'Você tem mais cara de passista'; 93% de secretárias de governos citam violência psicológica

Política
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Situações de assédio e importunação sexual, como aquelas relatadas pela ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco - que denunciou o ex-ministro Silvio Almeida (Direitos Humanos, governo Lula), são uma realidade para muitas outras mulheres em cargos de comando na administração pública. Pela primeira vez, secretárias estaduais e municipais foram ouvidas sobre o tema. 93% relataram ter sofrido violência psicológica, 43% disseram ter sido vítimas de violência de gênero e 33% vivenciaram algum tipo de violência sexual no exercício da função.

Os resultados fazem parte do Censo das Secretárias: mapeamento com primeiro escalão dos governos subnacionais. Pesquisadores ouviram mulheres que exerceram cargos no primeiro escalão das prefeituras das 26 capitais e dos 27 governos estaduais entre novembro de 2023 e março de 2024.

O objetivo foi investigar como a violência de gênero se manifesta no cotidiano do Poder Executivo a nível local. Muitas vezes, assumir secretarias estratégicas em prefeituras ou governos estaduais funciona como uma porta de entrada para mulheres se lançarem na carreira política.

"As diferentes formas de assédio e violência política contra as mulheres constrangem sua participação nos espaços de poder, sendo urgente desnaturalizar sua ocorrência para combatê-la", afirmam os responsáveis pelo levantamento em nota técnica. As organizações Instituto Aleias, Instituto Alziras, Instituto Foz e Travessia Políticas Públicas estão à frente da iniciativa.

A pesquisa foi construída a partir de questionários e entrevistas por videoconferência. As respostas foram organizadas com base na tipificação das formas de violência contra a mulher definidas na Lei Maria da Penha - psicológica, física e sexual. Em praticamente todas as categorias analisadas houve maior incidência de agressões contra mulheres negras.

Colegas de trabalho (65%) e correligionários em partidos políticos (41%) despontam como os principais agressores, aponta o levantamento.

Outro dado chamou a atenção dos pesquisadores: quase metade das secretárias (48%) decidiu não denunciar os episódios de violência.

O estudo reúne relatos de secretárias municipais e estaduais. Todas tiveram a identidade preservada para evitar retaliações. Leia abaixo trechos dos depoimentos:

- Na semana passada, tivemos uma reunião aqui e a pessoa, no Dia da Mulher, foi dar uma palavra na sala, era um homem advogado com OAB e tudo, e o cara simplesmente disse assim: 'Eu respeito as mulheres que estão em situação de destaque, mas acho que o papel da mulher é em casa cuidando dos filhos'. Isso é um homem falando no Dia Internacional da Mulher."

- "Já ouvi isso: 'Você tem mais cara de passista do que de secretária'. Também já ouvi isso várias vezes: 'Você é a mulata que todo mundo quer na política, né?'"

- "Eu tive uma situação com um secretário. Fui chamar a atenção dele, ele me trancou na sala, fechou a porta e apagou a luz. Eu fiquei em uma sala trancada."

- "Eles não parecem perceber que estão assediando, é como se fosse um comportamento normal. E eu percebo muitas sutilezas em alguns comportamentos que ainda não são fáceis de confrontar e tratar."

- "Infelizmente, o Brasil ainda não criou um ambiente saudável para a gente fazer isso, porque quando a mulher na política denuncia, ela é retirada do cenário político, ponto."

A partir dos dados, os pesquisadores criaram uma lista de recomendações para combater a violência de gênero no alto escalão da administração pública. A criação de mecanismos legais contra a violência política de gênero e a promoção de gabinetes paritários estão entre as sugestões.

"Reconhecer formalmente a dimensão política da atuação das secretárias municipais e estaduais é essencial para tratar as violências que enfrentam como um problema coletivo, que impacta não apenas suas trajetórias individuais, mas também a qualidade da representação feminina na política", defendem os pesquisadores no documento.

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O ministro federal da Informação do Paquistão, Attaullah Tarar, afirmou nesta quarta-feira (horário local), 7, que o país retaliou os recentes ataques da Índia e que três jatos e um drone indiano foram abatidos.

"A Índia realizou ataques covardes contra civis inocentes e mesquitas no Paquistão, desafiando a honra e o orgulho dessa nação. Agora, estejam preparados. Esta nação responsabilizará o inimigo por cada gota de sangue de seus mártires. As Forças Armadas estão dando uma resposta esmagadora, exatamente de acordo com os sentimentos do povo. A nação inteira está unida em orações e solidariedade aos nossos bravos oficiais e soldados", escreveu Tarar na rede X.

O primeiro-ministro paquistanês, Shehbaz Sharif, condenou os ataques aéreos da Índia e disse o país "tem todo o direito de dar uma resposta firme" ao "ato de guerra imposto pela Índia".

