A comitiva brasileira liderada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva à Ásia contará com a presença de mais de 100 empresários locais, de acordo com o diretor do departamento de Índia, Sul e Sudeste da Ásia do Ministério das Relações Exteriores (MRE), Embaixador Everton Frask Lucero. Ele disse que o Itamaraty ainda não tem informações sobre os ministros que acompanharão o presidente nessa viagem. A ideia do encontro, conforme o diplomata, é aproveitar para estreitar relações diplomáticas e comerciais, principalmente com Indonésia e Malásia, e ampliar oportunidades de negócio depois do cenário de "maior dificuldade de comércio" no mundo. Lucero não mencionou explicitamente o tarifaço imposto pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, a vários países desde abril.
O presidente parte do Brasil amanhã e começará a viagem pela Indonésia, onde será recebido em visita de Estado. "É uma retribuição à visita que o presidente da Indonésia fez ao Brasil, e também uma visita de Estado logo após a cúpula dos Brics, no Rio de Janeiro, um momento para reforçar a nossa parceria estratégica com a Indonésia, que nós mantemos desde 2008, quando o presidente Lula se visitou aquele país asiático", explicou Lucero.
Depois da Indonésia (dias 23 e 24), o presidente irá à Malásia, onde fará uma visita oficial, no dia 25, e terá uma bilateral a convite do primeiro-ministro Anwar Ibrahim. Nos dias 26 e 27, Lula participa da 47ª Cúpula do bloco econômico do Sudeste Asiático (Asean). "Esta é a primeira vez que um chefe de Estado brasileiro participa de uma reunião de Cúpula da Asean."
Como a viagem é longa, o presidente tem o interesse em aproveitar o deslocamento, então fará visitas bilaterais. De acordo com o MRE, a Indonésia é a terceira maior democracia do mundo, a quarta nação mais populosa, a principal economia da Asean. Os contatos de alto nível entre os países, conforme o embaixador, têm se intensificado nos últimos anos. Durante a visita do indonésio ao Brasil, houve um comunicado conjunto que identificava as áreas principais de interesse, como segurança alimentar, bioenergia e desenvolvimento sustentável. "Nós mantemos um superávit bastante significativo com a Indonésia e com os demais países da região", explicou o diplomata.
Em Kuala Lumpur, Lula receberá o título de doutor honoris causa pela Universidade Nacional da Malásia e participará da Asean. "É uma oportunidade de encontro e reunião com diversos líderes mundiais, já que os grandes países todos têm algum tipo de relação com a Asean e participam das cúpulas", enfatizou o embaixador. O Brasil, segundo ele, já tem uma parceria de diálogo setorial com o bloco.
Nesse encontro, a Asean passará a incorporar o Timor-Leste como o 11º membro do grupo, que o Brasil tem apoiado. "Se trata de um país com o qual temos heranças culturais, turísticas, uma proximidade bastante grande, apesar da distância geográfica. É um país que tem sido destino da cooperação técnica brasileira, desde a formação das estruturas do Estado Timorense, após a restauração da sua independência", detalhou Lucero. A Asean conta com mais de 680 milhões de habitantes, com um PIB agregado de US$ 10,4 trilhões e, considerados em conjunto, formariam o terceiro maior país em termos populacionais e a quarta maior economia do mundo.
O Brasil e a Asean superaram US$ 37 bilhões de corrente de comércio no ano passado. "Se somarmos esses países, teremos o grupo como o quinto principal parceiro comercial do Brasil, o quarto destino das nossas exportações e o bloco que respondeu por mais de 20% do nosso superávit de comércio exterior global, com um saldo favorável ao Brasil na ordem de US$ 15,5 bilhões", quantificou.
O que o governo brasileiro quer com essa viagem é levar as relações entre o Brasil e os países da Asean a um novo patamar. "A intenção é consolidar a presença brasileira no Sudeste Asiático e reafirmar o nosso compromisso em ampliar o diálogo e a cooperação com a Asean e com seus Estados."
