Parlamento Europeu terá mais deputados de extrema direita do que nunca: 1/4 das cadeiras

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O próximo Parlamento Europeu terá mais deputados de extrema direita do que nunca: eles ocuparão quase um quarto das 720 cadeiras. Mas eles precisarão superar as diferenças se quiserem maximizar sua influência sobre as políticas da UE que preocupam seus eleitores: migração, regras climáticas, e agricultura.

A vaga coligação centrista que vem controlando o único órgão diretamente eleito da União Europeia há décadas manteve uma estreita maioria na votação da semana passada. Mas os surpreendentes resultados dos partidos de extrema direita na França, na Alemanha, e em outros lugares abalaram o bloco, que foi fundado após a derrota da Alemanha nazista na Segunda Guerra Mundial.

Partidos como a Reunião Nacional, na França, os Irmãos da Itália, e a Alternativa para a Alemanha (AfD) precisam trabalhar em conjunto para terem impacto significativo sobre as políticas europeias.

Seus deputados estão atualmente distribuídos por diferentes grupos no Parlamento Europeu: os nacionalistas Reformistas e Conservadores Europeus, o Grupo Identidade e Democracia - que abriga a maior parte das facções de extrema direita - e um grande número de partidos não alinhados.

De acordo com as últimas projeções da semana passada, os Reformistas e Conservadores Europeus terão 73 parlamentares, e o Identidade e Democracia terá 58. A AfD, atualmente não alinhada, deve ter 15 deputados, e o ultranacionalista Fidesz, da Hungria, terá 11.

A AfD, que está sob vigilância na Alemanha por suspeita de extremismo, expulsou o polêmico eurodeputado Maximilian Krah esta semana, numa tentativa de retornar ao grupo Identidade e Democracia.

Rússia x Ucrânia - grande cisma da extrema direita

Agrupar forças tão díspares de 27 países da UE não será simples, especialmente diante das profundas cisões em relação à guerra na Ucrânia. Os políticos do grupo Reformistas e Conservadores Europeus apoiam Kiev estreitamente, alinhados à política dominante da UE, enquanto os integrantes do Identidade e Democracia tendem a ser pró-Rússia.

Giorgia Meloni, primeira-ministra da Itália, cujo partido tem raízes neofascistas, vem cortejando com sucesso os conservadores tradicionais com seu forte apoio à Ucrânia e à OTAN, ao mesmo tempo em que reiteradamente conclama a direita a se unir. Ela vem presidindo uma ampla coligação de direita em Roma há quase dois anos, e emergiu como a principal mediadora de poder na extrema direita europeia.

Além de estreitar os laços com a presidente de centro-direita da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, Meloni entrou em contato com Marine Le Pen, do partido francês Reunião Nacional, o principal nome dentro do Grupo Identidade e Democracia, geralmente mais radical.

Outro ator importante é o primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orbán, que é aliado próximo do ex-presidente dos EUA, Donald Trump, o aliado europeu mais próximo do presidente russo Vladimir Putin, e que já foi um entrave a vários pacotes de ajuda da UE para Kiev.

Orbán foi forçado a sair em 2021 do Partido Popular Europeu, de von der Leyen, devido a um conflito de valores. O Identidade e Democracia convidou o Fidesz a integrar suas fileiras, embora Orbán tenha manifestado interesse em se juntar aos Reformistas e Conservadores Europeus. Seu posicionamento em relação à Ucrânia torna isso improvável.

Le Pen e Meloni - uma reaproximação difícil

Le Pen, que é mais firmemente contrária à UE e ao sistema tradicional, já criticou Meloni por sua proximidade com von der Leyen. Mas ela já baixou o tom, como parte de uma reformulação mais ampla do Reunião Nacional ao longo da última década, para atingir um público mais amplo. O partido tradicionalmente tem laços estreitos com a Rússia.

As duas grandes damas da extrema direita europeia divergem nas questões sociais. O governo de Meloni tem buscado políticas de apoio aos modelos "tradicionais" de família, que os ativistas LGBTQ italianos apontam como discriminatórias.

