Trump volta a tirar os EUA da Unesco, a agência cultural da ONU

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Os Estados Unidos informaram nesta terça-feira, 22, que se retirarão novamente da Unesco, a agência educacional, científica e cultural da ONU, por acreditarem que seu envolvimento não atende aos interesses nacionais do país e que a agência promove discursos anti-Israel. A decisão ocorre apenas dois anos após o país ter retornado à agência após sua saída em 2018, durante o primeiro governo Donald Trump.

Esta é a medida mais recente do governo Trump para cortar laços com organizações internacionais. O Departamento de Estado disse que a ação que terá efeito no final do próximo ano. Ela reflete a profunda desconfiança e aversão de Trump ao multilateralismo e às instituições internacionais, especialmente aquelas ligadas às Nações Unidas.

"O envolvimento contínuo na Unesco não está no interesse nacional dos Estados Unidos", disse Tammy Bruce, porta-voz do Departamento de Estado, em um comunicado.

Ela acusou a organização de promover "causas sociais e culturais divisivas" e de manter um "foco excessivo nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU, uma agenda globalista e ideológica para o desenvolvimento internacional contrária à nossa política externa 'America First' (América primeiro)".

Esta será a terceira vez que os Estados Unidos deixarão a Unesco, sediada em Paris, e a segunda vez durante o governo Trump. O último retorno à agência ocorreu em 2023, durante o governo Joe Biden.

Em fevereiro, Trump assinou um decreto pedindo uma revisão geral do financiamento e envolvimento dos EUA na Organização das Nações Unidas, incluindo a Unesco. Naquela época, Will Scharf, secretário de gabinete da Casa Branca, acusou a Unesco de "viés anti-americano".

A Unesco é mais conhecida pela designação de locais do Patrimônio Mundial, mais de 1.200 desde 1972, incluindo as ruínas de Palmira na Síria, o Minarete de Jam no Afeganistão, o edifício do Tesouro de Petra na Jordânia e uma série de parques nacionais nos Estados Unidos. Ela também mantém uma lista de "patrimônio cultural imaterial" das criações mais dignas da humanidade - como a baguete francesa ou o canto de ópera na Itália.

A organização também é conhecida por seus programas educacionais e trabalha extensivamente para promover a educação sexual, alfabetização, água limpa e igualdade para as mulheres. Ela também ajuda a estabelecer padrões em uma série de questões, incluindo proteção dos oceanos e a ética da inteligência artificial.

Em 2011, os Estados Unidos pararam de financiar a Unesco depois que ela votou para incluir a Palestina como membro pleno. O movimento aconteceu por causa da legislação dos EUA que exige um corte completo do financiamento americano a qualquer agência da ONU que aceitasse a Palestina nesses termos. A falta de dinheiro privou a Unesco de quase um quinto de seu orçamento, forçando-a a cortar programas.

Depois, em 2017, a administração Trump foi mais longe e anunciou que estava se retirando completamente da organização, citando viés anti-Israel. Os Estados Unidos permaneceram como um observador não-membro depois disso.

Em 2023, a administração Biden reverteu essa decisão e decidiu se juntar novamente. Oficiais dos EUA haviam argumentado na época que deixar uma cadeira vazia na Unesco havia criado um vácuo que potências concorrentes, mais notavelmente a China, estavam preenchendo.

A diretora-geral da Unesco, Audrey Azoulay, disse que lamenta "profundamente" a decisão dos EUA, mas insistiu que era esperada e que a agência "se preparou para isso". Ela também negou as acusações de preconceito anti-Israel.

"Essas alegações contradizem a realidade dos esforços da Unesco, particularmente no campo da educação sobre o Holocausto e da luta contra o antissemitismo", disse ela.

"As razões apresentadas pelos Estados Unidos da América são as mesmas de sete anos atrás, embora a situação tenha mudado profundamente, as tensões políticas tenham diminuído e a Unesco hoje constitua um raro fórum de consenso sobre um multilateralismo concreto e orientado para a ação", acrescentou Azoulay.