Discurso - No dia seguinte, Lula participará ainda da Cúpula do Leste da Ásia, onde fará um discurso sobre a visão do governo brasileiro sobre a resiliência econômica por meio da cooperação entre a Asean e o Brics. O presidente participa da visita na qualidade de presidente rotativo do Brics este ano. "O que perpassa toda essa articulação e preparação da visita é, no fundo, o aumento da resiliência econômica do país diante de um cenário que nós conhecemos, que tem trazido alguns obstáculos e dificuldades para o meio de comércio, para a inserção internacional dos países de uma forma vital. E nós vemos naquela região do mundo, naquele grupo de países do Sudeste Asiático, uma oportunidade de buscarmos parcerias que fortaleçam não só a nossa presença política, mas também que fortaleçam a nossa economia, aumentem os nossos negócios e assegurem recursos e desenvolvimento ao país", argumentou.
Paralelamente aos eventos oficiais, os empresários brasileiros terão a oportunidade de dialogar com suas contrapartes indonésias e com suas áreas de interesse. Na Malásia, acontecerá dois fóruns: um ligado à Asean e outro especificamente sobre os dois países - este com a participação de pouco mais de 20 empresários "de alto perfil". Esse encontro deve ocorrer na quinta-feira (23), com empresários em Jacarta. Para o Itamaraty, trata-se de um movimento na direção de retomar negociações que já haviam sido autorizadas pelo Mercosul para um acordo econômico abrangente - que não deve ser confundido com um acordo de livre-comércio.
"A ida do presidente da República é uma oportunidade para trazer as demandas à consideração do lado indonésio com vistas à ampliação de mercados para a carne bovina, para a de frango e até mesmo para a carne suína. Apesar de a Indonésia ser um país de grande população muçulmana, tem também uma boa parcela da população que não é da mesma fé e, portanto, há mercado para exportação."
Programação - Lula parte nesta terça-feira, 21, pela manhã da base aérea de Brasília e chega em Jacarta na quarta-feira, 22, às 15h (horário local, 10 horas à frente). No dia 23, quinta-feira, participa às 10h da manhã da cerimônia oficial de chegada, no Palácio Presidencial, onde será recebido junto com Janja pelo presidente local e terão toda a sequência de uma visita de Estado. Está prevista uma reunião privada, que deve não deve ser longa, seguida de uma reunião ampliada e com duração maior. Em seguida, está prevista a cerimônia de assinatura de atos. Uma declaração à imprensa deve ser feita ao final da manhã. Depois, Lula terá almoço oferecido pelo presidente da Indonésia. À tarde, começam os encontros com empresários.
No dia 24, sexta-feira, há a previsão de uma visita do presidente ao secretário-geral da Asean, Carl Kimhorn, para identificar quais os caminhos que o Brasil deve priorizar no aprofundamento das relações com o grupo. Ainda na sexta, o presidente se desloca, na parte da tarde, para a Malásia. A abertura do evento da cúpula é no sábado, dia 25, às 9 horas da manhã. Lula será recebido no palácio do primeiro-ministro Anwar Ibrahim, que é na cidade administrativa de Portajaya, próxima de Kuala Lumpur. Lá, haverá uma cerimônia de boas-vindas e também reuniões seguidas: uma restrita e outra ampliada, que deverão ocorrer ao longo da manhã. Também haverá cerimônia de assinatura de atos, por volta de 10h30, e uma declaração conjunta à imprensa.
Na parte da tarde, está prevista a cerimônia de outorga ao presidente, quando deve fazer novo discurso. Uma recepção está prevista na universidade. No domingo, dia 26, é o dia da cúpula. Conforme Lucero, terminada a sessão de abertura, o restante do dia poderá ser utilizado para encontros bilaterais. É possível que haja uma bilateral com o americano Donald Trump. Lula embarca para o Brasil no dia 27, quando haverá o segundo dia da cúpula. A expectativa é a de que esteja em Brasília no dia 28.