Oposição articula contraponto à PEC da segurança do governo Lula em jantar com empresários

Política
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Enquanto o relator da PEC da Segurança Pública na Comissão de Constituição e Justiça na Câmara, Mendonça Filho (União-PE), desidratava a proposta, parlamentares da oposição se reuniam com empresários num jantar para debater sua própria aposta para o combate à criminalidade.

Na abertura do encontro, oferecido pela Frente Parlamentar Brasil Competitivo no Lago Sul de Brasília na noite da terça-feira, 8, deputados e senadores do PL pregaram mão pesada na área da segurança, criticaram a PEC elaborada pelo ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, e defenderam a aprovação do projeto de lei 2646/2025, que visa blindar os setores estratégicos da economia contra o avanço do crime organizado.

As falas iniciais ficaram a cargo de Carlos Portinho (PL-RJ), líder da sigla no Senado, Paulo Bilynskyj (PL-SP), presidente da Comissão de Segurança Pública na Câmara, Eduardo Pazuello (PL-RJ), Domingos Sávio (PL-MG) e Vitor Lippi (PSDB-SP), representando o deputado Júlio Lopes (PP-RJ), autor da proposta e que estava ausente.

A proposição defendida pelos oposicionistas prevê algumas medidas contra membros do crime organizado: o sequestro de bens e recursos financeiros de indiciados, que só poderiam pagar por advogados com patrimônio lícito; a prisão após condenação em segunda instância; aumento do prazo da audiência de custódia para três dias; aumento de penas para determinados crimes e alteração no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), o que permitiria reclusão de até seis anos para menores envolvidos com organizações criminosas.

Os autores da proposta também querem permitir o uso da Lei Rouanet para projetos de ressocialização; trabalho carcerário gerenciado por entidade privada; estabelecimento de um programa de monitoramento para participantes de facções e um cadastro nacional de organizações criminosas, com compartilhamento de informações sobre esses grupos e demais crimes em setores lícitos; entre outras medidas.

Os presentes manifestaram preocupação com o avanço de traficantes e milicianos em territórios do País, em especial no Rio de Janeiro, e fizeram sugestões ao texto. Em determinado momento, houve a defesa da instituição do chamado "juiz sem rosto" - prática de proteger a identidade de um juiz para evitar retaliação dos réus -, e de uma espécie de "lei de exceção" para criminosos.

"Uma contribuição, que pode ser polêmica, seria um bloqueio prévio de contas, recursos e patrimônio daquilo que é suspeito, antes do julgamento, e depois eles (investigados) podem retomar aquilo, desde que provem a origem lícita. Seria algo estranho numa democracia, mas nós estamos falando de uma lei de exceção, que é excepcional", recomendou Lippi.

Em seguida, Bilynskyj mencionou o conceito de "direito penal do inimigo", do jurista alemão Günther Jakobs, para sugerir a separação entre um direito penal para o cidadão, "cheio de garantias, direitos e processo penal", e outro para o inimigo, a quem ele definiu como terrorista.

"Vocês entendem por que o Lula não quer reconhecer organizações criminosas como terroristas? A partir do momento em que você fala que o cara não é só um traficante de drogas, (que ele) é um terrorista, a sociedade passa a enxergá-lo como um não cidadão. E a gente pode fazer certas coisas com ele que a gente não poderia fazer com um cidadão. Como é que El Salvador conseguiu resolver todos os problemas? Muito foi feito nessa toada: se o cara tem tatuagem de organização criminosa? Joga ele na jaula e depois a gente vê", declarou o deputado.

Bilynskyj se referia ao fato de o governo Lula ter rechaçado um pedido feito pela administração Trump para categorizar o Primeiro Comando da Capital (PCC) e o Comando Vermelho (CV), as duas maiores facções criminosas do País, como organizações terroristas. Os americanos alegaram que a legislação americana permitiria sanções mais pesadas contra PCC e CV se eles fossem enquadrados como terroristas pelo governo do Brasil. Já o Executivo brasileiro justificou é que o sistema legal nacional não considera facções criminosas como terrorismo, uma vez que a atuação desses grupos não atendem a uma causa ou ideologia, mas sim a busca por lucro de diversas atividades ilícitas.

