Temos que defender a América do Sul, diz Amorim sobre operação de Trump perto da Venezuela

Internacional
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O assessor especial da Presidência da República, Celso Amorim, afirmou que o Brasil deve ter uma postura de defesa sul-americana, ao discutir a crise e a operação militar dos Estados Unidos no entorno da Venezuela. O embaixador falou em "equilíbrio" e citou o risco de um conflito próximo à fronteira brasileira.

Nós temos que defender a América do Sul. Nós vivemos aqui. O Brasil tem fronteira com 10 países. Não estamos discutindo uma coisa distante por razões humanitárias, políticas ou geopolíticas. Estamos discutindo uma coisa na nossa fronteira praticamente. É natural", disse o ex-chanceler e principal conselheiro internacional de Lula, na noite desta quinta-feira, dia 6.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva vai deixar o País e as atividades relacionadas à COP-30, em Belém (PA), para uma viagem à Colômbia, onde pretende discutir o tema. A decolagem deve ocorrer no sábado, dia 8, segundo integrantes do Palácio do Planalto. O assunto será a pauta principal da cúpula de líderes da Celac (Comunidade de Estados Latino-americanos e Caribenhos) com a União Europeia, no domingo, dia 9, em Santa Marta.

Lula fez alertas a Donald Trump, durante reunião na Malásia, de que a situação não seria resolvida na bala e que estava se agravando. O petista sugeriu que fosse criada uma mesa de mediação e que ele mesmo ajudasse na interlocução com o regime do ditador Nicolás Maduro, um aliado histórico.

O presidente americano, então, pediu comentários do secretário de Estado, Marco Rubio. Ameaças aos EUA por meio do tráfico de drogas e da imigração ilegal de presos que, segundo ele, teriam sido soltos regime chavista. Trump havia dito que não pretendia discutir o tema com Lula. Foi o petista quem introduziu o assunto e o citou num documento entregue por escrito ao americano.

Integrantes do governo temem que a pauta, que opõe os dois governos, contamine as discussões comerciais sobre o tarifaço, previstas para serem retomadas, no dia 11, em encontro de Rubio com o chanceler Mauro Vieira, no Canadá. Questionado pelo Estadão, Vieira disse que a reunião na Colômbia seria um momento de prestar apoio e "solidariedade" à Venezuela.

Entenda a crise entre EUA e Venezuela

A principal bandeira do governo Trump em relação à América Latina é o combate ao narcotráfico. Nos últimos meses, os Estados Unidos reuniram um grande contingente de navios de guerra, caças e aeronaves de vigilância na costa da Venezuela, em meio a uma campanha militar de Washington contra o que afirma serem organizações criminosas transnacionais. As forças americanas explodiram 16 barcos na região e 67 pessoas foram mortas desde o início das operações.

Washington acusa Maduro de liderar o chamado Cartel de Soles, classificado como organização terrorista pelo governo Trump. Segundo os EUA, Maduro é o responsável pelo envio de drogas ao território americano. Por conta das acusações e o caráter bélico da operação, analistas questionam se Washington pode de fato querer uma mudança de regime em Caracas. Em outubro, Trump autorizou operações da CIA contra a Venezuela e disse que estava considerando realizar ataques em terra contra cartéis do tráfico de drogas no país.

O líder republicano ainda não tomou uma decisão sobre uma intervenção, mas o Pentágono e agências de inteligência ofereceram três alternativas de ação ao presidente Donald Trump. A primeira opção envolveria ataques aéreos contra instalações militares venezuelanas, algumas das quais poderiam estar envolvidas no tráfico de drogas, com o objetivo de minar o apoio militar a Maduro. Se Maduro acreditar que não está mais protegido, pode tentar fugir - ou, ao se deslocar pelo país, tornar-se mais vulnerável à captura, dizem as autoridades. Mas os críticos dessa abordagem alertam que ela poderia ter o efeito oposto, fortalecendo o apoio ao líder sitiado.

