França: boca de urna indica esquerda na frente no 2º turno da disputa pelo Parlamento

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Em reviravolta, a coalizão de esquerda radical Nova Frente Popular sai vitoriosa no segundo turno das eleições legislativas deste domingo, 7, segundo a boca de urna. A aliança pode chegar a 215 assentos na Assembleia Nacional, derrotando o partido de Marine Le Pen, Reagrupamento Nacional, que era considerado favorito após a vitória no primeiro turno, mas sem maioria absoluta, o que aumenta a incerteza sobre o futuro da França.

O NFP obteria entre 172 e 215 dos 577 assentos da Assembleia Nacional (câmara baixa), seguido pela aliança governista com 150 a 180, e o partido da direita racional Reunião Nacional (RN) e seus aliados com 115 a 155, segundo quatro projeções diferentes.

Diante do resultado, o primeiro-ministro, Gabriel Attal, aliado de Emmanuel Macron, anunciou que apresentará sua renúncia ao presidente na segunda-feira. Ele destacou, no entanto, que continuará no cargo "enquanto o dever assim exigir", especialmente porque nenhum bloco político conseguiu a maioria absoluta.

Em nota, o Eliseu afirma que Macron vai esperar para tomar decisões sobre o novo governo e garante que a "escolha soberana do povo francês será respeitada".

O líder da esquerda radical Jean-Luc Mélenchon, do França Insubmissa, disse que os resultados são um "imenso alívio para a maioria das pessoas em nosso país". Ele é o mais proeminente dos líderes de esquerda que se uniram inesperadamente antes das eleições de dois turnos para evitar a vitória da direita radical.

"A derrota do presidente da República e de sua coalizão está claramente confirmada. O presidente deve se curvar e admitir essa derrota sem tentar contorná-la", disse Mélenchon. "O primeiro-ministro deve sair", defendeu ele, acrescentando que o presidente tem o dever de convocar a Nova Frente Popular para formar governo.

O discurso é um indicador da incerteza que está por vir. Mélenchon disse que não negocia com Emmanuel Macron e que o presidente de centro se recusou a negociar com ele. Como nenhum dos blocos políticos deve chegar a maioria absoluta de 289 assentos na Assembleia Nacional, não está claro quem será o primeiro-ministro da França.

A eleição deste domingo, 7, foi marcada pelo forte comparecimento de franceses às urnas. A participação era de 59,7% até às 17h (horário local) e pode chegar a 67%, apontam as estimativas.

"A França rejeitou o governo da extrema direita", disse Mujtaba Rahman, diretor do Eurasia Group para Europa. "As primeiras projeções sugerem que a Frente Republicana teve um desempenho muito melhor do que o esperado - não apenas impedindo a vitória de [Marine] Le Pen, mas também relegando-a ao terceiro lugar."

Os quase 50 milhões de eleitores tiveram que escolher entre a direita radical e a "frente republicana", a aliança entre os centristas liderados por Emmanuel Macron e a esquerda para impedir que o Reunião Nacional conquistasse maioria absoluta. O partido da direita radical saiu na frente no primeiro turno, com 33% dos votos e era considerado favorito, mas teve um desempenho abaixo do esperado neste domingo.

A votação foi antecipada por Macron após a vitória do partido de Marine Le Pen nas eleições europeias, uma manobra considerada arriscada, que pegou o país de surpresa.

Após os resultados do primeiro pleito, a coalizão da esquerda Nova Frente Popular (NFP) e a aliança de centro do presidente Macron concordaram em retirar os candidatos menos competitivos nos distritos com disputas triangulares no segundo turno para evitar a divisão de votos que poderia favorecer o RN.

Artistas e jogadores de futebol também fizeram apelos para impedir a vitória do RN, em um movimento semelhante ao de 2002, quando Jean-Marie Le Pen, pai de Marine, concorreu pela primeira vez à presidência e perdeu.

"Mais do que nunca, temos que votar. É realmente urgente. Não podemos deixar o país nas mãos destas pessoas", disse na quinta-feira o capitão da seleção francesa de futebol, Kylian Mbappé.

Se nenhum bloco obtiver a maioria absoluta, surgem vários cenários: uma difícil coalizão entre parte da esquerda, o partido no poder e os deputados de direita que não se associaram ao RN, ou mesmo um governo tecnocrata com apoio parlamentar.

