Desembargadora 'líder de organização criminosa' combinava com genro redação de sentenças

Política
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A Procuradoria-Geral da República afirma que a desembargadora Nelma Celeste Souza Silva Sarney Costa - cunhada do ex-presidente José Sarney -, do Tribunal de Justiça do Maranhão, combinava textos de despachos e de sentenças inteiras com seu genro, o advogado e ex-deputado federal Edilázio Gomes da Silva Júnior (PSD-MA).

Em conversas interceptadas pela Polícia Federal na Operação 18 Minutos, o genro não apenas passava suas teses sobre casos judicializados, como chegava a escrever trechos completos de sentenças no interesse de uma organização criminosa que, segundo os investigadores, se instalou na Corte estadual durante dez anos.

O Estadão pediu manifestação do Tribunal do Maranhão e de Nelma. O espaço está aberto.

Quando a Operação foi desencadeada, em agosto do ano passado, agentes federais encontraram com Edilázio quase R$ 1 milhão em dinheiro, cuja origem ele não soube explicar. Na ocasião, o genro de Nelma afirmou que a investigação 'é baseada em ilações que buscam atingir sua imagem'. Ele se disse inocente.

Segundo a Procuradoria, além de Nelma Sarney, outros três desembargadores - um deles aposentado -, dois juízes de primeiro grau e mais 23 investigados atuavam em um esquema de corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa 'nas estruturas' do TJ maranhense.

Os detalhes do esquema constam de denúncia de 313 páginas da PGR, subscrita pela subprocuradora Luiza Cristina Frischeisen. Ela pede ao Superior Tribunal de Justiça a decretação da perda de cargos dos magistrados e a condenação de todos à devolução de R$ 54,3 milhões, valor supostamente amealhado em propinas pela organização.

Também são acusados os desembargadores Luiz Gonzaga Almeida Filho, Antônio Pacheco Guerreiro Júnior e Marcelino Everton Chaves (aposentado) e os juízes de primeiro grau Alice de Souza Rocha e Cristiano Simas de Souza. O Estadão pediu manifestação dos magistrados, via assessoria do Tribunal. O espaço está aberto.

Segundo a acusação, Nelma, Luiz Gonzaga, Marcelino Chaves e Guerreiro Júnior 'exerceram a liderança coletiva da organização criminosa'.

"O êxito das empreitadas criminosas dependia, ao fim e ao cabo, dos atos de ofício praticados com infração de dever funcional pelas autoridades com foro por prerrogativa no Superior Tribunal de Justiça, que controlaram e delinearam a atuação dos demais membros da organização criminosa", sustenta a Procuradoria.

A investigação da Polícia Federal na Operação 18 Minutos - tempo entre a emissão de alvarás e saques milionários - indica que, após receber manifestação produzida pelo genro no âmbito de uma ação contra o Banco do Nordeste, Nelma encaminhou o mesmo texto para sua assessora, Carolina Arósio Jorge, incluindo-o na minuta da decisão.

"Ao final, a decisão foi expedida da forma como sugerida por Edilázio Júnior", afirma a Procuradoria.

Nelma já está afastada das funções por ordem do Conselho Nacional de Justiça. A Procuradoria sustenta que a chefe de gabinete da desembargadora, Zely Brown, reconheceu a influência de Edilázio Júnior nas decisões.

A PF resgatou mensagem de Edilázio. "Conceder o efeito suspensivo em parte, tão somente para impedir qualquer levantamento até o julgamento do presente agravo de instrumento", orientou o genro.

Nelma encaminhou o texto de Edilázio para a sua chefe de gabinete. Posteriormente, a manifestação do ex-deputado foi publicada como decisão judicial. "Ante o exposto, defiro o pedido liminar para conceder o efeito suspensivo requerido, ressaltando que todos os valores depositados somente poderão ser levantados por quaisquer das partes após o julgamento do mérito deste agravo de instrumento."

Segundo a Operação 18 Minutos, entre setembro de 2015 e dezembro de 2016, enquanto exercia o cargo de corregedora-geral de Justiça do Maranhão, Nelma alterou o rumo de uma execução extrajudicial para que o caso fosse, deliberadamente, analisado pela juíza Alice Rocha, da 5.ª Vara Cível de São Luís.