Em contrapartida, Le Pen vem tentando se distanciar do antissemitismo, do racismo e da homofobia do partido que seu pai fundou 50 anos atrás. Nos últimos anos, ela abandonou a promessa de revogar o direito ao casamento igualitário, e contratou vários importantes assessores políticos gays. Ela também apoiou a consagração do aborto como direito constitucional na França, no ano passado.

União é complicada, mas não é pré-requisito para influência

Apesar de suas diferenças, os partidos de extrema direita compartilham objetivos políticos, como reduzir a imigração e fechar ainda mais as fronteiras do bloco. Eles também querem restringir as principais políticas climáticas mais ambiciosas da UE, que a direita radical vem criticando amplamente por onerarem desproporcionalmente motoristas e agricultores.

Sophia Russack, pesquisadora do instituto de pesquisa Centro de Estudos de Política Europeia, acredita que os três grupos provavelmente permanecerão divididos, em vez de se unirem.

"O número de cadeiras não é tudo. No Parlamento Europeu, importa muito o quanto eles estão unidos", disse Russack à Associated Press.

"Em um parlamento, é necessário ter 50% para tomar e moldar decisões. Então, eles não decidirão. Mas, claro, o que eles podem fazer é dar um tom diferente, mudar a narrativa, e gradualmente normalizar de certa forma seu pensamento e suas posturas de extrema direita", diz.

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O governador da Bahia, Jerônimo Rodrigues (PT), sugeriu na última sexta-feira, 2, que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e seus eleitores poderiam ser todos levados "para a vala". O comentário foi feito durante a cerimônia de inauguração da Escola Estadual Nancy da Rocha Cardoso, localizada em América Dourada, e provocou reações, inclusive, do ex-presidente. Jerônimo Rodrigues se retratou nesta segunda-feira, 5.

"Tivemos um presidente que sorria daqueles que estavam na pandemia sentindo falta de ar. Ele vai pagar essa conta dele e quem votou nele podia pagar também a conta. Fazia no pacote. Bota uma 'enchedeira'. Sabe o que é uma 'enchedeira'? Uma retroescavadeira. Bota e leva tudo para vala", afirmou o petista.

No X (antigo Twitter) nesta segunda, Bolsonaro afirmou que a declaração se trata de discurso de ódio. "Um discurso carregado de ódio, que em qualquer cenário civilizado deveria gerar repúdio imediato e ações institucionais firmes. Mas nada aconteceu", escreveu Bolsonaro.

"Esse tipo de discurso, vindo de uma autoridade de Estado, não apenas normaliza o ódio como incentiva o pior: a violência política, o assassinato moral e até físico de quem pensa diferente. É a institucionalização da barbárie com o verniz de 'liberdade de expressão progressista'", escreveu.

Para o ex-presidente, a verdadeira ameaça à democracia "está no alto da cadeia de poder, onde os que gritam por 'tolerância' e 'combate às fake news' são os mesmos que, na prática, incitam o ódio, mentem descaradamente e permanecem blindados por um sistema que escolheu lado".

"O padrão é claro: só há crime quando convém ao sistema, só há repressão quando o alvo é a oposição", acrescentou.

O deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG) acusou o governador da Bahia de adotar um discurso extremista. "Quando eu digo que, se pudesse, esse pessoal matava a gente, duvidam. E ainda tem quem acredita que estamos lidando com apenas políticos com pensamentos contrários - não. São movidos por uma ideologia genocida", escreveu o parlamentar.

Nesta segunda-feira, 5, durante uma visita às obras de reforma do Teatro Castro Alves, em Salvador, Jerônimo Rodrigues afirmou ser contrário a qualquer forma de violência e alegou que suas palavras foram interpretadas "fora de contexto".

"Nós criticamos a forma que alguém deseja a morte do outro. Eu sou uma pessoa religiosa, de família, e não vou nunca tratar qualquer opositor com um tratamento deste. Foi descontextualizada (a declaração). Eu apresentei minha inconformação de como o País estava sendo tratado e dei o exemplo da pandemia. Se o termo vala foi pejorativo ou forte, eu peço desculpas. Não tenho problemas em registrar se houve excessos na palavra. Não houve intenção nenhuma de desejar a morte de ninguém", disse o governador.

