Hungria: partido de Orbán mantém maioria na UE, mas vê ascenção de grupo rival

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No dia seguinte à votação húngara nas eleições para o Parlamento Europeu, o governo do primeiro-ministro Viktor Orbán considerou o resultado vitorioso, mas na realidade este foi o pior desempenho do seu partido em uma eleição na União Europeia desde que a Hungria aderiu ao bloco, há 20 anos.

O resultado aquém pode ser atribuído em grande parte ao surgimento de uma nova força política na Hungria - Péter Magyar, um antigo membro da coligação Fidesz-KDNP, de Orbán, que rompeu com o partido e declarou a intenção de construir um movimento popular para derrotar o governo atual.

Onze dos 21 delegados da Hungria à legislatura da UE virão do Fidesz - mais do que qualquer um dos seus concorrentes nacionais. Depois de contabilizar 44% dos votos de domingo, 9, o governo disse que o resultado sinaliza claramente um apoio esmagador ao nacionalismo de extrema-direita de Orbán.

No entanto, o Fidesz nunca teve um desempenho tão fraco nas eleições da União Europeia desde que aderiu em 2004. Os votos para o partido caíram drasticamente em relação ao seu apoio de 52% nas eleições de 2019, e perdeu dois dos seus assentos no Parlamento Europeu.

András Bíró-Nagy, analista e diretor do think tank Policy Solutions, com sede em Budapeste, disse que o poder de Orbán - que regressou ao cargo em 2010 - nunca esteve tão ameaçado.

"Estamos em um território desconhecido porque anteriormente não era imaginável que um único partido político pudesse desafiar seriamente Viktor Orbán", disse Bíró-Nagy.

O novo partido de Magyar, Respeito e Liberdade (TISZA), obteve quase 30% dos votos no domingo, conquistando sete delegados na legislatura da UE. Ele disse que a eleição impulsionaria o seu movimento para uma posição mais forte para desafiar e derrotar Orbán na próxima votação nacional, marcada para 2026.

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A Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) aprovou nesta quarta-feira, 7, um pacote de vantagens para o Tribunal de Contas do Estado (TCE-SP). Entre as medidas, está o reajuste salarial de até 98% para servidores, além do pagamento de bônus de até R$ 264 mil para aqueles que anteciparem suas aposentadorias na Corte. As medidas têm impacto estimado em mais de R$ 60 milhões apenas em 2026.

Como o Estadão mostrou, o pacote é composto por três projetos de lei complementar enviados pelo presidente do TCE-SP, Antonio Roque Citadini, ao Legislativo paulista no início de abril. Nesta terça-feira, 6, os deputados estaduais já haviam aprovado um regime de urgência para as propostas. Assim, elas seguiram diretamente para o plenário da Casa, sem passar pela avaliação das comissões temáticas.

Sem qualquer discussão prévia em comissões, os três projetos de lei foram aprovados pela maioria dos parlamentares em uma sessão que durou 21 minutos. Somente os deputados estaduais Leonardo Siqueira (Novo) e Guto Zacarias (União) declararam votos contrários às propostas. Agora, o pacote será enviado ao governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos) para sanção ou veto.

Um dos projetos aprovado cria o Programa de Aposentadoria Incentivada (PAI), que prevê o pagamento de um bônus para servidores que anteciparem sua saída do Tribunal. O valor será equivalente a seis vezes o salário bruto do servidor, pago em parcela única. No caso de um auditor com salário de R$ 44 mil, o bônus pode chegar a R$ 264 mil.

Segundo a proposta, o pagamento terá natureza indenizatória - ou seja, não será incorporado à aposentadoria e estará isento de Imposto de Renda.

Já outra medida aprovada prevê reajustes salariais e a criação de novos cargos no TCE. Segundo estimativas da própria Corte, esse projeto deve gerar um impacto de R$ 28,8 milhões na folha de pagamento ainda neste ano. Em 2026, o custo adicional projetado ultrapassa os R$ 60 milhões. Atualmente, o orçamento destinado ao pagamento de pessoal no Tribunal é de R$ 1 bilhão.

Além disso, esse mesmo projeto propõe a criação de duas novas vagas para o cargo de diretor técnico de divisão e outras três para assessor técnico de gabinete II. O salário inicial é de R$ 39 mil para o primeiro cargo e de R$ 23,4 mil para o segundo.