A denúncia pontua que a ação 'foi realizada em razão de ajuste ilícito (solicitação/oferecimento de vantagem indevida) com os membros da organização criminosa'.

O caso teve início em 1983. Em 1997, o advogado Francisco Xavier - que havia trabalhado no Banco do Nordeste - ajuizou uma ação contra a instituição. Ele requereu o pagamento de valores referentes a uma suposta atuação sua em uma ação em nome da instituição. Em 2014, a título de acordo extrajudicial, Xavier e seus representantes do escritório Maranhão Advogados alegaram que ele tinha um saldo a receber do banco de R$ 12 milhões.

Em 2015, a 7ª Vara Cível do Termo Judiciário da capital maranhense identificou que o pedido do advogado induzia a erro, ao fazer uma atualização incorreta dos valores de cruzeiros para reais. Segundo o setor de contadoria, o saldo remanescente seria de R$ 51,9 mil.

Para tentar reverter a decisão, diz a Procuradoria, o grupo teria atuado com Nelma Sarney para afastar o juiz natural da causa, indicando a juíza Alice Rocha, que possibilitou a execução de valores inflados no processo.

Segundo a denúncia, Edilázio Júnior era sócio do escritório Maranhão Advogados e atuou com os advogados Felipe Ramos, filho de Francisco Xavier, e Carlos Luna para "negociar" com Nelma.

Ajuste de decisões

A Operação 18 Minutos identificou mensagens no celular de Zely Brown, assessora e chefe de gabinete de Nelma Sarney, "Fica evidente o recorrente ajuste de decisões entre a desembargadora e Edilázio Júnior."

Em uma ocasião, Zely 'mencionou expressamente' que recebeu um pedido de Edilázio para que Nelma concedesse efeito suspensivo em um recurso de apelação.

No dia 8 de junho de 2022, Zely escreveu. 'Segue decisão de reconsideração para a senhora analisar e autorizar a inserção no pje'

Nelma pergunta. 'de que?'

Zely. 'Empresa são benedito - pedido de edílázio para reconsiderar a concessão do efeito suspensivo antecipatório da apelação'.

Nelma. 'Ok'

A Procuradoria diz que a organização era formada por três núcleos - judicial, causídico e operacional. A função de Edilázio no esquema, descreve a acusação, foi a de representar os interesses dos magistrados supostamente corrompidos, fazendo a 'ponte' entre os núcleos judicial e causídico da organização criminosa.

"O denunciado, além de colaborar com os magistrados no recebimento das vantagens indevidas, agiu para ocultar e dissimular a origem criminosa dos valores, tendo se beneficiado do dinheiro."

Ainda segundo o Ministério Público Federal, para garantir o pagamento aos magistrados, foi orquestrado um esquema de lavagem de dinheiro, a partir do fracionamento de saques e transferências bancárias para contas de terceiros.

A Operação 18 Minutos foi desencadeada no dia 14 de agosto de 2024, por ordem do ministro João Otávio de Noronha, do STJ. A investigação recebeu esse nome porque 18 minutos foi o tempo entre a decisão judicial e um saque de R$ 14,1 milhões contra o Banco do Nordeste. Um outro saque foi de R$ 3,4 milhões.

'Líder'

A Procuradoria pede a condenação da desembargadora Nelma Sarney pelos crimes de corrupção passiva, lavagem de dinheiro e organização criminosa, com a qualificação de 'líder do grupo'.

A Edilázio, foram imputados os crimes de corrupção passiva, lavagem de dinheiro, organização criminosa e embaraço à investigação.

"As provas demonstram que os desembargadores e os advogados não negociaram somente as decisões narradas nos eventos 1 e 2 (alvarás contra o Banco do Nordeste), mas mantiveram um vínculo estável e permanente durante anos, inclusive com pagamentos de vantagens indevidas às autoridades para estabelecimento de uma relação de favorecimento recíproco e troca de vantagens indevidas, com vistas à perpetuação do esquema", afirma a subprocuradora-geral Luiza Cristina Frischeisen, que subscreve as 313 páginas da denúncia.

Estável e duradoura

A Operação 18 Minutos destaca que Nelma e Edilázio 'recorrentemente, negociaram juntos o recebimento de vantagens indevidas em troca de atos de ofício da desembargadora'.

