanças eleitorais uma série de propostas de alterações legislativas, entre elas a reserva de 50% de cadeiras legislativas para mulheres, sendo metade para mulheres brancas e metade para mulheres negras, ideia proposta inicialmente pelo movimento Mais Mulheres na Política e que terá o apoio da instituição.

A relatora da reforma, deputada federal Renata Abreu (PL-SP), acredita que a ideia não será incluída na reforma agora "por uma questão estratégica". "Existe uma resistência no Congresso muito grande com relação à criação de cotas, e neste momento deve haver a criação de cotas apenas para mulheres. Depois, desmembrá-la é mais fácil", afirmou a relatora. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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O governo Donald Trump informou que a Universidade de Harvard não poderá receber novos subsídios federais para a pesquisa até cumprir com as exigências, que colocaram a universidade mais rica e prestigiada o país em rota de colisão com a Casa Branca.

O bloqueio foi comunicado em carta enviada pelo Departamento de Educação ao reitor da universidade e confirmado em entrevista coletiva nesta segunda-feira, 5. O representante do departamento disse à imprensa que Harvard não receberá novos subsídios federais até que "demonstre uma gestão responsável da universidade" e atenda às exigências do governo.

A Casa Branca já havia congelado US$ 2,2 bilhões em subsídios federais destinados à universidade. Em outra frente, Trump pressiona para que Harvard perca o seu status de isenção fiscal enquanto tenta forçar a instituição de ensino a atender suas demandas.

A carta foi a primeira resposta significativa do governo desde que Harvard entrou com ação judicial na tentativa de impedir o corte bilionário de verbas. "Esta carta é para informá-lo de que Harvard não deve mais buscar subsídios do governo federal, pois nenhum será fornecido", escreveu a secretária da Educação Linda McMahon ao reitor Alan Garber.

O documento estipula que Harvard deve abordar preocupações relacionadas ao antissemitismo no campus; revisar políticas raciais; e responder a queixas de que teria abandonado a busca pela "excelência acadêmica" ao empregar relativamente poucos professores conservadores, segundo a visão do governo.

Representantes de Harvard não responderam imediatamente ao pedido de comentário.

A ameaça sugere que o governo pode estar alterando ou reforçando suas táticas contra as universidades. Inicialmente, a Casa Branca havia retirado subsídios existentes - medida drástica, mas que deixa margem para contestações na Justiça, como no caso de Harvard.

Representantes do setor em todo país tem expressado de forma reservada preocupações com uma campanha mais ordenada de pressão sobre as universidades, que seria mais difícil de reverter nos tribunais.

O embate com Harvard começou quando o governo Donald Trump enviou, no mês passado, um série de exigências à universidade. A lista incluía a obrigatoriedade de relatar ao governo federal quaisquer estudantes internacionais acusados de má conduta e a nomeação de um supervisor externo para garantir que os departamentos acadêmicos fossem "diversos em termos de pontos de vista".

A universidade se negou a cumprir as demandas da Casa Branca e denunciou uma tentativa de interferir na liberdade acadêmica. Na ação judicial, Harvard acusou o governo Donald Trump de tentar exercer um "controle inédito e indevido".

No ano fiscal de 2024, os recursos federais para pesquisa representaram cerca de 11% do orçamento de Harvard - aproximadamente US$ 687 milhões. Embora o fundo patrimonial da universidade ultrapasse os US$ 53 bilhões, grande parte desse valor é restrito, o que limita como a instituição pode utilizá-lo.

O congelamento duradouro dos novos subsídios poderia causar um caos financeiro para Harvard, que já está elaborando planos de contingência e buscando captar recursos no mercado de títulos. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)

A primeira-ministra da província canadense de Alberta, Danielle Smith, disse que realizará um referendo no próximo ano que poderá incluir uma votação sobre a separação do Canadá.

