Clara Charf, militante de esquerda e viúva de Marighella, morre aos 100 anos

Política
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A militante de esquerda Clara Charf, viúva do guerrilheiro Carlos Marighella, morreu na madrugada desta segunda-feira, 3, em São Paulo, aos 100 anos. Ela estava internada e entubada há alguns dias, informou Vera Vieira, diretora-executiva da Associação Mulheres Pela Paz, fundada e presidida por Charf.

"Muita tristeza. Clarinha morreu de causas naturais. Estava hospitalizada há alguns dias, entubada", disse. "(Clara) deixa um legado de lutas pelos direitos humanos e equidade de gênero", afirmou a diretora.

Clara se filiou ao Partido Comunista Brasileiro (PCB), onde conheceu Marighella, aos 21 anos. A militante dedicou a vida às causas populares, à luta feminista e integrou a Ação Libertadora Nacional (ALN), organização de luta armada criada em 1967 pelo companheiro em oposição à ditadura militar, que começou em 1964.

"Ela foi uma das mulheres mais fascinantes, generosas e destemidas que o Brasil conheceu. Não era corajosa confrontando fracos, mas fortes, poderosos. Dedicou a vida a ajudar quem precisava. Um dia, vão se espalhar escolas, bibliotecas, ruas, praças e pontes com seu nome", escreveu o jornalista Mário Magalhães, biógrafo de Marighella.

Depois da morte do companheiro, em 1969, cometida por agentes da ditadura, Clara se exilou em Cuba, onde viveu na clandestinidade e trabalhou como tradutora. Ela retornou ao Brasil em 1979, após a promulgação da Lei da Anistia. Em 1982, foi candidata a deputada federal pelo Partido dos Trabalhadores (PT), ao qual ainda era filiada.

Em nota, o partido lamentou a morte de uma das fundadoras da legenda. "Nascida em 17 de julho de 1925, Clara completou 100 anos neste ano. Foi um século dedicado à liberdade, à justiça social, ao enfrentamento ao fascismo e à defesa intransigente dos direitos humanos. Sua história se confunde com a própria história da resistência democrática brasileira", afirmou.

O partido também destacou a atuação dela no Conselho Nacional dos Direitos da Mulher e na presidência da Associação Mulheres Pela Paz, fundada por ela em 2003, e "referência na luta contra a violência de gênero e na promoção do protagonismo feminino".

A ministra da Secretaria de Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, também lamentou a morte da ativista que "enfrentou com coragem a repressão, a ditadura e o exílio, mantendo e espalhando a esperança na construção de um mundo mais justo".

Clara e Marighella tiveram um relacionamento entre 1948 e 1969. Ela morreu na véspera da data da morte do companheiro, assassinado em 4 de novembro.

A família não havia divulgado informações sobre o velório e sepultamento até a publicação desta reportagem.

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A CEO de notícias da BBC, Deborah Turness, e o diretor-geral da emissora britânica, Tim Davie, renunciaram ao cargo neste domingo, 9. A saída acontece após o jornal The Telegraph mostrar que a BBC havia editado enganosamente um discurso do presidente dos EUA, Donald Trump, para dar a impressão de que ele havia incitado diretamente à violência nos atos de invasão ao Capitólio em 6 de janeiro de 2021. A fala distorcida de Trump foi exibida no programa Panorama de 3 de novembro de 2024, a uma semana das eleições presidenciais nos Estados Unidos.

Em sua rede social, a Truth Social, Donald Trump celebrou a demissão de quem chamou de "jornalistas corruptos". "Essas são pessoas muito desonestas que tentaram manipular as eleições presidenciais. Para piorar, vêm de um país estrangeiro, um que muitos consideram nosso principal aliado. Que terrível para a democracia!", postou.

A ministra britânica da Cultura, Lisa Nandy, havia classificado horas antes como "extremamente grave" a acusação contra a BBC por apresentar declarações de Trump de maneira enganosa.

"É um dia triste para a BBC. Tim foi um excelente diretor-geral durante os últimos cinco anos", afirmou o presidente da Corporação Britânica de Radiodifusão, Samir Shah, em comunicado. Ele acrescentou que Davie enfrentava "pressão constante (...) que o levou a tomar a decisão" de renunciar.

Colagem de trechos separados levou a versão distorcida do discurso

O caso, revelado na terça-feira, 4, baseia-se em um documentário exibido uma semana antes das eleições presidenciais dos EUA de 2024. A BBC é acusada de ter montado trechos separados de um discurso de Trump de 6 de janeiro de 2021 de forma que parece indicar que ele teria dito a seus apoiadores que marchariam com ele até o Capitólio para "lutar como demônios".

Na versão completa, o então presidente republicano - já derrotado nas urnas pelo democrata Joe Biden - diz: "Vamos marchar até o Capitólio e vamos incentivar nossos valentes senadores e representantes no Congresso."

A expressão "lutar como demônios" corresponde, na verdade, a outro momento do discurso.

Em carta enviada ao conselho da BBC e publicada no site, a CEO de notícias disse que a polêmica em torno do programa Panorama sobre o presidente Trump chegou a um ponto em que está prejudicando a BBC - uma instituição que ela adora.

Já Tim Davie, diretor-geral, disse que abdicou ao cargo após intensas exigências pessoais e profissionais de gerir o posto ao longo de muitos anos nestes "tempos turbulentos".

Um dia antes do início oficial da COP30 em Belém, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, publicou em sua rede social, a Truth Social, nesta domingo, 9, uma mensagem dizendo que a Amazônia foi destruída para a construção de uma estrada.

"Eles destruíram a floresta amazônica no Brasil para a construção de uma rodovia de quatro faixas para que ambientalistas pudessem viajar", escreveu Trump na mensagem, ressaltando que o caso "se tornou um grande escândalo".

Junto com a mensagem, Trump postou um vídeo de quatro minutos da Fox News, com uma reportagem do enviado da emissora a Belém para cobrir a COP30.

Na reportagem, o editor Marc Morano diz, com uma imagem de Belém ao fundo, que mais de 100 mil árvores foram cortadas na Amazônia para construir a estrada e mostrar como o "governo brasileiro está cuidando da floresta tropical".

Ainda na reportagem postada por Trump, o jornalista destaca que pela primeira vez não há uma delegação oficial dos Estados Unidos em uma conferência das Nações Unidas sobre o clima desde 1992. Mesmo países europeus estão deixando esses compromissos de lado, ressalta o jornalista.

A reportagem fala ainda da queda das vendas de carros elétricos e de demissões em fábricas nos Estados Unidos.

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, disse há pouco que a BBC alterou seu discurso de 6 de janeiro de 2021, dia da invasão ao Capitólio, e celebrou a demissão de "pessoas muito desonestas que tentaram influenciar uma eleição presidencial".

"As principais pessoas da BBC, incluindo TIM DAVIE, o CHEFE, estão todas se demitindo/DEMITIDAS, porque foram pegas 'alterando' meu excelente (PERFEITO!) discurso de 6 de janeiro. Além de tudo, eles são de um país estrangeiro, que muitos consideram nosso Aliado Número Um. Que coisa terrível para a Democracia!", escreveu o republicano na Truth Social.

A CEO de notícias da BBC, Deborah Turness, e o diretor-geral da emissora britânica, Tim Davie, renunciaram ao cargo nesta trade. A saída acontece após o jornal The Telegraph mostrar que a BBC havia editado enganosamente um discurso de Trump para dar a impressão de que ele havia incitado diretamente à violência nos atos de invasão ao Capitólio.