A denúncia aponta que uma 'relação estável e duradoura para o recebimento de vantagens indevidas restou evidente pela ocorrência de reuniões presenciais' entre Nelma e advogados na casa de Edilázio. "Nos dias dos encontros ou nos dias anteriores, os advogados sacaram milhares de reais em operações fracionadas."

A PF reconstituiu datas de 'encontros presenciais' do grupo para pagamento de propinas por meio de dinheiro em espécie.

1) 6 de novembro de 2021, reunião entre o advogado Carlos Luna e Edilázio, na residência do genro de Nelma; nos dias 3 e 4, Luna e um outro advogado, José Helias Sekeff teriam feito 'saques fracionados'; 2) 5 de maio de 2022: jantar entre Nelma, José Helias Sekeff, Carlos Luna e Edilázio, na casa do genro. No mesmo dia e no dia anterior os advogados realizaram 'saques fracionados'.

Entre 2015 e 2023, crava a denúncia, Nelma Sarney 'recebeu centenas de depósitos de dinheiro em espécie, operações que foram fracionadas em valores baixos a fim de evitar comunicações ao COAF (unidade de inteligência financeira que mapeia operações atípicas)'.

'Holding familiar'

A desembargadora alegou em seu depoimento realizar transações com dinheiro em espécie 'por não ter familiaridade com operações por meios eletrônicos'. Segundo os investigadores, no entanto, ela possui uma holding familiar, 'complexo instrumento de planejamento financeiro e blindagem patrimonial', a Tresa Empreendimentos e Participações Ltda.

A denúncia de 313 páginas ressalta que Nelma, além de receber propinas por meio de dinheiro em espécie, 'pessoalmente e por meio de Edilázio', também recebeu transferências e pagamentos em favor de seus familiares, realizados por advogados e laranjas.

O rastreamento identificou que entre 7 de novembro de 2022 e 12 de junho de 2023, Carlos Luna 'pagou por volta de R$ 100 mil em boletos bancários cadastrados em nome de Edilázio Júnior e Alina Sarney (mulher de Edilázio e filha de Nelma).

"Ademais, José Helias Sekeff e Carlos Luna transferiram milhares de reais para Paulo Martins, assessor de Nelma Sarney no Tribunal de Justiça do Maranhão e ex-assessor de Edilázio Júnior na Câmara dos Deputados", diz a acusação.

COM A PALAVRA, O TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO MARANHÃO E OS DESEMBARGADORES

O Estadão pediu manifestação do Tribunal de Justiça do Maranhão. O espaço está aberto também a todos os denunciados pela Procuradoria-Geral da República mas, até a publicação deste texto, sem sucesso. (Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.; Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.)

COM A PALAVRA, OS ADVOGADOS

O Estadão busca contato com os advogados citados na denúncia do Ministério Público Federal como envolvidos no esquema instalado no Tribunal de Justiça do Maranhão mas, até a publicação deste texto, sem sucesso. O espaço está aberto.

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Um terremoto de magnitude 8,0 atingiu a península de Kamchatka, no leste da Rússia, na noite desta terça-feira, 29 (horário de Brasília, manhã de quarta em Moscou), informou o Serviço Geológico dos EUA (USGS). Há alerta de tsunami.

O epicentro foi no mar, a cerca de 100 quilômetros da costa Kamchatka. O terremoto foi superficial e forte o suficiente para causar ondas altas ou tsunamis.

A Península de Kamtchatka tem cerca de 1.250 km de extensão e fica entre o Oceano Pacífico e o Mar de Okhotsk. A região abriga pequenas comunidades e formações vulcânicas ativas e está sujeita a terremotos e atividade sísmica intensa.

Segundo a agência de notícias russa Ria Novosti, o governador Kamchatka, Vladimir Solodov, disse que esse foi o terremoto mais forte da região em décadas. Em Severo-Kurilsk, cidade da península, o prefeito ordenou a retirada de civis.

A península não tem uma densidade populacional alta. Até o momento, não há registro de feridos e mortos.

Bombas e mísseis balísticos atingiram uma prisão ucraniana e uma instalação médica durante a noite desta terça-feira, 29, enquanto os ataques implacáveis da Rússia em áreas civis mataram pelo menos 27 pessoas em todo o país. E tudo isso ocorre a despeito da ameaça do presidente dos EUA, Donald Trump, de punir em breve a Rússia com sanções e tarifas se continuar a guerra.