Uma segunda abordagem prevê o envio de forças de Operações Especiais dos Estados Unidos, como a Força Delta do Exército ou o SEAL Team 6 da Marinha (principal unidade de resgate de reféns e contraterrorismo), para tentar capturar ou matar Maduro. Nessa opção, o governo Trump buscaria contornar as proibições contra o assassinato de líderes estrangeiros argumentando que Maduro é, antes de tudo, o chefe de uma quadrilha de narcoterroristas, uma extensão dos argumentos usados para justificar os ataques aéreos dos EUA contra embarcações que, segundo o governo, transportam drogas.

O Departamento de Estado oferece uma recompensa de US$ 50 milhões (R$ 270 milhões) pela prisão ou condenação de Maduro. O governo Trump também pode argumentar que, como Maduro reprimiu a oposição e trabalhou para fraudar as eleições, ele não é o líder legítimo do país. O governo de Joe Biden se recusou a reconhecê-lo como presidente da Venezuela depois que ele declarou vitória no ano passado.

Uma terceira opção envolve um plano muito mais complexo para enviar forças antiterroristas americanas a fim de assumir o controle de aeroportos e de pelo menos alguns dos campos de petróleo e infraestrutura da Venezuela. Essas duas últimas opções acarretam riscos muito maiores para militares americanos em terra - sem mencionar os civis -, especialmente se a operação ocorrer em ambiente urbano como Caracas, a capital do país.

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O presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), determinou nesta sexta-feira, 7, que o plenário da Casa funcione em regime semipresencial entre os dias 10 e 21 de novembro, período em que ocorre a COP30 em Belém (PA).

A decisão atende a um pedido conjunto de líderes partidários e permitirá que os deputados registrem presença e votem remotamente por meio do aplicativo da Câmara. O formato, já utilizado em outras ocasiões, garante quórum para as deliberações mesmo sem a presença física dos parlamentares em Brasília.

Na quinta-feira, 6, Motta esteve da abertura da sessão plenária da Cúpula do Clima da COP30, ao lado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT); do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP); do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Edson Fachin; e do secretário-geral da ONU, António Guterres.

Na ocasião, o presidente da Câmara ressaltou a aprovação de projetos voltados à proteção ambiental. Os parlamentares aprovaram propostas como a criminalização do tráfico de animais silvestres; punições à mineração ilegal em terras indígenas; e promoção de educação para reação a desastres climáticos.

A conferência, organizada pelas Nações Unidas e sediada no Brasil, reúne chefes de Estado, parlamentares e especialistas para discutir políticas globais de enfrentamento às mudanças climáticas e promoção do desenvolvimento sustentável.

O governador de Mato Grosso, Mauro Mendes (União Brasil), chamou o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) de "louco" e afirmou que o parlamentar está "falando merda lá nos Estados Unidos".

"Está louco, está falando bobagem. Está lá nos Estados Unidos, longe da realidade. Fez uma lambança gigante quando defendeu o tarifaço do [presidente dos Estados Unidos, Donald] Trump. Foi um grande equívoco que ele cometeu e está cometendo outro. Ele está perdendo tempo de ficar calado", disparou o governador.

"Eu respeito muito o presidente Bolsonaro, tenho um grande respeito por ele, deu uma grande contribuição. Na minha opinião está sendo injustiçado. Agora, o filho dele está falando merda lá nos Estados Unidos", completou.

Eduardo Bolsonaro vive nos Estados Unidos desde o início deste ano e, de lá, tem feito declarações sobre a política brasileira. Além disso, o deputado acumula faltas nas sessões da Câmara dos Deputados.

A reação de Mauro Mendes ocorreu após ser questionado sobre um vídeo em que o terceiro filho do ex-presidente Jair Bolsonaro chama o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), de "candidato do sistema".

"O Tarcísio é o candidato do sistema. É o cara que o Moraes quer, que gostaria que fosse eleito porque ele ainda viria com apoio de Jair Bolsonaro. O meu pai foi posto em prisão domiciliar, com tornozeleira, esculachado e sem rede social por conta desse projeto", afirmou Eduardo em vídeo publicado em seu canal no YouTube.