Portinho foi um dos expressaram temor com a infiltração de criminosos no aparato estatal e citou casos de traficantes expulsando síndicos para dominar condomínios do programa Minha Casa Minha Vida. "Isso acontece no Brasil inteiro. A Polícia Federal tem conhecimento e não faz nada. Então não adianta o ministro Lewandowski querer concentrar mais poder na PF se ele não faz o que todo mundo sabe que acontece", disse.

Questionados pelo Estadão, os parlamentares se dividiram a respeito de como tratar a PEC da Segurança Pública, que começou a tramitar no Congresso após quase um ano de sua elaboração no Ministério da Justiça. Enquanto Bilynskyj quer barrar a proposta por inteiro e aprovar o projeto discutido no jantar, Lippi diz haver espaço para ambos serem aprovados. Mas todos foram unânimes em dizer que a PEC de Lewandowski não combate o avanço do crime como o texto de Júlio Lopes pretende fazer.

Representantes de companhias como Itaú, Betano, Grupo Ultra, Raízen, Bayer, Vivo e Nova Nordisk estiveram presentes e tiraram dúvidas com os parlamentares sobre o projeto. A Frente Brasil Competitivo entrou nesse debate, dizem seus membros, porque o crime organizado afeta cada vez mais os setores econômicos, como combustíveis, cigarro, bebidas, agronegócio, transporte público e provedores de internet. E a defesa do endurecimento de penas, do corte de financiamento de atividades ilícitas e do aumento do investimento no sistema penitenciário visaria combater a sonegação fiscal e o afastamento de investimentos, por exemplo.

Os deputados do PL defenderam "tratorar" - isto é, passar por cima ou dar célere andamento a uma matéria - na CCJ para garantir a rápida aprovação do texto. A ideia é nomear um relator que "se comprometa a manter o projeto íntegro" e levá-lo a votação em plenário no segundo semestre. Enquanto isso, bolsonaristas querem barrar a PEC de Lewandowski e impedir que o governo Lula ganhe capital político com a medida em ano de eleição.

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Aviões israelenses bombardearam a cidade síria de Sweida, no sul do país, em uma ofensiva militar nesta terça-feira, 15, contra tropas do governo da Síria que se deslocaram para a região após confrontos entre drusos e beduínos, dois grupos étnicos que ocupam territórios do país.

As forças sírias, comandadas hoje pelo grupo islâmico Hayat Tahrir al-Sham (HTS), que está no governo desde a queda do ditador Bashar Assad em dezembro, foram enviadas à cidade nesta segunda, 14, sob a justificativa de restaurar a estabilidade depois de dois dias de confrontos que deixaram cerca de 100 mortos.

A chegada desencadeou novos conflitos, desta vez entre os militares e milícias drusas. Segundo o Observatório Sírio para os Direitos Humanos, um grupo de monitoramento de guerra do Reino Unido, 21 pessoas foram mortas pelas forças do governo, incluindo 12 homens que estavam em uma casa de repouso. Também há relatos de roubos e incêndios de casas por parte dos militares.

Com o envio das tropas, Israel bombardeou comboios militares que estavam em direção e estacionados na região. "Estamos agindo para impedir que o regime sírio os prejudique (os drusos) e para garantir a desmilitarização da área adjacente à nossa fronteira com a Síria", declararam o primeiro-ministro israelense, Binyamin Netanyahu, e o ministro da Defesa, Israel Katz, em um comunicado conjunto.

A justificativa de apoio aos drusos, uma minoria étnico-religiosa que ocupa territórios em Israel, Líbano e Síria, segue uma aproximação entre comunidades drusas de Israel e da Síria, permitida pelo governo israelense após a queda de Assad. Desde que o governo sírio foi formado pelo HTS, eles mantêm uma autonomia de governo no sul do país - que pode ser ameaçada com o envio das tropas sírias.