Quatro poderosas bombas planadoras russas atingiram uma prisão na região sudeste de Zaporizhzhia, na Ucrânia, disseram as autoridades. Elas mataram pelo menos 16 prisioneiros e feriram mais de 90 outros, informou o Ministério da Justiça da Ucrânia.

Na região de Dnipro, as autoridades alegaram que mísseis russos destruíram parcialmente um prédio de três andares e danificaram instalações médicas próximas, incluindo um hospital de maternidade e uma ala de hospital da cidade. Pelo menos três pessoas foram mortas, incluindo uma mulher grávida de 23 anos.

O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, disse que os ataques russos durante a noite atingiram 73 cidades, vilas e aldeias. "Estes foram ataques conscientes e deliberados - não acidentais", acrescentou ele no Telegram.

Trump disse nesta terça-feira que está dando ao presidente russo, Vladimir Putin, 10 dias para parar a matança na Ucrânia após três anos de guerra, antecipando um prazo de 50 dias que havia dado duas semanas atrás.

*Este conteúdo foi traduzido com o auxílio de ferramentas de Inteligência Artificial e revisado pela equipe editorial do Estadão/Broadcast. Saiba mais em nossa Política de IA.

Apesar das alegações do primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, de que não há fome extrema na Faixa de Gaza, a entrega atual de ajuda humanitária no território é insuficiente para conter a crise profunda de desnutrição, segundo cálculos do jornal israelense Haaretz.

A Fundação Humanitária de Gaza (GHF, na sigla em inglês), uma organização privada apoiada por Israel e Estados Unidos que tem se ocupado da distribuição de ajuda no território desde que Tel-Aviv impôs um bloqueio de entrada, divulgou esta semana que distribuiu mais de 85 milhões de refeições desde que começou as operações há mais de 50 dias.

O número, porém, está muito aquém do necessário para que os palestinos não passem fome. Segundo cálculos feitos pelo Haaretz, se há mais de 2 milhões de palestinos em Gaza atualmente que necessitam de ao menos três refeições por dia para não serem malnutridos, seriam necessárias 353 milhões de refeições neste período.

"Mesmo que, por algum milagre, os habitantes de Gaza tivessem conseguido dividir igualmente entre si os alimentos distribuídos pela organização, cozinhá-los e extrair todas as calorias e nutrientes que continham, isso ainda seria apenas uma pequena fração dos alimentos de que precisam para sobreviver. E essa lacuna revela apenas a ponta do iceberg da matemática da fome", escreve a publicação.

O jornal destaca também a limitação dos produtos fornecidos pela fundação. De acordo com a publicação, cada pacote de ajuda, em geral, contêm quatro quilos de farinha, três de macarrão, um pote de tahine, quatro quilos de grão-de-bico e lentilhas, uma garrafa de óleo, um quilo de sal e dois quilos de arroz. Alimentos que requerem cozimento.

"Mas isso é uma missão impossível em Gaza hoje, onde quase ninguém tem uma cozinha funcionando, ou mesmo gás para cozinhar", ressalta o jornal. "Além disso, há uma grave escassez de água limpa, que também é necessária para cozinhar esses alimentos. E isso sem mencionar o óbvio: as dificuldades de guardar e armazenar alimentos por alguns dias em meio a repetidos voos e deslocamentos."

Outro problema é logístico. A GHF concentra as distribuições em apenas quatro centros. Isso obriga os palestinos a se deslocarem até os locais, contrariando os padrões de distribuição humanitária que costuma ir até os necessitados. Segundo o Haaretz, esses locais funcionam por um período curto de tempo, geralmente 15 minutos, que é tempo que leva para os alimentos acabarem. Além disso, os horários não são definidos e avisados com antecedência, forçando as pessoas a esperarem.

Essa dinâmica cria uma situação perigosa nos centros de distribuição, com aglomeração de pessoas famintas, disputando pacotes limitados de ajuda. Testemunhas e profissionais de saúde afirmam que as forças israelenses mataram centenas de pessoas ao abrir fogo contra palestinos que tentavam chegar a esses centros de distribuição ou ao se aglomerarem ao redor dos caminhões de ajuda que chegavam. O Exército israelense afirma ter disparado tiros de advertência para dispersar as ameaças.