A ação que pode cassar o mandato do senador bolsonarista Jorge Seif (PL-SC) completou, no último dia 30, um ano parada no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Não há previsão para que seja julgada. Seif é acusado de abuso de poder econômico na eleição de 2022, suspeito de ter recebido doações irregulares do empresário Luciano Hang, dono da Havan.

A autora do pedido é a aliança de partidos composta por União Brasil, Patriota e PSD. A coligação sustenta que Seif teria usado recursos da empresa como assessoria de imprensa e cinco aeronaves de Luciano Hang. O que está em discussão pelos magistrados é se esses serviços, estimados em R$ 380 mil, foram discriminados na prestação de contas apresentada à Justiça Eleitoral.

O julgamento teve início em 4 de abril, sendo sucessivamente suspenso e retomado nos dias 16 e 30 daquele mês. Esta foi a última vez em que os magistrados se reuniram para analisar o caso. Na ocasião, o Tribunal decidiu reabrir as investigações e foram expedidas ordens para que novas provas fossem recolhidas.

Na época, a Havan foi oficiada a informar todas as aeronaves que fizeram uso ou que estiveram à disposição da pessoa jurídica da Havan ou de Hang. Além disso, foi solicitado que aeroportos de Santa Catarina enviassem uma lista de todas as decolagens e aterrissagens durante o período da campanha, de 16 de agosto de 2022 a 2 de outubro de 2022. Contudo, desde então, os magistrados não se reuniram novamente para julgar o tema. Também não há uma data marcada.

Em maio de 2025, com a saída do ministro Alexandre de Moraes da presidência do TSE, a prerrogativa de pautar o julgamento do caso ficou com a ministra Carmen Lúcia, nova presidente da Corte.

Seif e Hang negam as irregularidades. O senador é empresário do setor de pesca industrial e pertence ao "núcleo duro" do bolsonarismo, tendo atuado no governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) como secretário nacional de Pesca e Aquicultura. Cassado, Seif permaneceria oito anos inelegível.

Seif foi citado na delação de Mauro Cid como um dos membros de uma ala "radical" do entorno do então presidente Jair Bolsonaro (PL). O grupo apoiaria iniciativas que pudessem reverter o resultado eleitoral de 2024, como uma alegação de fraude nas urnas.

O senador esteve no baile da posse de Donald Trump, nos Estados Unidos. Ele foi fotografado ao lado do blogueiro e foragido da Justiça brasileira, Allan dos Santos, e do ex-apresentador Paulo Figueiredo, indiciado no inquérito de tentativa de golpe.

O ex-governador do Ceará, Ciro Gomes, que disputou a Presidência da República pelo Partido Democrático Trabalhista (PDT) nas eleições de 2018 e 2022, demonstrou insatisfação com a troca de comando no Ministério da Previdência. No último dia 2, Carlos Lupi foi substituído por Wolney Queiroz, também integrante do partido, pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

"Estou muito envergonhado! Isto é uma indignidade inexplicável", afirmou Ciro em comentário na publicação oficial do partido sobre a mudança de ministro.

Lupi, presidente licenciado do PDT, deixou o ministério na última sexta-feira, após o desgaste provocado pelo escândalo dos descontos irregulares de aposentadorias, envolvendo entidades que mantinham convênios com o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS).

O valor estimado soma R$ 6,3 bilhões entre 2019 e 2024, segundo a Polícia Federal. Mas, se retroagir a data até 2016, esse valor sobe para quase R$ 8 bilhões referentes a descontos sem autorização.

Embora o ex-ministro não seja alvo direto da investigação, a permanência dele ficou inviável. Na crise, o presidente Lula demitiu Alessandro Stefanutto, nomeado por Lupi, da presidência do INSS.

Wolney atuava como braço direito de Lupi na pasta. A escolha dele para o cargo reacende tensões internas no partido. Em 2022, o agora ministro não se envolveu na campanha presidencial de Ciro Gomes e demonstrou maior proximidade com Lula, chegando a integrar a equipe de transição após a vitória do petista.

A posição crítica de Ciro em relação ao governo Lula não é maioria dentro do PDT, que formalizou apoio à coligação liderada pelo PT ainda no segundo turno das eleições de 2022. Ciro, por sua vez, mantém forte vínculo com Lupi, que voltará a comandar o PDT após sua saída do ministério.