O texto também estabelece alterações na nomenclatura de determinados cargos de nível técnico, além de um aumento de até 98% no salário dessas carreiras.

Ainda há uma medida que cria o Departamento de Instrução Processual Especializada (Dipe), que substituirá a atual Assessoria Técnico-Jurídica (ATJ).

Segundo o TCE, a ATJ não condiz mais com o nome que carrega: embora classificada como órgão de assessoramento, atua na prática realizando "análises técnicas minuciosas, objetivas e imparciais de processos de alta complexidade e relevância" que subsidiam as deliberações da Corte.

O remédio proposto pelo Tribunal, no entanto, não se resume a uma troca de placa. O projeto prevê a criação de 50 cargos efetivos de auditor de controle externo, com salário de R$ 18,1 mil, para atuação exclusiva no departamento.

A justificativa é que a estrutura atual da ATJ é "inadequada para atender às demandas contemporâneas" e que o quadro de servidores é "insuficiente para lidar com o volume de trabalho", o que já estaria comprometendo a qualidade das análises.

Ministros da Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) podem reagir à decisão da Câmara de aprovar projeto para barrar ação penal contra os 34 acusados por tentativa de golpe. Entre esses denunciados está o ex-presidente Jair Bolsonaro.

Interlocutores dos ministros Alexandre de Moraes, relator dos processos, e Cristiano Zanin, presidente da Turma, dizem que a tendência do colegiado é não acatar a decisão dos deputados.

A leitura é de que o Legislativo não tem atribuição para decidir sobre ações penais em curso no STF e de que poderiam ser anuladas apenas acusações contra o deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ) sobre atos após sua diplomação. Fatos criminosos anteriores à diplomação não pode ser objeto de votação na Câmara, avaliam esses interlocutores.

Em ofício enviado à Câmara, o ministro Zanin já havia alertado os deputados sobre os limites que uma decisão de sustar ação penal teria.

A Constituição dá direito à Câmara e Senado de travar uma ação penal contra deputado ou senador por votação. Para integrantes do STF, essa autorização constitucional não poder ser ampliada para outros réus, como o ex-presidente da República.

O PL, partido de Bolsonaro, alega que todos os supostos crimes imputados a Ramagem foram cometidos após a diplomação dele em 19 de dezembro de 2022. O partido usou como exemplo os atos golpistas de 8 de Janeiro.

Ramagem é policial federal e, sob Bolsonaro, foi diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), que participou do monitoramento de adversários do então presidente.

O parlamentar é apontado como integrante do mesmo núcleo de Jair Bolsonaro, do general Walter Braga Netto e do ex-ministro da Justiça Anderson Torres, que de acordo com a Procuradoria Geral da República, foram mentores intelectuais do plano golpista.

Barroso diz que STF não interfere excessivamente na política

O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Luís Roberto Barroso, rebateu, nesta quarta-feira, 7, as críticas de que a Corte interfere excessivamente em temas políticos. Ele atribuiu o protagonismo dos magistrados a normas da Constituição e às escolhas dos legisladores, que segundo ele, conferiram ao STF o poder de arbitrar questões que em outros países não passam pelo Judiciário.

"Não é o Supremo que se mete em tudo, é o arranjo institucional brasileiro que faz com que o Supremo tenha que se envolver em diversos temas", disse Barroso.

A declaração foi feita em palestra a advogados e empresários promovida pelo advogado Fernando Cavalcanti. Ele também afirmou que o fato de as sessões do tribunal serem transmitidas pela TV Justiça dá mais visibilidade aos ministros.

A Câmara dos Deputados aprovou, nesta quarta-feira, 7, projeto que suspende processo penal por tentativa de golpe contra o deputado Alexandre Ramagem (PL-RJ) no Supremo Tribunal Federal (STF). A decisão também beneficia o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e os outros 32 denunciados pela Procuradoria-Geral da República (PGR) por atos golpistas.

A proposta foi aprovada com amplo apoio dos partidos do Centrão e da oposição. Foram 315 a favor e 143 contra.

Na discussão da proposta, que é um projeto de resolução apresentado pelo PL, tanto a base do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) quanto a oposição ao governo deixaram claro que o texto beneficia Bolsonaro e os outros denunciados. Ou seja, a partir da decisão da Câmara o STF teria que travar a ação penal contra os 34 denunciados por tentativa de golpe.

