Justiça põe fim a ações do cartel da merenda e inocenta ex-prefeito de Vinhedo

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A Justiça Federal inocentou o ex-prefeito Jaime César da Cruz (Vinhedo, interior de São Paulo) da acusação de envolvimento com um cartel da merenda escolar que teria operado em diversos municípios entre 2011 e 2013 com desvio de recursos públicos federais do PNAE (Programa Nacional de Alimentação Escolar).

São definitivas as decisões judiciais relativas ao caso. Processos da 2ª e 9ª Varas Federais de Campinas chegaram ao fim em fevereiro e o trânsito em julgado foi declarado nos dias 26 e 27 de junho passado.

Foi uma longa espera, nove anos de angústia para Jaime, até que a Justiça concluiu as ações de caráter criminal e civil (improbidade) e reconheceu a inexistência de fraude, dolo ou prejuízo aos cofres públicos por parte do ex-prefeito.

"Minha consciência esteve em paz desde o início", disse Jaime ao Estadão. "Agi com honestidade, responsabilidade e compromisso com o bem público. A verdade prevaleceu."

Ele considera que a decisão 'ratifica sua conduta responsável à frente do serviço público'.

Formado em Filosofia, Jaime foi prefeito até 2020 - ele tinha sido reeleito. No ano passado não disputou o pleito. Atualmente, ocupa o cargo de secretário-adjunto de Educação de Monte Mor, região de Campinas.

Na época dos fatos citados nas ações de que se tornou alvo, Jaime exercia o cargo de secretário municipal de Educação em Vinhedo, acumulado com o posto de vice-prefeito. A Procuradoria o acusou de ligação com suposto esquema de fraudes e superfaturamento no fornecimento de alimentação escolar.

Ele assumiu a cadeira de prefeito em abril de 2014, quando o titular foi condenado a 32 anos de prisão acusado de favorecimento a empresários, mediante propinas, na concessão de loteamentos de áreas da cidade.

Em 2016, a Procuradoria sustentou a acusação em relatórios preliminares da Controladoria-Geral da União (CGU), que depois foram considerados improcedentes pelo Tribunal de Contas da União (TCU).

Em decisão técnica, o TCU concluiu que não houve superfaturamento, fraude ou conluio entre os licitantes da merenda e julgou regulares os contratos firmados pela administração municipal.

A sentença da 9ª Vara Federal de Campinas foi categórica ao afirmar que os fatos imputados ao ex-prefeito não constituíram infração penal. Já nas ações de improbidade administrativa, os pedidos da Procuradoria foram julgados improcedentes, reconhecendo a ausência de dolo, enriquecimento ilícito ou dano ao patrimônio público.

A defesa de Jaime destacou que 'a absolvição com trânsito em julgado significa que não há mais possibilidade de recurso por parte do Ministério Público estadual ou da União, consolidando o desfecho favorável ao ex-prefeito com base em provas técnicas reavaliadas pelas instituições de controle'.

A ação sobre o cartel da merenda teve origem em uma auditoria da Controladoria-Geral da União e em denúncia que chegou ao Ministério Público Federal via três vereadores, ao final de 2013.

Segundo a denúncia, o conluio de empresas do setor operou por três anos seguidos, entre 2011 e 2013, desviando recursos federais.

O superfaturamento em alguns produtos da merenda, apontou preliminarmente a auditoria, teria chegado à marca de 411,68%, causando 'prejuízo potencial mínimo' de R$ 8,78 milhões para os cofres públicos. Além de Jaime, a Procuradoria acusou 19 outros investigados por cartelização da merenda escolar, entre eles um grupo de 15 empresários.

"A ação pretende a condenação dos réus pela prática de atos de improbidade administrativa, decorrentes da cartelização e do superfaturamento na aquisição de produtos destinados à alimentação de alunos da rede municipal de ensino, no município de Vinhedo", requereu a Procuradoria, à época.

"Após anos de apuração técnica, análise judicial criteriosa e reexame por órgãos como o Tribunal de Contas da União, a Justiça reconheceu de forma definitiva e com trânsito em julgado a minha absolvição total nas ações civil e penal", anota Jaime Cruz.