O Ministério das Relações Exteriores da Síria disse que os ataques israelenses mataram "vários civis inocentes", bem como soldados, e os chamou de "um exemplo repreensível de agressão contínua e interferência externa" nas questões internas da Síria. A pasta acrescentou que o Estado sírio está comprometido em proteger os drusos, "que formam parte integrante da identidade nacional e do tecido social sírio unido".

Cessar-fogo anunciado

Os ataques de Israel contra a Síria aconteceram enquanto o governo sírio anunciou um cessar-fogo dos combates no sul do país. Apesar disso, os relatos de combate na região continuaram ao longo desta terça.

"Continuamos ouvindo tiros. Um dos meus amigos da zona oeste da cidade me contou que indivíduos desconhecidos entraram em sua casa, expulsaram seus familiares após confiscarem seus celulares e incendiaram a casa", afirmou um morador de Sweida, no centro da cidade, sob anonimato, à AFP.

No início desta terça-feira, líderes religiosos da comunidade drusa na Síria pediram às facções armadas drusas em combate com as tropas sírias que entreguem as armas e cooperem com as autoridades. Horas depois, no entanto, um dos líderes voltou atrás e acusou o governo de quebrar o acordo e atacar civis desarmados.

O presidente interino sírio, Ahmad al-Sharaa, disse em um comunicado que encarregou as autoridades sírias de "tomar medidas legais imediatas contra qualquer pessoa que comprovadamente tenha cometido uma transgressão ou abuso, independentemente de sua patente ou posição".

A violência ilustra os desafios enfrentados pelo governo interino de Al-Sharaa desde que ele assumiu o governo depois de derrubar o regime de Assad, após 14 anos de guerra. A HTS, organização que ele lidera, ocupava as áreas do norte da Síria e obteve o controle da capital, Damasco, e das áreas centrais em dezembro. O controle sobre o sul, onde os drusos estão, no entanto, é mais frágil.

Os beduínos, que entraram em combate com os drusos, são um grupo árabe nômade com maior identificação com o HTS, por também seguirem a vertente sunita do Islã.

Israel tem assumido uma postura agressiva em relação aos novos líderes sírios desde que assumiram o poder. O Exército israelense bombardeou infraestruturas militares do sul da Síria logo após o novo governo ser estabelecido e avançaram com tropas em uma zona-tampão patrulhada pela ONU no território sírio sob o pretexto de impedir o HTS de estar próximo à fronteira. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)

Uma mulher russa e suas duas filhas foram encontradas vivendo em uma caverna no meio de uma floresta na costa do sul do estado de Karnataka, na Índia. Segundo a CNN, a mulher foi identificada como Nina Kutina, de 40 anos. As autoridades suspeitam que a família vivia em cavernas há anos, diz a rede americana.

Nina e suas filhas, de quatro e seis anos, foram localizadas na última quarta-feira, 9 de julho, por inspetores que faziam a patrulha da região, área turística sujeita a deslizamentos de terra. A polícia afirmou que o visto da mãe expirou há oito anos.

De acordo com as autoridades locais, registros mostram que Nina chegou ao estado de Goa, na Índia, com um visto de negócios que expirou em abril de 2017. Ela deixou o país para o Nepal em setembro de 2018, antes de retornar à Índia. Antes de irem para a Índia em 2017, a família teria morado em quatro outros países, segundo o que Nina afirmou à polícia.

O superintendente da polícia local M Narayana afirmou que Nina estava "relutante em fornecer detalhes adequados sobre o passaporte e o visto dela e dos filhos", aponta a CNN. Narayana disse à rede americana que Nina não revelou se seus filhos nasceram na Índia ou na Rússia, mas ela disse às autoridades que tinha um filho que morreu em Goa.

