O ex-major do Exército Ailton Moraes Barros negou, na manhã desta quinta-feira, 24, a acusação da Procuradoria-Geral da República de que teria articulado com o general Walter Braga Netto - ex-ministro da Casa Civil e da Defesa do governo Bolsonaro, preso desde dezembro - ações para pressionar o então comandante do Exército, general Freire Gomes, a aderir ao plano golpista para manter o ex-presidente no poder mesmo após a derrota nas eleições de 2022.
Em depoimento ao Supremo Tribunal Federal, Ailton disse que as mensagens do general para ele eram "choradeira de quem perdeu". Ele negou que tenha feito "ataques aos militares" que não teriam aderido ao plano.
Segundo a denúncia da PGR, Braga Netto orientou Ailton Barros a atacar o tenente-brigadeiro Baptista Júnior, então comandante da Aeronáutica, que negou apoio à trama golpista, e elogiar o almirante de esquadra Almir Garnier Santos - comandante da Marinha, à época - que, supostamente, teria endossado o plano.
"Senta o pau no Baptista Júnior. Povo sofrendo, arbitrariedades sendo feitas e ele fechado nas mordomias. Negociando favores. Traidor da pátria. Daí pra frente. Inferniza a vida dele e da família (
) Elogia o Garnier e fode o BJ", teria dito Braga Netto, conforme mensagens interceptadas pela Polícia Federal nos autos da investigação da trama do golpe.
Na audiência desta quinta, presidida pela juíza auxiliar Luciana Sorrentino, do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios (TJDFT), que atua no gabinete do ministro Alexandre de Moraes - relator das ações do 8 de Janeiro -, Ailton Barros disse que "aquilo ali era lamúria e choradeira de perdedor de campanha".
"Eu estava entendendo aqui como um desabafo e não tive conduta. Não ataquei general nenhum. Não respondo a essas mensagens."
Ao mencionar o nome do ex-major, expulso do Exército em 2008, a denúncia destaca troca de mensagens dele e Braga Netto, em que demonstra ter pedido a militares "kid pretos", das Forças Especiais do Excerto, que "salvassem a democracia" - uma suposta incitação ao golpe.
A denúncia pontua que, em resposta, Braga Netto disse: "Meu amigo, infelizmente tenho que dizer que a culpa pelo que está acontecendo e acontecerá é do Gen. Freire Gomes. Omissão e indecisão não cabem a um combatente".
Ailton Gonçalves Moraes Barros teria prometido manter a pressão sobre Freire Gomes, ameaçando: "(
) oferecer a cabeça dele aos leões", caso o comandante do Exército mantivesse sua posição. Braga Netto concordou e emitiu a ordem derradeira: "Oferece a cabeça dele. Cagão".
Em sua versão, Ailton narrou que, inicialmente, queria enviar as mensagens para o tenente-coronel Mauro Cid - ex-ajudante de ordens de Bolsonaro e réu delator na ação do golpe - e, por engano, acabou enviando a Braga Netto.
Segundo ele, não havia um vínculo forte entre ambos. Ainda segundo o ex-major, Braga Netto teria começado a desabafar, e ele percebeu que, ao endossar as afirmações, poderia tentar formar um vínculo político com o general, uma vez que este havia sido o candidato a vice-presidente de Bolsonaro em 2022.
Ao longo da denúncia, a PGR afirma que a combinação entre Ailton Barros e Braga Netto não se limitava a ataques aos comandantes do Exército e da Aeronáutica da gestão Bolsonaro. Um alvo seria o general Tomás Paiva - hoje comandante do Exército, então no Comando Militar do Sudeste -, que, além de negar um plano golpista, teria repreendido o general Villas Bôas e sua mulher, Maria Aparecida, "por conta da sua mobilização em favor do movimento golpista".
A defesa de Almir Garnier alega que a PGR não indicou como ele teria contribuído para a disseminação de notícias falsas.
"Afirmar que ele era responsável por divulgar notícias falsas sem apresentar os meios por onde isso teria ocorrido efetivamente, mesmo após tantos atos de investigação, apenas reforça que o acusado não tinha qualquer participação no ocorrido", disse a defensora pública Érica de Oliveira Hartmann.