Ele enfatiza. "As sentenças deixaram claro inexistência de dolo, fraude ou conluio, ausência de dano ao erário público, legalidade da execução contratual, inclusive com aprovação de contas pelo TCU, e, principalmente, a atipicidade penal dos fatos narrados pela acusação."

A sentença da ação de improbidade pontua que os acusados, entre eles Jaime Cruz, não agiram com dolo e firmaram aditivos de prorrogações de prazos e valores 'com respaldo nos pareceres jurídicos à época exarados no respectivo processo administrativo'.

"Releva consignar sobre a emissão de pareceres, que a divergência na interpretação da norma não configura ato de improbidade, porque não se faz presente o dolo específico", assinalou o juiz federal José Luiz Paludetto. "Portanto, não há falar que o contrato fora aditado injustificadamente, porque os réus se pautaram nos pareceres jurídicos, não havendo elementos indicando dolo em decorrência de tais condutas."

Os relatórios iniciais da CGU que embasaram a instauração do inquérito civil que instruiu a ação da Procuradoria visando provar o superfaturamento, 'restaram superados em vista de entendimento recente proferido pelo Tribunal de Contas da União'.

No curso da ação por improbidade, segundo a sentença, não ficou demonstrado o superfaturamento na aquisição dos produtos alimentícios realizada com recursos do PNAE.

A sentença concluiu que 'não há elementos de convicção capazes de fundamentar a imputação de responsabilidade, vez que a falta de dever de cuidado objetivo, no caso concreto, pode ter violado orientações de boas práticas administrativas, mas não configurou, a rigor, a ocorrência de erro grosseiro, nos termos do artigo 28 da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro (Lindb), de maneira a justificar a aplicação de sanções aos responsáveis'.

"Nesse contexto, resta comprovado nos autos que os relatórios iniciais emitidos pela CGU, que embasaram o inquérito civil e instruíram a presente ação, não prevaleceram, tanto que houve determinação visando a reavaliação do que fora inicialmente apurado, e, por fim, o julgamento resultado na aprovação das contas, do que se extrai a ausência de dolo específico nas condutas praticadas por todos os requeridos quando da formalização dos aditivos ao contrato em questão", anotou Paludetto.

Ainda de acordo com a Justiça. "Não restou demonstrado que os requeridos dolosamente favoreceram o enriquecimento ilícito da empresa e, no mais, eventuais falhas e irregularidades se constatadas referem-se ao campo da culpa, que sequer são analisadas neste feito, porque, frise-se, não são passíveis de condenação por ato de improbidade administrativa, à luz da nova legislação aplicável à presente ação de improbidade (Lei 14.230/2021) e, em consonância com o decidido pelo Supremo Tribunal Federal."

"Vale frisar que à luz da nova legislação, não há elementos probatórios mínimos que demonstrem dolo por parte desses requeridos, com o fim de causar dano ao patrimônio público, nem que se enriqueceram ilicitamente em decorrência dos aditivos ao contrato original firmados pela empresa requerida vencedora contratante."

Segundo o juiz, 'não há elementos nos autos que demonstrem que a empresa concorreu dolosamente para os alegados atos de improbidade elencados pela parte autora (Procuradoria)'. "Logo, reconhecida ausência de dolo, a hipótese é de rejeição da imputação de improbidade dirigidas aos requeridos tanto os agentes públicos como a empresa contratante."

COM A PALAVRA, O ADVOGADO FLÁVIO HENRIQUE COSTA PEREIRA, QUE REPRESENTA JAIME CRUZ

Ao Estadão, o advogado Flávio Henrique Costa Pereira, que representa o ex-prefeito Jaime Cruz, declarou que a acusação não tinha sustentação.

"A absolvição do ex-prefeito Jaime Cruz e os demais acusados, tanto em ação penal, como em ações de improbidade administrativa, revela que a já longínqua acusação de cartel da merenda em Vinhedo nunca se sustentou. Foi um erro grave que manchou nomes de quem se preocupou com a qualidade e presteza na alimentação escolar", disse Flávio Pereira.

"Felizmente fez-se justiça e a honra de Jaime Cruz restabelecida", ressalta o advogado.

Ele disse que a defesa não pretende promover ação de indenização contra a União. "Compreendemos que o exercício do direito de ação pelo Ministério Público, embora sem a necessária investigação cuidadosa, foi praticado nos moldes previstos na Constituição Federal e legislação de regência."