O primeiro-ministro de centro, Gabriel Attal, anunciou que seu governo está disposto a permanecer no cargo "o tempo que for necessário" para garantir a continuidade do Estado. (Com agências internacionais)

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Ex-ministra do Desenvolvimento Social do segundo mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Márcia Lopes, de 67 anos, foi anunciada nesta segunda-feira, 5, para o posto de ministra das Mulheres, no lugar de Cida Gonçalves.

Formada em Serviço Social pela Universidade Estadual de Londrina (UEL), Márcia Lopes é filiada ao PT desde 1982. Assistente social por formação, a ministra atuou como professora universitária por 30 anos, desde 1981, em paralelo à vida pública.

A trajetória de Márcia no serviço público começou em Londrina, onde foi nomeada, em 1993, como secretária municipal de Assistência Social. Ficou no posto até 1996. No Paraná, atuou ainda como conselheira municipal de Assistência Social e dos Direitos da Criança e do Adolescente em Londrina e conselheira estadual de Assistência Social do Estado por duas gestões.

Em 2000, se candidatou e foi eleita vereadora de Londrina pelo PT. Cumpriu apenas um mandato e não tentou a reeleição. Oito anos após deixar a vereança, Márcia disputou, em 2012, a prefeitura de Londrina pelo PT e ficou em terceiro lugar no primeiro turno, com 38.484 votos (14,08%).

Em âmbito federal, foi secretária nacional de Assistência Social do Ministério de Desenvolvimento Social e Combate à Fome, em 2004, secretária executiva da pasta, de 2005 a 2007, e ministra, em 2010.

Especializada na área da Criança e Adolescente e com mestrado em Serviço Social pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), Márcia Lopes foi Conselheira Nacional de Assistência Social e dos Direitos da Criança e do Adolescente, do Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (Conanda). Atuou ainda como presidente da Rede de Pobreza e Proteção Social do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), em 2007.

Foi anunciada em novembro de 2022 pelo então vice-presidente eleito e coordenador da transição, Geraldo Alckmin (PSB), para coordenar a área da assistência social durante o governo de transição. É irmã de Gilberto Carvalho, ex-ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República do Brasil no governo de Dilma Rousseff.

O Conselho de Ética e Decoro Parlamentar da Câmara dos Deputados deve analisar nesta terça-feira, 6, o pedido que pode levar à suspensão cautelar do mandato e à abertura de um processo de cassação do mandato de Gilvan da Federal (PL-ES). No último dia 1, o presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), assinou uma representação contra Gilvan pela suposta quebra de decoro parlamentar ao ofender a ministra Gleisi Hoffmann (PT).

"As falas do representado excederam o direito constitucional à liberdade de expressão, caracterizando abuso das prerrogativas parlamentares, além de ofenderem a dignidade da Câmara dos Deputados, de seus membros e de outras autoridades públicas", diz o documento assinado pelo presidente da Câmara.

O documento afirma que Gilvan proferiu manifestações "gravemente ofensivas e difamatórias contra deputada licenciada para ocupar cargo de ministra de Estado [Gleisi], em evidente abuso das prerrogativas parlamentares, o que configura comportamento incompatível com a dignidade do mandato".

Quais os próximos passos?

Primeiro, o Conselho deve avaliar o pedido de suspensão cautelar do mandato do deputado Gilvan, por um período de seis meses. Posteriormente, será iniciado o processo de instrução, que pode resultar na cassação do mandato. Cabe recurso por parte de Gilvan caso a votação vá a plenário.

O local exato da reunião, marcada para às 11 horas, ainda não foi definido. O deputado Ricardo Maia (MDB-BA) foi designado como relator do caso.

Relembre o caso

Durante sessão da Comissão de Segurança Pública e Combate ao Crime Organizado, realizada no dia 29, o deputado proferiu comentários considerados abertamente insultuosos, desrespeitosos e pejorativos em relação à ministra Gleisi. Ainda naquela ocasião, Gilvan também protagonizou um desentendimento com o deputado Lindbergh Farias (PT-RJ), líder do partido na Câmara.

