Integrantes do PSD dizem acreditar que a possível candidatura de Ratinho Júnior, atual governador do Paraná e pré-candidato à Presidência da República, tem potencial para dificultar o apoio regional de algumas lideranças do partido identificadas com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Ratinho está colocado na disputa presidencial há alguns meses, mas o recente arrefecimento da candidatura do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), fez a indicação do nome do governador paranaense ganhar mais força nos bastidores de Brasília.
O Broadcast (sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado) conversou com ministros e lideranças do PSD nas últimas semanas. A percepção é que, caso Ratinho seja candidato no ano que vem, lideranças regionais, até as mais próximas ao PT, seriam constrangidas a apoiar o candidato de seu próprio partido.
Não significa obrigação. Em 2022, o MDB, mesmo com a candidatura de Simone Tebet, viu seus integrantes declararem voto em Lula já no primeiro turno. No caso de Ratinho, no entanto, o que muda é a chance, ainda incerta, de o governador receber apoio de partidos de centro e do bolsonarismo para enfrentar o PT.
Simone tinha pouquíssima chance de romper a polarização entre direita e esquerda. O MDB contou com apoio apenas da federação PSDB-Cidadania e do Podemos, partidos que, juntos, elegeram 34 deputados. Ratinho conta com a ausência de um nome do bolsonarismo para 2026 - Jair Bolsonaro está inelegível e deve insistir na candidatura, mesmo sem chances de concorrer - e com o alcance de seu nome, principalmente quando associado ao de seu pai, o apresentador de TV Ratinho.
Lideranças que hoje apoiam publicamente o presidente da República dizem que, caso Ratinho seja candidato a presidente, terão de apoiar o correligionário em vez do petista. Esse compromisso partidário tem potencial para reduzir o alcance de Lula nos Estados, embora o debate político seja cada vez mais nacionalizado e menos focado na esfera regional.
Caso a empreitada de Ratinho não tenha sucesso, a tendência é que as lideranças regionais do PSD apoiem os candidatos que preferirem na disputa presidencial. Contudo, o partido ficará neutro na campanha. A possibilidade de aliança com outro candidato, como Tarcísio, está na mesa.
Integrantes do partido que apoiam Lula, porém, já indicaram à cúpula do PSD que o compromisso de apoiar um adversário do petista só vale no caso de um correligionário. Na hipótese de candidatura de Tarcísio, por exemplo, ministros e parlamentares do PSD que apoiam Lula devem continuar ao lado do petista, mesmo que a sigla esteja em outra coligação.
O PSD tem atualmente três ministérios: o da Agricultura, com Carlos Fávaro (MT); o de Minas e Energia, com Alexandre Silveira (MG); e o da Pesca, com André de Paula (PE). Na virada de 2024 para 2025, o nome de Rodrigo Pacheco (PSD-MG) chegou a ser cotado para ocupar alguma pasta após ele deixar a presidência do Senado. A hipótese, porém, foi deixada de lado.
O próprio Pacheco vive um impasse em Minas. Lula tem sugerido publicamente que ele seja candidato ao governo do Estado. O senador ainda não decidiu. Estão em seu horizonte as possibilidades de ser indicado para uma vaga no Supremo Tribunal Federal (STF) ou de tentar a reeleição ao Senado. Um elemento novo nessa equação é a provável filiação do vice-governador Mateus Simões, aliado de Romeu Zema (Novo), ao PSD, o que pode dificultar a perspectiva de apoio ao presidente em Minas.
Até o momento, Lula conta com apoio em Estados como Minas Gerais, Rio de Janeiro, Bahia, Piauí, Amazonas e Ceará. Por outro lado, as lideranças de Estados como São Paulo, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná e Goiás estão mais próximas do bolsonarismo.
A estratégia do PSD de tentar eleger o maior número possível de deputados federais - o que garante fatia maior na divisão do fundo partidário - dificulta a aliança formal com outras siglas e prejudica esse tipo de diretriz para todos os diretórios.