O primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, sofreu um grande golpe político nesta quarta-feira, 16, quando mais um importante partido anunciou que estava saindo de sua coalizão, deixando-o com um governo de minoria no Parlamento enquanto o país enfrenta uma série de crises.
O partido ultraortodoxo Shas anunciou que deixará o governo após não conseguir avançar uma lei que buscava consolidar as amplas isenções no recrutamento militar para judeus ortodoxos. Este foi o segundo partido governista ultrarreligioso a sair da coalizão esta semana depois do Judaísmo Unido da Torá.
"Nesta situação atual, é impossível sentar com o governo e ser um parceiro dele", disse o ministro do gabinete do Shas, Michael Malkieli, ao anunciar a decisão do partido.
Mas o Shas disse que não iria minar a coalizão de Netanyahu e ainda poderia votar com ela em alguns projetos de lei, o que na prática, impede a queda do governo e a antecipação de eleições. Formalmente, no entanto, Netanyahu terá 50 assentos no Parlamento de 120 cadeiras. O rompimento entra em vigor na sexta-feira.
O líder da oposição, Yair Lapid, pediu ao primeiro-ministro para convocar eleições antecipadas, apesar da guerra na Faixa de Gaza. "Um governo minoritário não pode enviar soldados para o front", declarou Lapid em um vídeo. "É hora de organizar eleições", insistiu.
O partido governista Likud não comentou imediatamente sobre a saída do Shas. Este governo, formado em 2022, se mantém graças a uma aliança entre o Likud, de direita, formações de extrema direita e partidos judeus ultraortodoxos.
O anúncio do partido também ocorre pouco antes dos legisladores entrarem em recesso de verão, dando a Netanyahu vários meses de pouca ou nenhuma atividade legislativa.
A instabilidade política ocorre em um momento crucial para Israel, que está negociando com o Hamas os termos de uma proposta de cessar-fogo apoiada pelos EUA para a Faixa de Gaza. A decisão do Shas não deve descarrilar as negociações.
Mas com uma coalizão fragmentada, Netanyahu sentirá mais pressão para controlar seus aliados, especialmente a influente ala de extrema direita que se opõe ao término da guerra sem um fim completo do Hamas. Eles ameaçaram deixar o governo se isso acontecer.
Apesar de perder dois importantes parceiros políticos, Netanyahu ainda poderá seguir adiante com um acordo de cessar-fogo, uma vez que seja alcançado. A administração Trump tem pressionado Israel a encerrar a guerra.
Netanyahu, que enfrenta um julgamento por suposta corrupção, tem críticos que dizem que ele quer se manter no poder para poder usar seu cargo como um púlpito para mobilizar apoiadores e atacar promotores e juízes. Isso o torna ainda mais vulnerável aos caprichos dos aliados da coalizão.
Raízes da ruptura
O serviço militar é compulsório para a maioria dos israelenses judeus, e a questão das isenções há muito divide o país. Essas divisões se aprofundaram desde o início da guerra em Gaza, à medida que a demanda por mão de obra militar cresceu e centenas de soldados foram mortos.
Um acordo de décadas atrás, feito pelo primeiro-ministro de Israel David Ben-Gurion, concedeu a centenas de homens ultraortodoxos isenções do serviço israelense compulsório. Ao longo dos anos, essas isenções se transformaram em milhares.
Os ultraortodoxos dizem que seus homens estão servindo ao país ao estudar textos sagrados judaicos e preservar uma tradição histórica. Eles temem que o alistamento obrigatório dilua a conexão dos adeptos com a fé.
Mas a maioria dos israelenses judeus vê a isenção como injusta, assim como as generosas bolsas de governo concedidas a muitos homens ultraortodoxos que estudam em vez de trabalhar durante a vida adulta.
(Com agências internacionais)