O Supremo, no entanto, já havia avisado que os deputados não poderiam suspender apuração judicial contra acusados que não são parlamentares. A última palavra deve ser do STF que já deu indicações de que não vai acatar a decisão dos deputados.

Na tribuna da Câmara, o relator do projeto, deputado Alfredo Gaspar (União-AL), avisou que a sustação não vai se restringir a Ramagem e também vai alcançar todos os acusados.

"Quem fez uma denúncia colocando todo mundo no mesmo vagão? Ou seja, quem escolheu Ramagem e os outros na mesma denúncia? O Ministério Público. O Ministério Público tinha a oportunidade de, sabendo que ele era deputado, ter o cuidado de fazer uma denúncia em apartado", disse Gaspar.

Quando o processo de resolução foi colocado na pauta, o líder do PT na Câmara, deputado Lindbergh Farias (RJ), disse que a intenção da oposição era livrar Bolsonaro e os outros denunciados dos julgamentos do STF. Lindbergh disse ainda que a Corte vai derrubar a medida.

"Aprovar isso aqui é levar a Câmara para a irrelevância institucional. Os senhores acham que alguém aqui está dando peitada no Supremo? Isso aqui vai ser totalmente desconsiderado, porque não respeita nenhum fundamento constitucional", disse o líder do PT na Câmara.

Junto a Bolsonaro, Ramagem foi denunciado pela Procuradoria-Geral da República (PGR) por envolvimento em uma suposta tentativa de golpe de Estado e virou réu no caso por decisão da Primeira Turma da Corte em 26 de março.

"Fica sustado o andamento da Ação Penal contida na Petição n. 12.100, em curso no Supremo Tribunal Federal, em relação a todos os crimes imputados", diz o parágrafo único do projeto de resolução aprovado. O processo citado é o da denúncia do Procuradoria-Geral da República contra Bolsonaro, Ramagem e outros 32 denunciados por tentativa de golpe.

O deputado Lafayette de Andrada (Republicanos-MG) declarou que mesmo focando em Ramagem, a consequência da aprovação é a suspensão da ação penal para todos os envolvidos no processo, sem outra alternativa. "Em nome da imunidade parlamentar, a ação deve ser sustada. É sim ou não, e está acabado", disse.

Tanto Bolsonaro quanto Ramagem são réus pelos crimes de golpe de Estado, tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, organização criminosa, dano qualificado e deterioração do patrimônio público tombado. Somadas, as penas para esses crimes podem chegar a 43 anos de prisão.

O PL se fundamenta num trecho da Constituição que dá à Câmara o poder se sustar o andamento de uma ação penal enquanto o parlamentar mantiver o seu mandato. No dia em que o documento foi enviado à Mesa Diretora, o líder do partido na Casa, Sóstenes Cavalcante (RJ), afirmou que uma eventual suspensão do processo beneficiaria todos os réus. "Essa foi a melhor notícia do dia para a defesa do presidente Bolsonaro", disse.

No documento enviado à Câmara, o PL alega que todos os supostos crimes imputados a Ramagem foram cometidos após a diplomação dele em 19 de dezembro de 2022. O partido usou como exemplo os atos golpistas de 8 de Janeiro. "Porquanto o crime de organização criminosa armada, que possui natureza permanente, teria se estendido até janeiro de 2023, e os demais crimes imputados teriam ocorrido no dia 8 de janeiro de 2023", justificou.

A denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR) aceita pelo STF diz que, enquanto chefiava a Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Ramagem auxiliou Bolsonaro a deflagrar a trama golpista, descredibilizando as urnas eletrônicas e opositores no procedimento que teria culminado na tentativa de tomada de poder. O deputado permaneceu no cargo até março de 2022, quando se descompatibilizou para se candidatar à Câmara.

A Polícia Federal (PF) afirma que Ramagem se tornou um dos principais conselheiros do ex-presidente e articulou ataques ao STF. Trocas de mensagens apontaram, segundo as investigações, que Ramagem incentivava Bolsonaro a confrontar os ministros. A defesa do deputado classificou os indícios como "tímidos" e negou envolvimento dele em atos golpistas.

No final do mês passado, o ministro do STF Cristiano Zanin, que preside a Primeira Turma do STF, enviou um ofício à Câmara para informar que o processo não pode ser sustado em sua integralidade.