O documento assinado por Motta argumenta que o deputado do PL ofendeu a ministra ao vinculá-la ao termo "amante", numa referência a uma alcunha que teria sido atribuída à petista em um suposto esquema de favorecimento envolvendo a empresa Odebrecht. Além disso, o parlamentar utilizou a palavra "prostituta" ao fazer tais declarações.

Gilvan fazia referência a chamada "lista da Odebrecht", relacionada à Operação Lava Jato, em 2016. Nessa "super planilha", o nome de Gleisi aparecia entre os de 279 políticos de 22 partidos, sob a suspeita de ter recebido repasses ilegais da construtora.

Dias antes, em discussão na Comissão de Segurança Pública sobre um projeto para desarmar a segurança da Presidência da República, Gilvan da Federal afirmou desejar a morte de Lula.

"Por mim, eu quero mais é que o Lula morra. Eu quero que ele vá para o 'quinto dos inferno' (sic). É um direito meu", disse o deputado federal. "Nem o diabo quer o Lula. É por isso que ele está vivendo aí. Superou o câncer... Tomara que tenha um 'ataque cardíaco'. Porque nem o diabo quer essa desgraça desse presidente que está afundando nosso País. E eu quero mais é que ele morra mesmo. Que andem desarmados. Não quer desarmar cidadão de bem? Que ele ande com seus seguranças desarmados", prosseguiu.

Após a repercussão negativa e pedidos de investigação sobre a conduta do parlamentar, ele pediu desculpas.

O governador da Bahia, Jerônimo Rodrigues (PT), sugeriu na última sexta-feira, 2, que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e seus eleitores poderiam ser todos levados "para a vala". O comentário foi feito durante a cerimônia de inauguração da Escola Estadual Nancy da Rocha Cardoso, localizada em América Dourada, e provocou reações, inclusive, do ex-presidente. Jerônimo Rodrigues se retratou nesta segunda-feira, 5.

"Tivemos um presidente que sorria daqueles que estavam na pandemia sentindo falta de ar. Ele vai pagar essa conta dele e quem votou nele podia pagar também a conta. Fazia no pacote. Bota uma 'enchedeira'. Sabe o que é uma 'enchedeira'? Uma retroescavadeira. Bota e leva tudo para vala", afirmou o petista.

No X (antigo Twitter) nesta segunda, Bolsonaro afirmou que a declaração se trata de discurso de ódio. "Um discurso carregado de ódio, que em qualquer cenário civilizado deveria gerar repúdio imediato e ações institucionais firmes. Mas nada aconteceu", escreveu Bolsonaro.

"Esse tipo de discurso, vindo de uma autoridade de Estado, não apenas normaliza o ódio como incentiva o pior: a violência política, o assassinato moral e até físico de quem pensa diferente. É a institucionalização da barbárie com o verniz de 'liberdade de expressão progressista'", escreveu.

Para o ex-presidente, a verdadeira ameaça à democracia "está no alto da cadeia de poder, onde os que gritam por 'tolerância' e 'combate às fake news' são os mesmos que, na prática, incitam o ódio, mentem descaradamente e permanecem blindados por um sistema que escolheu lado".

"O padrão é claro: só há crime quando convém ao sistema, só há repressão quando o alvo é a oposição", acrescentou.

O deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG) acusou o governador da Bahia de adotar um discurso extremista. "Quando eu digo que, se pudesse, esse pessoal matava a gente, duvidam. E ainda tem quem acredita que estamos lidando com apenas políticos com pensamentos contrários - não. São movidos por uma ideologia genocida", escreveu o parlamentar.

Nesta segunda-feira, 5, durante uma visita às obras de reforma do Teatro Castro Alves, em Salvador, Jerônimo Rodrigues afirmou ser contrário a qualquer forma de violência e alegou que suas palavras foram interpretadas "fora de contexto".

"Nós criticamos a forma que alguém deseja a morte do outro. Eu sou uma pessoa religiosa, de família, e não vou nunca tratar qualquer opositor com um tratamento deste. Foi descontextualizada (a declaração). Eu apresentei minha inconformação de como o País estava sendo tratado e dei o exemplo da pandemia. Se o termo vala foi pejorativo ou forte, eu peço desculpas. Não tenho problemas em registrar se houve excessos na palavra. Não houve intenção nenhuma de desejar a morte de ninguém", disse o governador.