A investigação do jornal israelense também aponta que, os palestinos que conseguem sobreviver aos tumultos em frente aos centros de distribuição saem coletando os pacotes que consegue carregar, sem que haja uma distribuição igualitária - e que priorizasse grupos vulneráveis como crianças, mulheres e pessoas com alguma necessidade especial.

Em meio a isso, há relatos de quem esteja lucrando com os pacotes de ajuda que consegue coletar. Alguns homens que conseguem pegar alimentos - alguns deles mais caros como atum, queijo e óleo - vendem em locais distantes dos centros. Quanto mais longe da distribuição, mais caro.

Por fim, o jornal denuncia a falta de variedade nos alimentos distribuídos. Não há alimentos especializados para pessoas com doença celíaca, doença cardíaca ou doença renal. E, mais grave ainda, há uma grande escassez de fórmulas infantis.

Mortes por fome

Indo contra todos os relatórios internacionais e as imagens de bebês esqueléticos em Gaza, o premiê Netanyahu afirmou que ninguém em Gaza está passando fome: "Não há política de fome em Gaza, e não há fome em Gaza. Permitimos que a ajuda humanitária chegue a Gaza durante toda a guerra - caso contrário, não haveria moradores em Gaza."

Mas Netanyahu viu seu maior aliado, o presidente Donald Trump, discordar da afirmação, observando as imagens de pessoas famintas: "Essas crianças parecem estar com muita fome", disse.

Na segunda à noite, Netanyahu foi dúbio e emitiu um comunicado no qual reconheceu que a situação no território palestino é "difícil" e disse que Israel está trabalhando para aumentar o fluxo de ajuda humanitária em Gaza.

A Organização Mundial da Saúde informou no domingo, 27, que houve 63 mortes relacionadas à desnutrição em Gaza neste mês, incluindo 24 crianças menores de 5 anos - um aumento em relação ao total de 11 mortes nos seis meses anteriores do ano.

O Ministério da Saúde de Gaza, controlado pelo Hamas, eleva o número ainda mais, relatando 82 mortes neste mês por causas relacionadas à desnutrição: 24 crianças e 58 adultos. Na segunda-feira, o Ministério informou que 14 mortes foram registradas em 24 horas.

Após pressão internacional, Israel anunciou, no fim de semana, pausas diárias nos ataques aéreos e para permitir a entrada de ajuda estrangeira em Gaza. Mas a população local afirma que pouco ou nada mudou em campo. A ONU descreveu a medida como um aumento de uma semana na ajuda humanitária, e Israel não informou quanto tempo essas medidas durariam.

O Exército israelense afirma que mais de 95 mil caminhões de ajuda humanitária entraram em Gaza desde o início da guerra. Isso representa uma média de 146 caminhões por dia, bem abaixo dos 500 a 600 caminhões por dia que a ONU considera necessários.

Além disso, Israel também autorizou o envio de ajuda pelo ar, o que é um risco aos palestinos já que os produtos podem cair em cima das pessoas ou até se perderem no mar.

"Essa ajuda, entregue dessa forma, é um insulto ao povo palestino", disse Hasan Al-Zalaan, que estava no local de um lançamento aéreo enquanto alguns brigavam pelos suprimentos e latas amassadas de grão-de-bico que estavam espalhados pelo chão.

Israel afirma que o grupo terrorista Hamas é a razão pela qual a ajuda humanitária não chega aos palestinos em Gaza e acusa seus combatentes de desviarem ajuda para apoiar seu domínio no território. A ONU nega que o saque de ajuda humanitária seja sistemático e que diminua ou cesse completamente quando uma quantidade suficiente de ajuda é permitida entrar em Gaza.

A ONU diz que entregar a ajuda permitida em Gaza tem se tornado cada vez mais difícil. Quando ela chega, é deixada dentro da fronteira com Gaza, e a organização precisa obter permissão militar israelense para enviar caminhões para buscá-la. Mas a ONU afirma que os militares negaram ou impediram pouco mais da metade dos pedidos de movimentação de seus caminhões nos últimos três meses.

Se a ONU conseguir recolher a ajuda, multidões famintas e gangues armadas invadem os comboios e saqueiam suprimentos. A polícia civil comandada pelo Hamas já forneceu segurança em algumas rotas, mas isso parou depois que Israel os atacou com ataques aéreos.