Em uma entrevista à agência de notícias indiana ANI, Nina disse que tinha experiência em viver na natureza e que as filhas eram muito felizes na região. O jornal Times of India afirmou que as três estavam há quase duas semanas isoladas na caverna em que foram encontradas, mas que investigações preliminares apontam que elas levavam um estilo de vida nômade e recluso há alguns anos.

A CNN aponta que as autoridades estão tomando medidas para repatriar Nina e suas filhas, que não têm passaporte, para a Rússia. As três foram levadas para um centro de detenção próximo, específico para estrangeiros em situação irregular na Índia.

O secretário-geral da Otan, Mark Rutte, disse nesta terça-feira, 15, a senadores no Capitólio que as tarifas secundárias contra a Rússia anunciadas ontem pelo presidente americano, Donald Trump, podem afetar o Brasil, a Índia e a China. Membros do Brics, esses países têm ampliado as relações comerciais com Moscou em virtude das punições impostas por americanos e europeus desde a invasão da Ucrânia.

Na segunda-feira, 14, Trump deu um ultimato à Rússia depois de meses fazendo concessões a Vladimir Putin na tentativa de obter um acordo de paz na Ucrânia: ou Moscou negocia um cessar-fogo com a Ucrânia em até 50 dias, ou será alvo de novas e duras sanções econômicas.

Trump ameaçou taxas de 100% às importações russas, mas os EUA compram cerca de 3% do que Moscou vende ao exterior. Mas o presidente prometeu também aplicar tarifas secundárias, que puniriam o setor energético da Rússia e seus clientes. É nessa categoria que entram os países do Brics, como Rutte deixou claro na reunião no Senado.

"O que aconteceu ontem foi importante. O presidente Trump disse basicamente que, se a Rússia não levar a sério as negociações de paz, em 50 dias ele imporá sanções secundárias a países como Índia, China e Brasil", disse Rutte, que também foi primeiro-ministro da Holanda até o ano passado, de acordo com o Guardian.

"Meu incentivo a esses três países é... vocês talvez queiram dar uma olhada nisso, porque isso pode afetá-los muito. Por favor, liguem para [o presidente russo] Vladimir Putin e digam a ele que ele precisa levar a sério as negociações de paz", completou.

A ameaça de sanções secundárias dos EUA e da Otan aos sócios-fundadores do Brics ocorre num momento de antagonismo cada vez maior entre o bloco e o Ocidente.

Durante a cúpula do Rio de Janeiro, na semana passada, após o Brics ter concordado em aumentar o volume de comércio entre os membros sem o uso do dólar e buscar mecanismos de pagamento fora do sistema Swift, que é controlado pelos, EUA, Trump ameaçou o grupo com sanções.

Também na semana passada, o republicano ameaçou o Brasil com tarifas de 50% caso o País não anulasse o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro, acusado hoje pela Procuradoria-Geral da República dos crimes de golpe de Estado, deposição violenta do Estado de direito, liderança de organização criminosa armada, deterioração de patrimônio tombado e dano qualificado.

Bolsonaro e seus filhos são aliados próximos do trumpismo, mas nesta terça, o presidente americano disse o brasileiro "não é seu amigo, apenas um conhecido".

Em meio ao aumento da pressão sobre a Rússia, Rutte disse também que a Europa encontraria o dinheiro para garantir que a Ucrânia estivesse na melhor posição possível nas negociações de paz.

Segundo ele, os EUA agora forneceriam "massivamente" armas à Ucrânia, "não apenas defesa aérea, mas também mísseis e munições pagas pelos europeus".

Questionado se mísseis de longo alcance para a Ucrânia estavam em discussão, Rutte disse: "É tanto defensivo quanto ofensivo. Portanto, há todos os tipos de armas, mas não discutimos em detalhes ontem com o presidente. Isso está realmente sendo trabalhado agora pelo Pentágono, pelo Comandante Supremo Aliado na Europa, juntamente com os ucranianos".

(Com agências internacionais)