O deputado também criticou Tarcísio com base em declarações do ex-ministro José Dirceu (PT), dizendo que o governador paulista "não é um líder' e que sua eleição só ocorreu graças ao eleitorado bolsonarista.

"Ele quer ser presidente da República do Brasil. Por isso que falo que ele é uma ficção, porque ele depende totalmente do Bolsonaro e do voto bolsonarista. Porque ele não é um líder, foi eleito em São Paulo pela força do eleitorado conservador, que é legítimo", diz trecho do ex-ministro compartilhado por Eduardo.

O prefeito de Sorocaba, Rodrigo Manga (Republicanos), foi afastado do cargo por 180 dias por ordem judicial, investigado em operação da Polícia Federal que apura desvios de recursos da Saúde. Conhecido pelo sucesso de seu perfil no TikTok, com vídeos bem-humorados sobre suas ações à frente da prefeitura, ele já ensaiou candidaturas ao governo do Estado, ao Senado e à Presidência da República.

No início do ano, ele disse ter recebido convite para disputar o governo de São Paulo em 2026 pelo PRTB, partido de Pablo Marçal. À época, ele afirmou que conversaria com Marcos Pereira, presidente do Republicanos, sobre os rumos que seriam tomados pelo partido - mesma sigla do governador Tarcísio de Freitas.

Em levantamento do instituto Paraná Pesquisas divulgado em 26 de agosto, Manga aparece com 8,6% das intenções de voto para o Executivo paulista em cenário sem Tarcísio, que pode tentar a Presidência em 2026. O prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), teve 29,4% das intenções, seguido por Márcio França (PSB), ministro do Empreendedorismo, com 14,2%.

No dia 1.º de abril, o prefeito afirmou em vídeo postado no TikTok que aceitou convite para ser pré-candidato a presidente da República. "Para que a gente possa replicar o bom trabalho da cidade de Sorocaba em todo o Brasil. Só não saio candidato se o (Jair) Bolsonaro sair", afirmou.

Ao Poder360, ele afirmou que seria candidato pelo PRTB e que tinha o apoio do Republicanos para seguir em frente com a ideia. Também negou que se tratasse de uma pegadinha do Dia da Mentira

Mais tarde, em setembro, ele afirmou em entrevista à Jovem Pan que havia acertado com o Republicanos para ser candidato ao Senado por São Paulo em 2026. "Pré-candidato ao Senado. Acabou qualquer outra. Tudo que foi estipulado de presidente, governador, bateu o martelo do partido pré-candidato ao Senado, acabou", disse.

Em sondagens para as eleições ao Senado, o prefeito de Sorocaba aparece com 8,1% em levantamento do Paraná Pesquisas de 14 de outubro, o que o coloca em sétimo lugar em intenções de voto entre os nomes testados. Os favoritos para as duas vagas são Fernando Haddad (PT), com 37,8%, e Eduardo Bolsonaro (PL-SP), com 32,4%. Guilherme Derrite aparece em terceiro com 20,8%.

Rodrigo Manga é investigado na Operação Copia e Cola, que teve sua segunda fase deflagrada nesta semana. A Polícia Federal apura indícios de fraudes na contratação emergencial de uma organização social para administrar unidades de saúde da prefeitura. O inquérito também mira operações suspeitas que aparentam ter sido usadas para lavagem de dinheiro, como depósitos em espécie, pagamento de boletos e negociações imobiliárias.

Nesta fase, foram cumpridos sete mandados de busca e apreensão, dois de prisão preventiva e bloqueio de bens no valor de R$ 6,5 milhões, além do afastamento temporário do prefeito.

Em um vídeo publicado nas redes sociais, o prefeito disse vai "verificar tudo o que aconteceu". Em nota, a defesa afirmou que ele é vítima de "perseguição política".