Smith afirmou que não apoia a separação no site do governo da província e em sua página no Facebook, mas acrescentou que, caso os cidadãos de Alberta reúnam as assinaturas necessárias, uma pergunta sobre a separação poderá fazer parte da votação de 2026. "Nosso governo respeitará o processo democrático", enfatizou ela.

Seus comentários são a mais recente investida da província produtora de petróleo e gás depois que os liberais federais conquistaram um quarto mandato na eleição de 28 de abril. Smith, os líderes empresariais e os cidadãos de Alberta estão profundamente frustrados com a política ambiental da última década, que, segundo eles, prejudicou as perspectivas econômicas da província. As medidas incluem a proibição de navios-tanque que transportam petróleo bruto para o noroeste da Colúmbia Britânica, um limite para as emissões de carbono do setor de energia e um processo de avaliação ambiental mais rigoroso.

Ela disse que teve uma conversa telefônica construtiva nos últimos dias com o primeiro-ministro canadense, Mark Carney, mas "até que eu veja provas tangíveis de mudanças reais, Alberta tomará medidas para se proteger melhor de Ottawa".

Uma porta-voz de Carney não respondeu imediatamente a um pedido de comentário.

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmou neste domingo, 4, que instruiu seu governo a reabrir e expandir a notória prisão de Alcatraz, que foi fechada em 1963 e se tornou um ponto turístico na Califórnia.

"Por muito tempo, os Estados Unidos foram atormentados por criminosos cruéis, violentos e reincidentes, a escória da sociedade, que nunca contribuirão com nada além de miséria e sofrimento. Quando éramos uma nação mais séria, no passado, não hesitávamos em prender os criminosos mais perigosos e mantê-los longe de qualquer pessoa que pudessem prejudicar. É assim que deve ser", disse Trump, em uma publicação na plataforma Truth Social.

"É por isso que, hoje, estou instruindo o Departamento de Prisões, juntamente com o Departamento de Justiça, o FBI e a Segurança Interna, a reabrir uma prisão de Alcatraz substancialmente ampliada e reconstruída, para abrigar os criminosos mais cruéis e violentos dos Estados Unidos", escreveu o presidente americano, acrescentando: "A reabertura de Alcatraz servirá como um símbolo de Lei, Ordem e justiça."

A ordem foi emitida em um momento em que Trump vem enfrentando conflitos com os tribunais ao tentar enviar membros de gangues acusados ??para uma prisão notória em El Salvador, sem o devido processo legal. Trump também já sinalizou que poderia enviar cidadãos americanos para El Salvador.

Trump também ordenou a abertura de um centro de detenção na Baía de Guantánamo, em Cuba, para abrigar até 30 mil detentos que ele rotulou como os "piores criminosos estrangeiros".

Prisão

Alcatraz, hoje uma atração turística, fechou em 1963 devido aos altos custos operacionais após apenas 29 anos de operação, de acordo com o Departamento de Prisões dos EUA, porque tudo, de combustível à comida, tinha que ser trazido de barco.

Localizada a dois quilômetros da costa de São Francisco e com apenas 336 prisioneiros, a prisão abrigou vários criminosos notórios, incluindo o chefe da máfia da época da Lei Seca, Al Capone, e foi palco de muitas tentativas de fuga incríveis dos presos.

36 homens tentaram 14 fugas diferentes da prisão, segundo o FBI. Quase todos foram capturados ou não sobreviveram à tentativa.

O local ficou conhecido pelo filme "Alcatraz: Fuga Impossível", longa de 1979 que é protagonizado por Clint Eastwood. O filme conta a história de três prisioneiros que conseguiram fugir de Alcatraz.

Um porta-voz do Departamento de Prisões dos EUA disse em um comunicado que a agência "cumprirá todas as ordens presidenciais".

Atualmente, o Departamento de Prisões tem 16 penitenciárias que desempenham as mesmas funções de alta segurança de Alcatraz, incluindo sua unidade de segurança máxima em Florence, no Colorado, e a penitenciária dos EUA em Terre Haute, em Indiana. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)