*Com informações da Associated Press

A Índia anunciou nesta terça-feira, 6, o lançamento de mísseis contra nove alvos no Paquistão e na região da Caxemira após dias de tensões entre os dois países. As autoridades paquistanesas informaram que duas pessoas ficaram feridas e uma criança morreu.

O ataque escala as tensões entre os países vizinhos, que possuem armas nucleares.

As autoridades indianas informaram que os ataques foram direcionados contra "infraestruturas terroristas", em resposta ao ataque no território da Caxemira controlado pela Índia, que deixou 26 turistas hindus mortos no mês passado. O Paquistão prometeu retaliar.

A Índia culpa o Paquistão por apoiar grupos separatistas da Caxemira, uma região que é ocupada por Índia, Paquistão e China. Islamabad nega apoiar esses grupos.

Segundo o Ministério da Defesa da Índia, o ataque não teve nenhuma instalação militar do Paquistão como alvo. "Nossas ações foram focadas, comedidas e de natureza não escalonada", diz um comunicado. "A Índia demonstrou considerável contenção na seleção de alvos e no método de execução."

Os mísseis atingiram locais na Caxemira paquistanesa e na província de Punjab, no leste do país, de acordo com três autoridades de segurança paquistanesas. Um deles atingiu uma mesquita na cidade de Bahawalpur, em Punjab, e matou uma criança, além de deixar dois feridos.

Entenda as tensões atuais

No dia 22 de abril, um grupo armado atacou turistas na cidade de Pahalgam, na parte indiana da região, matando 25 indianos e 1 nepalês. O Paquistão negou envolvimento com o ataque, reivindicado por um grupo terrorista islâmico pouco conhecido chamado Frente de Resistência - que tinha hindus como alvo. A Índia acusa Islamabad de armar e abrigar o grupo. O Ministério da Defesa do Paquistão sugeriu que o ataque foi uma "operação de false flag".

No dia seguinte ao atentado, Nova Délhi expulsou diplomatas, suspendeu vistos e fechou fronteiras terrestres com o Paquistão. Islamabad respondeu suspendendo acordos bilaterais, fechando fronteira e espaço aéreo a companhias indianas, e impondo sanções comerciais.

Desde 24 de abril há registros de trocas diárias de tiros na Caxemira e ambos os exércitos estão em alerta máximo. Apesar dos arsenais nucleares, a tendência é que nenhum lado acione armas atômicas a menos que esteja encurralado. Mas mesmo confrontos convencionais poderiam ser devastadores.

Nos últimos dias, a Índia também suspendeu o Tratado das Águas do Indo, assinado em 1960, que garante o acesso do Paquistão ao rio Indo, responsável por 90% de sua irrigação. Em resposta, Islamabad afirmou que se a Índia reduzir a quantidade de água que lhe é atribuída, isso seria considerado um ato de guerra. (COM INFORMAÇÕES DA AP)

O primeiro-ministro do Canadá, Mark Carney, afirmou ter tido uma "conversa muito construtiva" com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, após um encontro na Casa Branca nesta terça-feira, 6. Segundo Carney, o diálogo marcou o "começo do fim de um processo de redefinição da relação Canadá-EUA". O dirigente seguiu categórico ao rejeitar qualquer possibilidade de anexação do país ao vizinho.

"Canadá não está e nunca estará à venda", reiterou em entrevista coletiva, repetindo declaração anterior, em resposta a comentários de Trump sobre o país, eventualmente, se tornar o "51º estado americano". O premiê disse ter sido "muito claro" com o americano quanto à sua posição: "Fui muito claro com Trump que negociações serão feitas como dois países soberanos", afirmou. "É preciso separar o desejo da realidade. Pedi que ele parasse de falar sobre o Canadá se tornar o 51º estado dos EUA. É neste ponto que começa uma discussão séria", completou.

Ao comentar as tensões comerciais entre os dois países, Carney avaliou que "estabelecemos uma boa base hoje" para o avanço das conversas, mas reconheceu que "não tivemos decisões sobre tarifas". Ele ressaltou a complexidade do tema: "A discussão tarifária com os EUA é muito complexa. Estamos abordando uma grande quantidade de questões, por isso o progresso não será necessariamente evidente durante as negociações, mesmo que estejamos progredindo".

Ainda assim, o primeiro-ministro demonstrou otimismo. "Queremos seguir adiante com negociações comerciais com os americanos" e "veremos quanto tempo vai levar até os EUA tirarem as tarifas sobre o Canadá". Carney adiantou que ele e Trump concordaram em manter novas rodadas de diálogo nas próximas semanas, inclusive durante o encontro do G7.

Ao fim da reunião, o premiê destacou que "a postura de Trump e o quão concretas foram as discussões me fazem me sentir melhor". Apesar disso, reconheceu que "ainda temos muito trabalho pela frente e estamos totalmente empenhados". Por fim, assegurou ao republicano que "nossas medidas contra a entrada de fentanil nos EUA estão funcionando".