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O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, assinou nesta quarta-feira, 16, uma lei que endurece o combate ao tráfico de fentanil no país. O republicano ainda reiterou que pretende impor uma tarifa de 20% sobre produtos da China devido ao papel do país na cadeia global de produção do fentanil.

A 'HALT Fentanyl Act', como foi batizada, é uma das principais bandeiras do segundo mandato de Trump à frente da Casa Branca. O fluxo ilícito de fentanil, inclusive, é um dos motivos explicitados em suas ameaças tarifárias contra o Canadá, o México e a China.

Ao assinar a nova legislação, Trump voltou a responsabilizar o ex-presidente Joe Biden pela crise nas fronteiras. "Biden entregou nossas fronteiras aos traficantes mais perversos e cruéis, permitindo que cartéis estrangeiros cravassem uma presença maciça em solo americano", afirmou. A nova lei prevê penas mais duras para o tráfico da substância e amplia o poder das autoridades para coibir o fluxo ilegal.

"Hoje damos um golpe justo contra os traficantes de drogas, narcotraficantes e cartéis criminosos", declarou Trump. "Estamos dando um passo histórico rumo à justiça para cada família tocada pela praga do fentanil."

A Casa Branca deve divulgar mais detalhes sobre a lei em breve.

O primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, sofreu um grande golpe político nesta quarta-feira, 16, quando mais um importante partido anunciou que estava saindo de sua coalizão, deixando-o com um governo de minoria no Parlamento enquanto o país enfrenta uma série de crises.

O partido ultraortodoxo Shas anunciou que deixará o governo após não conseguir avançar uma lei que buscava consolidar as amplas isenções no recrutamento militar para judeus ortodoxos. Este foi o segundo partido governista ultrarreligioso a sair da coalizão esta semana depois do Judaísmo Unido da Torá.

"Nesta situação atual, é impossível sentar com o governo e ser um parceiro dele", disse o ministro do gabinete do Shas, Michael Malkieli, ao anunciar a decisão do partido.

Mas o Shas disse que não iria minar a coalizão de Netanyahu e ainda poderia votar com ela em alguns projetos de lei, o que na prática, impede a queda do governo e a antecipação de eleições. Formalmente, no entanto, Netanyahu terá 50 assentos no Parlamento de 120 cadeiras. O rompimento entra em vigor na sexta-feira.

O líder da oposição, Yair Lapid, pediu ao primeiro-ministro para convocar eleições antecipadas, apesar da guerra na Faixa de Gaza. "Um governo minoritário não pode enviar soldados para o front", declarou Lapid em um vídeo. "É hora de organizar eleições", insistiu.

O partido governista Likud não comentou imediatamente sobre a saída do Shas. Este governo, formado em 2022, se mantém graças a uma aliança entre o Likud, de direita, formações de extrema direita e partidos judeus ultraortodoxos.

O anúncio do partido também ocorre pouco antes dos legisladores entrarem em recesso de verão, dando a Netanyahu vários meses de pouca ou nenhuma atividade legislativa.

A instabilidade política ocorre em um momento crucial para Israel, que está negociando com o Hamas os termos de uma proposta de cessar-fogo apoiada pelos EUA para a Faixa de Gaza. A decisão do Shas não deve descarrilar as negociações.

Mas com uma coalizão fragmentada, Netanyahu sentirá mais pressão para controlar seus aliados, especialmente a influente ala de extrema direita que se opõe ao término da guerra sem um fim completo do Hamas. Eles ameaçaram deixar o governo se isso acontecer.

Apesar de perder dois importantes parceiros políticos, Netanyahu ainda poderá seguir adiante com um acordo de cessar-fogo, uma vez que seja alcançado. A administração Trump tem pressionado Israel a encerrar a guerra.

Netanyahu, que enfrenta um julgamento por suposta corrupção, tem críticos que dizem que ele quer se manter no poder para poder usar seu cargo como um púlpito para mobilizar apoiadores e atacar promotores e juízes. Isso o torna ainda mais vulnerável aos caprichos dos aliados da coalizão.