A decisão não surpreendeu os funcionários da agênccia, que já previam tal medida após a revisão específica ordenada pelo governo Trump no início deste ano. Eles também esperavam que Trump se retirasse novamente, já que o retorno dos EUA em 2023 havia sido promovido por um rival político.

A retirada dos EUA provavelmente afetará a Unesco, pois os EUA fornecem uma parcela considerável do orçamento da agência. Mas a organização deve ser capaz de lidar com a situação. A Unesco diversificou suas fontes de financiamento nos últimos anos e a contribuição dos EUA diminuiu, representando apenas 8% do orçamento total da agência.

Azoulay prometeu que a Unesco executará suas missões apesar dos "recursos inevitavelmente reduzidos". A agência não está considerando nenhuma demissão de funcionários neste momento.

"O propósito da Unesco é acolher todas as nações do mundo, e os Estados Unidos da América são e sempre serão bem-vindos", disse ela. "Continuaremos a trabalhar lado a lado com todos os nossos parceiros americanos no setor privado, na academia e em organizações sem fins lucrativos, e buscaremos nosso diálogo político com o governo e o Congresso dos EUA."

Os Estados Unidos já haviam se retirado da Unesco durante o governo Ronald Reagan, em 1984, por considerarem a agência mal administrada, corrupta e usada para promover os interesses da União Soviética. A organização retornou em 2003, durante a presidência de George W. Bush.

(Com agências internacionais)

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A defesa do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) prestou esclarecimento nesta terça-feira, 22, após o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes falar em risco de prisão por descumprimento de medidas cautelares e alegou não ter conhecimento de que ele estava proibido de conceder entrevistas.

Os advogados do ex-presidente sustentam que ele não descumpriu as ordens do ministro e prometeram que Bolsonaro permanecerá calado, sem fazer "qualquer manifestação" sobre o caso.

"Cabe esclarecer que o Embargante (Jair Bolsonaro) não descumpriu o quanto determinado e jamais teve a intenção de fazê-lo, tanto que vem observando rigorosamente as regras de recolhimento impostas por este Tribunal", escreveu a defesa do ex-presidente.

Bolsonaro esteve na Câmara na tarde desta segunda-feira, 21, e, na saída, mostrou aos jornalistas a tornozeleira eletrônica que utiliza desde semana passada como parte das medidas cautelares impostas por Moraes. O ex-presidente declarou que o dispositivo simbolizava a "máxima humilhação".

Moraes impôs as medidas cautelares de Bolsonaro na última sexta-feira, 18, e complementou a decisão com despacho expedido ontem. O ministro afirmou que a proibição de uso das redes sociais incluía, "obviamente, as transmissões, retransmissões ou veiculação de áudios, vídeos ou transcrições de entrevistas em qualquer das plataformas das redes sociais de terceiros".

Bolsonaro, por sua vez, alega que "jamais cogitou que estava proibido de conceder entrevistas, que podem ser replicadas em redes sociais".

Os advogados de Bolsonaro sustentam que ele não pode ser responsabilizado pela conduta de terceiros que postaram em redes sociais o que ele faz. "Tais atos não contam com a participação direta ou indireta do entrevistado, que não pode ser punido por atos de terceiros", afirmou.

"Afinal se a proibição envolve transmissão ou transcrição de entrevistas, o Embargante, na prática, está proibido de concedê-las, posto que ninguém tem controle sobre a forma de sua divulgação, a não ser, e apenas incialmente, o próprio jornalista", argumentaram.

A forma escolhida pela defesa de Bolsonaro para responder Moraes sobre o suposto descumprimento de medidas cautelares foi por meio da apresentação de embargos de declaração, um tipo de instrumento jurídico no qual a parte pede esclarecimentos ao juiz sob aspectos de determinada decisão.

Bolsonaro, portanto, inverteu a decisão de Moraes e pediu que o ministro explique a extensão da sua ordem. A defesa do ex-presidente garantiu que, "em absoluto respeito à decisão da Suprema Corte", ele "não fará qualquer manifestação até que haja o esclarecimento apontado".

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"É notório que a replicação de declarações por terceiros em redes sociais constitui desdobramento incontrolável das dinâmicas contemporâneas de comunicação digital e, por isso, alheio à vontade ou ingerência do Embargante", prosseguiram os advogados.

O ex-presidente despachou na sede do Partido Liberal (PL) nesta terça-feira, 22. Ao deixar o prédio, no centro de Brasília, Bolsonaro se recusou a responder questionamentos de jornalistas que o aguardavam na garagem do prédio.

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De acordo com o empresário - que pondera que não é especialista em assuntos jurídicos - por trás dos descumprimentos das determinações judiciais por Bolsonaro e da elevação das críticas ao Judiciário por parte do ex-presidente e de seus apoiadores, pode ter uma estratégia segundo a qual uma prisão agora por desacato implicaria em uma pena menor. Assim, sua defesa teria mais tempo para encontrar meios de atenuar a pena por tentativa de golpe.

Logo após ter sido informado sobre as medidas restritivas e de ter recebido tornozeleira para monitorar seus movimentos, Bolsonaro saiu da sede da polícia concedendo entrevistas e ontem foi até à Câmara dos Deputados. Na Casa, recebeu apoio de parlamentares da oposição, mostrou a tornozeleira a aliados e voltou a criticar o ministro Moraes, alegando sofrer perseguição política.

Depois do ocorrido na Câmara, Moraes determinou à defesa de Bolsonaro que explique, até às 21h13 desta terça-feira, por que o ex-presidente descumpriu as medidas cautelares.

"Tudo indica que Bolsonaro quer forçar a prisão por desacato porque sabe que a pena é mais branda do que a por tentativa de golpe. Não acredito que se ele for preso por desacato, o processo por tentativa de golpe vai ser interrompido, mas a ideia é ganhar tempo para a defesa", disse Cury.

Após as medidas cautelares adotadas pelo ministro Alexandre de Moraes contra o ex-presidente Jair Bolsonaro, aumentou no X o engajamento em torno de postagens contrárias ao ex-presidente e favoráveis à decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) e ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Levantamento da Nexus - Pesquisa e Inteligência de Dados mostra que, entre as 9h de segunda-feira, 21, e o mesmo horário desta terça-feira, 22, três expressões atribuídas à esquerda apareceram nos "trending topics" da rede de Elon Musk.

Na análise dos dez termos no topo do engajamento, "Chuva de Lula" estava em primeiro lugar, com um milhão de menções. Em quinto lugar, aparecia a expressão "Democracia Sempre", com 411 mil menções. O nono lugar era ocupado pelo termo "Eduardo Bolsonaro cassado", com 110 mil postagens.

A única menção atribuída à direita nos "trending topics" no período foi "Reaja Brasil", com 2 milhões de menções. Embora o número individual de menções seja maior para a direita, o X leva em consideração outros fatores para ranquear o engajamento dos usuários, como volume de menções, compartilhamentos, curtidas, comentários e o fato de ser um tópico recente.

Ainda segundo o estudo da Nexus, outros termos da esquerda ganharam destaque na rede fora das primeiras posições, como "Bolsonaro preso amanhã" e "Vai Xandão". A análise do X levou em conta uma amostra de 41 mil publicações em português relacionadas com a decisão de Moraes.

No Google Trends, a palavra "impeachment" chegou a ocupar a 10ª posição da lista de buscas no brasil no mesmo período, como mais de 10 mil ocorrências. O termo foi associado a outras pesquisas, como "impeachment moraes" e "alexandre de moraes impeachment".

O mesmo estudo também analisou a repercussão da decisão de Moraes de bloquear contas bancárias, bens e salário do deputado federal Eduardo Bolsonaro, o filho do ex-presidente que foi morar nos EUA.

O volume de postagens capturadas no X, Instagram e Facebook entre domingo, 20, e hoje revela aumento de 67% nas citações ao parlamentar em comparação a períodos anteriores. No Google Trends, o nome do deputado foi buscado mais de 2 mil vezes no decorrer de 13 horas.