Raízes da ruptura

O serviço militar é compulsório para a maioria dos israelenses judeus, e a questão das isenções há muito divide o país. Essas divisões se aprofundaram desde o início da guerra em Gaza, à medida que a demanda por mão de obra militar cresceu e centenas de soldados foram mortos.

Um acordo de décadas atrás, feito pelo primeiro-ministro de Israel David Ben-Gurion, concedeu a centenas de homens ultraortodoxos isenções do serviço israelense compulsório. Ao longo dos anos, essas isenções se transformaram em milhares.

Os ultraortodoxos dizem que seus homens estão servindo ao país ao estudar textos sagrados judaicos e preservar uma tradição histórica. Eles temem que o alistamento obrigatório dilua a conexão dos adeptos com a fé.

Mas a maioria dos israelenses judeus vê a isenção como injusta, assim como as generosas bolsas de governo concedidas a muitos homens ultraortodoxos que estudam em vez de trabalhar durante a vida adulta.

(Com agências internacionais)

Sob pressão de parte da sua base de apoio por não divulgar detalhes da investigação federal sobre os crimes do financista Jeffrey Epstein, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, se voltou contra seus próprios partidários nesta quarta-feira, 16, em post em sua rede social Truth Social. Amigo de Trump, Epstein teria cometido suicídio na cadeia em 2019 quando cumpria pena por pedofilia e tráfico sexual.

"O novo GOLPE deles é o que chamaremos para sempre de Farsa Jeffrey Epstein, e meus EX-apoiadores compraram essa 'besteira', de cabo a rabo," escreveu o presidente. "Eles não aprenderam a lição e provavelmente nunca aprenderão, mesmo depois de serem enganados pela Esquerda Lunática por 8 longos anos."

"Deixem esses fracos seguir em frente e fazer o trabalho dos Democratas, nem pensem em falar do nosso incrível e sem precedentes sucesso, porque eu não quero mais o apoio deles! Obrigado pela atenção a este assunto," acrescentou.

A retórica marca uma escalada para o presidente republicano, que já rompeu com alguns de seus apoiadores mais leais no passado, mas nunca com tanto fervor.

Na semana passada, o Departamento de Justiça e o FBI afirmaram que Epstein não mantinha uma "lista de clientes" para quem menores de idade eram traficadas, e disseram que nenhum arquivo a mais relacionado à investigação seria tornado público, apesar das promessas anteriores da Procuradora-Geral Pam Bondi que haviam elevado as expectativas de influenciadores conservadores e teóricos da conspiração.

Bondi havia sugerido em fevereiro que tal documento estava sobre sua mesa aguardando revisão. Na semana passada, no entanto, ela disse que estava se referindo de modo geral ao arquivo do caso Epstein, e não a uma lista de clientes.

"É um novo governo e tudo vai ser revelado ao público," ela tinha dito em um ponto.

Desde então, Trump defendeu Bondi e repreendeu um repórter por perguntar sobre os documentos. "Eu não entendo qual é o interesse ou o que é fascinante," disse ele na terça-feira, 15.

A virada ocorre depois de Trump e muitas figuras de sua administração, incluindo o Diretor do FBI, Kash Patel, e seu adjunto, Dan Bongino, terem passado anos alimentando teorias da conspiração obscuras e refutadas.

Os comentários de Trump até agora não foram suficientes para aquietar aqueles que ainda estão exigindo respostas. "Para que isso pare, você vai perder 10%" do movimento 'Make America Great Again'", disse o ex-assessor Steve Bannon durante um encontro de jovens conservadores recentemente.

O comentarista de extrema direita Jack Posobiec disse que não descansará "até fazermos uma comissão completa [semelhante à] de 6 de janeiro nos arquivos de Jeffrey Epstein", se referindo ao comitê no Congresso americano que investigou a fundo os responsáveis pelo ataque ao Capitólio em 2021.

O presidente da Câmara, o republicano Mike Johnson, pediu ao Departamento de Justiça que "exponha tudo e deixe o povo decidir".

"A Casa Branca e a equipe da Casa Branca têm acesso a fatos que eu desconheço. Esse não é o meu campo. Eu não estive envolvido nisso, mas concordo com o sentimento de colocar tudo em aberto," Johnson disse ao podcaster conservador Benny Johnson.